* Odete Semedo
.
EM QUE LÍNGUA ESCREVER
.
.
Em que língua escrever.As declarações de amor?
Em que língua cantar
As histórias que ouvi contar?
Em que língua escrever
Contando os feitos das mulheres
E dos homens do meu chão?
Como falar dos velhos
Das passadas e cantigas?
Falarei em crioulo?
Falarei em crioulo!
Mas que sinais deixar
Aos netos deste século?
Ou terei que falar
Nesta língua lusa
E eu sem arte nem musa
Mas assim terei palavras para deixar
Aos herdeiros do nosso século
Em crioulo gritarei
A minha mensagem
Que de boca em boca
Fará a sua viagem
Deixarei o recado
Num pergaminho
Nesta língua lusa
Que mal entendo
E ao longo dos séculos
No caminho da vida
Os netos e herdeiros
Saberão quem fomos
.
.
(português) (kriol)
Em que língua escrever Na kal lingu ke n na skribi
As declarações de amor? Ña diklarasons di amor?
Em que língua cantar Na kal lingu ke n na kanta
As histórias que ouvi contar? Storias ke n contado?
Em que língua escrever Na kal lingu ke n na skribi
Contando os feitos das mulheres Pa n konta fasañas di mindjeris
E dos homens do meu chão? Ku omis di ña tchon?
Como falar dos velhos Kuma ke n na papia di no omis garandi
Das passadas e cantigas? Di no passadas ku no kantigas?
Falarei em crioulo? Pa n kontal na kriol?
Falarei em crioulo! Na kriol ke n na kontal!
Mas que sinais deixar
Aos netos deste século? O n na tem ku papia
Na e lingu lusu
Ou terei que falar Ami ku ka sibi
Nesta língua lusa Nin n ka tem kin ku na oioin
E eu sem arte nem musa Ma si i bin sedu sin
Mas assim terei palavras para deixar N na ten palabra di pasa
Aos herdeiros do nosso século Erderos di no djorson
Em crioulo gritarei Ma kil ke n ten pa konta
A minha mensagem N na girtal na kriol
Que de boca em boca Pa recadu pasa di boka pa boka
Fará a sua viagem Tok i tchiga si distino
Deixarei o recado Ña recadu n na disal tambi na um fodja
Num pergaminho Na e lingu di djinti
Nesta língua lusa Pa no netus ku no erderos bin sibi
Que mal entendo Kin ke no sedu ba
E ao longo dos séculos Anos... mindjeris ku omis d’e tchon
No caminho da vida Ke firmanta no storia
Os netos e herdeiros
Saberão quem fomos
SILHUETA DESVENTURADA
Sou a sombra de um corpo que não existe
Sou o choro desesperado
Sou o eco de um grito articulado
Numa garganta sem forças
Sou um ponto no infinito
Silhueta da desventura
Perdida neste espaço
Vagueando...finjo existir
Insistem chamar-me criança
E eu insisto ser
A esperança do incerto
O meu tantã é de outros tempos
A melodia que oiço
É o crepitar de chamas
Confundindo-se com o roncar da fome
E o chão onde piso
É uma ilha de fogo
A minha nuvem é a fumaça
Da bala disparada
Gotas salgadas orvalham
O meu pequeno rosto
Enquanto choro
Na esperança do incerto
N MISKIÑA LAMENTO
(kriol) (português)
Tsi... zas Tsi... zás
Taz, taz Taz, taz
Toc... cop, corop, cop, cop Toc... cop, corop, cop, cop
Tuadas djagasi Sons que se confundem
Pasu ku abraso Passos e abraços
Ku n baransa Que se entrelaçam
Tem-depresa, iagu, fero Pressa, água, ferro
Ropas ke pindra Roupas que pendem
Udjus di ansia Olhos ansiosos
Sol noti Noite
Kume mundu Boémia
Pasus Passos
Gestus Gestos
Tuadas di pasus Melodia compassada
Sabura na pinga De passos
Na n kau ku ka sibidu Traços
Nalgun ladu Instantes
Algin na sufri Momentos de êxtase
Tchur tem E algures alguém sofre
Djintis na miskiña Chora...
Suspira
Lamenta
http://www.didinho.org/
.
.
"...jurei a mim mesmo que tenho que dar a minha vida, toda a minha energia, toda a minha coragem, toda a capacidade que posso ter como homem, até ao dia em que morrer, ao serviço do meu povo, na Guiné e Cabo Verde. Ao serviço da causa da humanidade, para dar a minha contribuição, na medida do possível, para a vida do homem se tornar melhor no mundo. Este é que é o meu trabalho." Amilcar Cabral - 1969
.
.
.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário