segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Maria de Fátima Santos - Decidi, tá decidido

 * Maria de Fátima Santos

Decidi, tá decidido: este ano vou atravessar a época natalícia como se de um comum feriado se tratasse. Deixar, assim, o frisson das prendas e da família toda junta. E nada de enfeites pela casa. Alguns são tão antigos que quase saltam sózinhos da arca onde os guardo para o local do costume - diz o anjinho: eu sou aqui nesta parede, enquanto o Pai Natal de pano trepa para a prateleira onde arrumo os autores de meu culto. 

Este ano experimento e pode ser que não seja, assim, difícil responder à pergunta recorrente das amigas: vêm todos? e eu, feita estúpida, mentindo com os dentes que já nem tenho: não sei, ainda.

E não terei que fazer doces. Nem mesmo as rabanadas de que gosto e nunca mais fiz para os meus lanches. Têm ovos e leite e, fritas em óleo, são uma desgraça para este mal estar em que ando. Talvez o bacalhau com couves num jantar à hora que é uso. E, sem prendas, não haverá meia noite e a idade já não permite essas horas tardias.

Tá decidido!! 

E que alívio sinto.

Mas Bom Natal para todos, bem entendido.


2022 11 28

domingo, 27 de novembro de 2022

António Jorge - Inexistência…

* António  Jorge

Eu não existo, e não existi nunca
…eu sou apenas a ficção inventada e revelada.
Renuncio a tudo e a todos…
E mesmo que digam que eu existo e ou existi.
Não sou passado nem presente
Nem me projecto no futuro.
E em mim, não existiu nem se processou nada para eu ser!
Por isso pura e simplesmente não sou, nem fui nunca.
Nem existi, nem existo.
Nem quero existir.
Eu sou apenas o resultado de um acidente telúrico
que surgiu do nada e desapareceu, tal como o vento…
sem deixar rasto.
- E que tal como fui trazido…
fui levado pelas marés vivas
da água salgada do mar em perpétuo movimento… que
coalhou no tempo, antes de eu nascer.
2022 11 27   António Jorge
Gaia-Porto

sábado, 26 de novembro de 2022

Viriato Soromenho-Marques - Vosso futuro, nosso inferno

 *   Viriato Soromenho-Marques

OPINIÃO  -  26 Novembro 2022 — 

Muitas opiniões ventiladas na nossa esfera pública, a propósito da luta estudantil contra a devastação ambiental e climática, surpreenderam-me. Não apenas pela gritante ausência de escolaridade sobre os temas em debate, mas pelo atrevimento de transformar a pobreza reflexiva num ato de iliteracia voluntária. Os jovens ativistas de hoje bem podem identificar-se com o Paul Nizan, de Aden Arabie (1931): "Tinha 20 anos. Não deixarei ninguém dizer que é a mais bela idade da vida."

Para perceber a gravidade do que está em causa é útil ler Douglas Rushkoff (DR), no seu mais recente livro: A Sobrevivência dos mais Ricos. Fantasias de Fuga dos Bilionários da Tecnologia (W.W. Norton, 2022). Tudo começou em 2017, quando DR - um professor de teoria dos media e de economia digital, e um dos 10 mais influentes intelectuais da atualidade segundo o MIT - foi convidado, com um tentador honorário equivalente a meio ano de salário, a proferir uma conferência sobre o futuro da tecnologia numa luxuosa e isolada estância. Para surpresa de DR, o público era constituído por apenas 5 grandes investidores de capital de risco, que cercaram o orador com temas fora da agenda do convite. As perguntas prendiam-se com a sua sobrevivência pessoal depois do "evento", o nome dado ao colapso da civilização por causas ambientais, nucleares, tecnológicas, pandémicas, ou pela combinação de todas elas: Qual o melhor sítio para construir um bunker, Alasca ou Nova Zelândia? Como garantir a fidelidade dos guarda-costas, depois do evento? Como impedir as multidões enlouquecidas pelo desespero de assaltarem esses redutos pós-apocalípticos?

Foi esta inquietante reunião que levou DR a estudar o universo mental da elite tecnológica global. O resultado aí está nos 12 capítulos e 224 páginas deste ensaio. Trata-se de uma viagem àquilo que o autor designa por Mindset, uma sinistra gnose partilhada pela elite que governa as dinâmicas da inovação tecnológica: os grandes empresários do mundo digital e os líderes da arquitetura financeira global. Os donos não apenas do dinheiro, mas os engenheiros das mentes, dos mitos e das esperanças, criadas e difundidas pelos intelectuais orgânicos do otimismo tecnológico como ópio para as massas. Os políticos estão ausentes, pois esta narrativa não inclui o pessoal menor. Musk, Bezos, Zuckerberg, Peter Thiel, Ray Kurzweil entre muitos outros ...

A tábua de valores destes super-ricos consiste na idolatria do ego, na crença de que a vida é um jogo de vídeo a vencer, onde as regras de um mercado impiedoso imperam. A condição humana é reduzida a uma galáxia de dados que os algoritmos da IA ajudam a explorar e domesticar. Baniram a prudência ética, pela aposta na tecnologia como instrumento da dominação e nulificação da natureza, capaz de reduzir à obediência voluntária o resto da humanidade, com a qual não sentem qualquer afinidade. À semelhança dos estudantes teenagers que lutam por um futuro habitável, os super-ricos acreditam que vamos rumo ao colapso, mas ao contrário da recusa dos jovens, aceitam-no como o inevitável preço da sua dominação, seguros de salvarem a pele nas centenas de abrigos, brotando como cogumelos, de onde esperam emergir ilesos num planeta esterilizado pela ruína e mega morte. Teríamos aqui um caso a exigir a intervenção dos poderes públicos, caso eles fossem efetivos. Mas, certamente, não contra os estudantes, os derradeiros defensores de uma habitação da Terra onde todos caibam.

Professor universitário

https://www.dn.pt/opiniao/vosso-futuro-nosso-inferno-15387224.html

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Pedro Abreu Simões - (𝗖𝗢𝗠)𝗕𝗔𝗧𝗘𝗡𝗗𝗢 𝗢 𝗩𝗘𝗡𝗧𝗢

(𝗖𝗢𝗠)𝗕𝗔𝗧𝗘𝗡𝗗𝗢 𝗢 𝗩𝗘𝗡𝗧𝗢
═══════════════════════════
▫️
Bate o vento firmemente
nos batentes do teu canto.
Traz notícias de outra gente
que por fora anda contente,
mas por dentro chora tanto.
▫️
Bate o vento… Bate, bate…
Mas tu vences o combate!
▫️
Bate o vento à tua porta
com notícias lá de fora,
mas a ti já nada importa
o que o vento te reporta,
pois por ti não ri nem chora.
▫️
Bate o vento… Bate, bate…
Mas tu vences o combate!
▫️
Bate o vento e tenta em vão
invadir o teu terreiro…
Bate e morre de exaustão,
pois tu tens no coração
a voz de outro mensageiro.
▫️
Bate o vento… Bate, bate…
Mas tu vences o combate!
▫️
*****
¹⁶/⁰⁸/²⁰¹⁹
▫️
© Pₑdᵣₒ Abᵣₑᵤ Sᵢₘₒ̃ₑₛ✍
▫️
in “SINFONIA DOS PLÁTANOS”, Pedra-Pomes, 2020

Carlos Matos Gomes - O Maestro do 25 de Novembro de 1975


* Carlos Matos Gomes 

Os acontecimentos da História são notas para várias sinfonias e distintas interpretações. A História conta-se através da interpretação de temas. A realidade transmitida pelos acontecimentos é apenas um tema conduzido por um maestro através dos executantes da orquestra que dirige.

O golpe de Estado 25 de Abril de 1974 e o processo político que o continuou até ele culminar no golpe de Estado de 25 de Novembro, um clássico putsch militar para alterar um regime, podem ser analisados como uma peça musical com vários andamentos, intérpretes, e um maestro que recebeu uma partitura com um tema: transformar um pequeno “perturbador rebelde” num menino invisível e bem comportado. Francisco da Costa Gomes recebeu essa partitura em Helsínquia, na Conferência para Segurança e Cooperação Europeia, no Verão de 1975, das mãos dos senhores do mundo dessa época, Gerald Ford, Leónidas Breshnev e os dirigentes da troika europeia, a Alemanha, a França e o Reino Unido. O 25 de Novembro constituiu o último andamento da sinfonia, em Moderato.

O 25 de Abril de 1974 foi um golpe militar da total responsabilidade de uma fação das forças armadas portuguesas para derrubar um regime de ditadura que levara o país a um beco sem saída com uma guerra colonial. A execução golpe não teve interferências estrangeiras. A ação dos “capitães” processou-se sem “autorização” de Estados estrangeiros, nem apoios externos.

Já o processo político desencadeado pelo 25 de Abril de 1974 teve, esse sim, fortíssimas intervenções externas até ao seu epílogo, em 25 de Novembro de 1975.

O derrube da ditadura portuguesa e a instauração de um regime de liberdade e de direitos políticos alterava a situação na Península Ibérica, onde conviviam duas ditaduras, e podia motivar fenómenos idênticos de intervenção democrática nas Forças Armadas de Espanha, com o ressuscitar de conflitos vindos da sangrenta Guerra Civil. Portugal era membro da NATO, um membro fundador e fiel, qualquer alteração política em Portugal e, mais ainda, causada por militares, implicava uma intervenção da NATO e em especial dos Estados Unidos. A Europa vivia ainda um momento de entusiasmo com o reforço da CEE devido à entrada do Reino Unido, existia um clima de détente na Guerra Fria, com a preparação de acordos de limitação de armas e forças entre a NATO/Estados Unidos e a URSS, que iriam conduzir aos Acordos de Helsínquia, que nem Gerald Ford e Kissinger, nem Breshnev queriam ver perturbados pela agitação num pequeno e periférico país, e, por fim, decorria o processo de descolonização com os negociações para a independência de Angola, a última joia da coroa do colonialismo europeu, cujo domínio interessava às duas superpotências, mas também, a toda a África Austral, à China e a Cuba.

O processo político português passou a ser, principalmente após o 11 de Março de 1975, um “caso” pilotado do estrangeiro. A partitura do processo político passou a ser escrita em Washington, em Moscovo, em Londres, em Paris, em Bruxelas e foi entregue a um maestro nacional: Francisco da Costa Gomes.

Costa Gomes passou a ser o maestro do processo político português com a missão de o controlar e de manter Portugal enquadrado pelo modelo de governação, de economia de mercado e capital instaurado na Europa Ocidental após a partilha feita entre os EUA e a URSS nas conferências de Ialta e de Potsdam. Foram atribuídas a Costa Gomes pelos Estados Unidos, através do diretório da NATO, as tarefas de disfarçar a exclusão de Portugal do Grupo de Planeamento Nuclear da Nato (GPN) — o santo dos santos da organização — de modo a não ofender os militares portugueses e a não fornecer argumentos à esquerda portuguesa, na altura anti-NATO.

É Costa Gomes quem recebe a indicação de afastar Vasco Gonçalves do governo (o medo do comunismo — que era, na realidade, a recusa a aceitar autonomia estratégica de Portugal na descolonização de Angola, dado o papel da URSS e de Cuba — também da RDA). É Costa Gomes quem aceita e coordena a intervenção do grupo europeu de controlo de Portugal constituído pela Alemanha, França e Reino Unido e presidido por James Callaghan, antigo primeiro-ministro britânico e que convencem Kissinger a não desencadear uma ação preventiva violenta do tipo chileno, uma “pinochetada”. É ainda Costa Gomes quem nomeia um “grupo militar” nacional para planear a ação que seria determinante no retorno ao redil europeu ocidental, ao padrão de modelo de governo, necessário a proporcionar uma aceitação serena de um regime de democracia de baixa intensidade aos falangistas espanhóis. (Curiosamente a morte de Franco e a ascensão de Juan Carlos à chefia do Estado espanhol para dar um novo e aceitável rosto democrático à ditadura ocorrem nas vésperas do 25 de Novembro de 1975).

À volta de Costa Gomes movem-se dois “segundos” como interlocutores que credibilizam e mobilizam forças internas e externas. Os dois segundos, ou lugares tenentes (embora apenas por força das circunstâncias), serão Mário Soares e Melo Antunes. Serão ambos aliados funcionais entre si e de Costa Gomes, ambos realizam tarefas complementares junto da sociedade civil, dos militares portugueses e nas instâncias internacionais, mas agem em tensão permanente: Costa Gomes não é um carismático, nem pretende mais palco do que já teve e tem. É um mestre de xadrez, um adepto das políticas que ficaram conhecidas pela palavra italiana de aggiornamento, que significa “atualização” e que transmitiu a orientação chave do Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII, em 1962. Melo Antunes tem uma personalidade parecida com a da Costa Gomes, de alguém que prefere compor na sombra. Resta Mário Soares, o solista, a estrela. Mário Soares não quer militares protagonistas políticos. Costa Gomes e Melo Antunes conhecem a extrema flexibilidade tática e ideológica de Mário Soares, a sua ligação muito próxima da subordinação com Carlucci, o embaixador americano, a sua disponibilidade para conseguir acordos de conveniência com quem lhe pareça favorece-lo, que serão substituídos por outros à medida das necessidades, confiado no seu génio para o improviso. Costa Gomes sabe do que Mário Soares é capaz e sabe que não o poderá ter como aliado na ação. Sabe que Mário Soares tem um projeto e um programa pessoal e conhece pelas suas vias o que ele está a fazer e agirá para que essas ações não prejudicam a condução da orquestra na sua partitura. Costa Gomes e Melo Antunes aliam-se para negociar o 25 de Novembro, com o menor custo possível: estabelecem acordos com Cunhal e com Otelo e também com a NATO e com o embaixador da URSS em Portugal. Deixam Mário Soares de fora, obrigando-o a alianças com setores com os quais ele preferira não ter de negociar. Uma exclusão que Mário Soares nunca lhes perdoará.

O 25 de Novembro terá, necessariamente, executantes nacionais para que a partitura regida por Costa Gomes seja levada a cabo com o resultado que teve. Não ocorreu nenhuma “guerra civil” em Portugal, nem esteve para acontecer, foi apenas um “papão” para criar tensões e adesões, isto porque a “guerra civil” não constava das pautas que Costa Gomes dirigiu, nem estiveram jamais reunidas condições para uma guerra civil em Portugal. Nem a instauração da República, nem da ditadura haviam provocado uma guerra civil! Podia ter ocorrido um confronto entre unidades militares — o que é bem distinto de uma guerra civil — mas os acordos feitos com Cunhal e Otelo, decorrentes do senso político de ambos, da análise da situação internacional e dos custos de uma aventura de confronto interno, preveniram essa possibilidade. Podia ter ocorrido um tempo de violência política urbana, guevarismo, mas, mais uma vez, os acordos obtidos por Costa Gomes com as organizações com alguma capacidade para desenvolver ações de terrorismo e de desestabilização evitaram-nas, apesar das tentativas que foram feitas por agentes que pretendiam um regresso ao passado, um banho de sangue anticomunista, uma vingança contra a descolonização, uma reparação aos banqueiros e às grandes família agrárias.

A “verdade” sobre o que foi o 25 de Novembro, quais os seus objetivos, tem e continua a ter três versões, o que é elucidativo da diversidade conflitual dentro aliança que se estabeleceu para a sua realização e do papel de Costa Gomes como maestro de naipes tão distintos.

Há um naipe na orquestra do 25 de Novembro que pode ser representada pelos instrumentos de bombos e foguetes, a cargo de executantes como Joaquim Ferreira Torres, destacado ativista do MDLP e contratador do mercenário Ramiro Moreira, que considerou o 25 de Novembro «uma traição» («Do 25 de Abril ao 25 de Novembro», Editora Intervenção). Também o cónego Melo, de Braga ficou manifestamente desiludido. Tanto empenho, tanta mobilização das populações arregimentadas pela Igreja e pelos padres, tantos assaltos e destruições de Centros de Trabalho do PCP, tantas bombas, tantos atentados e afinal um tal resultado: liberdades, regime democrático, aprovação da Constituição. Desapontamento profundo. Não sabe como explicar, mas explica: «O 25 de Novembro foi da total responsabilidade dos marxistas […] foi uma luta de marxistas» (entrevista ao Diário do Minho/Rádio Renascença , 13–3–1999). Jaime Neves, num jantar em sua homenagem realizado em Janeiro de 1996, declarou que «o “problema” seria resolvido “muito simplesmente com a prisão do líder do PC”, Álvaro Cunha» (Público, 11–1–1996). Alpoim Calvão, comandante do ELP, numa entrevista a Eduardo Dâmaso, publicada no livro «A Invasão Spinolista», Círculo de Leitores, 1997, p. 98 afirma que apesar do 25 de Novembro, «muitos queriam pegar em armas e vir por aí abaixo matar comunistas». É o que teriam feito, pelo que se vê, se tivessem sido eles a impor o resultado. E esses grupos têm uma interpretação muito vaga e alargada do que é um comunista.

Uma outra explicação para o 25 de Novembro é a do «Grupo dos Nove», que inclui os militares que ficaram conhecidos como “moderados”. Este grupo, com Melo Antunes, tal como Eanes e Costa Gomes, defendia uma solução política da crise. Melo Antunes tem uma intervenção decisiva em impedir que o 25 de Novembro seja uma ação revanchista e restauracionista indo no dia 26 à televisão declarar que «a participação do PCP na construção do socialismo era indispensável». Eanes, ao tomar posse como Chefe do Estado-Maior do Exército, no dia 6 de Dezembro, declarou como «objetivos políticos prioritários a independência nacional e a construção de uma nova sociedade democrática e socialista.» (Jornal de Notícias, 7–12–1975).

Resta, por fim, a tese do contragolpe, que é uma explicação recorrente com raízes nas lutas entre fações maçónicas da I República. Tal como na I República, os políticos e os jornalistas vindos da oposição ao Estado Novo, justificaram os seus golpes contrarrevolucionários como resposta a golpes revolucionários. Foi assim com o golpe Palma Carlos, 28 de Setembro, 11 de Março. No caso, todos os golpes foram explicados pelos seus autores, apoiantes e cúmplices como respostas a golpes ou tentativas de golpes do PCP visando o assalto ao poder. Assim sucedeu também no verão quente de 1975, quando começou a ser preparado um novo golpe militar. A tese do contragolpe tem a matriz do Partido Socialista e de Mário Soares e, dada a relevância de ambos na formulação da história de base da III República, a partir da aprovação da Constituição e da formação do primeiro governo constitucional, passou à categoria de doutrina para-oficial e o contragolpe passou a ter origem no comício da Fonte Luminosa (Junho 1975).

Mas há a realidade. Um livro bastante esquecido — A Resistência — de Gomes Mota, esclarece que o golpe estava a ser preparado muitos meses antes de Novembro. Segundo José Gomes Mota, o golpe foi preparado pelo «Movimento», que ele define por ser contra o que chama «os dissidentes», os gonçalvistas e o PCP. Fala em «novas estruturas reorganizadas». Diz que o «Movimento» deveria ter presença ativa no Conselho da Revolução. O «Movimento» chamava a si a preparação e decisão do golpe militar, mas, «preservando e garantindo a legitimidade revolucionária do Presidente da República» Segundo José Gomes Mota, a cúpula efetiva era o «Movimento», que dispunha de dois grupos dirigentes. Um «militar», cuja tarefa principal era a «elaboração de um plano de operações» tarefa que «cumpriu rigorosamente», tendo «para isso muito contribuído a liderança de Ramalho Eanes». Outro «político», de que faria parte o «Grupo dos Nove», «veio a desempenhar o papel de um verdadeiro estado-maior de Vasco Lourenço», que «assumira a chefia do Movimento». A preparação do golpe «para pôr fim a uma situação insustentável» vinha pois de longe. Costa Gomes conhecia o plano e até tinha autorizado a cedência de instalações para o “grupo militar” no edifício do Estado-Maior General das Forças Armadas, sede também do Conselho da Revolução.

Contrariando o que afirmaram os principais executantes do 25 de Novembro, Mário Soares e seus aliados políticos e militares conseguiram impor a tese que os favorece perante a opinião pública nacional e internacional (os políticos vivem da imagem para conquistar votos), a narrativa ficcional de que, no 25 de Novembro, «houve uma tentativa de golpe, animado pela Esquerda Militar e pelo PCP, e uma resposta, […] um contragolpe da parte do sector democrático, isto é, militares moderados. “Grupo dos 9” e PS» (Maria João Avillez, “Soares. Ditadura e Revolução”). Esta versão dos acontecimentos foi através dos anos repetida incansavelmente, embora não tenha ocorrido nenhuma ação de forças militares a não ser as dos “Comandos”, que desde o Verão de 1975 contratavam antigos militares já na disponibilidade, e a da Força Aérea, cujo chefe de Estado-maior determinou à margem da hierarquia, em cumprimento de uma estratégia de provocação do confronto delineada noutras instâncias, a alteração do dispositivo militar, com extinção da Base de Paraquedistas em Tancos e a transferência de todos os meios aéreos para a Base da Cortegaça. A tese do contragolpe é apenas uma fábula sem fundamento para criar heróis virtuais, gloriosos resistentes ao golpe totalitário, mas inexistente — um moinho que foi apresentado como um castelo em pé de guerra! Um golpe militar em que não existe um plano de operações e em que nenhuma “unidade golpista” sai dos quartéis para ocupar um qualquer objetivo, por mais insignificante que fosse.

É, ou foi, Costa Gomes quem conseguiu harmonizar as dissonâncias entre os vários naipes de executantes nacionais da ação “normalizadora” e conseguir executar a partitura que tinha como ponto alto e remate a instauração de um regime que adotasse o pronto-a-vestir europeu ocidental, que se integrasse nas instituições europeias sem extravagâncias, que não assustasse os falangistas espanhóis e que deixasse a questão da independência de Angola para ser dirimida pelas superpotências e, feito tudo isto, que reduzisse a tropa ao seu papel de disciplinada guarda da ordem dos interesses do mercado, enfim, que entregasse Portugal higienicamente desinfetado de extravagâncias de poderes populares a um político de confiança: Mário Soares.

Foi ainda Costa Gomes, e é também muito pouco referido esse papel, que controlou a ação dos operacionais da CIA que permaneceram à ordem na embaixada de Lisboa, através de oficiais portugueses próximos dele (Costa Gomes) e que regressaram à sua base nos EUA ainda em Dezembro de 1975, findo o trabalho na retaguarda. Graças à maestria de Costa Gomes, o golpe da orquestra, que poderia ser negro e sangrento, resultara sem grandes tumultos, de forma aceitável pelas opiniões públicas europeias. A experiência internacional de Costa Gomes deu-lhe a sabedoria do mundo que lhe permitiu conhecer desde o 25 de Abril de 74 que o processo político português seria conduzido do estrangeiro, que o futuro de Portugal após a descolonização era o de um pequeno estado europeu invisível, com um modelo político harmonizado e padronizado. Conduziu o processo político de modo a executar essa partitura com o menor número de desafinações possíveis.

É revelador das leituras de conveniência dos adeptos da tese do contragolpe do 25 de Novembro, e do 25 de Novembro como data refundadora da democracia, que estes ignorem e mordam as canelas aos que impuseram a manutenção do calendário para aprovação de uma Constituição, que evitaram confrontos violentos, que impediram prisões e execuções, que resistiram ao MDLP e ao ELP e ao terrorismo, aos que conseguiram impor um Estado de Direito e que teçam loas democrática aos que tinham como plano para o seu 25 de Novembro a instauração de um regime de ditadura presidencialista, de uma assembleia sujeita a um presidente, de ilegalização de partidos políticos, de sujeição da justiça ao governo, de proibição do exercício de diretos fundamentais, de fim da proteção social (leia-se o programa do MDLP/ELP elaborado em Madrid por Pacheco de Amorim e José Miguel Júdice). Costa Gomes e foi ele e alguns militares do grupo dos «Nove» (os políticos civis estiveram na onda do golpe violento, com a proposta de se reunirem no Porto e daí desencadearem ações violentas contra o que crismaram junto da opinião pública internacional de “comuna de Lisboa”) que conduziram a travessia desse campo minado.

E assim acabou o desconcerto que Costa Gomes geriu com o maior êxito e reduzido reconhecimento. Ele foi o maestro de Portugal durante o período mais quente da segunda metade do século XX. Merece ser recordado e reconhecido.

2022 Nov 25


https://cmatosgomes46.medium.com/o-maestro-do-25-de-novembro-de-1975-9a2c8335d4ae

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Filipe Chinita - ser 'poeta'

*  Filipe Chinita

ser
'poeta'
.
ser 
'poeta' 
é apenas... 
viver de olhos 
bem abertos 
para 
si
.
para com 
cada um 
outro 
.
para com
toda a realidade 
que nos 
cerca
(passada.
presente.
e futura) 
.
sempre 
de pé.s 
bem fincados em terra
mesmo que de cabeça 
e (de) pernas... 
(tr)ementes
de desejo...
de tudo
que 
ocorrer
(nos) possa
.
ser
'poeta'
é ainda... 
uma outra forma 
de (se) continuar sendo 
humano e revolucionário
em 
tudo! e em cada cousa 
da vida e da morte
.
começando 
pela ternura
pelo silêncio
pelo desejo
pela paixão
pelo amor
pela paz
sempre 
pelo eros
.
perdição...
sem a qual não somos
- ou 
ainda não seríamos - 
bem... 
humanos
.
inteligentes.cultos.sensíveis
.
em cada acto.gesto.palavra
.
da nossa escassa 
sempre efémera
e precária 
vida
.
fj
10.52
23.11.22
ser 
'poeta'
é 
ser 
frágil
e ser inteiro
mesmo quando 
es.partilhado...
em vários
.
ser 
'poeta'
é não complicares 
as palavras 
em 
ti
.
ser 
'poeta' 
é apenas...
só/sempre
ires
mergulhares
ao
e
no
mais fundo
dentro 
de
ti
.
de 
entranhas 
escaldantes...
.
se... 
ainda 
te arderem...
em simultâneo...
de corpo e cérebro
.
no centro 
e por 
todo 
ele
____________________________
ser 'poeta'
deve sempre ser
ao fulgurante 
instante 
de 
ti
.
como ora...
aqui

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Pablo Milanés - Yo pisaré las calles nuevamente

* Pablo Milanés
 

Yo pisaré las calles nuevamente
De lo que fue Santiago ensangrentada
Y en una hermosa plaza liberada
Me detendré a llorar por los ausentes

Yo vendré del desierto calcínante
Y saldré de los bosques y los lagos
Y evocaré en un cerro de Santiago
A mis hermanos que murieron antes

Yo unido al que hizo mucho y poco
Al que quiere la patria liberada
Dispararé de las primeras balas
Más temprano que tarde sin reposo

Retornarán los libros las canciones
Que quemaron las manos asesinas
Renacerá mi pueblo de su ruina
Y pagarán su culpa los traidores

Un niño jugará en una alameda
Y cantará con sus amigos nuevos
Y ese canto será el canto del suelo
A una vida segada en La Moneda

Yo pisaré las calles nuevamente
De lo que fue Santiago ensangrentada
En una hermosa plaza liberada
Me detendré a llorar por los ausentes

Yo pisaré las calles nuevamente
De lo que fue Santiago ensangrentada
En una hermosa plaza liberada
Me detendré a llorar por los ausentes

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Conde de Ferreira: negreiro ou benemérito?, por José Manuel Amarante

* José Manuel Amarante

16 de Junho de 2020, 16:11

A morte de George Floyd em Mineápolis, desencadeou uma onda antirracista internacional, tendo nos Estados Unidos e no Reino Unido, entre outras consequências mediáticas, a decapitação ou destruição de estátuas de esclavagistas ou colonialistas. Em Bristol, no passado domingo, a estátua de Edward Colston, que no século XVII traficou mais de oitenta mil seres humanos, dos quais 15 mil eram crianças, foi derrubada e atirada às águas do porto. Em Londres, foi retirada do local a estátua de Roberte Milligan, comerciante de escravos no século XVIII, para evitar a sua destruição. E entre nós, esta semana, foi vandalizada uma estátua do Padre António Vieira.

Estas acontecimentos, recordaram-me um episódio decorrido há cerca de 20 anos, no Hospital da Ordem do Carmo, quando num sábado de manhã, estando eu a contemplar uma enorme pintura retratando o Conde Ferreira - coberto por um manto vermelho encimado por uma linda gola de pele branca -, enquanto aguardava por uma doente que, mal se aproximou, ao ver-me a olhar para o quadro, exclamou: Grande homem este Conde de Ferreira. De imediato, retorqui: terá mesmo sido um grande homem? Lembrei-lhe que além de benemérito e filantropo tinha sido também um dos últimos traficantes de escravos.

Mas quem foi afinal Joaquim Ferreira dos Santos mais conhecido por Conde de Ferreira? Nasceu em 1782 em Campanhã, no Porto, sendo o quinto filho de uma família de agricultores. Com futuro incerto - na época as terras eram herdadas pelo filho mais velho -, entrou no seminário, tal como um dos seus irmãos, mas cedo o abandonou, para se tornar caixeiro no Porto, aos 14 anos. Emigrou pouco tempo depois para o Rio de Janeiro, em 1800, com uma carta de recomendação de um familiar. Aí se dedicou ao comércio, por consignação, de produtos alimentares enviados de e para o Porto. Mais tarde expandiu os seus negócios a outras áreas, diversificando as ligações comerciais, nomeadamente para Lisboa, Angola e até mesmo para Londres.

Casado, por pouco tempo com a argentina Severa Lastro, adquiriu a nacionalidade brasileira aquando da independência do Brasil. Bem integrado social e economicamente na sociedade do Rio, recebeu de D. Pedro a comenda da Ordem de Cristo (em recompensa de uma beneficência).

Cedo descobriu o rentável negócio que na época prosperava no Brasil: o açúcar e a mão de obra barata, isto é, o comércio de escravos.

Estabelece, para tal, contactos com comerciantes em Luanda, viajando para Angola, aventurando-se no interior de Cabinda para contactar como o régulo local, com o qual viria a estabelecer feitorias nomeadamente em Molembo, tendo em vista o envio de escravos para o Brasil. Tratava-se de uma viagem arriscada que, no entanto, repetiria mais duas vezes até estabilizar o negócio, passando a controlar o tráfico a partir do Rio de Janeiro.

Esta, era uma atividade altamente lucrativa. O barco transportava do Brasil para Angola, entre outras bens, panos, pólvora, ferragens e álcool, regressando repleto de escravos. Calcula-se que tenha transportado de Angola para o Brasil cerca de 10.000 escravos, que vendia a fazendeiros, proprietários de engenhos, recebendo em troca açúcar que posteriormente comercializava com lucros altíssimos.

Após a abolição da escravatura no Brasil, em 1830, esta atividade acabou por lhe trazer grandes contrariedades. Devido ao tratado assinado entre o Brasil e a Inglaterra, aos cidadãos brasileiros estava vedado o tráfego de escravos. Joaquim Ferreira dos Santos viria então a ser acusado de tráfico, tendo passado por problemas judiciais e apodado de negreiro e esclavagista.

Foi sobretudo a humilhação social porque passou o que mais o incomodou, apesar de ter sempre reclamado o escrupuloso cumprimento da lei e inocência.

Por esse motivo acabou por regressou ao país, inicialmente com a intenção de um dia voltar ao Brasil, desembarcando em Lisboa em 1832, onde de novo viveu a experiência do naufrágio (já antes, aquando da sua primeira partida para o Brasil, o navio tinha naufragado na barra do rio Douro).

Instalado no Porto, continuou a fazer comércio com sucesso e a envolver-se progressivamente em atividades sociais, acabando por apoiar ativamente Costa Cabral. Foi nomeado pela Junta Provisória, Presidente da Comissão do Tesouro, empenhando-se a fundo na causa Cabralista. Torna-se Par do Reino em 1842, retomando a cidadania portuguesa. Entretanto foi nomeado Fidalgo, Cavaleiro da Casa Real, membro do Conselho da Rainha D. Maria II, Comendador da Ordem Militar de Cristo, e da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Isabel a Católica de Espanha e foi sucessivamente Barão, Visconde e em 1850, Conde.

Faleceu aos 84 anos de idade na freguesia do Bonfim, no Porto, em 1866, sem deixar descendência direta. Doou a sua enorme fortuna, perpetuando assim o seu nome em obras de grande significativo e impacto na sociedade portuguesa.

Entre os beneficiados contam-se muitos colaboradores, parentes, amigos, e várias instituições e fundações de beneficência e utilidade social, como as Santas Casas da Misericórdia do Porto e do Rio de Janeiro (com a obrigação de vestirem 24 e 12 pobres, respetivamente,  no aniversário do seu falecimento).

A outras instituições de beneficência do Porto, tais como as Ordens Terceiras do Terço, da Trindade, de São Francisco e do Carmo - razão da presença aí, da pintura do Conde -, legou avultadas quantias para os respetivos hospitais. Parte do seu legado destinou-se ainda a uma enfermaria no Hospital da Santa Casa da Misericórdia da Cidade do Porto, o Hospital de St.º António, para tratar pelo sistema homeopático vinte doentes pobres e a abertura de um consultório homeopático (há anos o diretor desse Hospital, o Dr. Fernando Sollari Allegro, contou-me ter aí encontrado, aquando da arrumação de um espaço pouco visitado, um livro com a contabilidade do tráfico de escravos).

Doou verbas para o recolhimento de meninos e meninas abandonadas, nomeadamente à Creche das Irmandades dos Clérigos e da Lapa. As Casas da Correção, de Detenção, de Recolhimento dos Velhos e de Recolhimento dos Órfãos e as Fábricas das Paróquias de Campanhã e do Bonfim, foram também contemplados, tendo também legado dotes a 50 meninas (honestas e virtuosas, e que tenham tratado os seus pais com respeito e amor filial). Deixou ainda 30 esmolas a viúvas honestas e 50 esmolas a famílias a quem tenha faltado o chefe ou a pessoa que as sustentava.

Destinou verbas substanciais para a construção de 120 Escolas de Instrução Primária, para ambos os sexos, colocando como condição que as escolas fossem construídas por todo o país, em vilas e sedes de concelho, todas com a mesma planta e com comodidades para os professores para aí residirem. Depois de terminadas, deveriam ser entregues às respetivas juntas de paróquia. As “Escolas Conde de Ferreira”, com um estilo arquitetónico próprio, inconfundível, foram um marco muito relevante na história da educação e do ensino público em Portugal.

Com o remanescente da sua grande herança foi construído e equipado o Hospital de Alienados do Conde de Ferreira, no Porto, destinado a doentes de foro psiquiátrico, durante vários anos referência nacional na abordagem da saúde mental em Portugal.

Passada em revista a história da vida de Joaquim Ferreira dos Santos, mantém-se a questão que coloquei, nas escadas do Hospital da Ordem do Carmo, frente ao quadro de Conde de Ferreira: Terá o Conde sido um grande benemérito ou um dos últimos negreiros portugueses?

Que enriqueceu no Brasil como negreiro não há dúvidas. Se no final da sua vida emergiu a vertente filantrópica ou se pretendeu redimir-se e “negociar” a paz ou um lugar eterno, nunca o saberemos. De facto, em diferentes momentos, protagonizou ambas as personagens (esclavagista e benemérito).

Está sepultado no cemitério de Agremonte, no Porto, tendo um mausoléu com a sua figura esculpida em mármore de Carrara, por António de Soares dos Reis, o mesmo autor da estátua que se encontra à entrado do Hospital Conde de Ferreira. Seria um terrível contrassenso alguém pensar destruir ou vandalizar estas obras de arte, de um escultor nacional de referência, expostas em espaços reservados e erigidas pouco depois da sua morte.

Citando o historiador Miguel Bandeira Jerónimo: “podemos olhar criticamente com a nossa moral do presente para aquilo que aconteceu há 50 anos, mas não há 200 anos?” Qual o critério?

A meu ver, Conde de Ferreira deverá ser recordado de frente, com toda a verdade, tendo em conta os valores morais e éticos da época em que viveu.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

https://www.publico.pt/2020/06/16/opiniao/noticia/conde-ferreira-negreiro-benemerito-1920759


domingo, 20 de novembro de 2022

Fikipe Chinita - do mijar e do cagar

Filipe

do mijar e do cagar . umas vezes acordo e quasi.nem mijo . outras há... em que tanto... sim! . mais parecendo uma mula fervendo a sua (escaldante) mijada em pé depois de um inteiro dia de trabalho . ao mesmo tempo que parece.m sorver desalmada e demoradamente a toda a longa extensão do central chafariz para dentro de si... todas elas. mulas alinhadas uma a uma pela mão do seu 'carreiro' . todos eles proletários enormes de humanidade como nunca mais vi iguais depois de um inteiro dia lavrando... de manuais charruas de madeira ferro e aço em seus braços . sua força de braços... suor e terra cobrindo-os de negritude . puxadas de sol a sol pelos mesmos muares que ora saciam... de água.s antes de os alimentarem de feno e a negras alfarrobas quasi.a esmo para só depois... se estenderem espojadas (despojadas de todas forças de si) numa só noite de sono sobre a colectiva contínua cama de palha que ora lhe preparas sobre o lajedo para enfim... descansarem... para um quasi.mesmo.repetido... amanhã . fj 10.01 20.11.2022 isto... ao quasi.mesmo tempo em que osculam em seu também vasto... cagar . tão limpo sempre! o seu cagar já o nosso... nem sempre assim é . ora escorreito e limpo ora estupidamente borrado de fezes... nada conformes com o.s humano.s... que somos nós __________________________________ ou de quando animais e homens form(av)am um quasi.mesmo uno.explorado corpo de trabalho ao só serviço do vasto... latifúndio de um só dono . 'senhor' de homens e animais