segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

4 canções de José Afonso, ilustradas, para ver, ler e ouvir


por Victor Nogueira a Segunda-feira, 7 de Janeiro de 2013 às 22:58 ·
*  A canção de José Afonso «A morte saiu à rua» [1971] é uma homenagem a José Dias Coelho, dirigente do PCP assassinado pela PIDE em 1961.12.19 

A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai

O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu

Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina, à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou
~
Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada, há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação

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* Cantar alentejano
 (Vicente Campinas / José Afonso) [1967 / 1971] 
 Homenagem a Catarina Eufémia, assalariada rural alentejana, assassinada pela GNR em 1954.05.19, durante uma greve por melhores condições de vida e de trabalho

Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer

Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

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Era de noite e levaram [1969]
(Luís Andrade / José Afonso)

Era de noite e levaram
Era de noite e levaram
Quem nesta cama dormia
Nela dormia, nela dormia

Sua boca amordaçaram
Sua boca amordaçaram
Com panos de seda fria
De seda fria, de seda fria

Era de noite e roubaram
Era de noite e roubaram
O que na casa havia
na casa havia, na casa havia

Só corpos negros ficaram
Só corpos negros ficaram
Dentro da casa vazia
casa vazia, casa vazia

Rosa branca, rosa fria
Rosa branca, rosa fria
Na boca da madrugada
Da madrugada, da madrugada

Hei-de plantar-te um dia
Hei-de plantar-te um dia
Sobre o meu peito queimada
Na madrugada, na madrugada

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* Canto Moço [1971]
José Afonso


Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor nos ramos
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praia do mar nos vamos
À procura da manhã clara
Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Mensageira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha
Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.

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litogravura de José Dias Coelho - imprensa clandestina do pcp

litogravura de Jisé Dias Coelho - asassinato de Catarina Eufémia

cartoon de João Abel Manta - preso político kladeado pela PIDE e pela GNR

litogravura de José Dias Coelho - manifestação

Álvaro Cunhal - desenhos da prisão

Álvaro Cunhal - Projectos


Cartoon de João Abel Manta - interrogatório e tortura pela PIDE dum preso político


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