sábado, 3 de dezembro de 2011

Pequeno sarau no inFaceLock




    • não seremos mais do que crianças tristes à beira do rio,

  • há 2 horas
    Victor Nogueira
    • espera­ ­

    • à moda do R R

  • há 2 horas
    Victor Nogueira
    • R.R.? descodifica­ ­

    • Ricardo Reis, anda sentar-te comigo, Lídia , à beira do rio


  • há 2 horas
    Victor Nogueira
    • Estava a procurar por ele­ ­

  • há 2 horas
    Victor Nogueira
    • Fernando Pessoa

      Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
      Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
      Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
      (Enlaçemos as mãos).

      Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
      Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
      Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
      Mais longe que os deuses.

      Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
      Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
      Mais vale saber passar silenciosamente.
      E sem desassossegos grandes.
      ­

    • esse mesmo!

  • há 2 horas
    Victor Nogueira

    • "Simplesmente nos vamos,
      sem mágoas nem sobressaltos,
      Numa tarde doce e triste
      sem que o coração estremeça
      e o gume da saudade nos fira
      Porque nunca dissemos palavras de amor. "
      .

      [Fernando Pessoa/Bernardo Soares - O Livro do Desassossego]

  • há 2 horas
    Victor Nogueira
    • As palavras que te envio são interditas

      As palavras que te envio são interditas
      até, meu amor, pelo halo das searas;
      se alguma regressasse, nem já reconhecia
      o teu nome nas suas curvas claras.

      Dói-me esta água, este ar que se respira,
      dói-me esta solidão de pedra escura,
      estas mãos nocturnas onde aperto
      os meus dias quebrados na cintura.

      E a noite cresce apaixonadamente.
      Nas suas margens nuas, desoladas,
      cada homem tem apenas para dar
      um horizonte de cidades bombardeadas.

      Eugénio de Andrade

  • há 2 horas
    Victor Nogueira
    • Os amantes sem dinheiro

      Tinham o rosto aberto a quem passava.
      Tinham lendas e mitos
      e frio no coração.
      Tinham jardins onde a lua passeava
      de mãos dadas com a água
      e um anjo de pedra por irmão.

      Tinham como toda a gente
      o milagre de cada dia
      escorrendo pelos telhados;
      e olhos de oiro
      onde ardiam
      os sonhos mais tresmalhados.

      Tinham fome e sede como os bichos,
      e silêncio
      à roda dos seus passos.
      Mas a cada gesto que faziam
      um pássaro nascia dos seus dedos
      e deslumbrado penetrava nos espaços.

      Eugénio de Andrade­ ­

    • Lindo

  • há 2 horas
    Victor Nogueira
    • Foi com o Eugénio de Andrade que a Noémia me iniciou e despertou para a poesia­ ­

    • Gosto muito dele, as palavras têm doçura, são leves ...sentidas

    • As palavras...


      São como cristal, as palavras.
      Algumas, um punhal,
      um incêndio.
      Outras, orvalho apenas.


      Secretas vêm, cheias de memória.
      Inseguras navegam:
      barcos ou beijos,
      as águas estremecem.


      Desamparadas, inocentes, leves.
      Tecidas são de luz e são a noite.
      E mesmo pálidas
      verdes paraísos lembram ainda.


      Quem as escuta?

      Quem as recolhe, assim,
      cruéis, desfeitas,
      nas suas conchas puras?

    • Foste?

  • há 2 horas
    Victor Nogueira
    • Não­ ­
    • estou aqui­ ­

    • ah, também já é hora de desligar...

  • há 2 horas
    Victor Nogueira
    • Eu vou com as aves ao teu encontro nos meus sonhos desassossegados [em ti procurando o sossego]





    • Doce Mistério da Vida - Fernando Pessoa
      .

      Minha vida que parece muito calma
      Tem segredos que eu não posso revelar
      Escondidos bem no fundo de minh'alma
      Não transparecem nem sequer em um olhar
      Vive sempre conversando à sós comigo
      Uma voz que eu escuto com fervor
      Escolheu meu coração pra seu abrigo
      E dele fez um roseiral em flor
      A ninguém revelarei o meu segredo
      Nem direi quem é o meu amor
  • **********

    Victor Nogueira
    .
     É preciso saber ler para além das palavras ou não recusar essa leitura. Lembro me dum poema do Alberto Caeiro, cuja humildade e simplicidade me atraem, humildade e simplicidade perante as pessoas e as coisas que talvez nunca sejam minhas. Levanto me e vou ali á estante buscá lo. Escolho o poema que trancreverei. Hesito na escolha. Será este!
     . 
     XLV - Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta.  (MCG - 1972.07.14)
    .
    O "teu" Eugénio de Andrade tem poemas belos mas o António Reis, para mim, não lhe deve nada, embora seja um poeta algo desenganado: a vida que ele reflecte é um rosto sereno com rugas ao canto dos olhos sorridentes; às vezes duma bondade repousante, outras reflectindo um certo cansaço, um certo desengano. Existe amor - em certa medida tal como o entendes - na simplicidade dos seus "Poemas Quotidianos". Por isso gosto deles. (NSM - 1971.04.11)
     .
    Que dizes a esta poesia ("Impossível") cheirando a fins do séc.XIX [1] ? Parece me que o Cesário Verdepelos outros poemas, consegue retratar fielmente o ambiente da burguesia do seu tempo - que Eça de Queiroz retratou também, admiravelmente, nos seus romances. Mas Eça era satírico, mantinha se alheado daquilo que escrevia. Enquanto que o Cesário parece viver aquilo, não só o ridículo, o mau gosto (a meus olhos) duma certa maneira de sentir e de agir. Para além disto, as pessoas miseráveis, a cidade, o povo, aparecem e perpassam pelos seus versos, muitas vezes contrapostos aos delíquios e aos sentimentos da pequena (e abominável, ridícula) pequena burguesia - que aspira a ser aquilo que não é, a uma grandeza que não tem e para que não foi talhada, porque apenas vivendo de exterioridades e aparências, sem uma vivência autêntica. (MCG - 1973.06.28 B)
    .
    Disse-te um dia destes que relera com emoção um poeta que é o Eugénio de Andrade , de quem talvez tenha noutro tempo transcrito para ti alguns poemas. Dou comigo a relê-lo com uma certa tristeza. Porque afinal muitos dos poemas do Eugénio de Andrade expressam não a plenitude da alegria do amor alcançado mas a nostalgia do que se perdeu ou não alcançou. (MMA - 1993.09.25)
    .
    Também eu percorri muitas desses caminhos das palavras, porque sou do tempo em que o mundo virtual não fazia parte da nossa vida, utilizavamos sim a imaginação e projetavamo-nos nas histórias que liamos mais ou menos consoante o nosso estado de alma e as nossas experiências de vida. A prosa não é mais fácil nem mais difícil do que a poesia, apenas são registos diferentes, diferentes formas de utilizar os signos linguísticos. Aliás, hoje em dia escreve-se poesia em prosa e já Camões em "Os Lusíadas"- e outros antes dele, utilizava a poesia na narrativa dos feitos heróicos. A partir de certa altura a poesia aproxima-se do quotidiano e o poeta que faz essa viragem é precisamente o Cesário Verde, aquele que é tido pelo próprio Fernando Pessoa como percursor do modernismo.


    .
    Gosto muito dele, o poeta da cidade de Lisboa, "o camponês que andava na cidade como quem andava no campo"" e que morreu tísico aos 36 anos, salvo erro!

    há 9 horas ·  ·  2 
      • Carlos Rodrigues 
        Grandes leituras, li muitos desses. Estranho ai a falta, por exemplo, das Palavras do Sartre, dos Possessos e do Homem Revoltado de Camus e até do Castelo ou do Processo de Kafka, eram de leitura complementar quase " obrigatória" para um Sociólogo, mais ainda para um Político.E dos nossos acho que falta aí o Alves Redol. Mas gostei dos teus apontamentos Culturais. 

        .

        Não digas que não gostas de Poesia, nem da rima. Desta última há muitos que dizem que não gostam porque não a sabem fazer, dá muito mais trabalho. Eu gosto da Poesia livre, mas dependendo do momento, há alturas em que a Música é mais forte, cá dentro e, então me impõe ritmos e rimas e eu sou muito obediente a estas instruções da Anima. Outras vezes apetece-me desorganizar tudo, gerar o caos e vou por aí até que salte a tampa e um sentido qualquer não procurado. Depois fico danado comigo mesmo, porque poucos vão conseguir entender a criptologia e Poesia não entendida pelos outros ( raramente o é na sua totalidade ) acho que faz pouco sentido.

        .

        Dos não sei quantos heterónimos de Pessoa, escolheste, o Naturalista, Alberto Caeiro, também gosto, é tão simples que até chateia. Gostei. Obrigado e um Abraço.

        há 9 horas ·  ·  1


        • Carmen Montesino Grata pelos poemas! Bom fim de semana, Victor :)
          há 6 horas · 

        • Victor Nogueira Olá, Carmen Montesino ! Quais dos poemas ? 
          :-)*
          há 6 horas · 







    • [1] Impossível ( O  Livro de Cesário Verde)

Nós podemos viver alegremente,
Sem que venham com fórmulas legais,
Unir as nossas mãos, eternamente,
As mãos sacerdotais.


Eu posso ver os ombros teus desnudos,
Palpá-los, contemplar-lhes a brancura,
E até beijar teus olhos tão ramudos,
Cor de azeitona escura.


Eu posso, se quiser, cheio de manha,
Sondar, quando vestida, pra dar fé,
A tua camisinha de bretanha,
Ornada de crochet.


Posso sentir-te em fogo, escandescida,
De faces cor-de-rosa e vermelhão,
Junto a mim, com langor, entredormida,
Nas noites de verão.


Eu posso, com valor que nada teme,
Contigo preparar lautos festins,
E ajudar-te a fazer o leite-creme,
E os mélicos pudins.


Eu tudo posso dar-te, tudo, tudo,
Dar-te a vida, o calor, dar-te cognac,
Hinos de amor, vestidos de veludo,
E botas de duraque


E até posso com ar de rei, que o sou!
Dar-te cautelas brancas, minha rola,
Da grande loteria que passou,
Da boa, da espanhola,


Já vês, pois, que podemos viver juntos,
Nos mesmos aposentos confortáveis,
Comer dos mesmos bolos e presuntos,
E rir dos miseráveis.


Nós podemos, nós dois, por nossa sina,
Quando o Sol é mais rúbido e escarlate,
Beber na mesma chávena da China,
O nosso chocolate.


E podemos até, noites amadas!
Dormir juntos dum modo galhofeiro,
Com as nossas cabeças repousadas,
No mesmo travesseiro.


Posso ser teu amigo até à morte,
Sumamente amigo! Mas por lei,
Ligar a minha sorte à tua sorte,
Eu nunca poderei!


Eu posso amar-te como o Dante amou,
Seguir-te sempre como a luz ao raio,
Mas ir, contigo, à igreja, isso não vou,
Lá essa é que eu não caio!



Lisboa, 1874 



As palavras na poesia de Eugénio de Andrade

por Victor Nogueira a Quinta-feira, 17 de Março de 2011 às 23:16






  • Maria Jorgete Teixeira Adoro, Eugénio de Andrade e sei muito bem onde ele morava, ou o José fontinhas, passava por lá às vezes quando ia ao Porto. Costumava sentar-se em frente ao rio Douro, por detrás da janela, em tempo frio, com uma manta nos joelhos.
    17/3 às 23:36 · 



  • Todos os poemas de Eugénio de Andrade me comovem....me tovam profundamente.Obg. meu amigo do♥

    17/3 às 23:39 · 

  • Victor Nogueira O meu 1ª encontro com a poesia foi em Évora, em 1969, com uma amiga minha, a Noémia, através de Eugénio de Andrade. Até aí era um homem de alíneas e parágrafos e a partir daí comecei a escrever poesia, até 1990, quando voltei a ser o homem, desencantado e realista, das alíneas e parágrafos, sem metáforas !
    17/3 às 23:41 ·  ·  1


  • Maria Jorgete Teixeira É sempre altura de voltar às metáforas, porque a vida sem elas não faz sentido!
    17/3 às 23:43 ·  ·  1


  • Yolanda Botelho Agora emocionei-me.....adoro Eugénio de Andrade,sobretudo este último poema,obrigada meu esquerdista preferido.Bj
    17/3 às 23:46 · 

  • Victor Nogueira 
    ‎"Tinha uma carta já escrita, fluente na minha mente. Chegou a hora de escrevê‑la e ela ruiu, as palavras escorregaram por entre os dedos, em todas as direcções, e no papel nada fica senão uma pasta informe (...) Nunca liguei á poesia. Acha...Ver mais
    17/3 às 23:59 ·  ·  1

  • Victor Nogueira 
    ‎"O "teu" Eugénio de Andrade tem poemas belos mas o António Reis, para mim, não lhe deve nada, embora seja um poeta algo desenganado: a vida que ele reflecte é um rosto sereno com rugas ao canto dos olhos sorridentes; às vezes duma bondade...Ver mais
    18/3 às 0:01 · 

  • Victor Nogueira ‎"Disse-te um dia destes que relera com emoção um poeta que é o Eugénio de Andrade , de quem talvez tenha noutro tempo transcrito para ti alguns poemas. Dou comigo a relê-lo com uma certa tristeza. Porque afinal muitos dos poemas do Eugénio de Andrade expressam não a plenitude da alegria do amor alcançado mas a nostalgia do que se perdeu ou não alcançou." (MMA - 1993.09.25)
    18/3 às 0:03 ·  ·  2


  • 18/3 às 0:05 · 



  • Antonio Garrochinho está nos meus poetas prefereidos ! gosto imenso !
    18/3 às 0:16 · 



  • Orlanda De Castro Barros merci Paulo,esta lindo!
    18/3 às 7:42 · 


  • Orlanda De Castro Barros merci Vitor dai vem sempre do melhor,bom dia,bisu.
    18/3 às 7:43 · 


  • Cecilia Barata Obrigada Victor. E sempre bom reler Eugénio de Andrade, um dos poetas maiores da nossa literatura.Adoro nele a simplicidade, a transparência, a beleza das suas imagens, a escolha certeira das palavras...Um beijinho e um bom dia.
    18/3 às 10:51 · 


  • Francelina Oliveira Obrigado Victor, gosto muito.
    18/3 às 11:40 · 


http://www.facebook.com/note.php?note_id=10150112665429436
.


 (...)



Sesimbra - Foto VN

Pôr do Sol no Estuário do Sado - Foto VN
 ·  · 


    • Carmen Montesino Fico-te grata, Victor, por esta partilha!
      18/3 às 0:34 · 


    • Carmen Montesino Deste-me uma ideia com estas fotos, beijinho, querido amigo!
      18/3 às 0:35 · 

    • Victor Nogueira ‎:-)*
      18/3 às 0:35 · 


    • Antonio Garrochinho MARAVILHOSO ! EXCELENTE PUBLICAÇÃO !
      18/3 às 0:36 · 


    • Maria Jorgete Teixeira Obrigada, Victor, pelas fotos e pelos textos, que são eles mesmos uma prosa poética!
      18/3 às 0:39 · 



    • Obg. Victor...lindas fotos e o texto é belissimo.
      Beijinhos.Boa noite!!!

      18/3 às 1:02 · 


    • Lurdes Martins Já conhecia:-))))) 
      E gosto também muito dessa árvore só e inclinada...resistindo... vá-se lá saber porquê... E já sabes, gosto muito, mas mesmo muito de ti... e estou quase a chegar! 
      Abreijo!
      18/3 às 1:33 · 


    • Alice Coelho Eugenio de Andrade...é um poeta por excelencia...gosto muito!!! obrigado por me incluires nesta partilha bem compilada com fotos fantasticas... 
      bjs
      18/3 às 5:02 · 


    • Cecilia Barata Gostei imenso, Victor. Bem hajas por partilhares, meu amigo.
      Bom dia e um grande beijinho.
      18/3 às 11:04 · 


    • Ausenda Hilario Dir-te-ia que tudo isto é um poema! 
      abraço amigo
      21/3 às 22:19 · 

1 comentário:

Maria Teixeira disse...

"Simplesmente nos vamos,
sem mágoas nem sobressaltos,
Numa tarde doce e triste
sem que o coração estremeça
e o gume da saudade nos fira
Porque nunca dissemos palavras de amor. "
.

[Fernando Pessoa/Bernardo Soares - O Livro do Desassossego]

"Simplesmente nos vamos,
sem mágoas nem sobressaltos,
Numa tarde doce e triste
sem que o coração estremeça
e o gume da saudade nos fira
Porque nunca dissemos palavras de amor. "
.

[Fernando Pessoa/Bernardo Soares - O Livro do Desassossego]

Victor, vê se corriges a autoria deste excerto do poema. Não quero que o Fernando Pessoa ganhe fama através das minhas criações. LOL