domingo, 3 de maio de 2015

Mãe Preta, de Piratini, e Barco Negro, de David Mourão-Ferreira

Mãe Preta é uma composição musical de Piratini e Caco Velho, que em Angola foi interpretada pelo Duo Ouro Negro e, com outro poema e diferente temática, originou "Barco Negro", com letra de David Mourão-Ferreira, interpretado por Amália Rodrigues no filme "Les Amants du Tage".


Mãe Preta chegou a Portugal nos primeiros anos da década de 50 cantada pela fadista Maria da Conceição, constituindo pela música um estrondoso êxito, mas breve foi proibida pela censura fascista, devido ao conteúdo do poema. Interpretações de autores portugueses, mesmo posteriores ao 25 de Abril, em versão aparentemente mais soft, não respeitam o texto original de Piratini (António Amabile).



1. - versão original de Piratini

Pele encarquilhada, carapinha branca,
gandola de renda caindo na anca,
embalando o berço do filho do sinhô,
que há pouco tempo a sinhá ganhou.

Era assim que Mãe Preta fazia.
Tratava todo o branco com muita alegria.
Enquanto na sanzala Pai João apanhava,
Mãe Preta mais uma lágrima enxugava.

Mãe Preta, Mãe Preta!

Enquanto a chibata batia no seu amor,
Mãe Preta embalava o filho branco do sinhô.

2.- versão "adaptada"em Portugal

Pele encarquilhada carapinha branca
Gandôla de renda caindo na anca
Embalando o berço do filho do sinhô
Que há pouco tempo a sinhá ganhou

Era assim que mãe preta fazia
criava todo o branco com muita alegria
Porém lá na sanzala o seu pretinho apanhava
Mãe preta mais uma lágrima enxugava

Mãe preta, mãe preta

Enquanto a chibata batia no seu amor
Mãe preta embalava o filho branco do sinhô

3.- Outra versão portuguesa

Velha encarquilhada, carapinha branca
gandola de renda caindo na anca
embalando o berço do filho do sinhô
que há pouco tempo a sinhá ganhou

Era assim que mãe preta fazia
criava todo branco com muita alegria
enquanto na senzala seu bem apanhava
mãe preta mais uma lágrima enxugava

mãe preta, mãe preta,
mãe preta, mãe preta

Enquanto a chibata batia em seu amor
mãe preta embalava o filho branco do sinhô


Ouvir:
1. -  versão original pelo Conjunto Tocantins - 1943 em - https://www.youtube.com/watch?v=PyTqD9xtdWo

2.  - versão original pela fadista Maria da Conceição em https://www.youtube.com/watch?v=5NX32PqN9QY


A título de curiosidade, o poema Barco Negro, de David Mourão-Ferreira, musicado por Caco Velho

De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração. 

Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:

São loucas! São loucas!

Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo.[Bis]

No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.

Ouvir a versão por Amália Rodrigues no filme "Les amants du Tage", realizado por Henri Verneuil (1955), onde não se respeitava a direcctiva "silêncio, que se vai cantar o fado." https://www.youtube.com/watch?v=HgkowHa2jZ4 

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