segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A visão global da guerra - RTP1: Série documental estreia hoje à noite


* João C. Rodrigues


O realizador e autor da série documental ‘A Guerra’, Joaquim Furtado, acredita que o trabalho que estreia esta noite na RTP 1 vai suscitar controvérsia.

Em antecipação ao primeiro de 18 episódios do documentário sobre o período da guerra colonial, Joaquim Furtado afirmou ao CM que “a própria série já é controversa em certos momentos”, uma vez que apresenta “muita informação nova sobre factos que até agora eram dados como certos”.

“Não me surpreendia se o assunto voltar a ser discutido pelas pessoas. É uma questão sensível na história de Portugal e, apesar de já se terem passado quase 40 anos, nunca foi tratada e esclarecida como deveria.”

Furtado sustenta que os depoimentos recolhidos e as imagens contextualizadas, “por mostrarem novas visões sobre as verdades oficiais da época, vão, pelo menos, levantar alguma discussão”. O realizador dá como exemplo os primeiros momentos da guerra e o episódio que ficou conhecido como o ‘Massacre de Mueda’, em Moçambique, onde terão morrido centenas de pessoas.

“São 13 anos de história que quis contar de forma integrada e simultânea, isto é, mostrar como existiam dois pólos que condicionavam a guerra: o português e o internacional.”

Para mostrar as diferentes visões da mesma guerra, o jornalista deslocou-se por diversas vezes aos locais que marcaram aquele momento no sentido de obter depoimentos daqueles que estavam no outro lado da barricada. Como exemplo das diferentes perspectivas como os protagonistas viam o conflito, Joaquim Furtado diz que logo no ‘nome’ da guerra se vê o modo como a mesma era encarada: “Dependendo do lado, há quem lhe chame guerra colonial, guerra no Ultramar ou guerra da libertação.”

Mas não será só em Portugal que a série documental pode provocar reacções. O realizador explicou ao CM que ‘A Guerra’ também será exibida na RTP África – em simultâneo –, pelo que também poderá causar controvérsia nas antigas colónias portuguesas.

Consciente da sensibilidade do tema e do impacto que pode vir a ter, o realizador confessa que planeou a série “a pensar em diferentes públicos”. “Tanto naqueles que viveram o conflito directa ou indirectamente, como nas camadas mais jovens, que têm muita curiosidade em saber o que se passou com os pais ou outros familiares neste período, mas que partem com ideias feitas, distorcidas ou incompletas sobre o mesmo.”

DOCUMENTÁRIO EM HORÁRIO NOBRE FAZ FALTA À TELEVISÃO

Joaquim Furtado está satisfeito por ver o seu trabalho exibido no horário nobre da RTP 1, razão que ajuda a ter expectativas altas em relação às audiências. “Não acompanho o fenómeno desde que deixei a direcção da RTP, mas parto do princípio que é um assunto que diz respeito a muitos portugueses e que, nesse horário, poderá ter bons resultados. Por isso, julgo que haverá um grande número de pessoas a seguir a série.” O jornalista sustenta ainda que devia haver mais documentários na televisão portuguesa: “Claramente falta espaço para este tipo de formatos nos canais nacionais. E isso faz falta.”

IDENTIFICAÇÃO DE ARQUIVOS PROBLEMÁTICA

“A maior dificuldade na produção de ‘A Guerra’ foi a identificação dos filmes dos Arquivos da RTP e do Exército”, diz Joaquim Furtado. “Em muitos casos a identificação estava errada ou incompleta. Havia imagens em que a informação dizia que tinham sido recolhidas em determinado local de Angola, mas, na verdade, foram captadas no extremo oposto do país. Conseguir identificar e contextualizar todos os documentos foi um processo muito moroso”, confessa o realizador. Para produzir os 18 episódios de uma hora, Joaquim Furtado recorreu a cerca de 500 horas de gravações que estavam arquivadas e registou 200 depoimentos de entre as mais de 400 entrevistas que fez no processo. “É natural que muito material tenha ficado de fora, mas há aspectos que podem voltar a ser recuperados no futuro”.

SAIBA MAIS

- 1961 Ano em que estala a guerra em Angola. Em 15 de Março, a União dos Povos de Angola, sob as ordens de Holden Roberto, massacra colonos e negros bailundos trabalhadores nas fazendas.

- 1963 Ano em que a guerra alastra à Guiné – quando, em Setembro, o PAIGC, conduzido por Amílcar Cabral, ataca o quartelamento português de Tite, na margem esquerda do Rio Geba, a Sul de Bissau.

- 1964 A guerra estende-se a Moçambique. Guerrilheiros da Frelimo lançam, a partir da Tanzânia, um ataque ao posto administrativo de Chai, no Norte da colónia.

MORTOS

A guerra durou até 1974. O número exacto de mortos ainda não está apurado: ronda 10 mil, segundo a Liga dos Combatentes.

MILITARES

Milhão e meio de portugueses foram mobilizados para a guerra em África.
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in Correio da Manhã 2007.10.16
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foto - A RTP possui em arquivo milhares de imagens avulsas que agora foram identificadas e colocadas em contexto. Cenas inéditas também prometem surpreender muitos telespectadores.
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» Comentários no CM on line
Quinta-feira, 18 Outubro
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- João Costa Foi desmascarada a classe política pela falta de vergonha evidenciada em 33 anos de democracia. Em certa medida, até os fazedores do 25 de Abril se deixaram enrolar por ela. Todos foram abandonados à sua sorte, os políticos enrolaram a bandeira portuguesa e fugiram a toda a brida. Ainda hoje os generosos combatentes portugueses (que inclui africanos) continuam à espera que olhem para eles.
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Quarta-feira, 17 Outubro
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- jose neves Fui mobilizado para Angola no ano de 1969 como Furriel de infantaria para a zona militar leste. Os dois anos passaram-se e finalmente chegou o dia do desejado regresso.O comandante do batalhao mandou toda a tropa formar no campo do Grafanil. O seu discurso de despedida comecou assim: "Agora a maioria de vocês vão para vida civil, não vão contar o que viram ou não viram. Não sejam JAVARDOS!!!"
- Dúlio Silva Coelho Parabéns ao autor do documentário pois faz falta não só aos ex-colonos saberem mais sobre a guerra que marcou a história mais recente do nosso país mas também aos mais novos saberem tudo o que levou à revolução desde o seu principio, dado isto ser um assunto tabu no nosso ensino e fundamental para compreender melhor a politica e estrategia seguidas pelo nosso governo desde a ditadura. Parabéns.
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Terça-feira, 16 Outubro
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- peregrino O representante da Frelimo disse lá na plateia que 'eles' queriam era apenas a LIBERTAÇÃO do JUGO DOS DE FORA. Ora, os Macondes não são Xanganas e estes não são Macúas. Existem pelo menos 13 POVOS diferentes em Moçambique. QUANDO É QUE A FRELIMO VAI DAR-LHES LIBERTAÇÃO PARA QUE ELES TAMBÉM POSSAM DECIDIR DO SEU PRÓPRIO DESTINO?
- Helder Gerardo Acabei de ver o documentário de Joaquim Furtado e está fantástico. Aliás existe um livro que aconselho vivamente, que relata estes factos todos desde 1849 até 2000 e que mistura ficção e factos históricos duma forma surpreendente: "Os verdes do mato não acabam", de João Coutinho, Ed. Ausência. A não perder!
- Carlos Alberto Guimaraes Dou os meus parabens a Joaquim Furtado pelo trabalho realizado, mas a guerra começou em 11/01/61 na Baixa de Cassange, no Posto Administrativo do Milando- na sanzala de Ganga -Mexica. O 1º oficial que entrou em acçao foi o tenente Portugal com 2 Jipes e e dez homens, que chegou ao Milando na noite de ll/01/61. O Chefe de Posto encontra-se vivo e tem todo este acontecimento escrito, para a historia
- Gentleman Já tardava! Parabéns Sr Joaquim Furtado. Estou ansioso por vêr os culpados dos milhares de portugueses brancos que morreram nas ex-províncias ultramarinas, depois da indepêndencia, sem conseguirem saír das colónias. Estive em Angola em 1996/97 e um alto dirigente do MPLA indentificou-os sem qualquer dúvida. Vamos lá ver se fogem à responsabilidade.
- spirou Dsejava ver, e ouvir dirigentes da frelimo dizer o que eu ouvi em Moçambique,na celebração do dia da independência, 7/09/1998, passou na televisão um documentario sobre a guerra, mais ou menos esplanado do que aconteceu e quais os principais intervenientes da "venda" das ex colonias,as reuniões secretas na Argelia e França, e o que o Sr Savimbi disse ao telefone a um lider politico Português.
- vitor silva Saudosos tempos em k Portugal era um Pais, hj é uma quinta onde cada um rouba o que pode.
- Marília Guimarães Quero informar que a guerra em Angola começou na Baixa do Cassange (Distrito de Malange) em 11.1.1961. Quem deu alerta a Angola inteira foi o Chefe do Posto do Milando o meu pai Alberto Pinto Guimarães. Em Março, o meu pai já estava farto da guerra.
- weisswurst - braga Espero que falem dos 9,000 portugueses brutalmente assassinados em Angola. Espero que falem das manobras da CIA e KGB, incitando ao ódio racial contra Portugueses. Espero que falem que as zonas "libertadas" continuam hoje colonizadas por americanos, russos e chineses. É melhor esperar sentado.
- JBrito Espero que mostrem as imagens e texto constantes no livro, se a memória não me atraiçoa, "Angola, nos dias do desespero".Em 04/02/61 eu tinha 9 anos e assisti a muitas atrocidades que me marcaram até aos dias de hoje.Lisboa
- Leandro Coutinho País rural, pobre, analfabeto.. suportou uma guerra nas décadas de 60 e 70 devido á teimosia de um regime que nenhum outro país da Europa aceitaria.. A Guerra ficou cravada na História de Portugal e de África.. Para já ainda é polémica..Estão vivos milhares e milhares de combatentes..Serão precisos mais 20 anos para poder haver análise desapaixonada..
- Maquiavel Antes de mais é preciso ter isso em mente: O Império Português NUNCA foi como os outros. Falar de 'guerra ultramarina' ou 'guerra de libertação' ou 'guerra colonial' é uma TRAIÇÃO ao ESPÍRITO LUSITANO eternalizado pelos versos de Camões.
- fernanda gaspar Nascida em Angola e me lembrando bem dos masssacres do Norte de Angola, estou morrendo de curiosidade p/ver o documentário. Porque à frente dos guerilheiros havia sempre um feiticeiro de capote preto dizendo que as balas dos brancos não matavam... Ver para crer.Oeiras

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