- não seremos mais do que crianças tristes à beira do rio,
- espera
- à moda do R R
- R.R.? descodifica
- Ricardo Reis, anda sentar-te comigo, Lídia , à beira do rio
- Estava a procurar por ele
- Fernando Pessoa
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlaçemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.
- esse mesmo!
- sumiu outra vez a verde luzinha
- "Simplesmente nos vamos,
sem mágoas nem sobressaltos,
Numa tarde doce e triste
sem que o coração estremeça
e o gume da saudade nos fira
Porque nunca dissemos palavras de amor. "
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[Fernando Pessoa/Bernardo Soares - O Livro do Desassossego]
- As palavras que te envio são interditas
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade
- Os amantes sem dinheiro
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
há 2 horasMaria Jorgete Teixeira- Lindo
- Foi com o Eugénio de Andrade que a Noémia me iniciou e despertou para a poesia
há 2 horasMaria Jorgete Teixeira- Gosto muito dele, as palavras têm doçura, são leves ...sentidas
há 2 horasMaria Jorgete Teixeira- As palavras...
São como cristal, as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras, orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes, leves.
Tecidas são de luz e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta?
Quem as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
há 2 horasMaria Jorgete Teixeira- Foste?
- Não
- estou aqui
há 2 horasMaria Jorgete Teixeira- ah, também já é hora de desligar...
- Eu vou com as aves ao teu encontro nos meus sonhos desassossegados [em ti procurando o sossego]
Doce Mistério da Vida - Fernando Pessoa
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Minha vida que parece muito calma
Tem segredos que eu não posso revelar
Escondidos bem no fundo de minh'alma
Não transparecem nem sequer em um olhar
Vive sempre conversando à sós comigo
Uma voz que eu escuto com fervor
Escolheu meu coração pra seu abrigo
E dele fez um roseiral em flor
A ninguém revelarei o meu segredo
Nem direi quem é o meu amor
**********- Carlos Rodrigues
Grandes leituras, li muitos desses. Estranho ai a falta, por exemplo, das Palavras do Sartre, dos Possessos e do Homem Revoltado de Camus e até do Castelo ou do Processo de Kafka, eram de leitura complementar quase " obrigatória" para um Sociólogo, mais ainda para um Político.E dos nossos acho que falta aí o Alves Redol. Mas gostei dos teus apontamentos Culturais.
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Não digas que não gostas de Poesia, nem da rima. Desta última há muitos que dizem que não gostam porque não a sabem fazer, dá muito mais trabalho. Eu gosto da Poesia livre, mas dependendo do momento, há alturas em que a Música é mais forte, cá dentro e, então me impõe ritmos e rimas e eu sou muito obediente a estas instruções da Anima. Outras vezes apetece-me desorganizar tudo, gerar o caos e vou por aí até que salte a tampa e um sentido qualquer não procurado. Depois fico danado comigo mesmo, porque poucos vão conseguir entender a criptologia e Poesia não entendida pelos outros ( raramente o é na sua totalidade ) acho que faz pouco sentido.
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Dos não sei quantos heterónimos de Pessoa, escolheste, o Naturalista, Alberto Caeiro, também gosto, é tão simples que até chateia. Gostei. Obrigado e um Abraço.
Victor Nogueira
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É preciso saber ler para além das palavras ou não recusar essa leitura. Lembro me dum poema do Alberto Caeiro, cuja humildade e simplicidade me atraem, humildade e simplicidade perante as pessoas e as coisas que talvez nunca sejam minhas. Levanto me e vou ali á estante buscá lo. Escolho o poema que trancreverei. Hesito na escolha. Será este!
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XLV - Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta. (MCG - 1972.07.14)
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O "teu" Eugénio de Andrade tem poemas belos mas o António Reis, para mim, não lhe deve nada, embora seja um poeta algo desenganado: a vida que ele reflecte é um rosto sereno com rugas ao canto dos olhos sorridentes; às vezes duma bondade repousante, outras reflectindo um certo cansaço, um certo desengano. Existe amor - em certa medida tal como o entendes - na simplicidade dos seus "Poemas Quotidianos". Por isso gosto deles. (NSM - 1971.04.11)
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Que dizes a esta poesia ("Impossível") cheirando a fins do séc.XIX [1] ? Parece me que o Cesário Verde, pelos outros poemas, consegue retratar fielmente o ambiente da burguesia do seu tempo - que Eça de Queiroz retratou também, admiravelmente, nos seus romances. Mas Eça era satírico, mantinha se alheado daquilo que escrevia. Enquanto que o Cesário parece viver aquilo, não só o ridículo, o mau gosto (a meus olhos) duma certa maneira de sentir e de agir. Para além disto, as pessoas miseráveis, a cidade, o povo, aparecem e perpassam pelos seus versos, muitas vezes contrapostos aos delíquios e aos sentimentos da pequena (e abominável, ridícula) pequena burguesia - que aspira a ser aquilo que não é, a uma grandeza que não tem e para que não foi talhada, porque apenas vivendo de exterioridades e aparências, sem uma vivência autêntica. (MCG - 1973.06.28 B)
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Disse-te um dia destes que relera com emoção um poeta que é o Eugénio de Andrade , de quem talvez tenha noutro tempo transcrito para ti alguns poemas. Dou comigo a relê-lo com uma certa tristeza. Porque afinal muitos dos poemas do Eugénio de Andrade expressam não a plenitude da alegria do amor alcançado mas a nostalgia do que se perdeu ou não alcançou. (MMA - 1993.09.25)
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Também eu percorri muitas desses caminhos das palavras, porque sou do tempo em que o mundo virtual não fazia parte da nossa vida, utilizavamos sim a imaginação e projetavamo-nos nas histórias que liamos mais ou menos consoante o nosso estado de alma e as nossas experiências de vida. A prosa não é mais fácil nem mais difícil do que a poesia, apenas são registos diferentes, diferentes formas de utilizar os signos linguísticos. Aliás, hoje em dia escreve-se poesia em prosa e já Camões em "Os Lusíadas"- e outros antes dele, utilizava a poesia na narrativa dos feitos heróicos. A partir de certa altura a poesia aproxima-se do quotidiano e o poeta que faz essa viragem é precisamente o Cesário Verde, aquele que é tido pelo próprio Fernando Pessoa como percursor do modernismo.
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Gosto muito dele, o poeta da cidade de Lisboa, "o camponês que andava na cidade como quem andava no campo"" e que morreu tísico aos 36 anos, salvo erro!
Gosto muito dele, o poeta da cidade de Lisboa, "o camponês que andava na cidade como quem andava no campo"" e que morreu tísico aos 36 anos, salvo erro!
há 9 horas · · 2
Nós podemos viver alegremente,
Sem que venham com fórmulas legais,
Unir as nossas mãos, eternamente,
As mãos sacerdotais.
Eu posso ver os ombros teus desnudos,
Palpá-los, contemplar-lhes a brancura,
E até beijar teus olhos tão ramudos,
Cor de azeitona escura.
Eu posso, se quiser, cheio de manha,
Sondar, quando vestida, pra dar fé,
A tua camisinha de bretanha,
Ornada de crochet.
Posso sentir-te em fogo, escandescida,
De faces cor-de-rosa e vermelhão,
Junto a mim, com langor, entredormida,
Nas noites de verão.
Eu posso, com valor que nada teme,
Contigo preparar lautos festins,
E ajudar-te a fazer o leite-creme,
E os mélicos pudins.
Eu tudo posso dar-te, tudo, tudo,
Dar-te a vida, o calor, dar-te cognac,
Hinos de amor, vestidos de veludo,
E botas de duraque
E até posso com ar de rei, que o sou!
Dar-te cautelas brancas, minha rola,
Da grande loteria que passou,
Da boa, da espanhola,
Já vês, pois, que podemos viver juntos,
Nos mesmos aposentos confortáveis,
Comer dos mesmos bolos e presuntos,
E rir dos miseráveis.
Nós podemos, nós dois, por nossa sina,
Quando o Sol é mais rúbido e escarlate,
Beber na mesma chávena da China,
O nosso chocolate.
E podemos até, noites amadas!
Dormir juntos dum modo galhofeiro,
Com as nossas cabeças repousadas,
No mesmo travesseiro.
Posso ser teu amigo até à morte,
Sumamente amigo! Mas por lei,
Ligar a minha sorte à tua sorte,
Eu nunca poderei!
Eu posso amar-te como o Dante amou,
Seguir-te sempre como a luz ao raio,
Mas ir, contigo, à igreja, isso não vou,
Lá essa é que eu não caio!
http://www.facebook.com/note.php?note_id=10150112665429436Sem que venham com fórmulas legais,
Unir as nossas mãos, eternamente,
As mãos sacerdotais.
Eu posso ver os ombros teus desnudos,
Palpá-los, contemplar-lhes a brancura,
E até beijar teus olhos tão ramudos,
Cor de azeitona escura.
Eu posso, se quiser, cheio de manha,
Sondar, quando vestida, pra dar fé,
A tua camisinha de bretanha,
Ornada de crochet.
Posso sentir-te em fogo, escandescida,
De faces cor-de-rosa e vermelhão,
Junto a mim, com langor, entredormida,
Nas noites de verão.
Eu posso, com valor que nada teme,
Contigo preparar lautos festins,
E ajudar-te a fazer o leite-creme,
E os mélicos pudins.
Eu tudo posso dar-te, tudo, tudo,
Dar-te a vida, o calor, dar-te cognac,
Hinos de amor, vestidos de veludo,
E botas de duraque
E até posso com ar de rei, que o sou!
Dar-te cautelas brancas, minha rola,
Da grande loteria que passou,
Da boa, da espanhola,
Já vês, pois, que podemos viver juntos,
Nos mesmos aposentos confortáveis,
Comer dos mesmos bolos e presuntos,
E rir dos miseráveis.
Nós podemos, nós dois, por nossa sina,
Quando o Sol é mais rúbido e escarlate,
Beber na mesma chávena da China,
O nosso chocolate.
E podemos até, noites amadas!
Dormir juntos dum modo galhofeiro,
Com as nossas cabeças repousadas,
No mesmo travesseiro.
Posso ser teu amigo até à morte,
Sumamente amigo! Mas por lei,
Ligar a minha sorte à tua sorte,
Eu nunca poderei!
Eu posso amar-te como o Dante amou,
Seguir-te sempre como a luz ao raio,
Mas ir, contigo, à igreja, isso não vou,
Lá essa é que eu não caio!
Lisboa, 1874
As palavras na poesia de Eugénio de Andrade
por Victor Nogueira a Quinta-feira, 17 de Março de 2011 às 23:16
Maria Jorgete Teixeira Adoro, Eugénio de Andrade e sei muito bem onde ele morava, ou o José fontinhas, passava por lá às vezes quando ia ao Porto. Costumava sentar-se em frente ao rio Douro, por detrás da janela, em tempo frio, com uma manta nos joelhos.17/3 às 23:36 ·
Victor Nogueira O meu 1ª encontro com a poesia foi em Évora, em 1969, com uma amiga minha, a Noémia, através de Eugénio de Andrade. Até aí era um homem de alíneas e parágrafos e a partir daí comecei a escrever poesia, até 1990, quando voltei a ser o homem, desencantado e realista, das alíneas e parágrafos, sem metáforas !17/3 às 23:41 · · 1
Maria Jorgete Teixeira É sempre altura de voltar às metáforas, porque a vida sem elas não faz sentido!17/3 às 23:43 · · 1
Yolanda Botelho Agora emocionei-me.....adoro Eugénio de Andrade,sobretudo este último poema,obrigada meu esquerdista preferido.Bj17/3 às 23:46 ·
Victor Nogueira
"Tinha uma carta já escrita, fluente na minha mente. Chegou a hora de escrevê‑la e ela ruiu, as palavras escorregaram por entre os dedos, em todas as direcções, e no papel nada fica senão uma pasta informe (...) Nunca liguei á poesia. Acha...Ver mais17/3 às 23:59 · · 1
Victor Nogueira
"O "teu" Eugénio de Andrade tem poemas belos mas o António Reis, para mim, não lhe deve nada, embora seja um poeta algo desenganado: a vida que ele reflecte é um rosto sereno com rugas ao canto dos olhos sorridentes; às vezes duma bondade...Ver mais18/3 às 0:01 ·
Victor Nogueira "Disse-te um dia destes que relera com emoção um poeta que é o Eugénio de Andrade , de quem talvez tenha noutro tempo transcrito para ti alguns poemas. Dou comigo a relê-lo com uma certa tristeza. Porque afinal muitos dos poemas do Eugénio de Andrade expressam não a plenitude da alegria do amor alcançado mas a nostalgia do que se perdeu ou não alcançou." (MMA - 1993.09.25)18/3 às 0:03 · · 2
Cecilia Barata Obrigada Victor. E sempre bom reler Eugénio de Andrade, um dos poetas maiores da nossa literatura.Adoro nele a simplicidade, a transparência, a beleza das suas imagens, a escolha certeira das palavras...Um beijinho e um bom dia.18/3 às 10:51 ·
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1 comentário:
"Simplesmente nos vamos,
sem mágoas nem sobressaltos,
Numa tarde doce e triste
sem que o coração estremeça
e o gume da saudade nos fira
Porque nunca dissemos palavras de amor. "
.
[Fernando Pessoa/Bernardo Soares - O Livro do Desassossego]
"Simplesmente nos vamos,
sem mágoas nem sobressaltos,
Numa tarde doce e triste
sem que o coração estremeça
e o gume da saudade nos fira
Porque nunca dissemos palavras de amor. "
.
[Fernando Pessoa/Bernardo Soares - O Livro do Desassossego]
Victor, vê se corriges a autoria deste excerto do poema. Não quero que o Fernando Pessoa ganhe fama através das minhas criações. LOL
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