* Alda Lara
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela...
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...
Mãe-Negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...
Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram p'ra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.
É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada..
Lisboa, 1951 (Poemas, 1966)
Este poema foi cantado por Paulo de Carvalho cuja interpretação pode ser ouvida em https://www.youtube.com/watch?v=PyAAZdbtFio
Uma bela interpretação, mas os meninos que a mãe negra ajudou a criar e que se ausentaram (talvez para estudarem em Portugal) esquecendo as suas histórias seriam os ... brancos. É a eles que se refere a poetisa Alda Lara (médica e branca, que teve de "abandonar" Angola para cursar as universidades de Lisboa e Coimbra). Faço este comentário por causa das oportunas imagens que vão iiustrando o poema
Sem comentários:
Enviar um comentário