* Armando Silva Carvalho
O terror vai-se acumulando lá fora.
Ao princípio ele primava pela distância, via-se, ouvia-se, virtual.
Linhas em sangue vivo podiam circular pelas vizinhanças,
trocavam-se os idiomas por deus,
nasciam e morriam problemas, corriam pelas palavras da noite
os fantasmas do dia.
Mas tudo se ocultava por fim, negro e sem sol redimível,
numa espéciede armário humaníssimo
à prova do corpo a corpo.
Como se lança um dardo desportivo, assim foi a conversa
do poemae da vida.
Iam-se tomando medidas entre país e país,
discutiam-se as possíveis ciências do futuro, o desfrute mental
de possíveis refúgios,
as sempre consumíveis teorias sobre a paciência,
a brilhante ogiva teatral do mundo.
Agora já se observa o lixo armazenado,
as cabeças cheias e coloridas, as artes recicláveis
consoante os estilos de morte,
os braços nus e trabalhados numa pose de séculos,
a sempre apregoada, bendita mãe de todos os desastres,
a rotineira novela do petróleo,
os seios fictícios de Angelina Jolie, a nova namorada de Clooney,
tudo isso concentrado em trinta segundos.
E o degolar gargantas ou enviar mísseis como apertos de mão,
em gran finale.
Ah, ainda se vive tão bem
nesta velha europa.
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