- SolidãoAproximo-me da noiteo silêncio abre os seus panos escurose as coisas escorrempor óleo frio e espessoEsta deveria ser a horaem que me recolheriacomo um poenteno bater do teu peitomas a solidãoentra pelos meus vidrose nas suas enlutadas mãossolto o meu delírioÉ então que surgescom teus passos de meninaos teus sonhos arrumadoscomo duas tranças nas tuas costasguiando-me por corredores infinitose regressando aos espelhosonde a vida te encarouMas os ruídos da noitetrazem a sua esponja silenciosae sem luz e sem tintao meu sonho resignaLongeos homens afundam-secom o caju que fermentae a onda da madrugadademora-se de encontroàs rochas do tempoMia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

Sem comentários:
Enviar um comentário