* Comendador Marques de Correia
A VERDADE É QUE O PRIMEIRO-MINISTRO TEM DE TRABALHAR! DEIXEM O COSTA TRABALHAR!
O LÍDER DA OPOSIÇÃO, QUE TEM A IDEIA DE UM DIA VIR A SER LÍDER DA POSIÇÃO (SÓ FALTA DESENVENCILHAR-SE DO ‘O’), TEVE, POR FIM, UMA IDEIA MUITO FELIZ
Desde que o saudoso professor Cavaco Silva exclamou aos quatro ventos uma das suas três frases que ficaram para a História (“Deixem-me trabalhar!”; as outras foram “Safa!” e “Isto é tudo muito difícil, como diz a minha mulher”) que não se ouvia no Parlamento duas ideias acertadas. Pois bem, essa altura chegou com uma proposta de Rui Rio para que os debates quinzenais passem a mensais, que teve de imediato o apoio de António Costa, mostrando que as relações políticas, sociais e pessoais entre os dois homens não sofreram, até hoje, abalo significativo.
Vários políticos e comentadores acharam a ideia de Rio péssima, não percebendo que ele a faz por dois motivos: o primeiro é que espera vir a ser ele próprio primeiro-ministro (embora não saiba quando); a segunda é que, quando ele for primeiro-ministro, haverá um acordo com quem for líder do PS para que os debates passem a semestrais (caso o chefe do PS não seja esse indomável homem que é Pedro Nuno Santos, que cavalga pradarias aparentemente sem destino). Quando o PS voltar ao Governo, o Rui Rio que lá estiver propõe que os debates passem a anuais; mais tarde propor-se-á que passem a ser um por legislatura e, finalmente, que deixem de existir debates, resolvendo-se tudo entre o PS e o PSD à volta de uma jantarada de leitão, ou vitela, ou bacalhau, como devia ser num país onde se come melhor do que se debate. Eu conheço este projeto porque ele foi desenhado em Bilderberg ou na Trilateral, de qualquer modo num desses lugares maçónicos que frequento, e ouvi perfeitamente a tramoia.
Além disso, concordo com a ideia de Rui Rio, Costa e Cavaco segundo a qual um primeiro-ministro que está sempre no Parlamento, ou mesmo de 15 em 15 dias, a responder a perguntas idiotas (infelizmente, é raro haver uma que o não seja), não pode trabalhar a sério, que é para o que lhe pagam. Desde logo porque tem de preparar respostas tão idiotas como as perguntas. E se não é fácil homens superiormente dotados, como são os representantes da nação, pensarem em perguntas idiotas, mais difícil se torna ao mais dotado desses homens, que é o primeiro-ministro, arranjar respostas ao nível. Daí que se perca algum tempo desnecessário nesta coisa dos debates quinzenais. E não só (com dantes se dizia para se dar ares).
Há mais coisas que roubam tempo a um primeiro-ministro empenhado no desenvolvimento das suas tarefas. Por exemplo:
— Os Conselhos de Ministros, onde alguém que não percebe nada de horta tem de ouvir falar de agricultura;
— As visitas a hospitais, centros de saúde, lares de velhinhos, escolas, etc., nos quais, além do risco de infeção, se perde imenso tempo nas deslocações;
— As reuniões semanais com o Presidente da República, porque toda a gente sabe que o Marcelo deve telefonar seis vezes por dia a António Costa, como aliás faz à maioria dos portugueses;
— As entrevistas a órgãos de comunicação social, mormente às televisões, para as quais tem de preparar-se longamente, de modo a dizer com cara séria um chorrilho de mentiras a que as circunstâncias o obrigam (do amor que tem por Pedro Nuno à consideração que devota a Catarina Martins);
— As reuniões com os partidos, para lhes dar conta de coisas em Bruxelas que não têm absolutamente interesse nenhum, porque já se viu que a Merkel decide, e, quando não é a Merkel, como no caso do presidente do Eurogrupo, as coisas não ficam melhor;
— As próprias reuniões do Conselho de Ministros europeu, que apenas servem para tirar fotografias para campanhas eleitorais ao lado de dois tipos de pessoas: as que as tiram para as usarem nas suas próprias campanhas e as que as deitam imediatamente fora ou aproveitam para pedir um voto numa treta qualquer em debate no momento;
— As deslocações constantes de casa a São Bento, que o impedem de ser mais colaborativo com a sua mulher, que além de o mandar à praça gostava que ele lavasse a loiça (a do jantar);
— Os almoços com empresários, ou quem quer que seja, para assegurar que está tudo bem!
Imaginem Costa liberto destas funções. O tempo que ele teria para governar o país, coisa que, aliás, também é um desperdício fazer, porque, mesmo que fique quieto, nós somos governados pela Europa, que é governada pela China e pelos EUA, que são governados por duas figuras maléficas que andam, aliás, às ordens de um vírus.
O líder da Oposição, que tem a ideia de um dia vir a ser líder da Posição (só falta desenvencilhar-se do ‘O’), teve, por fim, uma ideia muito feliz.
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