* Mário Castrim
Ser comunista, hoje
Esperança:
é a maneira
como o futuro fala
ao nosso ouvido.
Depois
há que saber
organizá-lo.
Então
Os comunistas entram em acção.
Versos muito pessoais
III
És livre?
Isto é:
quem amas?
IV
Realizo-me no acto de pagar
as quotas do Partido.
Não tem nada de heróico.
Nada mais natural
como beijar o filho
na hora de deitar.
V
Leio
o AVANTE!
devagar
e com toda a atenção
como se o escrevesse.
*************************
Lágrimas, não. Lágrimas, não. A sério -
Enfim, não digo que. É natural.
Mas pronto. Adeus, prazer em conhecer-vos -
Filhos, sejamos práticos, sadios.
Nada de flores. Rigorosamente.
Nem as velas, está bem? Se as acenderem
Sou homem para me levantar e vir
soprá-las, e cantar os «parabéns».
Não falem baixo: é tarde para segredos.
Conversem, mas de modo que eu também
oiça, e melhor a grande noite passe.
Peço pouco na hora desprendida:
Fique eu em vós apenas como se
Tudo não fosse mais que um sonho bom.
(Último poema de Mário Castrim, escrito uma semana antes do seu falecimento e após cerca de dez semanas de internamento.)
Sem comentários:
Enviar um comentário