domingo, 23 de setembro de 2007

O DALAI LAMA E A MADRE TERESA

de: Manuel O. Pina
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Já se apagaram os resquícios da visita a Portugal do Dalai Lama, visita essa que, aparentemente, trouxe alguma confusão às cabeças pensantes. Parece que o Governo Português não o recebeu, numa atitude dita servilista em relação aos interesses do relacionamento com a China. Houve quem clamasse contra esta atitude política, como se de um dobrar de joelhos se tratasse. Ora parece que não é bem assim. O Dalai Lama é uma figura espiritual e é nesse sentido que ele deve ser considerado. Não é um chefe de Estado nem chefe de governo de nenhum país, apesar de fazer campanha pela libertação do Tibete. Mas internacionalmente ninguém considera o Tibete como sendo um país ocupado pela China desde 1959, mas sim como mais uma das regiões da China.
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O Tibete já era uma região da China antes da nossa Era Cristã. Foi sempre uma região isolada devido à agrura do clima e à altitude, o que lhe provocou sempre um grande isolamento. Foi uma região ocupada pelos ingleses que afogaram sempre em banhos de sangue algumas rebeliões tibetanas. Quando as tropas chinesas reocuparam a região em 1959, o Tibete não passava de um regime em que imperava o mais primário feudalismo, em que havia servos e escravos, e nobres com direito de vida e morte sobre o povo que os sustentava. Não havia o menor respeito e consideração pelas mulheres, mesmo as nobres, que eram consideradas inferiores aos animais e não tinham quaisquer direitos. Praticava-se um sistema de sobrevivência absolutamente cruel: as crianças, logo que nasciam, eram mergulhadas na água gelada. As que escapavam ao mergulho sobreviviam, eram fortes, as outras, a maioria, morriam com a justificação que se tratava de karma. Entretanto, os lamas e os Dalai Lamas viviam tranquilos, meditando e cantando nos seus palácios.
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A apropriação da região pela China alterou este estado de coisas para melhor, apesar do regime chinês, supostamente comunista, mas que não é nada, é a apenas o regime de Mandarins modernos pertencentes a uma organização a que chamam de partido comunista. Se lhe chamassem outra coisa não faria a menor diferença, a China é igual ao que sempre foi: a exploração maciva do povo por um grupo de "eleitos" apesar de já não existir, ou não funcionar a "cidade proibida". O mundo ocidental está abismado com o tremendo desenvolvimento económico da China, que mereceu, inclusive, de Cavaco Silva, referências elogiosas dizendo que se tratava de um "socialismo progressista". Balelas. Estão com medo do poder económico da China, que cresce assustadoramente mercê dos milhões dos trabalhadores "escravos" que ganham quase nada, mas que vai dando para o arroz de cada dia.
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Outra figura do mundo espiritual que tem ganho certa preponderância ultimamente é a Madre Teresa de Calcutá. A Igreja Católica quer santificá-la rapidamente, colocá-la num altar ao lado de outros santos, cuja santidade é tão polémica quanto aquela que lhe querem atribuir. Afinal, pelas cartas que ela escreveu ao longo de mais de 30 anos, parece que se tratava de uma pessoa com profundas dúvidas sobre a sua fé. Para os padres da Igreja isto parece irrelevante, pois é conhecido que os santos passam, algumas vezes, por períodos a que chamam de "noite escura". Pois é, mas a Madre Teresa teve uma noite escura muito longa, foram mais de trinta anos. A tese dos que defendem a santificação é a de que ela foi responsável por milhares de conversões ao cristianismo. Conversões de quem? Dos moribundos muçulmanos e hindus, batizados à última hora para poderem entrar no céu? E o que dizer da sua proibição em dar medicamentos para as dores a doentes terminais, com o pretexto de que o sofrimento era o caminho para o céu? E aquele hospital em N. York que lhe foi doado, e que acabou por ser fechado, porque ela não permitia que os doentes usassem o elevador? O hospital ficava num 7º andar.
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Pois é, antigamente as coisas eram muito mais fáceis, permaneciam escondidas. Hoje, apesar da confusão reinante no mundo tudo se sabe, e descobre-se, facilmente, que os líderes, mesmo os líderes espirituais, não passam de líderes com pés de barro. O Dalai Lama pode ser muito importante para os seus seguidores e aqueles que acreditam na sua doutrina, mas dificilmente vai ter de volta o seu Tibete arcaico. Quanto à Madre Teresa, talvez acabe por ser santificada, apesar dos pesares. Mas, cada um acredita naquilo que quer, escondendo a cabeça na areia como a avestruz.
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in Portugal Club

1 comentário:

De Amor e de Terra disse...

Quanto a mim, somente posso dizer que santos ou não, não é relevante...são ( ou foram) apenas pessoas, com seus defeitos e qualidades, que adoptaram um modo de agir neste mundo de gravíssimos contrastes, ajudando o irmão fisicamente ou intentando atingir a sabedoria, ajudando digamos, mentalmente...
Para mim santidade, é ser capaz de AMAR, todo o mundo (ou quase) fazendo-lhe aquilo que gostaríamos que nos fizessem e não fazendo nunca, pelo menos conscientemente, o que não queremos que nos façam...
(portanto,em poucas palavras AMAR O IRMÃO) e isso, cada um deles, a seu modo, acho que o fazem (ou fizeram).
Honras de altar, que interessa?!
a importância é fazer ou ter feito; deixar o exemplo; o resto é apenas detalhe,apenas estória!
Quem ama, não precisa de honras no AMAR e dúvidas, quanto mais se "cresce",digamos espiritualmente, mais se "vê" que nada se sabe...e as dúvidas aumentam!

Maria Mamede