domingo, 26 de fevereiro de 2012

John Dunning - A promessa do livreiro [e Richard F. Burton]


A PROMESSA DO LIVREIRO
John Dunning



john dunning

Nasceu em Nova York, em 1942, e vive em Denver, Colorado, onde dá aulas de jornalismo na universidade local e mantém uma livraria virtual . Entre seus livros protagonizados pelo livreiro e detetive Cliff Janeway, estão Impressõs e provas, A promessa do livreiro e Edições perigosas.

O ex-policial Cliff Janeway está de volta às livrarias, mais de uma década depois de sua estréia em Edições perigosas, romance ganhador do prêmio Nero Wolfe de literatura policial, e de Impressões e provas. Em A promessa do livreiro, Janeway recebe a visita de uma velha senhora que lhe pede algo impossível: recuperar uma coleção de obras raras do famoso explorador inglês Richard Burton, que havia pertencido ao avô dela e que fora roubada oitenta anos antes.
.
Para provar que está dizendo a verdade, ela entrega a Janeway uma primeira edição de Burton autografada. Dias depois, uma mulher é assassinada por causa do livro. Furioso, Janeway decide ir fundo na investigação e deixa a cidade de Denver para caçar dois livreiros vigaristas em Baltimore. Outras três pessoas parecem estar ligadas ao crime: um brutamontes sem sobrenome e um ganhador do prêmio Pulitzer, além de uma bela advogada que inspira Cliff Janeway a pentear o cabelo.´
.
Durante a investigação, ele se depara com respostas de um enigma ainda maior: por que Richard Burton esteve durante três meses no interior dos Estados Unidos, pouco antes da Guerra Civil? Seria ele um espião? Em A promessa do livreiro, John Dunning lida com mistérios do passado e do presente, da verdade e da ficção, manipulando, com a habilidade de costume, dezenas de personagens e intrigas.
.
*****
.



O homem disse: "Bem-vindo ao nosso programa, sr. Janeway", e foi assim que tudo começou. 
.

Estávamos sentados num estúdio em Boston diante de toda a audiência invisível da Rádio Pública Nacional. O bom senso me dizia que eu não deveria estar lá, e minhas primeiras palavras ao microfone, "Só não me chame de especialista em nada", estipulavam as circunstâncias sob as quais eu me tornara um convidado muito pouco promissor. Dizer aquilo ao microfone tivera um efeito tranqüilizador para mim, mas o riso bem-educado do homem mais uma vez me deixou desprotegido em ambos os flancos. A risada sugeria que não só eu era um especialista como também era modesto. Suas primeiras observações aprofundaram meu desconforto.

.

"Esta noite vamos nos afastar um pouco de nossa conversa habitual sobre os lançamentos de livros. Como muitos de vocês sabem, nosso convidado de hoje seria Allen Gleason, autor do surpreendente best-seller Roses for Adessa. Infelizmente, o sr. Gleason sofreu um ataque cardíaco na semana passada em Nova York, e eu sei que todos vocês se unem a mim nos votos de rápida recuperação.

.
"Diante dessa ausência, temos a sorte de receber o sr. Cliff Janeway, que veio a Boston esta semana para comprar um livro muito especial. E devo acrescentar que, apesar de ter sido agendado um tanto de improviso, este é um programa que eu queria fazer há muito tempo. Tão fascinante quanto o mundo dos livros novos, o mundo de obras mais antigas, de valiosas primeiras edições e de tesouros que se esgotaram recentemente encanta cada vez mais muitos de nossos ouvintes. Sr. Janeway, gostaria de saber se o senhor pode responder a uma pergunta básica antes de mergulharmos mais fundo nesse mundo. O que torna um livro valioso?"
.
Foi assim que começou: com uma pergunta simples e inocente e algumas respostas rápidas. Conversamos um pouco sobre as coisas de que eu mais gostava, e o homem era tão bom que logo parecíamos dois velhos exploradores de livros sentados no chão, trocando impressões após uma caçada. Falei de oferta e procura, de clássicos e gêneros, e de primeiras edições modernas: os motivos pelos quais algumas primeiras edições de Edgar Rice Burroughs valiam mais do que a maioria dos Mark Twain, e de como a caçada aos livros pode atingir certo grau de loucura. Contei-lhe sobre o mundo no qual eu vivia, e era fácil evitar o mundo de onde tinha vindo. Aquele era um programa sobre livros, não uma identificação policial, e eu era um livreiro que trabalhava com livros antigos, e não um policial. 
.
"Pelo que sei, o senhor mora em Denver, Colorado."
"Quando estou fugindo da polícia, é lá que me escondo."
Mais uma vez o riso bem-educado. "O senhor disse que não é especialista, mas apareceu esta semana em um artigo sobre livros no Boston Globe."
"Bem, aquele jornalista não tinha nada melhor para fazer. Ele é louco por livros, e o jornal estava num dia meio devagar de notícias." 
"Vocês se encontraram em um leilão, não é? Conte-nos como foi."
"Eu vim aqui para comprar um livro. Começamos a conversar e quando dei por mim estava sendo entrevistado." 
"Que livro o senhor veio comprar?"
" Pilgrimage to Medina and Mecca, de Richard Burton."
"O explorador, não o ator."
.
Rimos de nossa esperteza, e ele disse: "O que há em relação a esse livro que o fez vir de Denver para comprá-lo? E pagando... Quanto foi? Se não se importa que eu pergunte...".
.
Os preços nos leilões eram de conhecimento público, portanto não havia motivo para constrangimento. "Vinte e nove mil e quinhentos", respondi, desistindo de qualquer modéstia que tivesse aparentado. Apenas um especialista paga tanto dinheiro por um livro. Ou um trouxa.
.
Eu poderia ter dito que provavelmente havia uma dúzia de livreiros nos Estados Unidos cujo conhecimento sobre Burton era muito maior do que o meu. Poderia ter confessado que estudei Burton intensamente durante dois meses, mas dois meses no ramo de livros ou em qualquer pesquisa acadêmica não quer dizer absolutamente nada. Eu devia ter explicado que comprara o livro com dinheiro índio, mas então teria que explicar o conceito, e o resto do tempo do programa seria usado para falar de mim. 
.
Em vez disso, falei sobre Burton, mestre lingüista, soldado, figura eminente de aventuras e cartas do século XIX. Fiquei de olho no relógio enquanto falava e apresentei-lhe a versão mais resumida possível da incrível vida de Burton. Não podia sequer tocar nos pontos mais importantes, com o tempo que nos restava. 
.
"O senhor trouxe o livro esta noite."
.
Deixamos que os ouvintes usassem a imaginação enquanto eu desembrulhava ruidosamente os três volumes na frente do microfone. Meu anfitrião saiu de seu lado da mesa e deu a volta para olhar, enquanto eu fornecia aos ouvintes uma rápida descrição dos livros, destacando a encadernação original em tecido azul com letras douradas brilhantes e o perfeito estado de conservação.
O homem disse: "Parecem quase novos".
"É mesmo", eu disse, enternecido.
"Além da excelente aparência, existe algo de especial neles, não é?" 
Abri o primeiro volume e ele suspirou. "Aaah, está assinado pelo autor. O senhor poderia ler para nós?"
"'Para Charles Warren, um grande companheiro e o melhor dos amigos. Nossos mundos estão muito distantes e talvez nunca mais nos vejamos novamente, mas tenho em alta estima o tempo em que estivemos juntos. Richard F. Burton.' Está datado de 15 de janeiro de 1861." 
"Alguma idéia de quem foi esse tal de Warren?" 
"Nenhuma. Ele não é mencionado nas biografias de Burton."
"No entanto, o senhor há de concordar que é uma dedicatória que revela bastante intimidade."
.
Eu concordei, mas não era especialista. O homem disse: "Então, além de um livro muito valioso, 

também temos aqui um mistério", e foi quando tudo começou. As origens remontam a uma outra época, em que Richard Burton encontrou seu maior admirador e então partiu em uma jornada secreta ao interior do agitado Sul dos Estados Unidos. Por causa dessa viagem, um de meus amigos morreu. Uma senhora idosa encontrou a paz, um bom homem perdeu tudo, e eu redescobri a mim mesmo em minha contínua jornada pelo atemporal e infinito mundo dos livros. 




LIVRO I

DENVER



1



Se quisesse ser arbitrário, eu poderia dizer que começou em qualquer lugar. Aquele programa de rádio tirou tu-do do passado nebuloso e trouxe para o presente, mas a história de Burton esteve lá o tempo todo, esperando que eu a encontrasse. 

.

Eu a encontrei em 1987, no final do meu trigésimo sétimo ano de vida. Acabara de chegar de Seattle com uma enorme quantia em dinheiro do caso Grayson. Minha comissão de dez por cento chegara a quase cinqüenta mil dólares, o equivalente ao lucro de toda uma carreira para a maioria dos livreiros - e, até agora, com certeza para mim. Tudo o que sabia naquele momento é que ia comprar um livro com aquele dinheiro. Não seria meio milhão de livros repletos de enormes cavidades cheias de bolor. Nem um milhão de livros ruins ou mil livros bons, nem mesmo cem livros excelentes. Apenas um livro. Um livro fenomenal, fantástico, matador: só para descobrir qual era a sensação de possuir um objeto desses. 

.
Foi isso que pensei, mas havia mais. Eu queria mudar a direção da minha vida de livreiro. Estava farto de críticos e mercenários alardeando a genialidade de cada novo autor maravilhoso que tinha um único livro escrito. Eu estava pronto para menos badalação e mais tradição, e tão logo entrei no modo "busca e encontrarás", encontrei Richard Burton.
.
Eu tinha ido a um jantar na zona leste de Denver, uma casa em Park Hill onde morava o juiz Leighton Huxley. Lee e eu nos conhecíamos havia anos, cautelosamente no começo, depois em um nível mais caloroso de interesse mútuo até nos tornarmos amigos. A primeira vez que apareci em uma sessão presidida por ele foi em 1978, quando eu era um policial muito jovem testemunhando em um caso de assassinato absolutamente comum, e ele era relativamente novo nos tribunais de Denver. Aquele abismo de distância profissional entre nós era natural na época: Lee estava muito longe de meu pequeno círculo de colegas da polícia, e eu nunca teria me imaginado fazendo amizade com sua turma de ases do direito. A idade era um dos motivos, embora não tão importante. Eu estava perto dos trinta; Lee estava com quarenta e poucos, já grisalho nas têmporas e começando a parecer o distinto cidadão do mundo que eu nunca seria. Ele era, indiscutivelmente, um excelente juiz. Era muito justo e bastante seguro de suas decisões, que nunca foram reformadas. 
.
Eu o vi apenas duas vezes nos primeiros anos depois de comparecer à sessão que ele presidia: uma vez na cantina do tribunal, quando nos cumprimentamos com um movimento de cabeça, indicando que lembrávamos um do outro, e um ano mais tarde, quando fui convidado para uma festa de Natal na casa de campo de um amigo comum. Naquela noite nós conversamos pela primeira vez fora das dependências do tribunal. "Fiquei sabendo que você é colecionador de livros", ele disse com aquela profunda voz de barítono. Confessei que sim e ele continuou: "Eu também: qualquer dia desses precisamos conversar sobre isso". Mas nada aconteceu a partir daí pelas mesmas razões óbvias: eu ainda era um policial, sempre havia a possibilidade de eu me sentar no banco de testemunhas de uma das sessões dele, e ele preferia evitar potenciais conflitos de interesse antes que surgissem. Eu não dava muita importância àquilo: imaginei que falara comigo só para passar o tempo, que estava apenas sendo educado. Isso era certo em relação a Lee Huxley: tinha fama de ser muito educado, dentro e fora do tribunal.
.
Um ano depois ele foi nomeado para o Tribunal da Comarca, e foi nessa ocasião que, afastada da possibilidade de conflito profissional, nossa amizade teve seu início cauteloso e incerto. Um dia, recebi inesperadamente um telefonema de Miranda, a mulher dele, convidando-me, nas palavras dela, para "um jantarzinho informal com algumas pessoas que adoram livros". Na verdade, havia uma dúzia de pessoas lá naquela primeira noite, e eu me sentei ao lado de Hope, a irmã mais jovem de Miranda, que viera de algum lugar na Costa Leste para visitá-la. A casa, uma construção do fim do século XIX, de três andares e tijolos vermelhos, ficava perto da avenida 17 Leste, com lustres e madeira de lei envernizada por toda parte. Quando cheguei, todas as luzes estavam acesas, o som das risadas chegava até a rua e Miranda, com um vestido azul, era uma visão loira deslumbrante na porta de entrada. Ela não parecia ter mais de trinta, mas era elegante e interessante, não um mero rostinho bonito ao lado de Lee. Os amigos do juiz também eram muito corteses e refinados, e eu contive meus instintos naturais de rejeitar esnobismo e gostei de todos eles. Eram ricos colecionadores de livros, e eu ainda vivia do salário de policial, mas não houve um único sinal de condescendência da parte de qualquer um deles. Se vissem um livro de cinco mil dólares que queriam, eles simplesmente compravam o desgraçado e pagavam o preço, e o tipo de caçada a pechinchas que eu fazia era fascinante para eles, algo que nunca teriam imaginado até que lhes contei os detalhes.
.
Miranda foi uma anfitriã excepcional. No dia seguinte, enquanto eu redigia um bilhete de agradecimento, recebi um telefonema dela agradecendo a minha presença. "Você realmente animou as coisas por aqui, Cliff", disse ela. "Espero que nos encontremos mais vezes." 
.
E foi o que aconteceu. Na primeira noite não bisbilhotei muito, mas a biblioteca do juiz acabou sendo tudo o que eu esperava que fosse. Era uma sala ampla com prateleiras nas quatro paredes, cheias de livros maravilhosos, todas as grandes edições americanas em magníficas sobrecapas. Em um momento, Lee disse: "Tenho algumas outras coisas mais antigas lá embaixo", mas passaram-se anos antes que eu as visse.




Desde o princípio houve algumas diferenças em relação aos jantares anteriores. Um dos motivos é que eu não era mais policial, e a maneira como saí do Departamento de Polícia de Denver poderia ter esfriado meu relacionamento com qualquer juiz. Eu havia arrebentado um bandido desumano, e a imprensa trouxe à tona meu passado distante, uma infância cheia de brigas de rua violentas e ligações com pessoas como Vince Marranzino, que mais tarde viria a se tornar um dos mafiosos mais temidos de Denver. Não importava que Vince e eu tivéssemos nos encontrado apenas uma vez em vinte anos; não importava que, apesar de ter passado por tudo o que passei, eu houvesse me tornado, se é que posso dizer isso, um excelente policial da Homicídios - se você teve algum tipo de problema no passado, ele sempre pode aparecer de novo para importuná-lo. Na ocasião, havia rumores de que Lee estava em uma lista reduzida de possíveis indicados para a Suprema Corte, e, embora fosse difícil imaginá-lo cooperando com Ronald Reagan, eu não tinha uma noção exata de sua postura política. Tudo o que sabia era: se ele tivesse uma chance, por menor que fosse, de sentar-se ao lado dos grandões, a última coisa que eu queria era atrapalhar. Eu estivera nas primeiras páginas durante quase uma semana, sempre associado a más notícias, mas se Lee estava preocupado com a própria imagem e as amizades que cultivava, nunca vi nenhuma demonstração disso. Ele me telefonou e quis saber minha versão do que havia acontecido, eu lhe contei a verdade e ele a aceitou. "Não foi a melhor decisão que você já tomou, Cliff, mas isso também vai passar", disse ele. "Tenho certeza de que agora você está ocupado mantendo os lobos afastados. Assim que as coisas se acalmarem, vamos nos encontrar."

.

Mas então fui para Seattle, e passaram-se muitos meses até que os visse novamente. Voltei para casa com muito dinheiro, meu dinheiro índio; cacei livros pelo Meio-Oeste com alguns amigos de Seattle, e, quando voltei a Denver, um dos primeiros telefonemas que recebi foi de Miranda. 

.
"Sr. Janeway." O tom de voz frio parecia ser fingimento, mas não muito. "O senhor está nos evitando por algum motivo? Será que o ofendemos de alguma maneira?" 
.
Fiquei envergonhado no mesmo instante. "De maneira alguma", disse eu, respondendo à segunda pergunta e evitando a primeira. "Puxa, você não vai acreditar." 
.
"Então faça o favor de tirar o traseiro da cadeira e vir até aqui", disse ela. "Sexta à noite, sete horas, sem gravata, por favor, e sem desculpas. Venha preparado para animar o que promete ser uma ocasião bastante monótona." 
"Você não saberia organizar uma reunião monótona." 
"Veremos. Essa vai ser um desafio até mesmo para uma mulher com os meus lendários talentos sociais. Um dos colegas de infância de Lee está vindo para cá. Não conte para ninguém, mas ele não é exatamente alguém que eu admire. Então, você vai vir me ajudar a agüentar?"
"Sim, senhora, será uma honra."
"Faz tanto tempo que não nos vemos que até já me esqueci de seu rosto. Já casou?"
Respondi com uma risada.
"Tem namorada firme?"
"Não no momento."
.
Eu sabia o porquê daquela pergunta. Miranda adorava informalidade, mas à mesa do jantar ela gostava do número certo de pessoas. "Pois eu tenho a mulher perfeita para você na sexta", disse ela.
.
Fiz uma pausa e então disse: "Obrigado pelo convite".
"Não, Cliff, nós é que agradecemos. Sei por que você sumiu e quero que saiba que apreciamos a sua preocupação, mas ela não é necessária nem nunca foi. Passamos na sua livraria algumas vezes, mas nunca o encontramos lá." 
.
É claro que eu sabia disso: havia visto os cheques deles na gaveta. "Eu estou sempre atrás de livros", eu disse.
"Parece que sim. Mas Lee e eu seríamos pessoas bem levianas se nos afastássemos de nossos amigos ao primeiro sinal de problemas, não é?" 
"O problema foi bem grande." 
"É, foi mesmo, mas ele fez com que você deixasse de ser policial e entrasse no ramo de livros. Então não foi de todo mau, não é mesmo?"
[...]



SEXTA-FEIRA, NOVEMBRO 03, 2006


A Promessa do Livreiro




"Um sábio uma vez me disse que alguns de nós não foram feitos para serem escritores"

"Mesmo um sábio não pode saber de tudo" 

(da pág. 432, do livro aí de cima)

Frases instigantes que refletem bem os espíritos do detetive Cliff Janeway e de seu criador, o autor-livreiro, John Dunning. 

O primeiro porque sempre tem uma resposta para tudo. 
O segundo porque leva sua vida sem parecer se importar com os aparentes obstáculos que ela lhe impõe. Simplesmente os ignora e segue adiante.

A promessa do livreiro - terceiro livro com a presença de Janeway - tem um pouco disso. Livro excepcional, daqueles que você não quer terminar de ler. E quando termina, ele continua presente.

Cliff Janeway decide largar sua vida de detetive e monta uma livraria, com especialização em livros raros (John Dunning, o autor, tem uma livraria nos mesmos moldes, a Old Algonquin Books). 

A paixão pelos livros leva Janeway até Richard Burton, lendária figura, considerado um dos maiores aventureiros de todos os tempos. Dominava 29 línguas, conhecia dialetos, era um grande explorador, estudioso de antropologia, botânico, autor de 30 livros, espadachim, homem de grande força física e mental e, em seus últimos anos, tradutor dos 16 volumes das Mil e Uma noites, do Kama Sutra e de outros clássicos orientais proibidos. E tudo isso no final do século XIX.

A coisa começa a se complicar quando uma senhora chega em sua livraria com um exemplar autografado por Burton e com uma dedicatória no mínimo curiosa. E toma dimensões desproporcionais quando o livreiro promete recuperar os demais livros da coleção. Está montada a trama.

No centro dela, os livros. Estes objetos malucos que têm o poder de mudar um homem, uma vida, a história. Janeway começa a recuperar os acontecimentos de um século, meio século e alguns dias atrás para cumprir sua promessa.

Promessa é Dívida. E esta, às vezes, leva um bom tempo pra ser definitivamente liquidada.

Abraços criminais,

Sem comentários: