sexta-feira, 31 de julho de 2020

Mário Castrim - "Ser comunista, hoje" e outros poemas

* Mário Castrim

Ser comunista, hoje

Esperança:
é a maneira
como o futuro fala
ao nosso ouvido.
Depois
há que saber
organizá-lo.

Então
Os comunistas entram em acção.


Versos muito pessoais

III

És livre?
Isto é:
quem amas?

 IV

Realizo-me no acto de pagar
as quotas do Partido.
Não tem nada de heróico.
Nada mais natural
como beijar o filho
na hora de deitar.

 V

Leio
o AVANTE!
devagar
e com toda a atenção
como se o escrevesse.


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Lágrimas, não. Lágrimas, não. A sério -
Enfim, não digo que. É natural.
Mas pronto. Adeus, prazer em conhecer-vos -
Filhos, sejamos práticos, sadios.

 Nada de flores. Rigorosamente.
Nem as velas, está bem? Se as acenderem
Sou homem para me levantar e vir
soprá-las, e cantar os «parabéns».

Não falem baixo: é tarde para segredos.
Conversem, mas de modo que eu também
oiça, e melhor a grande noite passe.

Peço pouco na hora desprendida:
Fique eu em vós apenas como se
Tudo não fosse mais que um sonho bom.



               (Último poema de Mário Castrim, escrito uma semana antes  do seu falecimento e após cerca de dez semanas de internamento.)



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