sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Um ano de completa impunidade

 Manuel Loff  

Até ontem, os países NATO, um após o outro, exortavam Israel a não invadir o Líbano e enviavam a este país aviões... para recolher o seu pessoal diplomático e os cidadãos que queiram e, num país onde um milhão de pessoas (uma em cada cinco) tiveram de fugir de casa, consigam sair. Mas não enviaram aviões de combate para reforçar as Forças Armadas libanesas contra o invasor israelita, como fizeram com a Ucrânia. O que vale para a Ucrânia não vale para o Líbano. Num ano inteiro não valeu para Gaza, a Cisjordânia, territórios invadidos não há dois, mas há 67 anos. Num ano morreram incomparavelmente mais civis em Gaza do que em mais de dois anos e meio na Ucrânia — e Biden e Von der Leyen pedem aos países árabes a mesma desescalada e diplomacia cujo oposto praticam intensamente há anos na Ucrânia.

É insólito este medo de uma guerra generalizada na boca de quem governa deste lado do mundo. Ontem mesmo, Biden deu as ordens necessárias para comprometer (mais ainda) os EUA nas guerras de agressão israelitas. Depois de terem justificado a chuva de mísseis sobre Beirute como uma merecida punição do Hezbollah, os EUA substituíram-se aos israelitas na interceção dos mísseis iranianos para proteger Netanyahu e os genocidas que o acompanham. E disponibilizam para a guerra os 43 mil soldados que, por vezes contra a vontade dos respetivos governos, têm na região. E assim se procura “evitar a guerra”...

A discussão da dualidade de critérios não é apenas moral. Ela tem implicações diretas nas vidas de milhões de pessoas. A dualidade mata. Em Gaza, na Cisjordânia, Israel comporta-se como um dos ocupantes mais sinistros da história, perpetrando represálias sobre a população civil em termos que reproduzem as represálias nazis sobre as populações dos países ocupados na II Guerra Mundial, ou as dos norte-americanos no Vietname, dos franceses na Argélia. Neste momento, com o fluxo imparável de material bélico ocidental, Israel dispara (e mata) em todas as direções: Irão, Síria, Iémen, e agora, sobretudo o Líbano. Por enquanto ordena deslocações de populações; depois passará diretamente às deportações, seguindo o exemplo de Gaza. Bombardeia cidades e campos de refugiados – dos milhões de palestinianos que na Nakba de 1948 expulsaram das suas casas, dos sírios que procuraram fugir da guerra que o Estado Islâmico e as guerrilhas que a Turquia (membro da NATO) e os EUA armaram em 2011.

Os EUA e Israel são há muito aquilo que no glossário imperial se tem chamado “Estados párias”: sequestros em prisões ilegais, tortura sistemática, assassinatos contrariando qualquer forma de direito, nacional ou internacional. Israel é o Estado do planeta que mais resoluções da ONU incumpre, o seu chefe de governo tem um mandado de captura internacional, ataca estruturas e instalações das agências da ONU e assassina os seus funcionários (e médicos, e jornalistas, e crianças...). E, contudo, aí estão os governos UE a proibir por “antissemitas” manifestações de solidariedade com as vítimas palestinianas e exigindo boicote e sanções a Israel.

Somos um mundo de impunidade e de desigualdade, lembrou há dias Guterres, onde muitos governos “podem invadir outro país, devastar sociedades inteiras ou ignorar totalmente o bem-estar do seu próprio povo” e passar por cima de “decisões dos tribunais internacionais”. Não vale a pena é imaginar que a impunidade imperial dos nossos dias é nova. O que é nova é a coerência desta “necropolítica”, deste exercício do poder de “ditar quem pode e não pode viver” como “expressão máxima de soberania” (Achille Mbembe), com esta narrativa tipicamente fascista e colonial que nos fazem das guerras expansionistas de Israel. Não somente tratando os povos árabes da região como “animais humanos”, mas contando tudo nos mesmos termos socialmilitaristas com que no Brasil se narra a entrada da polícia militar numa favela ou como na imprensa nazi se falava da “bestialidade” dos ciganos, dos judeus e dos eslavos que “ameaçavam a existência da Alemanha”.

As guerras israelitas, a sua necropolítica genocida, as décadas de ocupação impune, aplaudida, justificada, dizem tudo do que é hoje o Ocidente. A nossa posição perante elas diz tudo de cada um de nós.


2 de Outubro de 2020

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Carlos Coutinho - artigo de opinião

 * Carlos Coutinho

2024 10 03

ASSIM se vê a força da TV, isto é, a força das imagens que ontem fez um milagre na página 8 do “Público”, escarrapachando a opinião de dois historiadores, personalidades muito informadas, mas simétricas, que sentiram necessidade de convergir publicamente, já que as guerras nos estão a sair a todos muito caras e ninguém sabe como elas vão acabar. Ao fim da tarde, já noite em Beirute, vimos os clarões róseos e brancos do fogo no centro de Beirute, em direto, instantes depois de mais um bombardeamento ao centro da capital libanesa.

   Eis o que escreve o académico e ex-ministro da Administração Interna, num governo do PS, Nuno Severiano Teixeira”:

   “O Médio Oriente está a ferro e fogo. Gaza está arrasada e o Líbano em convulsão. Israel ébrio de vitórias táticas e o Irão condicionado por um dilema estratégico- Os Estados Unidos apelam à paz e Netaniahu faz a guerra. Sob a vertigem do dos acontecimentos e a ameaça de um conflito em larga escala, é difícil ver claro. Mas há duas perguntas fundamentais: como é que tudo começou? E como é que vai acabar?

   “Começou há mais de um século. É um conflito que atravessou várias fases e diferentes configurações. Entre as duas guerras, ainda sob o mandato britânico da Sociedade das Nações, assumiu a forma de uma guerra civil. Nos anos 30, os palestinianos revoltaram-se contra a instalação de judeus em Israel e contra os britânicos que a facilitaram.

   “Depois da fundação do Estado de Israel, entre 1948 e 1973, o conflito assume a forma de um conflito clássico interestatal. Os palestinianos desapareceram da equação e as grandes resoluções do Conselho de Segurança da ONU nem sequer os mencionam. O conflito é entre exércitos regulares de Israel e dos estados árabes. É tempo da chamada ‘guerra israelo-árabe’. E das grandes vitórias israelitas: 1948, 1956 e, sobretudo, a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e do Yom Kippur, em 1973. A partir de então, o conflito muda uma vez mais de configuração e aproxima-se de uma guerra assimétrica entre as forças palestinianas e o Estado de Israel. Este processo é acompanhado por uma ampla dinâmica: de desarabização do conflito e apropriação palestiniana da sua causa. Desde os acordos de paz de Camp David, em1978, que, primeiro o Egito, depois os outros estados árabes se vão afastando do conflito. Em 1993, nos acordos de Oslo, são os próprios palestinianos, através da OLP, que assinam, a paz com Israel.
 
  “Em casa, enquanto Israel vai consolidando o seu poderio militar, os palestinianos vão alimentando a sua revolta nas sucessivas intifadas 1987-1993, e 2000-2005. Uma coisa é certa: a desarabização do conflito e reapropriação palestiniana é acompanhada pelo desenvolvimento da guerra assimétrica. E é a retirada dos estados árabes que permite a entrada do Irão. Em 1988, depois da guerra Irão-Iraque, o Irão decide substituir os estados árabes no apoio à causa palestiniana e construir uma rede de influência regional de atores não esttais, explorando, precisamente, a guerra assimétrica: o Hamas, ;o Hezbollah; a Jihad Islâmica e os houtis. 

   “Agora, como é que tudo isto voa acabar?”

   O professor da Nova não sabe e eu também não. Sei que, capciosamente o Nuno Severiano finge desconhecer que Israel financiou o Hamas, porque era a forma de atacar por dento a OLP. Arafat acabou por morrer envenenado E Telavive até já tem ogivas nucleares… Adiante.

   Eis agora o que escreve o académico o ex-deputado do PCP Manuel Loff:

   “Até ontem, os países da NATO, um após outro, exortavam Israel a não invadir o Líbano e enviavam a este país aviões… para recolher o seu pessoal diplomático eos cidadãos que queiram e, num país onde um milhão de pessoas (uma em cada cinco) tiveram de fugir de casa, se conseguiam sair. Mas não enviaram aviões de combate para reforçar as Forças Armadas libanesas contra o invasor israelita, como fizeram com a Ucrânia. O que vale para a Ucrânia não vale. Num ano inteiro não valeu para Gaza, a Cisjordânia, territórios invadidos não há dois mas há 67 anos. Num ano morreram incomparavelmente mais civis em Gaza do que em mais de dois anos e meio na Ucrânia – e Biden e Von der Leyen pedem aos países árabes a mesma desescalada e diplomacia cujo oposto praticam intensamente há anos na Ucrânia. 

   “É insólito este medo de uma guerra generalizada na boca de quem governa deste lado do mundo. Ontem mesmo, Biden deu as ordens necessárias para comprometer (mais inda) os EUA nas guerras de agressão israelitas. Depois de terem justificado a chuva de mísseis sobre Beirute como uma merecida punição do Hezbollah, os EUA substituíram-se aos israelitas na interceção dos mísseis iranianos para proteger Netanyahu e os genocidas que o acompanham. E disponibilizam para a guerra os c43 mil soldados que, por vezes contra a vontade dos respetivos governos, têm na região. E assim se procura ‘evitar a guerra’.

   “A discussão da dualidade de critérios não é apenas moral. Ela tem implicações diretas nas vidas de milhões de pessoas. A dualidade mata. Em Gaza, na Cisjordânia, Israel comporta-se como um dos ocupantes mais sinistros da história, perpetrando represálias sobre população a população civil em termos que reproduzem as represálias nazis sobre as populações dos países ocupados na II Guerra Mundial, ou as dos norte-americanos no Vietname, dos franceses na Argélia. Neste momento, com o fluxo imparável de material bélico ocidental, Israel dispara (e mata) em todas as direções: Irão, Síria, I énen e agora, sobretudo o Líbano. Por enquanto ordena deslocações de populações; depois passará diretamente às deportações, seguindo o exemplo de Gaza. Bombardeia cidades ed campos de refugiados - dois milhões de palestinianos que na Nakba de 1948 expulsaram das suas casas, dos sírios que procuraram fugir da guerra que o Estado Islâmico e as guerrilhas que a Turquia (membro da NATO) e os EUA armaram em 2011.
   “Os EUA e Israel são há muito aquilo que no glossário imperial se tem chamado ‘Estados párias’: sequestros em prisões ilegais, tortura sistemática, assassinatos contrariando qualquer forma de direito nacional ou internacional. Israel é o Estado do planeta que mais resoluções da ONU incumpre, o seu chefe de governo tem um mandado de captura internacional, ataca estruturas e instalações das agências da ONU e assassina os seus funcionários (e médicos e jornalistas. E crianças…). E, contudo, aí estão os governos da EU a proibir por ‘antissemitas’ manifestações de solidariedade com as vítimas palestinianas e exigindo boicote e sanções a Israel. (…) As guerras israelitas, a sua necropolítica genocida, as décadas de ocupação impune, aplaudida, justificada, dizem tudo o que é hoje o Ocidente. A nossa posição perante elas diz tudo de cada um de nós.”

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Carlos Coutinho - [o Povo eleito por Deus}




* Carlos Coutinho

2024 10 03 
 
BARACK Obama é um providencial norte-americano cedo sentiu a necessidade de o demonstrar isso mesmo, a todo o momento, já que não é branco e, ainda por cima, nasceu em Honolulu, no Havai. 

   Caso contrário, nem candidato poderia ser e, se o fosse, estava sujeito a um fim semelhante ao de Luther King. E, se por qualquer confusão dentro do eleitorado, fosse para a Casa Branca, o que o podia esperar era um fim semelhante ao dos irmãos Kennedy.  Daí que uma das suas mais significativas cautelas enquanto presidente fosse uma arenga hipernacionalista na Academia de West Point, em 2014, enaltecendo o ”excecionalismo  americano” segundo o qual “os EUA têm direito de governar o mundo”, direito adquirido com a Guerra Fria.  

   Na sua versão, explicitada aos futuros oficiais das forças armadas do Tio Sam, “os EUA são e continuarão a ser a única nação indispensável”, que levou, anos depois, um coronel português notável enquanto escritor e historiador, Carlos Matos Gomes, a considerar (in Medium.com) que, na Palestina ocupada, essa política é uma continuada guerra de extermínio”, um “lento genocídio” que alimenta o projeto de Israel num estado judaico , um estado racialmente puro, só para os judeus, os arianos da região. 

   Como eu não podia estar mais de acordo, também não vejo diferenças na política norte-americana praticada no Médio Oriente e noutras partes de mundo, com ou sem a NATO servi-la.

A verdade, porém, é que o moreninho Barack, cristão protestante como tantos caçadores de índios de origem europeia, nem sempre se comportou como o mais nacionalista dos norte-americanos e até se dotou de um vice-presidente católico romano, Joe Biden, bem conhecido pela teia de interesses em que se meteu, sobretudo na Ucrânia, tal como Hunter, seu filho, encarregando-os de coordenar a política da Casa Branca para essas partes do planeta mergulhadas em guerras longas. 

   Confortado com esta realidade, o primeiro ministro Netanyahu, com a justiça à perna por vigarices várias e exibindo o seu desprezo pela ONU, a pontos de agora até declarar o seu secretário-geral, António Guterres, “persona non grata”, proibindo-o de entrar em Israel, e marimbando-se para o Direito Internacional, afirmou na cerimónia de posse do seu novo governo que “o povo de Israel tem o direito exclusivo e incondicional a todas partes das terras de Israel”  - incluindo os Montes Golã (da Síria), bem como a Judeia e a Samaria (territórios da Cisjordânia palestiniana) – e garantiu que continuaria a instalar colonatos e terra palestiniana.

   Também ao apresentar publicamente o último relatório submetido ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU, reunido em Genebra, a relatora especial da ONU Francesca Albanese acusou Israel de haver “transformado os territórios palestinianos ocupados numa prisão a céu aberto, na qual os seus habitantes são permanentemente confinados, vigiados e punidos (…), considerados culpados de crimes não provados”, num processo de “encarceramento em massa”, além de submetidos a “bloqueios, muros, infraestruturas segregadas, postos de controlo e colonatos que cercam as suas cidades e vilas, centenas de autorizações burocráticas e uma teia de vigilância digital que empurram cada vez mais os palestinianos para uma continuidade carcerária, através de enclaves controlados”.

   O que eles aprenderam com Hitler…  E como gosram de o imitar!

   Talvez seja de recordar que os EUA de Obama estão na Europa, na América Latina, no Médio Oriente e na Ásia com bases militares que servem para impor as suas “regras”, sendo que os dois partidos alternantes no poder dependem dos fundos provenientes da indústria bélica para financiarem as suas campanas eleitorais. 

   E são pressionados pelos fabricantes de armamento, sabendo Obama, tal como os seus antecessores e sucessores, que desafiar o a economia de gurra permanente significa ser-se rotulado de antipatriota.
   Manda o tal “complexo militar industrial” e o resto são cantigas. 

Contou o monstruoso e insigne Brzezinski, um governante americano ex-polaco, que os EUA investiram cinco a seis milhões de dólares a empurrar a URSS para o Afeganistão, revelando que o grande democrata James Carter assinou a primeira diretiva para ajuda secreta aos oponentes do governo de esquerda do Afeganistão, organizando, armando, doutrinando e financiado os talibãs e outros grupos terroristas formados em diversos países. 

   O resultado foi mais de um milhão de mortos e o hediondo retrocesso civilizacional a que estamos a assistir. Neste momento as mulheres já são proibidas de aprender a ler e escrever.

   O prof. Daniel Bessener (Universidade da Washington) estudou os feitos mais marcantes do “século americano” e apurou que os EUA, durante a Guerra Fria, os EUA impuseram “modificações de regime no Irão, Guatemala, República Democrática do Congo, Guiana Britânica, Vietname do Sul, Bolívia, Brasil, Panamá, Indonésia, Síria e Chile, matando Lumumba e Allende.  

   Gabriel  Rockhill, por sua vez, afirma que os EUA são o único país que, nos tempos recentes, “se esforçou para derrubar mais de 50 governos estrangeiros; estabeleceu uma agência de inteligência que matou pelo menos 6 milhões de pessoas nos primeiros 40 anos a sua existência; desenvolveu uma draconiana rede policial-vigilante para destruir quaisquer movimentos políticos domésticos que desafiassem o deu domínio; construiu um sistema de encarceramento em massa que tem detida uma percentagem da população maior do que qualquer outro país do mundo e que está inserido numa rede global de prisões secretas e regime de tortura.”

   O historiador Paul Thomas Chamberlain calcula que pelo menos 20 milhões de indivíduos morreram em conflitos da Guerra Fria, o equivalente a 1 200 de mortes por dia, durante 45 anos”, cita o prof. António Avelãs Nunes em “Este É o Tempo dos Monstros”

Acho que cega de estatísticas v e notícias de necrotério. 

   Fiquemos por aqui.

“O Massacre dos Inocentes”, segundo Rubens. Ordenado por quem? Por Herodes, um rei judeu ao serviço do Império Romano. Hoje, o que era mais certo era que ele se chamasse Netanyahu, visto que é o Sacro Império Romano-Americano que o atual mostrengo judeu está a servir. Embora nem sempre pareça…

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