terça-feira, 30 de novembro de 2010

para amigos e amigas. Com carinho

Assunto: para amigos e amigas. Com carinho
Data: 28/Nov 9:07
Quando uma porta da felicidade se fecha, outra se abre, mas costumamos ficar olhando tanto tempo para a que se fechou que não vemos a que se abriu. Helen Keller



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Discursos de Salazar (3)- Uma semana (quase) perfeita




Segunda-feira, 10 de Maio de 2010

Discursos de Salazar (3)- Uma semana (quase) perfeita


Portugueses!
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Esta vai ser uma semana (quase) perfeita para o nosso país e quero compartilhar convosco a alegria que sinto por Portugal ainda estar impregnado dos valores dos 3 EFES que ao longo de 40 anos procurei incutir no bom povo português: Fado, Fátima e Futebol. É com muita alegria que constato que a mentalidade das nobres gentes portuguesas se mantém inalterável neste trinómio que nos engrandeceu e de que me orgulho ter sido o garnde obreiro.
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Ontem o SL Benfica sagrou-se campeão nacional e o povo português saiu à rua do, Minho a Timor, para celebrar a vitória do mais popular clube português. Foi uma noite linda, que me levou a sintonizar o televisor na RTP Memória, para recordar os tempos gloriosos em que dirigi a nossa Nação. É certo que vi muitos pretos a celebrar a vitória do SLB nas ruas de Lisboa, mas isso certamente deve-se a essa coisa das novas tecnologias que permite a qualquer um dos nossos colonos de além mar ir a Lisboa enquanto o demo esfrega um olho e regressar ao fim da noite, para que as ruas de Lisboa se apresentem, logo pela manhã, com o vaivém habitual da gente alva e laboriosa que dignifica a nossa Raça. 
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Hoje, o sr. seleccionador nacional vai divulgar ao país ( espero que em notícia de abertura de todos os telejornais) o nome dos 23 bravos portugueses que irão tentar repetir , na África do Sul, o feito dos Magriços em Inglaterra, em 1966. Seria para mim muito gratificante, saber que os portugueses nos honrariam nesse grande país que sempre foi um fiel e digno aliado da nossa política em África e onde um punhado de bravos rapazes continua a querer manter a preponderância dos nossos genes em terras africanas.
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Foi também com uma lágrima de profunda emoção que assisti hoje àquela embaixada de economistas a prestar vassalagem ao sr. Presidente da República, recordando-o dos valores que a Nação deve continuar a respeitar: dar aos ricos o que é dos ricos e obrigar os pobres a contribuir com o seu trabalho para que eles se tornem ainda mais ricos e assim enobreçam o nome de Portugal além fronteiras. Espero é que o sr Presidente da República não cometa o mesmo erro do Marcelo, caso contrário, daqui a umas semanas vamos ter a populaça na rua!
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Mas esta semana também vai ficar memorável pela visita de Sua Santidade, o Papa Bento XVI, a Fátima. Trata-se de uma visita de profundo significado, pois Sua Santidade terá certamente oportunidade de reforçar, perante o mundo inteiro, o seu apoio à presença de Portugal em África, onde tem contribuído como nenhum outro país do mundo, para evangelizar aquelas pobres almas que, por desconhecimento dos caminhos da Fé, não são tementes a Deus.
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Confesso que fiquei surpreendido quando li , no Jornal Celeste on -line, que Sua Santidade se vai encontrar amanhã com 1400 homens da cultura , da política e da comunicação. Não percebo como foi possível reunir tanta gente! Quem estará presente nesse encontro a representar a cultura portuguesa? Só vejo dois ou três nomes do meu tempo mas, tal como eu ,estão agora comigo nesta corte celestial onde nos acolheram com tanto carinho e ainda ontem trocámos algumas impressões sobre o assunto. Quem é que lá vão mandar, para além do César das Neves e do Graça Moura? Confesso que nenhum de nós está a ver mais ninguém com estatura intelectual e estofo moral, para ombrear com Sua Santidade…
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Quanto à política, já me parece mais fácil indicar alguns nomes.. Para além do sr. Presidente do Conselho há aquele rapaz, o Paulo (Portas), que muito se tem esforçado em devolver a Portugal os princípios que me nortearam enquanto dirigi a nossa Nação. Este rapazito muito bem vestido e com ar de quem cumpre escrupulosamente as suas obrigações cristãs, o Pedro, ( Passos Coelho) também me parece um miúdo com futuro, mas ainda está um bocado verde. Dizem-me que estará lá uma senhora chamada Manuela ( Ferreira Leite) mas vocês sabem que eu sempre fui contra a ingerência das mulheres na política. O lugar das mulheres é no lar, junto da Família, educando os filhos. Não é fomentando a promiscuidade com os homens que estaremos a contribuir para um Portugal melhor, onde as mulheres devem cumprir , obedientes, as grandes directrizes traçadas pelos seus esposos, mais talhados para estas coisas da governação , porque são profundos conhecedores dos interesses do país e das linhas de rumo que ele deve seguir. Não gostaria nada de saber que estará lá a Maria José ( Nogueira Pinto). Aliás, não compreendo como um nobilíssimo português como o Jaime, não consegue impôr a ordem lá em casa. Mas ele sempre foi um fraco, coitado!
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Na comunicação social também não vejo quem possa ombrear com Bento XVI. O Dutra Faria e o João Coito já estão entre nós, já não há jornais que apoiem o governo, como no meu tempo, que vão lá fazer meia dúzia de bolcheviques, senão denegrir o nome de Portugal, dando uma imagem de insubmissão ao poder político que me parece intolerável?
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Mas tirando este episódio- que atribuo a um deficiente serviço de informações que terá levado Sua Santidade a cometer o erro de receber umas centenas de incréus- acredito que a visita vai ser linda e cumprirá o grande objectivo de restituir o espírito de Fátima ao povo português que, de há uns anos a esta parte, tem vindo a enfraquecer, fruto da dissolução de costumes na sociedade portuguesa . 
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É por isso que compreendo muito bem a decisão do sr. Presidente do Conselho de declarar tolerância de ponto em vários dias desta semana. No entanto, sempre lhe recomendo que mande vigiar os funcionários públicos e expulse do Estado aqueles que , aproveitando a sua benevolência, em vez de irem à Missa ao Terreiro do Paço fiquem em casa a cultivar a luxúria e a preguiça, ou demandem o Algarve, essa Terra Prometida que está transformada em Terra de Pecado, desde que a dissolução de costumes a infectou como um vírus peçonhento.
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Para esta semana ser perfeita, só falta mesmo terminar com um grande festival de Fado, a nossa canção nacional que Amália Rodrigues tão bem divulgou além fronteiras. Falam-me de algumas fadistas portuguesas de grande sucesso mas, confesso, não tive oportunidade ainda de as ouvir, o que significa que não devem ser tão importantes como o Ramiro Valadão me quer fazer crer. Por mim, confesso-vos que tenho mais confiança no encontro que se realiza hoje ou amanhã entre o sr Presidente do Conselho e o Pedro (Passos Coelho) . Dizem que ele é líder da oposição, mas só tenho pena de não ter tido uma oposição assim no meu tempo. Tive de enfrentar os comunistas e toda a corja de bolcheviques e o único remédio foi mandá-los para o Tarrafal que infelizmente hoje já não nos pertence, mas ainda seria de grande utilidade para albergar uns perigosos comunistas que andam inconscientemente a defender os direitos dos trabalhadores. Eles não sabem que a maior glória dos trabalhadores portugueses deve ser apenas a Honra de servir os seus amos ? 
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Tenho Fé em Deus que essa conversa seja iluminada e abençoada pelo Santo Padre ( como acontecia sempre que eu tinha de falar com o Tomás) para que eles tomem as decisões certas e devolvam ao nosso bom povo português a dignidade perdida. Onde já se viu os portugueses reclamar salários, férias e saúde de graça? 
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Já lhes enviei um telegrama a saudá-los e dei-lhes um conselho: 
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Tenham mão dura para essa mandriagem que vive de subsídios de desemprego. Obriguem-nos a trabalhar e, se insistirem em pedir aumento de salários, eu estou disposto a dar uma ajuda, pedindo aqui ao Rosa Casaco que vá aí a baixo com duas dúzias de diligentes profissionais da extinta PIDE/ DGS e os ensinarem a cantar o Fado. 
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Espero que não tenham de me pedir ajuda e resolvam entre eles o problema, porque assim será mesmo uma semana perfeita e terei o prazer de assistir a um grande festival de Fado no próximo fim de semana em Bruxelas. 
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Tenham todos uma boa semana
A Bem da Nação
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Os interessados podem ler aqui outros dois discursos que proferi recentemente
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Douro - Sabedoria popular preserva património oral

 

 

 «Há um sítio na aldeia de Zedes, do concelho de Carrazeda de Ansiães, que é conhecido por `ermo` e onde nenhuma erva nasce apesar de a terra ser boa. Dizem os antigos que aquele é o sítio da reunião das bruxas e que, por isso, a erva ali não consegue nascer». Assim começa a lenda «Ermo das Bruxas», uma das inúmeras histórias, passadas de geração em geração, e que constam do livro «Património Imaterial do Douro - Narrações Orais». 

.Ana Clara; Fotos: Livro 'Património Imaterial do Douro - Narrações Orais' | sexta-feira, 26 de Novembro de 2010

Ao todo são 250 lendas e 166 contos populares que estavam em risco de extinção que Alexandre Parafita fez questão de resgatar às palavras guardadas na sabedoria dos mais velhos. Um trabalho só possível graças à transmissão de geração em geração daquilo que o tempo não apagou.

Desde «A mulher enterrada viva» ao «Carpinteiro e as feiticeiras» passando pela «Enxada que vertia sangue», são várias as lendas e contos recolhidos em Tabuaço, Carrazeda de Ansiães e Vila Flor. O autor explica ao Café Portugal como nasceu a ideia de preservar este património de memória popular. Um trabalho de recolha que demorou três anos.

O projecto nasceu em 2007 para cumprir um dos objectivos que presidiu à Função do Museu do Douro (onde a obra foi apresentada oficialmente a 26 de Novembro de 2010) e que reside na inventariação, recolha, investigação, valorização e divulgação do património imaterial do Douro Vinhateiro.

«Na sua primeira fase, o projecto incidiu sobre o concelho de Tabuaço, para, ao mesmo tempo, implementar a entrada em funcionamento neste município de um dos pólos museológicos do Museu do Douro (o Museu do Imaginário Duriense), o que foi conseguido», afirma o mentor da obra.

Alexandre Parafita, também investigador do Centro de Tradições Populares Portuguesas da Universidade de Lisboa, resgatou à memória de cerca de cem idosos dos concelhos de Vila Flor e Carrazeda de Ansiães, dezenas de peças de romanceiro e cancioneiro, lengalengas, rezas e mezinhas.

O autor salienta que a inventariação e o estudo do património imaterial é hoje um «imperativo das sociedades civilizadas, não só no quadro de uma preocupação global com a diversidade e o entendimento entre as culturas, mas também como forma de potenciar novas ofertas culturais a partir do exotismo e raridades etno-tradicionais».

«O Museu do Douro, com base neste trabalho, está em condições de estimular e potenciar projectos de turismo cultural e turismo do imaginário e outros associados aos lugares de memória da Região», sustenta.

Sobre a forma como os intervenientes reagiram a este levantamento, Alexandre Parafita diz que os idosos são, geralmente, «verdadeiras bibliotecas de saberes acumulados».

«Se soubermos estabelecer com eles uma saudável relação convivial, prontamente desfiam as suas memórias e, desse modo, lá vêm as lendas, as variantes de contos tradicionais, os romanceiros, cancioneiros e tudo o mais que tiverem para transmitir. E reagem muito bem, sobretudo quando percebem que, quem está ali para os ouvir, é alguém disponível para dar alguma nobreza aos seus saberes, e não para os ridiculizar, como tantas vezes sucede», acrescenta.

Segundo Alexandre Parafita, as muitas dezenas de contos tradicionais inventariados, obedecem a um critério científico adoptado pelos últimos catalogadores internacionais, e inscrevem-se em «sub-grupos de contos de animais, contos religiosos, contos de fadas, contos do ogre estúpido, mas também contos jocosos e divertidos (de padres, mulheres levianas, avarentos, doidos) e contos enumerativos».

Por sua vez, as inúmeras lendas traduzem explicações populares de fenómenos sagrados, diabólicos, mitológicos, históricos, entre outros, onde entram os episódios milagrosos sobre a origem de capelas, santuários, ou cruzeiros. Há, ainda, os rituais de almas penadas em tornos de antigas necrópoles, ou as sagas dos lobisomens nas suas encruzilhadas.

Sobrenatural e pagão

Em muitos destes contos e lendas existe uma grande marca do sobrenatural cristão e pagão. O autor realça que as populações rurais são profundamente religiosas e, nessa medida, são muito influenciadas pelo sobrenatural atrás indicado, mantendo formas de comunicação com o Além, através de orações, rezas e ensalmos, que traduzem momentos de inquietação absolutamente singulares.

«E nestes cenários lá vêm também as lendas de milagres e de almas inquietas, mas também de metamorfoses diabólicas, de lobisomens, etc. Se pretende saber se hoje as pessoas ainda acreditam, respondo-lhe que em muitos casos não tenho dúvidas disso. Algumas das lendas de almas penadas, de bruxas ou lobisomens, têm ou tiveram protagonistas conhecidos nas comunidades», sublinha o autor.

«Quando em Vilas Boas a alma de uma menina da aldeia apareceu nua na procissão nocturna, as pessoas acreditaram, pois a situação era verosímil no contexto creencial local. Os pais haviam-se esquecido, após a sua morte, de distribuir as roupinhas da filha pelos pobres, contrariando um costume ancestral», exemplifica.

O autor considera importante que o inventário nacional do Património Cultural Imaterial, a que Portugal está obrigado por força da convenção da UNESCO que subscreveu, se faça com «celeridade e com critério».

«Com celeridade, para recuperar a tempo o riquíssimo potencial da memória de quem ainda estão entre nós; com critério, para garantir a genuinidade do espólio cultural resgatado, evitando que sofra os flagelos da manipulação ou aculturação», argumenta.

E está convicto de que a memória oral «jamais deixará de ser um recurso importante na reconstrução da história». De resto, muitos documentos históricos tiveram, em algum tempo, «a memória oral como fonte credível».

«Muitas lendas, que tiveram a oralidade como meio exclusivo de transmissão, têm sido fundamentais para a descoberta de vestígios arqueológicos no nosso território, e têm permitido também equacionar factos históricos ignorados, ou reequacionar outros que vêm persistindo em nebulosas mais ou menos controversas», explica Alexandre Parafita.

Por fim, realça que o inventário do Património Imaterial do Douro não vai ficar por aqui. «Há muito trabalho para fazer, pois o Douro Vinhateiro tem ainda dezenas de outros concelhos muito ricos culturalmente e não seria justo que ficassem de fora. Contudo, tão importante como a realização do inventário é a realização dos estudos necessários sobre o espólio inventariado», conclui.
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Douro - Património oral resgatado para livro

No dia 26 de Novembro é lançado o segundo volume da obra Património Imaterial do Douro - Narrações Orais. O projecto empreendido pelo Museu do Douro, Peso da Régua, recolheu lendas e contos guardado na memória dos mais velhos.

Café Portugal | quarta-feira, 3 de Novembro de 2010

Lendas e contos de mouros, bruxas ou lobisomens, histórias populares guardadas na memória dos mais velhos e, por isso, em «risco de extinção» foram agora resgatados para livro. No total foram inventariadas 250 lendas e 166 contos populares.

O projecto faz parte do inventário do património imaterial da região duriense que está a ser promovido pelo Museu do Douro desde 2007 e que tem como coordenador científico Alexandre Parafita.

O investigador disse que o segundo volume da obra Património Imaterial do Douro - Narrações Orais é lançado a 26 de Novembro.

Alexandre Parafita resgatou ainda da memória de cerca de cem idosos dos concelhos de Vila Flor e Carrazeda de Ansiães «várias dezenas de peças de romanceiro e cancioneiro, lengalengas, rezas e mezinhas».

«Estes dois municípios possuem índices elevados de população idosa, profundamente influenciada pelo sobrenatural cristão e pagão, que continua a gerar cenários de inquietação no quotidiano rural», salientou.

Para o investigador, estas pessoas são os «porta-vozes da memória». Aqui, a «memória oral que se projecta através das lendas permite-nos identificar e conhecer um pouco desses mistérios que vêm do passado longínquos», frisou.

Parafita referiu que a memória oral de muitas aldeias referencia locais de aparições milagrosas, alguns associadas a procissões nocturnas de almas penadas, lugares onde se esconjuraram bruxas, demónios e lobisomens, mas também de refúgios de leprosos, de mouras encantadas e de valiosos tesouros protegidos pelo Livro de São Cipriano.

Estas lendas e contos revelam ainda vestígios de interesse arqueológico, explicam as origens de capelas, cruzeiros e santuários, ou a extinção de povoações por invasões de formigas, e ainda identificam lugares de transfiguração de almas penadas e suas revelações aos mortais (como acontece nas aldeias de Amedo, Arnal, Vilarinho das Azenhas e Vilas Boas).

Mas, por algumas destas aldeias, como Foz Tua, Tralhariz, Pombal de Ansiães, Vila Flor, Ribeirinha ou Vilas Boas, também se escondem histórias de rituais de lobisomens.

O investigador salientou que, com a narração da cura de uma criança leprosa, se explica a construção do santuário da Senhora da Assunção em Vilas Boas (Vila Flor), e que devido aos muitos ossos encontrados num vale após a mortandade que os cristãos infligiram nos mouros ao expulsá-los do castelo de Ansiães, nasce a justificação popular do nome de Vale da Osseira.

Alexandre Parafita frisou que o inventário vai prosseguir, dando resposta a um desafio da UNESCO para a salvaguarda do património imaterial.

Doutorado em Cultura Portuguesa, Alexandre Parafita é investigador do Centro de Tradições Populares Portuguesas da Universidade de Lisboa.
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Douro - Viagem ao Portugal do fantástico

O País tem muita História por registar no que respeita à memória oral, aquela que passa de geração em geração, nas margens da palavra escrita. Relatos que são um património vivo de muitas comunidades. Há um Portugal do fantástico, lugares onde se esconjuraram bruxas, demónios e lobisomens, sítios de aparições milagrosas, ermos com almas penadas, refúgios de leprosos e de mouras encantadas. Lendas e contos reunidas no segundo volume da obra «Património Imaterial do Douro - Narrações» e que o Café Portugal publica em exclusivo.

Café Portugal; Fotos: 'Património Imaterial do Douro - Narrações Orais' | sexta-feira, 26 de Novembro de 2010

Os idosos, os mais velhos, os que têm a sapiência na voz, são eles quem nos conduzem a mistérios e enredos que nos transportam a um passado que já vai longe. São lendas e contos reunidas por Alexandre Parafita, autor do livro que evoca as histórias guardadas nas memórias das populações de Tabuaço, Carrazeda de Ansiães e Vila Flor. Porque, o Douro também guarda personagens carregadas de mistério…



A mulher enterrada viva

A história de um padre, de uma criança e de malfeitores. A morte e os mistérios que a noite encerra numa lenda que mostra o pagão cristão. LER






O  «ermo» das bruxas

O «ermo», expressão que retrata um local sombrio, é local de reunião de bruxas. Ali estes seres possuídos de maldade faziam as rezas contra todos aqueles a quem queriam mal. LER.




                              


A menina nua na procissão

Almas penadas. Crenças ligadas à morte. Esta é uma lenda que conta como a rotina popular pode mudar o desfecho da fé cristã das populações. LER






O carpinteiro e as feiticeiras

As más acções também se cobram. Para os lados do Tua, houve tempos em que feiticeiras atormentavam aqueles que se excediam. São estórias onde o medo e o sobrenatural se misturam sempre com lições de moral pelo meio. LER



                          

            


A enxada que vertia sangue

A fé dos cristãos é retratada neste conto de forma muito peculiar. Os descrentes, aqueles que não tentam sequer acreditar na existência de Deus, têm castigos divinos à sua espera. Os homens, nas lendas populares, são sempre os alvos. LER
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Novo livro de poesia de Ondjaki

«Tudo no mundo é feito para acabar por converter-se num livro.» Stéphane Mallar

Domingo, 28 de Novembro de 2010

Novo livro de poesia de Ondjaki

Dois livros num só: Acto Sanguíneo e Dentro de mim faz Sul: o iniciático – escritas do fim da adolescência, editado há dez anos – e o mais recente livro de poesia de Ondjaki. É uma «celebração», diz-nos o escritor angolano em nota introdutória, desse «mistério chamado poesia». São pedaços da existência, fragmentos de interioridade desenhados em palavras: o «ritmo do sangue», o afecto do chão, o canto das estrelas da infância, rituais de encantamento, cicios de perdas, saudades, ecos longínquos que a memória foi transfigurando também ao longo de dez anos.

«dez anos antes ou depois, há frases que nos vão resumindo – cicatrizam-se em nós (porque o mundo /assim como sou /não me basta). Pensei também em dizer que, algures, entre estes dois livros, seguem longas linhas de uma sincera confissão. Mas depois vi que isso seria uma redundância humana.», diz Ondjaki, no presente livro.
Com várias obras para crianças, contos, romances e um texto dramático, as razões da poesia (recordo que Ondjaki  publicou também há prendisajens com o xão, em  2002, e, no ano passado,  Materiais Para Confecção De Um Espanador De Tristezaver texto meu sobre este último título) poderão encontrar-se logo em Acto Sanguíneo : «regresso  porque me dói /a parte escondida da perna  //e peço, com a mão mais direita /para escrever em ti .//regresso  porque /acima de tudo /me quero experimentar.//a mim: sanguíneo. //o actor sanguíneo.» (p.125).

Poemas:
(dentro de mim faz sul)

que língua falam os pássaros

de madrugada
que não a do amor?

escuto a madrugada
- lento manancial de céus.

os pássaros
São mais sabedores. (p.17)

***
chove.
o mundo húmido, poético
ganha outra densidade
- longe do medo.

gosto de observar a chuva

a paz
nas suas vestes

a chuva é plena de instantes intocáveis

nós somos
simplesmente humanos. (p.49)
***
(acto sanguíneo)

há uma valsa lenta neste
baixinho barulhar.
um vermelho odor, qualquer coisa de baço
no olhar.
seios brancos, um soutien escondido
um par de óculos
uma doce morosidade.

há algo de erótico na casa da idade

um suspiro estalando no ar
ou uma valsa quente
no repouso de um lar. (p.104)


ver AQUI textos meus sobre obras de Ondjaki
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Materiais Para Confecção De Um Espanador De Tristezas, Ondjaki

10 April 2009 1 Comentário
Materiais Para Confecção De Um Espanador de TristezasDepois do livro de contos «Os da Minha Rua» e do romance «AvóDezanove e o Segredo do Soviético», Ondjaki regressa com as enormes «manchas de infância», um «tipo de varicela» agora no corpo da poesia. O autor angolano, que se confessa «enamorado pela palavra antigamente», cria em Materiais Para Confecção De Um Espanador De Tristezas desobjectos para reabilitar aquele deslugar, para reaprender o lugar da alma, e não há tristeza nem solidão que resista ao espanador destas palavras musicais, tácteis, odoríficas, coloridas, afectuosas e confessionais que cantam madrugadas, praticam voolêncios e sonham borboletas. 
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.Materiais Para Confecção De Um Espanador De Tristezas colige poemas narrativos e prosa poética com conversas que trazem «cócegas ao cosmos». São 86 páginas com uma magnífica síntese da navegação literária de Ondjaki pelo rio da infância, com elos ao anterior livro de poesia «Há Prendisajens com o Xão (O segredo húmido da lesma & outras descoisas)» de 2002, e consubstancia o diálogo com outras obras do autor, como o inultrapassável livro infantil «Ynari – a menina das cinco tranças» de 2004 ou a novela «O Assobiador» de 2002, ambos chamados a estas novíssimas páginas. Ondjaki, que confessa apreciar «muito a redondez do mundo», lança um longo abraço a artífices da lusofonia, fazendo vagabundear nos poemas Carlos Drummond de Andrade, Luandino Vieira, Mia Couto, Manoel de Barros, Guimarães Rosa, Adélia Prado, entre outros. É a árvore dos afectos com raízes em Luanda – essa «palavra deitada / nas cicatrizes / de uma guerreira bela» – e ramos estendidos com sede de universo.
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Este «é um livro que tem um jeito de apalpar a língua como quem apalpa o dorso de um rio. Ou tem um jeito de escrever as palavras da língua como quem rumoreja sussurros para não assustá-las», diz o escritor brasileiro Paulinho Assunção, no soberbo Posfácio. Acrescentamos: porque «há qualquer coisa de jangada na palavra rio», este é um livro sobre o sonho que corre no rio de antigamente, lugar de «verdades doces como mangas», do tempo em que «as pessoas emprestavam os pés às pombas / e elas roçavam os telhados /para cumprimentar as casas», casas onde circulavam «abelhas mansas» e os lagartos faziam parte da família, mas a família também fazia parte do lagarto. E se é certo que «o mundo, mesmo partilhado, /é muito a pele de cada qual», estas incursões de Ondjaki instigam-nos a escutar a pureza do vivenciado e trazer testemunhos de felicidade para a caminhada dos dias, como o próprio atesta.
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Materiais e método dum poema
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“Sujo de infâncias”, Ondjaki constrói a casa dos sonhos que se recusam a partir, e mostra-nos com que materiais se espanta a tristeza e a solidão: «dedos quietos que crescem /pele nua /brincadeiras como o amor /pêndulo solto de sonhos /lógicas sacudidas /olhar de só-assim /modos de chegar como sementes /manobras de artesão contra o ego /desafio do «eu» /nudez de pele /de mãos /e (sob os teus olhos) / invenção de um sólido espanador de tristezas.». Depois, define-se o método: pedir emprestada a gaguez da garça, ganhar o hábito «de gaguejar tardes» e desenhar tudo com a tinta das veias: a família, os amigos, as vozes, as brincadeiras, o sol, as nuvens, o vento, as aves azuis. Para tanto, há que estender o «luando», emprestar o corpo ao chão e adormecer num poema «ardilhado de simplicidade».
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Assim se convoca a chuva, uma «chuva carente» que precisa ser acariciada, ainda que o poema lhe seja um «lar provisório»: «e a chuva aceitou ficar. /vive actualmente /na leitura [mesmo que desatenta] /de um poema. / o barulhar dessa chuva /é uma espécie de pequena mentira. / dizem que as crianças lhe conseguem escutar. / dizem que os gambozinos lhe pressentem / e nela, por vezes, / se deixam vislumbrar. / dizem.»; assim surgem manhãs iniciáticas, apalpadas a «partir do tom amarelo das ramelas», aonde se chega com tombo deslizando num «escorrega», os fios de tarde empanturrados «de brandura» e noites inundadas de estrelas: «se eu soubesse manejar a palavra etecetera pedia licença à/ noite /e terminava este poema assim: etestrelas…!».
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Materiais Para Confecção De Um Espanador de Tristezas é uma celebração com «qualquer coisa de lágrima», anunciadora de saudade, fundadora de nostalgia, com qualquer coisa de tristeza. Cônscio, Ondjaki adverte: «há qualquer coisa de sapiência na palavra tristeza. e algumas tristezas não são de espanar – um dia posso descobrir que elas me fazem falta e ter que ir buscá-las …». Cabe à palavra a metamorfose, pois «uma construção pode bem ser o lado avesso de uma certa tristezura.». E o ofício de a erigir é-nos descrito assim, cristalinamente, por Ondjaki: «vou encher-me de silêncios e imitar as pedras. adormecer entre as pedras pode ser que me contagie delas. depois de conseguir ser pedra vou exercitar o sorriso dessa pedra que eu for. com esse sorriso vou iniciar uma construção…».
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por Teresa Sá Couto
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domingo, 28 de novembro de 2010

Arte e Poesia em Modus Vivendi

Elisabetta Sirani

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retrato de Beatrice Cenci, também atribuído ao pintor Guido Reni
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Aves sem pouso

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Percorro
o território do teu corpo
e um ninho, um pouso busca a boca cega
salivando saliências e reentrâncias
que dás e negas, tão cheia de graça,
e és tão cheia de ninhos, só que pairas
em páramos que esboças pelo teto
quando descerro as portas que me trancam
o coração, e o coração já voa
também por outros páramos, por onde
como soltos no espaço nós soltamos
essas aves que em vão buscam um pouso.
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Affonso Félix de Sousa
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27 de novembro de 2010

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Jan Victors

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espreitando a vida lá fora
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Acalanto

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Vai amado.
Busca por onde quiseres,
com quem quiseres,
como quiseres,
o prazer.
Até mesmo,
aquele prazer que um dia alguém apelidou de amor.
E,
se por acaso te cansares
e,
do compromisso que um dia nos uniu te lembrares,
se desejares,
volta.
Serei a que conforta.
Não saberás da dor,
da saudade,
das lágrimas sentidas que tua ausência causou.
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Ada Ciocci
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26 de novembro de 2010

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Frank Zappa

(para ti, por estes fabulosos 2191 dias e noites, e outros que hão-de vir)
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I have been in you, baby
And you
Have been in me
And we
Have be
So intimately
Entwined
And it sure was fine
I have been in you, baby
And you
Have been in me
And so you see
We
Have be so together
I thought that we would never
Return from forever
Return from forever
Return from forever . . .
You
Have been in me
And understandably
I have been in 'n'outayou
An' everywhere
You want me to
Yes, you know it's true
.
Frank Zappa
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25 de novembro de 2010

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Antonio da Correggio

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um belo olhar do renascimento italiano, pintado no século XVI
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Depois...

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Para onde irão depois as coisas que aprendi?
Por exemplo: aquele cálculo de pi.
Que será feito daqueles restos de saudade,
destes medos antigos sempre novos?
Em que voltas desaparecerão os sonhos
que enfeitaram de flores o quintal antigo?
Por que caminhos irão andar aqueles ágeis pés?
Sobretudo, como se esvaziará de som a velha voz
e onde afundará o último verde daquela flama esguia?
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Abgar Renault
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24 de novembro de 2010

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Albert Edelfelt

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outro perfil oitocentista
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Amanhã é Longe Demais

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Fragmentos
sensíveis
Andam pelo tempo
Marcando o ritmo
Do voo das aves invisíveis
Doces melancolias
Desfazem-se pelos mistérios dos olhares
A beleza navega pelos sete mares
Diluída no brilho dos sonhos
Sombras de movimentos ancestrais
Dançam a beleza da luz imaculada
Por entre os astros do silêncio
Libertando transparências sentimentais.
Na baía das lendas
Abraçando a leveza dos espíritos
Gotas cristalinas de fontes eternas
Escorrem suavemente sonhadoras
Libertam o agora
Das profundezas do sonho da vida
E a sombra misteriosamente adormecida
Diz-nos que chegou a hora.
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Jorge Viegas
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Fundação Saramago vai lançar "Retratar um livro"

Sábado, 27 de Novembro de 2010


 

Quarta-feira, 17 de Novembro de 2010


Fundação Saramago vai lançar "Retratar um livro"

" Nome de Guerra" foi escrito por Almada Negreiros, em 1925. É um romance de iniciação de Antunes, um jovem provinciano oriundo de família abastada. Quando é enviado para Lisboa pelo seu tio Luís ao cuidado de D. Jorge, seu amigo, tido como " bruto como as casas e ordinário como um homem", com o propósito de o educar nas "provas masculinas" não imaginava o final da aventura.
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Antunes concluiu rápidamente que "o corpo nú de mulher foi o mais belo espectáculo que os seus olhos viram em dias de sua vida", decidindo-se a perseguir Judite. Esta "via perfeitamente que o Antunes não estava destinado para ela", mas "não lhe faltava dinheiro e o dinheiro é o principal para esperar, para disfarçar, para mentir a miséria e a desgraça". A história termina com a frase "não te metas na vida alheia se não queres lá ficar".
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Brevemente a Fundação José Saramago vai lançar o Prémio de Fotografia Retratar Um Livro. A ideia é que ao lerem um livro, os leitores encontrem uma imagem e tirem uma fotografia. O primeiro desafio vai ser "Nome de Guerra".
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As fotografias serão expostas depois em diversos locais do nosso País e funcionarão como uma síntese do livro.
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sábado, 27 de novembro de 2010

Mark Twain supera las previsiones de venta en Estados Unidos


Poemas del Alma

El 15 de noviembre pasado se produjo en Estados Unidos el lanzamiento de la primera de un total de tres entregas de la autobiografía de Mark Twain, el escritor estadounidense que desarrolló propuestas como “Las aventuras de Tom Sawyer”, “Príncipe y mendigo” y “Las aventuras de Huckleberry Finn”, y ya se puede asegurar que la obra es un verdadero éxito editorial.
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Mark TwainEn principio, el sello de la Universidad de California que editó el material sacó una tirada de 7.500 ejemplares, pero la fuerte demanda provocó que se ampliara ese margen hasta llegar a los 275 mil ejemplares que, hoy en día, están disponibles en el mercado.
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“La verdad es que nos ha sorprendido el interés popular en el libro”, confesó Robert Hirst, el responsable del equipo de la Universidad de Berkeley que trabajó durante seis años para elaborar este primer tomo, ante la agencia EFE.
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Según explicó este experto, nadie imaginaba que esta obra iba a llegar tan pronto al puesto número siete de la lista de súper-ventas de “The New York Times” en la categoría de No Ficción, pero la respuesta del público superó todas las expectativas.
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Si este libro sale a la luz ahora es porque el propio Twain obligó a mantener oculto su contenido durante cien años para evitar que sus confesiones hirieran a alguno de sus contemporáneos. Desde su punto de vista, un texto “que no se publica durante un siglo da al escritor una libertad que no podría tener de ninguna otra manera”.
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El paso del tiempo permitió conocer los pensamientos de este gran exponente del mundo de las letras y, tal como lo deseó el autor en marzo de 1906, hoy su autobiografía, en la cual se observan pasajes marcados por el humor, recuerdos de su infancia y mucha sinceridad, es “admirada por su forma y método” ya que se construyó en base a una consigna personal que consistía en “deambular libremente por toda la vida, hablar sólo de las cosas que interesan y dejar de hablar de ellas en el momento en el que su interés palidezca”.
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Links relacionados:

http://elmundobabel.blogspot.com/2010/11/mark-twain-mas-vivo-que-nunca.html

http://mundoespectaculos.portalmundos.com/mark-twain-mas-vivo-que-nunca-cien-anos-despues-de-su-muerte/
Publicado por Verónica Gudiña el 23 de Noviembre de 2010 a las 11:50 am
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Biografía de Mark Twain

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Su verdadero nombre era Samuel Langhorne Clemens. Nacido el 30 de noviembre de 1835 en Florida (Missouri), este escritor estadounidense dio sus primeros pasos en el mundo de las letras durante su adolescencia, cuando, en 1851, comenzó a publicar notas en el periódico de su hermano, el “Hannibal Journal”. Antes había sido aprendiz en dos imprentas, actividad que retomó años más tarde en distintas ciudades de Estados Unidos.
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Mark TwainFue piloto de un barco de vapor, se alistó en una compañía irregular de voluntarios de caballería del ejército confederado y, tiempo después, viajó a Nevada con su hermano, donde ambos probaron suerte con las minas de plata. En Nevada, Clemens se desempeñó como periodista para el “Territorial Enterprise” de Virginia City y, en 1863, comenzó a utilizar el seudónimo con el que pasó a la historia: Mark Twain, un nombre que, en el río Mississippi, significa “dos brazas de profundidad”, y representa el calado mínimo que se necesita para la buena navegación.
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En 1864 se traslada a San Francisco y conoce a dos escritores: Artemus Ward y Bret Harte. Al año siguiente, Twain consigue un gran reconocimiento gracias a una historia que escuchó en las minas de oro de California y que él reconstruyó y tituló “La célebre rana saltarina del condado de las Calaveras”. Luego vendrían “Los inocentes en el extranjero”, “Una vida dura” y el clásico “Las aventuras de Tom Sawyer” (que tiempo después tendría su secuela), entre muchas otras obras.
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En 1884, año en que salió a la luz “Las aventuras de Huckelberry Finn” (la citada continuación y que está considerada como la obra maestra de Twain), el escritor creó la editora Charles L. Webster and Company, donde publica una gran cantidad de títulos, tanto suyos como de otros autores.
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Años antes de fallecer, Mark Twain, o mejor dicho, Samuel Langhorne Clemens, recibió el doctorado Honoris Causa por la Universidad de Oxford y, el 21 de abril de 1910, la muerte lo encontró en Nueva York.


Publicado por Verónica Gudiña el 5 de Noviembre de 2007 a las 08:21 pm
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Resumen de Las aventuras de Tom Sawyer

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En 1876, años después de haber creado una historia inspirada en su propia infancia donde muchos de los personajes de ficción existían en el mundo real, el escritor estadounidense Mark Twain publicó una novela titulada “Las aventuras de Tom Sawyer” que, tiempo después, sería llevada a la gran pantalla, adaptada al teatro y traducida a varios idiomas. En definitiva, puede decirse que, por la importante repercusión recibida y el brillo de su narración, “Las aventuras de Tom Sawyer” se convertiría, a nivel mundial, en una de las obras maestras de la literatura. 
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El relato, ambientado a orillas del rio Misisipi, está protagonizado por un joven travieso, valiente y astuto que está enamorado de una niña llamada Becky Thatcher y vive junto a sus primos en la casa de la rígida y dulce Tía Polly, a quien llega a mentirle con tal de llevar a cabo todos sus planes.
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Dueño de un espíritu aventurero y convencido de querer ser un pirata, este huérfano llamado Tom Sawyer decide, junto a su amigo Huckleberry Finn, emprender la búsqueda de un fabuloso tesoro que, tal como suponen, se encuentra escondido en una cueva. Así, entonces, comenzará para estos muchachos una larga aventura que los llevará a vivir nuevas experiencias y, en definitiva, los ayudará a crecer. 
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En medio de esas andanzas, los jóvenes conocerán numerosos riesgos, se divertirán al enterarse de que todo el pueblo está convencido de que han muerto ahogados, se enfrentarán a la realidad de ser testigos de un espantoso crimen ocurrido en un cementerio y mostrarán su perfil justiciero al defender a un inocente.
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“Las aventuras de Tom Sawyer” no sólo ofrece un entretenido relato repleto de aventuras, sino que también invita al lector a reflexionar sobre la pureza del mundo infantil y, por qué no, a recordar sus propias experiencias infanto-juveniles.


Publicado por Verónica Gudiña el 5 de Marzo de 2009 a las 07:43 pm
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Mohâmede ibne Abade Almutâmide (1040 - 1095)



Mohâmede ibne Abade Almutâmide é um dos grandes poeta do Islão e, certamente, como diz Nykl, o mais notável dos poetas hispano - árabes da segunda metade do século XI.
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Nascido em Beja, em 1040, de uma família de poetas, após ter governado, nominalmente, Silves, vem a ocupar o trono do reino taifa de Sevilha, em 1069, sucedendo a seu pai, o cruel e astucioso Almutâdid. Em 1091, para enfrentar, Afonso VI de Castela, solicita o auxílio de Yusuf ibn Tasufin, senhor dos Almorávidas. Este, após desbaratar as hostes cristãs, vira-se contra os reinos taifas, que conquista, um por um. Também Almutâmide é vencido, após dura peleja, e Sevilha conquistada. O infortunado rei é desterrado para Agmat, no interior de Marrocos, onde virá a morrer.
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Aí o poeta é forçado a uma existência de miséria e reduzido ao presídio e às grilhetas. Entre a memória de um passado auspicioso e um amargurado presente vive Almutâmide o seu drama pessoal, que exprime em versos de excepcional força lírica. Da adversidade faz uma elegia. Das tristezas do quotidiano extrai poesia: um bando de aves entrevisto das grades da cela; a grilheta que lhe rói o tornozelo …
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Morre em 1095, não sem antes ter escrito um poema para o seu epitáfio. A sua personalidade, o seu drama e arte comoveram a gente do seu tempo. Ainda hoje a sua memória, ligada à trágica amizade com ibn Ammar, permanece viva, muito em especial no mundo árabe; tanto assim, que o seu túmulo em Agmat é objecto de piedosas romagens de muçulmanos.
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Adalberto Alves 
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http://www.inforarte.com/cantando1/docs/Almutamide0.html
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Quarta-feira, Abril 01, 2009

Evocação de Silves




Eia, Abú Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes
se, como penso, ainda se recordam de mim.

Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel
que sente perpétua saudade daquele alcácer.

Ali moravam guerreiros como leões e brancas
gazelas. E em que belas selvas e em que belos covis!

Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado

Brancas e morenas que produziam na minha alma
o efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!

Quantas noites passei deliciosamente junto a um recôncavo
do rio com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!

O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras vezes o do seu vaso e outras o da sua boca.

As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me
como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.

Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo
de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.


Mohâmede Ibne Abade Almutâmide - Rei Poeta
Beja (1040-1095)
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Romance Académico - Maria Filipa dos Reis

Romance Académico
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Aplica‑se a designação de ‘romance académico’ aquilo a que, em inglês, se tem chamado ‘campus‑novel, 'college‑novel’, ‘academic novel’ ou ‘university novel'. Estes diferentes termos têm englobado, no universo anglo‑americano, um conjunto de obras de ficção que, dentro do género mais abrangente do romance, formam um subgénero literário relativamente recente. Constituem este subgénero obras de ficção em que a acção se prende com a Universidade e o ‘campus’, narradas, numa primeira fase, na perspectiva do estudante, e, numa fase mais moderna, na perspectiva do Professor, ou ‘Scholar’. Na segunda metade do Século XX, os autores destas narrativas são, eles próprios, docentes universitários.
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Nos seus primórdios, nos finais do Século XIX, princípios do Século XX, esta forma de expressão literária contundiu‑se com o romance de formação, ou ‘Bildungsroman’, porque veículava prioritariamente a perspectiva dota estudante universitário/a, aproximando‑se frequentemente da forma de livro de memórias, em que o público principal começava por ser o próprio narrador. A esta fase corresponderam, na Inglaterra do Século XIX, as narrativas de índole quase pastoral em que se idealizava a vida em Oxtord e Cambridge, narrativas que já no Século XX ganharam mais capacidade irónica e crítica em algumas obras de E. M. Forster, Evelyn Waugh e Aldous Huxley, chegando a debruçar‑se sobre os excluídos da ‘torre de marfim’, como em Jude The Obscure, de Thomas Mann.
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Nos Estados Unidos, registou‑se o aparecimento deste tipo de obras desde a publicação de Fanshawe, de Nathaniel Hawthorne, em 1828. Nos finais do Século XIX houve um grupo de romancistas de Harvard a escrever sobre as suas experiências de estudantes universitarios, dos quais nenhum viria a atingir a consagração, como escritor. De facto, os maiores escritores americanos tenderam a manter‑se afastados da temática do mundo académico, e o respectivo subgénero começou por desenvolver‑se a margem da literatura canónica, embora viesse a ser resgatado esporadicarnente, já no Século XX, por autores como F. Scott Fitzgerald que, em This Side Of Paradise (1920), se debruça sobre a evolução do protagonista Amory Blaine na Universidade de Princeton.
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O romance académico da primeira fase se assim se lhe pode chamar não se circunscreveu ao universo anglo‑americano. Na Alemanha, por exemplo, teve o seu protótipo em Wilhelm Meister. Em Portugal foram dadas ao prelo durante a primeira metade do Século XX narrativas sobre a experiência de ser estudante universitário, ou, de modo mais difuso, sobre a cena intelectual gerada pela proximidade da Universidade, algumas delas assinadas por autores que viriam a consagrar‑se na história da literatura portuguesa.
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Assim, logo à viragem para o Século XX, em 1902, Trindade Coelho publicava In Illo Tempore que começa:
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In illo tempore ‑ no tempo em que eu andava em Coimbra, andava lá também a estudar Direito um rapaz chamado Passaro. Passaro, pozemos‑lhe nós, porque além de ser alegre como um Pintasilgo, e vivo como um pardal ‑ usava o cabelo não sei de que modo, que parecia que Ihe punha duas azas atraz das orelhas, e que a cabeça lhe ia voar.1
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“Trindade Coelho, In Illo Tempore, 1.ª edição, 1902, p.9.”     
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O tom é de inteira consonância com o estilo de livro de memórias que também permeou as narrativas sobre a vida universitária em Oxford, Cambridge ou Harvard.
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Persistiu este tipo de obras, com alguma evolução, durante a primeira metade do Século XX como atesta, por exemplo, Jogo Da Cabra Cega, de José Régio, publicado em 1934. Em Jogo Da Cabra Cega, a relação com o ‘campus’ universitário não é explícita, mas as preocupações expressas são de tipo ineludivelmente académico‑intelectual. No Café do Preto reune‑se uma tertúlia de aspirantes à Arte e à Literatura, composta, além do narrador de primeira pessoa, Pedro, por personagens como Celestino, Zé Baía, Luís Afonso, Jaime Franco. É em contraponto com as preocupações intelectuais do “Grupo” que se vai evidenciando, ao longo da obra, a denúncia de um meio de cidade provinciana em que se preserva uma hipócrita moralidade de fachada, permeada de vícios privados. O desfecho e a procura da saúde moral através do abandono das preocupações abstractas e da lassidão nos costumes, pelo retorno à simplicidade do meio rústico.
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Já a acção de Fogo Na Noite Escura, de Fernando Namora, publicado em 1943, decorre em pleno ambiente universitário da Coimbra do tempo, integrando personagens estudantes de Medicina, como Júlio e Mariana, de Direito, e Engenharia, como Zé Maria e Abílio; e outras como Luís Manuel, Dina, Eduarda, portadoras cada uma delas das marcas neo-realistas da sua proveniência sociocultural, mas, quando alunos da Universidade, vivendo, no tempo e espaço da narração, num hiato entre classes, que decorre da condição de estudantes que lhes é comum, e que comporta um nivelamento persistentemente denunciado como falso ou artificial ao longo da narrativa. Estava‑se em 1943, em plena II Grande Guerra, e o romance sobre o ambiente universitário que se escrevia em Portugal, narrado ainda da perspectiva do estudante, não era significativamente diferente das obras da mesma índole que se escreviam em Inglaterra e nos Estados Unidos.
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O panorama viria a modificar‑se radicalmente no pós‑guerra de 39‑45: principalmente a partir do dealbar da década de 50, o romance académico muda de natureza e assume, em Inglaterra e nos Estados Unidos, as proporções e as características que vão contribuir para a sua definição como subgénero. As obras, cujos autores são professores universitários, passam a ser narradas do ponto de vista do Professor, e a veicular um leque mais alargado, e crítico, de perspectivação social. Foi esta mudança de natureza que, curiosamente, o contexto português não acompanhou.
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No mundo anglo‑americano, David Bevan considera os 11 volumes de Strangers And Brothers, de C. P. Snow, a obra de Mary McCarthy, The Groves Of Academe, e a de Kingsley Amis, Lucky Jim, romances seminais de um subgénero que em Inglaterra viria a atingir o seu expoente máximo com David Lodge e Malcolm Bradbury, seguidas, exemplo, por Howard Jakobson. Em contrapartida, no mundo português, procurar traços, sequer, de um esboço de subgénero de romance académico da segunda metade do Século XX torna‑se uma tarefa ingrata. Das mais de 230 obras de poesia e ficção da autoria de docentes universitários que, entre 9 de Maio e 7 de Junho de 1996, integraram a exposição bibliográfica de Poetas e Ficcionistas Universitários do Século XX, que decorreu na Reitoria da Universidade de Lisboa, por ocasião da homenagem prestada pela Universidade a David Mourão‑Ferreira e Urbano Tavares Rodrigues, nenhuma se enquadra na definição de romance académico. E todos os contactos havidos com uma variedade de autores que integraram a Exposição, e com colaboradores das várias universidades portuguesas junto da respectiva comissão organizadora, vieram confirmar as mesmas conclusões: não existe, em Portugal, subgénero do romance académico da segunda metade do Século XX; e, nesta fase moderna, em que a acção passa a ser narrada da perspectiva do professor, existe, neste âmbito, apenas o caso singular de um romance que teve por autor um professor da Faculdade de Agronomia, Luis S. Campos, e foi publicado em 1994 sob o título O Jardim das Plantas. Na segunda metade do Século XX é o único romance académico português.
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Para esta diferença de evolução, há explicações plausíveis, de natureza historico‑cultural. O pós‑guerra de 39‑45 e os meados do Século XX, que marcaram no universo anglo‑americano o amadurecimento do subgénero, decorreram em Portugal sob a égide totalitarista e autocrítica do Estado Novo e do governo de Salazar, acrescendo ainda a este aspecto o facto de a pequenez do meio intelectual do tempo levar a que não houvesse público para estas obras, e também a que a origem de qualquer sátira à Universidade ou a outras instituições pudesse ser quase imediatamente localizada e identificada, com consequências eventualmente gravosas para a vida profissional e pessoal do seu autor. A revolução de 25 de Abril de 1974 veio já encontrar um campus dissolvido, influenciado em extremo pelas divisões políticas do momento, e a entrar na fase pós‑moderna, em que a cultura académica perfaz um processo de fusão com a cultura média, e com outros sectores de transmissão do conhecimento, nomeadamente os mass media.
À viragem para a segunda metade do Século XX a cultura académica portuguesa tinha adoptado um estilo retórico e pomposo e um respeito pela divisão de classes e pela autoridade que colocou sob tabu as instituições, não permitindo que a partir da Universidade surgissem perspectivações livres, alargadas e críticas da própria Universidade e de outros sectores da sociedade portuguesa do tempo. Acresce que existem diferenças culturais, que transparecem num uso mais violento da linguagem, que uma análise conceptual e estilística revelaria ‑ diferenças essas que, em comparação com o tom do romance académico inglês e americano, tornariam um possível e, talvez, em parte, também por isso mesmo, inexistente subgénero de romance académico em Portugal, muito mais acintoso, ou acintoso muito para além do que seria aceitável.
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Em contrapartida, no mesmo período, a Universidade inglesa ou americana pouco já tem a ver com a atmosfera monástica, limitativa em termos de capacidade de perspectivação social, que acompanhou os modelos universitários mais antigos de Oxford e Cambridge, até que o Test Act de 1871 os viesse libertar da sua situação de monopólio da Igreja. De então para os nossos dias, pela força de muitos factores de natureza social e económica, a Universidade, tanto no caso inglês como no caso americano, tem‑se tornado cada vez menos torre de marfim, e cada vez mais lugar de experimentação cultural diversificada, pois se tem desenvolvido no sentido da inclusão de grupos cada vez maiores e mais heterogéneos.
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O percurso neste sentido, que nas universidades inglesas mais antigas, votadas tradicionalmente ao estudo das Humanidades, começou pela inclusão nos curricula de disciplinas mais práticas, visando a formação de filhos de famílias, já não necessariamente aristocráticas, nas arcas das Ciências e da Engenharia, viria a culminar no Butler Education Act de 1944, pelo qual se generalizou a facilidade de acesso da população ao ensino universitário, de que a proliferação das chamadas Red Brick Universities é testemunho.
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Também no caso americano a II Guerra Mundial foi o catalizador principal e definitivo desta viragem: a G. I. Bill, destinada a encorajar o acesso ao ensino universitário por parte dos veteranos de guerra, frequentemente oriundos de classes mais desfavorecidas, que até ai se tinham mantido afastadas das Universidades, foi o primeiro factor importante a instilar dentro da própria instituição universitária uma diferença, não pontual, mas generalizada, com que esta teve de viver, e que a obrigou a modificar os seus padrões de valor e a sua concepção de si mesma. Aqui se terá iniciado o percurso da ruptura com o cânone curricular, e do frequentemente chamado lowering of standards, que tanta polémica tem dado, de então até ao presente.
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A extraordinária expansão do sector público do ensino universitário nos anos 40 veio a encontrar sequência em leis como o Economic Opportunity Act, de 1964, e o Higher Educafion Act, de 1965, pelos quais jovens de classes desfavorecidas ganharam, através de empréstimos governamentais e de bolsas de estudo, a possibilidade de ingressarem no ensino uníversitário. Nos Estados Unidos, pelo menos desde a passagem da G. I. Bill que se pode argumentar que a Universidade se tornou num cadinho de experimentação social, em que a convivência entre as várias diferenças (de classe, género, raça) se efectua num estádio mais avançado, digamos, pioneiro, em relação àquele que é o estádio do resto da sociedade em geral.
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Possivelmente pela influência que os Estados Unidos têm nos modelos ocidentais, muito embora persistam sectores que defendem uma postura conservadora, o mito vigente na evolução da Universidade inglesa e americana na segunda metade do Século XX é o que subjaz à democratização do acesso, ao alargamento do círculo de pertença desta instituição, não só a ambos os géneros, mas, idealmente, também a todas as classes sociais e raças. O discurso que prevalece na Universidade do presente, sobretudo depois dos anos 60, é o da plena aceitação, ou mesmo, o da hipervalorização de todas as diferenças, atitude que se reflecte em alterações mais ou menos profundas dos conteúdos curriculares, que tendem a tornar‑se mais flexíveis, e menos canónicos. Dá‑se nova importância à literatura de origem étnica, proliferam os Women Studies, o estudo exclusivo da literatura vai cedendo lugar, nos Estados Unidos, aos American Studies, com menor ortodoxia metodológica; em Inglaterra, aos Cultural Studies, iniciados na Universidade de Birmingham, no Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS), que hoje constitui um Departamento de Estudos Culturais.
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O romance académico inglês e americano da fase moderna, ou seja, da segunda metade do Século XX, nasce, assim, de um confronto de atitudes: por um lado, a que subjaz a este novo mito de uma universidade democratizada, que neo só acolhe de braços abertos todos os grupos sociais, como se auto‑modifica para se ajustar às suas diferentes expectativas e necessidades; por outro lado, a atitude que, por tradição, tem regido o conceito da Universidade como Torre de Marfim (hoje em permanente ameaça de derrocada): a Universidade como mundo àparte, livre de condicionalismos de ordem pragmática, regida por leis que lhe são próprias, depositária do saber clássico e canónico, e para sempre votada, de modo idealista, à procura e transmissão desinteressada do conhecimento.
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As marcas deste confronto permeiam o romance académico inglês e americano da segunda metade do Século XX, o que se torna patente até ao nível da caracterização dos narradores e protagonistas, que, por um lado, pela sua situação de professores universitários, estão integrados no establishment, por outro, nesse establishment, costumem pertencer à geração mais jovem, e assumem, tradicionalmente, dentro do subgénero; uma postura de contestação. Mencione‑se, como exemplo, que repassa para a caracterização do herói de Lucky Jim (1954) a qualidade de ‘Angry Young Man’ do seu autor. E, com as necessárias modificações, repete‑se, ao longo dos anos, esta postura de dissidência. James Walker, personagem de Malcohm Bradbury, é um dissidente em relação a valores fundamentais na sociedade, como o dever do trabalho produtivo e remunerado, e da responsabilidade pela família própria; Philip Swallow, personagem de David Lodge, torna‑se também um dissidente em contacto com o modus vivendi americano.
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Da caracterização do subgénero, no que respeita ao narrador ou protagonista académico típico fazem também parte, concorrendo para esta postura de dissidência, elementos como:
  • a precaridade da situação económica do Professor ou Scholar; as referências à necessidade de lazer e de liberdade para criar e os protestos sobre as limitações de vária ordem que, na prática, se põem à liberdade académica;
  • críticas, às vezes profundas, à Universidade e ao sistema de educação, que são, de facto, críticas aos valores que regem a sociedade;
  • acusações mordazes de imoralidade ou desonestidade dentro da profissão, que, no fundo, apontam para a existência de um mito, subjacente à figura idealizada do Professor ou Scholar, que comporta a necessidade implícita de perfeição, ou mesmo de sacralidade.
E ainda elementos como:
  • a tendência para episódios de experimentalismo na escrita, e de narcisismo autoral, mesmo quando as narrativas se constroem, basicamente, pelo modelo realista de contar ‑ elemento a que não será alheia a condição de professores e críticas de literatura da maior parte dos autores, dentro deste subgénero;
  • o tema recorrente da ‘viagem’, da itinerância, ligada à imagem do académico, com o reconhecimento da aprendizagem através dos choques culturais que essa itinerância envolve [Ex., ver Stepping Westward (1965) e Rates of Exchange (1983), de Malcolm Bradbury; Changing Places (1975) e Small World (1984), de David Lodge; Redback (1986), de Howard Jacobson; The Visiting Professor (1993), de Robert Littell];
  • o desconforto causado pela diferença de estatuto entre ciências humanas e ciências
  • exactas e tecnológicas, que se tem alterado ao longo dos tempos; e, concomitante a este, o desconforto subjacente causado pela falta de utilidade prática imediata do saber académico, numa sociedade cujos critérios de atribuição de valor são essencialmente pragmáticos. Este aspecto está, possivelmente, na origem de a conquista sexual ou a solução de mistérios policiais serem tão frequentemente centrais a estas narrativas. constituindo‑se como vias pelas quais se atribui algum resultado visível ao saber e à actividade do académico, cuja relevância em termos práticos se costuma afigurar remota ou mesmo discutível aos olhos do cidadão comum [Ex., ver, da série de “mistérios” da protagonista Kate Fansler, Death In A Tenured Posifion (1981), de Amanda Cross; e também a série de 61 romances de John Rhodes, que, entre 1925 e 1955 consagraram como figura de detective a sua personagem Professor Lancelot Priestley].
E ainda:
  • o confronto entre o saber académico e outros saberes, como seja, em anos mais recentes; o saber dos mass media. Note‑se que este confronto é glosado em Dr Criminale (1992), de Malcolm Bradbury, em que o narrador é um jornalista à procura de um académico sempre em movimento e quase sem existência corpórea; e em Therapy (1995), de David Lodge, em que o narrador académico cedeu o lugar a um protagonista que já não é professor universitário, mas argumentista para a televisão. São obras que, no percurso dos autores mais conceituados dentro deste subgénero, marcam o fim do romance académico propriamente dito, pela sua “re‑fusão” no género mais abrangente do romance efectuando um percurso paralelo ao percurso da Universidade, que tende a deixar ruir as muralhas da sua torre de marfim para ir ao encontro dos critérios de atribuição de valor da sociedade em geral.
No caso anglo‑americano, o romance académico reflecte, assim, tensões e tendências presentes na Universidade e na sociedade que a rodeia, podendo ser abordado, não só do ponto de vista dos estudos literários, mas também como documento para análise cultural.
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BIB.: Não existem estudos extensivos que tratem a evolução do subgénero do romance académico dos anos 60 em diante. De facto, à excepção de um volume que, mais do que um estudo propriamente dito, é uma bibliografia anotada (John E. Kramer, The American College Novel: An Annotated Bibliography, New York, Garland, 1981) os únicos dois estudos de fôlego sobre este tema terminam nos anos 60 ou ainda antes: The English University Novel, de Mortimer Proctor (Berkeley, University of California Press, 1957), inicia‑se em Smollett e Fielding, e fecha com a referência ao romance de Kingsley Amis, Lucky Jim (1954); e The College Novel In America, de Johm O. Lyons (Carbondale, Southern lllinois Univ. Press, 1962), cobre a evolução do romance académico nos Estados Unidos, desde Fanshowe (1828), de Hawthorne, até A New Lide (1961), de Bernard Malamud. Os estudos sobre romance académico publicados posteriormente, ou são orientados para o tratamento de uma problemática específica, como é o caso de The University In  Modern Fiction: When Power Is Academic, de Janice Rossen (s. 1., St. Martin’s Press, 1993), que se centra sobre o tema do poder na Universidade, ou são esparsos e fragmentários, encontrando‑se na forma de artigos vindos a lume em publicações periódicas, ou em volumes de ensaios coligidos por um editor interessado, como é o caso do valioso livro sobre este tema editado por David Bevan, University Fiction (Amsterdam, Atlanta, Rodopi, 1990). id., University Fiction (Introdução), Amsterdam, Atlan:ta, Rodopi 1990. Malcolm Bradbury, “If Your Boocks Are Funny Please Tell Me Where”, in Times Book Review, Nova Iorque 17/7/1988; Jo Allen Bradham, “The American Scholar: From Emerson To Alexander Theroux’s Darconvillet’s Cat”, in Critique: Studies In Contemporary Fiction, V. 24 (4), Verão de 1983, pp 215‑227; Anthony Burgess, “The Academic Critic And The Living Writer”, in TLS, VoL 4363, p. 1275; John E.Kramer, The American College Novel: An Annotated Bibliography, NewYork, 1981; John E. Kramer Jr. e John E. Kramer, College Mystery Novels: An Annotated Bibliography Including A Guide To Professional Series Character Sleuths, New York e London, Garland, 1983; David Lodge, “Robertson Davies And The Campus Novel”, in David Lodge, Write On:‑ Occasional Essays ‘65‑‑‘85, London, Secker & Warburg, 1986; John O. Lyons, The College Novel In America, Carbondale, Soutbem lllinois Univ. Press, 1962; Gyde Christine Martin,”The New University Novel: A Mirror Not Just Of Academe”, in Gyde Christine Martin et aL, Conference Of College Teachers Of English Studies: 1988 September, s.L, s.d., Vol 59, pp 52‑59; Mortimer Proctor, The English University Novel, Berkeley,Univ. of California Press, 1957; Will Rocket, “Tension At The Verberant Core: Academic Subcultures And Their Effects In British And American College Detective Fiction”, in Clues: A Journal Of Detection, V. 12 (2), Outono‑lnvemo de 1991, pp 91‑113; John Wilkinson, “Conventions And Comedies Of Manners And British Novels About Academic Life”, in K Bege e Barbara Brothers (eds), Reading And Writing Women’s Lives: A Study Of The Novel Of Manners, Ann Harbor, Univ. Microfilms International Research P., 1990.
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Maria Filipa dos Reis
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http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/R/romance_academico.htm
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Última actualização: 29-08-2009