sexta-feira, 12 de junho de 2015

Eugénio de Andrade - O COMUM DA TERRA (VASCO GONÇALVES)




* Eugénio de Andrade

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
de cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem,
vento areias mastros lábios, tudo ardia.

© EUGéNIO DE ANDRADE 
Homenagens e outros Epitáfios, 1974 

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