* Santos Maria de Fátima
Nem a rapariguita seria virgem ao parir a criança, nem se sabe se o rapaz, a traccionar o jumento em que ela se sentava, muito prenha, seria carpinteiro ou se seria outra a sua profissão.
De que, já adulto, o menino tenha ficado o nazareno por ter nascido em Nazaré, não há certeza de que seja verdade; e nem sabemos, com o confirmar de documentos, escavações, pedacinhos arqueológicos, que fosse meia noite certa quando a criança mostrou ao mundo o cocurito da cabecita entre as pernas de sua mãe que o dava a este mundo.
Sabemos tão pouco dessa realidade que nem temos certeza se foi há dois mil e vinte e dois anos, se antes ou depois, o que, a mexer-se, transtornaria, entre outras coisas, o nosso prório dia de aniversário.
Sabemos, isso sim, que andavam os romanos a dizimar os povos por essa África e Ásia e Europa adiante. Dos romanos a gente sabe, comprovado nas muitas cabeças e vestimentas em pedra cheias de nervuras e em colunas quase sempre sem tectos e em pavimentos feitos de muitos quadradinhos que inundam os maiores museus; ou nos enormes aquedutos e estradas e pontes que ficaram a dizer-nos: eles andaram por aqui.
Mas, terão andado, lá pelo oriente, a matar recém nascidos numa caça a um presumível salvador daquelas gentes massacradas, já ao tempo, pelos poderosos?!
Vamos supor que Herodes, sim senhora, usou esse modo de limpeza, assim o diria eu, para calar o povo; mas sabermos de pormenores de uma manjedoura e de um burro e de uma vaquinha, e saber que não tiveram lugar que os abrigasse, a mulher prenha e o seu esposo; e saber onde acabou por ser o local de nascimento duma dessas crianças salva das mãos dos soldados; e saber, ainda mais, as horas certas do primeiro berro desse que contam pelos catecismos, disso não temos prova concludente; isso, a gente conta de modo não comprovado.
Ora eu que me pelo por uma boa ficção, eu que dou dinheiro por um mentiredo bem esgalhado, fico, a cada ano, embevecida do facto insofismável de milhares e mais milhares de gentes fazerem a festa em torno do que nada mais é que uma histórinha deliciosa e linda num enlear de mentirinhas.
É que nem a estrela de Belém, assim chamada, aquela que montamos no topo desse outro enigma que é a árvore, terá sido um fenómeno dos céus científicamente comprovado.
É assim que eu, a cada ano, numa devoção silenciosa que nem explico, medito no quanto somos, homens e mulheres desde século XXI, necessitados de rituais mágicos, de uma história de fadas que nos acalente o sono.
(MF)
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