terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Luiz Pacheco - Textos

"O Luiz Pacheco é provavelmente o maior filho da puta, a pessoa mais corrosiva, mais intratável que há, mas eu gosto dele. Não sei porque mas gosto dele. O Luiz tem a capacidade de dizer o que pensa, de dizer mesmo tudo o que pensa, mesmo o que não poderia dizer(...)"

Publicado por amnésia

©2002-7 Bazooka!



<DITOS
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>Eduardo Langrouva fala sobre Luiz Pacheco (in Agulha, Revista de Cultura)
>Entrevista a Luiz Pacheco, no blog Esplanar
>Crónica de Luís Pedro Nunes
>Soares rega com «tintol» o Natal do «maldito» Luiz Pacheco, o «escritor maldito»
>Saga LUIZ PACHECO - parte I, por Paula Nunes
> Entrevista: Diário de Notícias (7.1.2004)
> Entrevista: Revista Pública (28.3.2004)
> Entrevista Cristiano Pereira, Jornal de Notícias (3.1.2003)
> Entrevista a João Pedro George (Blog Esplanar) (4.5.2005)
> Luiz Pacheco - Mais um dia de noite (Diário de Notícias) (14.7.05)
> Entrevista: Visão (1.9.2005)
> Crítica Diário remendado, por Pedro Mexia (30.9.2005)
> Cartas ao léu: Jornal A Página (Março 2006)
> Entrevista: Correio da Manhã (8.4.2007)
> Luiz Pacheco, o libertino, por Maria Estela Guedes
> O homem que calculava, por Eduardo Cintra Torres
> Meio século de surreal em Portugal, por Luiz Pacheco (pdf)



>Extracto de Mano Forte
>Carta a Fátima
>Surrealismo e sátira (de André Tolentino a Nicolau Breton)
>Coro de escárnio e lamentação dos cornudos em volta de S.Pedro

> Carta de Mário Cesariny a Luiz Pacheco (1966)

> Comunidade (extractos)
(1966)
> Cesariny ou do picto-objeccionismo (1974)

> Rompimento inaugural (1974)

> Uma picardia a mestre Almada
(1979)
> Extracto de Diário remendado (O meu 25 de Abril) (2005)


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"O homem tem uma cara de parvo chapado. Eu estou farto de ler o gajo. Um dia, entro numa livraria e pego nisto ("Boa Noite") e vejo: "Romance". Eu desato a rir a gargalhada! Isto lê-se em dez minutos, este gajo deve ser mas é maluco!"Luiz Pacheco, sobre Pedro Paixão, em entrevista ao Jornal de Letras de 24 de Setembro de 1997
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"O Lobo Antunes e o Saramago não estão a escrever para vocês nem para mim. Estão a escrever uma coisa género "standard", que é o romance internacional. (...) Como sabem que vão ser traduzidos, têm de fazer uma linguagem o mais corrente possível, mais linear, mais badalhoca."Idem, ibidem
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"O Big Brother é um disparate, mas pior é o Emídio Rangel".Luiz Pacheco (escritor)Focus, citado por Tal&Qual, 12-Abr-01
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"(Luiz Pacheco) converteu-se numa aberração de feira. Não diz verdades. Mas vomita inanidades. Sem destino e sem sentido, para gáudio geral da humanidade. Um provocador, Luiz Pacheco? Coitado do Homem."João Pereira CoutinhoO Independente, 26-Jun-01
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Agustina [Bessa-Luís] é a figura essencial na ficção, não tem parceiro. Ao pé dela, falar do Saramago é como falar do cão... A Agustina é ímpar a retratar os meios ligados ao poder e ao dinheiro. (...)
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O Eduardo Lourenço (...) já está um bocado gagá, mas foi muito importante. A Heterodoxia é um grande livro, que mudou a minha cabeça: tão contundente, tão extraordinário, tinha umas coisas de filosofia que, naquele momento, nem sequer consegui acompanhar. (...)
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[Eduardo Prado Coelho] é um tipo muito esperto, usa a inteligência para navegar. É muito antipático para mim, não gosto dele nem da maneira como escreve, mas não escreve mal.(...)
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Sim, jovens, todas as javardices que por vezes vocês ousam escrevinhar nos chats, já gente como o Pacheco escreveu e publicou antes de vocês nascerem. E sabem que mais? É Literatura, com H grande, porque algures, na escolha das palavras, na mesquinhice da vírgula, no arremesso alarve, na exclamação pela bosta de cão pisada, ele pertence a esse Olimpo.
Crónica de LUÍS PEDRO NUNES
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Fiquei perplexo! O escritor Luiz Pacheco, numa entrevista à revista Focus, directamente do lar de caridade em que se encontra no Príncipe Real, diz que vê o Big Brother mas acha aquilo “um disparate”.
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Finalmente aos 76 anos, o libertino alcoólico, o pedófilo míope, tinha ficado senil: estava a pensar “mainstream”, a sua opinião era igual, deus nos guarde, à de um Jorge Sampaio, para não ir mais longe. Que pensamento repugnante.
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Nos dias seguintes esperei que a faculdade de Letras organizasse um Congresso com carácter de urgência “BB e Pacheco, ou como o neo-neo- abjeccionismo é ‘disparate’ para o criador do neo- abjeccionismo ou como devem andar a medicá-lo erradamente”. Mas a Universidade Portuguesa, como sabemos, só irá reagir a esta declaração dentro de uma ou duas décadas. Que espiga! E tive que me pôr a pensar. Porque é que o Pacheco acharia o BB, enfim - que termo, homem! - “um disparate”?. E olhei de novo para a entrevista e para o seu perfil. “Tem 8 filhos e esteve cinco vezes preso (por causa das mulheres, ou por casos com a censura)”. E lembrei-me quando o vi, uma vez, na Estrela, calça à meia canela, óculos fundo de garrafa, cabelo tinhoso, camisa borrada de pingas de tintol e saco de plástico cheio de medicamentos.
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E assim, achei que deveria relê-lo. Passei os olhos pelo “O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o seu Esplendor:
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(...) Mas passam por mim duas miúdas: uma, grande cu descaído, badalhoca de cara, trouxa de carne a dar às pernas – é a que me tenta”, Ó pornógrafo viscoso, e depois arranca para a tese do “biminete” (deduzam).
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Mas decido-me ficar pelas dez páginas de “Comunidade”. Um hino à família:
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“Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés o miúdo e a miúda mais pequena. Toco com o pé numa rosca de carne meiga e macia: é a pernita da Lina, que dorme à minha frente. Apago a luz, cansado de ler parvoíces que só em português é possível ler, e viro-me para o lado esquerdo: é um hálito levemente soprado, pedindo beijos no escuro que me embala até adormecer (....) Desde que estamos aqui, experimentámos várias posições para nos ajeitarmos a dormir melhor: ora todos em fileira, ao lado uns dos outros, para a cabeceira da cama, ora distribuídos como agora, três para cima e dois para baixo, ou, então, com um dos miúdos (a Lino ou o Zé) atravessados a nossos pés(...) isto com insucessos, preferências, trambolhões cama abaixo, muitos pontapés, mijas, rixas, complicações de família e ciumeira e choros e berraria, às vezes, resolvidos em família entre risos, lágrimas, bofetões, beijos, descomposturas, carícias leves. Também na cama as posições variavam conforme o frio ou o calor faziam na cama, conforme, principalmente, o frio convocados os cobertores (um, ou dois) à pressa, num afã de Salivação Pública (nossa) e seguiam depois para o prego (...)”*

Tudo isto tinha sabor a BB, ou de quando a promiscuidade no seu lado mais suado e pegajoso atinge a pureza. O BB estará já destilado demais, muito naif? Seria o BB1 mais pachecável?
Luiz Pacheco acha o BB um “disparate”. E não bate certo. O BB é apenas um derivado pobre do abjecto. Certo. Mas, um... disparate?
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Talvez devamos voltar à entrevista, buscar nas entrelinhas. Será o BB já muito urbano, queque, pouco badalhoco? Sim, jovens, todas as javardices que por vezes vocês ousam escrevinhar nos chats, já gente como o Pacheco escreveu e publicou antes de vocês nascerem. E sabem que mais? É Literatura, com H grande, porque algures, na escolha das palavras, na mesquinhice da vírgula, no arremesso alarve, na exclamação pela bosta de cão pisada, ele pertence a esse Olimpo. Nós copiamo-nos uns aos outros, ou, pior, nem sabemos que estamos a copiar e pensamos estar a criar... Vamos lá reler a entrevista
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“(...) P- E o Big Brother nunca viu?
R- Vi, vi. O meu problema é que não tenho o comando na mão e há um rapaz que põe a televisão todo o dia na TVI e tenho que gramar com tudo. É os Olhos de Água é o Super Pai, é tudo. Já pus algodão nos ouvidos e aquelas coisas de borracha e não dá. É o descalabro.” (...)
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Agora tudo fazia sentido. Não era o Big Brother que era um disparate. Que é. O disparate é não darem o comando da televisão ao Luiz Pacheco. Eu também não sou capaz de ver TV quando não sou eu que tenho o comando.
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Quem é que aquele merdoso do lar pensa que é para pôr a TV todo o dia na TVI e ficar com o comando?
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Se eu fosse um gajo decente comprava um aparelho de 100 canais e uma ligação à TV Cabo ao Luiz Pacheco. E o mais provável é que ele me mandasse levar naquele sítio e vendesse de novo a TV e ainda se gabasse de eu ser um tanso, o alarve.
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Pelo que me poupo ao trabalho.
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De resto tenho pena que não se conheçam: quer dizer, Luiz Pacheco tem milhares de filhos bastardos por este país fora, javardos amorais que buscam na poesia do abjecto a gargalhada que os sustenta.
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É pouco provável que ele vos (nos) queira conhecer. E o mais provável era negar a paternidade e recusar-se a aceitar que o Surrealismo deu para o torto, e de repente ficou direito e hoje segue em frente. Pelo que está nas nossas mãos saber as origens deste nosso desconforto e leiam o homem que até escreveu coisinhas curtas, não para vos contentar, mas porque não tinha pachorra para mais e estava-se marimbando.
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Arrisquem e leiam, façam como o velho Pacheco que agora, que se diz quase póstumo, tem por lema “vai até onde não puderes”.
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Vejam lá se não podia ser esta frase o refrão de um tema para o Toy compor o hino do BB3?
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*In “Exercícios de Estilo”, Luiz Pacheco, Editorial Estampa, uma reedição recente do livro de 1971!

Crónica retirada de http://eventos.clix.pt/clixbrother2/voyeur/10120


Soares rega com «tintol» o Natal do «maldito» Luiz Pacheco, o «escritor maldito».
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sobrevivente da geração mais boémia do combate pelo reviralho, recebeu no dia de Natal a visita inesperada de João Soares.Munido de uma caixa de boas garrafas de vinho tinto e de um presunto à maneira, o presidente da Câmara de Lisboa foi dar dois dedos de conversa com o mais marginal dos escritores portugueses, que acaba de publicar, no seu estilo inconfundível, «Isto de Estar Vivo», um exercício de exaltação da vida e dos maus costumes.João Soares não quer falar do assunto mas GENTE sabe que durante a ruidosa cavaqueira, à volta da prova do tintol, Pacheco se fartou de lançar farpas sobre a classe política portuguesa, provocando sonoras gargalhadas ao previsível futuro candidato à Presidência da República.
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Retirado de
http://primeirasedicoes.expresso.pt/ed1472/v-gente.asp (edição: 12-1-01)


Saga LUIZ PACHECO - parte I
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Prelúdio de uma tentativa de campanha para oferecer um ou mais televisores a um escritor maldito
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O Luiz Pacheco é velho. Ele sabe-o, mas não se (res)sente. Hoje, está num lar de 3º idade (cheira-me que quer surpreender toda a gente e inaugurar por mão própria a 4ª idade, mesmo com as enciclopédicas doenças que o perseguem). O Luiz Pacheco é escritor. Ou escriba.Tem 76 anos. Mas é fresco.por Paula Nunes

(Há nomes que todos conhecemos. Luiz Pacheco, diz alguma coisa? Não, nada. Mas já toda a gente ouviu falar no Saramago, mesmo que seja completamente cego e impossibilitado de ler o ensaio sobre a dita incapacidade. E em Vergílio Ferreira também, mesmo que a única aparição que conheçam seja “uma gaja podre de boa”. E Natália Correia? E David Mourão-Ferreira? Se calhar, é melhor não jurar a pés juntos, porque, volta e meia, os putos de 16 anos ainda respondiam que foram membros importantes do governo pré 25 de Abril. Porque tudo o que é velho é pré 25 de Abril, para eles) O Clix quis fazer uma campanha para lhe oferecer televisores. Porquê? Porque divide o quarto, ao Príncipe Real, com um outro velho (tão velho que passou, ele também, pelo 25 de Abril) que aprendeu algumas coisas quando era novo e pratica a ditadura do comando. Como lá em casa, quando se tem 12 anos e, em vez de se poder ver aquela série de acção em que os heróis nunca morrem mas levam sempre muitos murros e tiros, a mãe impõe a telenovela (que seca! e elas nem sequer têm sexo explícito) ou o pai insiste em ir assistindo ao telejornal entre imprecações contra o governo ou frases danadas contra o estado da nação.
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O ditador do comando é obcecado pela TVI. E o Luiz Pacheco odeia a TVI. Quer lá ele saber do ridículo kilt do Marco ou da obesidade repentina da Marta, que a ia impedindo de caber no vestido de noiva. Não quer saber e nem consegue vislumbrar a relevância das personagens. Ou das pessoas.
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O Luiz Pacheco é uma pessoa lúcida. Com 76 anos. E a minha missão era empolgar os leitores do Clix de modo a levá-los a oferecer um televisor (um ou mais, que há muitos canais por aí) a este senhor que todos os dias passeia os seus ossos pelo jardim do Príncipe Real.
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Achei que estava à altura da incumbência. No fundo, uns quantos artigos sobre o senhor, umas perguntas sobre o passado, para enquadramento contextual dos leitores, umas conversas ligeiras sobre o presente (esta seria a parte mais difícil porque o homem nem sequer sabe quem são a Marta e o Marco... íamos falar de quê?) e já estava. Os televisores apareciam de certeza. Mão à obra. Melhor, ao telefone. Só sabia que ele estava num lar, para os lados do Príncipe Real. Mais nada. Não me ia pôr a bater a zona feita cão de caça.
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Um amigo lembrou-me o melhor caminho: “A editora dele deve saber, estúpida!” (O “estúpida” é o atestado de amizade indubitável). E sabia. Lar da Liga dos Amigos dos Hospitais, nº3, Príncipe Real. Perfeito. 118, nº de telefone através da morada (deixam-me escrever uma crónica aqui no Clix sobre a estupidez das gravações do 118? Juro que não sou amiga da PT).
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Telefonei um dia qualquer em que estava sol e era já meio da tarde. Atendeu-me um homem. “O Pacheco não está. Deve ter ido ao Jardim. Ele vai sempre... telefone mais tarde, certo?” Não tive tempo de resposta. Seria o ditador do comando televisivo? Estaria irritado por ter sido interrompido entre a genial publicidade a um artigo de limpeza e outra, ainda mais genial, a pensos higiénicos?
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Não sei. Nesse dia mandei o Pacheco à fava e não voltei a telefonar. Mas no dia seguinte lembrei-me. E lembrei-me já tarde. Atendeu-me uma mulher, com uma voz guinchante. “O Luiz Pacheco?!” Temi que dissesse que me tinha enganado no número. De repente, lança um guincho “Ah! Ouça lá, você é Luiz não é? E Pacheco?! Também é, não é? Então é p’ra si.” Percebi a tempo que não era comigo.
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Ao telefone, no segundo seguinte, Luiz Pacheco lui-même. Um minuto depois e a conversa já tinha acabado e o telefone estava ali à minha frente, quase a rebentar numa gargalhada directa à minha cara. O homem tinha 76 anos. Era o que eu sabia dele. E estava à espera que se portasse como tal. Velhos de 76 anos, encontro-os a empatar nos autocarros com a fobia das janelas fechadas quando está um calor de sufocar e um mau cheiro de matar mesmo quem não tem nariz. Velhos de 76 anos encontro-os a atravessar fora das passadeiras, quando eu vou a guiar, cheia de pressa, e ainda parece que gozam, a 0,005 Km à hora. Os velhos de 76 anos são muito velhos. E é preciso tratá-los com condescendência.
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Eu até acho que me mentiram. O Luiz Pacheco não pode ter 76 anos. Então o tipo não sabia perfeitamente o que era um portal e um site e o Clix e a internet em geral??! Fiquei parva. Um televisor?! “Para que é que eu quero essa porcaria?” Mais do que parva, foi o que eu fiquei, juro. “Epá, apareça por aí. A gente conversa um bocado. Mas cedinho, que eu gosto de dar as minhas voltas”. Eu já nem dizia nada. Lá me lembrei de lhe perguntar, à última hora, se queria que eu lhe levasse qualquer coisa de que ele gostasse (eu a pensar em livros, revistas, ou até cigarros ou bebidas, sei lá. No máximo uma caixita de uns comprimiditos quaisquer). E sai-se ele, resposta na ponta da língua: “Venha vestidinha. Muito vestidinha!”
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76 anos, o tanas. Este tipo é uma curte. Amanhã vou lá visitá-lo. E com o calor que está, não sei o que hei-de vestir...
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Retirado de
http://reporter.clix.pt/aventura/25502

EXTRACTO DE MANO FORTE



«Carta ? 12 de Junho [de 1961 ]. ???. Manuscrita.
12 / Junho, véspera de Santo António José Forte
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Meu Caro
Recebi a tua lacónica carta e a interessante missiva de vinte carapaus. Já deves ter recebido aí a resposta, isto é, postais da Felizarda. Como vês, Contraponto, quando promete, cumpre.
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O postal ? 200 exemplares ? esgotou-se em dois dias, o que prova que a Felizarda tem um grande público de inimigos...
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Mas outros grandes trabalhos nos esperam.
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Estou agora a preparar uma outra grande Homenagem aos Saloios.
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Trata-se de uma folha, escrita dos dois lados (página 2) densa de prosa, com artigos vários sobre os saloios vários: os saloios na imprensa, no teatro, no cinema, na literatura, etc.
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Os saloios, como sabes, somos nós todos ? vistos de Paris.
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Mas entre nós ? entre saloios, portanto ? há os saloios 100% e os saloios 99%. Nós, propriamente ditos, somos estes.
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Assim, achamos do maior interesse, por agora e por espírito de picardia, fazermos uma grande homenagem colectiva aos saloios 100%, os saloios saloios, os saloios de corpo e alma, os saloios felizardos. Tu não podes faltar nesta homenagem. Requere-se, pois que mandes prosa ou (página 3) versos, insultos ou desabafos, em todo o caso o teu depoimento sobre os saloios.
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O papel, em formato grande, com bonecada do João Rodrigues e doutros, será vendido (1000 exemplares) a 2$50. A Fundação "Obrigado, Calouste!" mais uma vez funcionará para provar ao Gulbenkian que 9 milhões de saloios não temem a concorrência do petróleo.
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Manda prosa. Saloia. Ou anti-saloia.
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Um abraço saloio do saloio Luiz Pacheco»
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Retirado de
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/livros/333.html


CARTA A FÁTIMA
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Lembras-te Fátima? era o que eu sempre te dizia, não somos nada nas mãos do acaso, e não há mais filosofia do que esta: deixar andar, tanto faz, hoje ou amanhã morremos todos, daqui a cem anos que importância tem isto, quem se lembrará de nós? quem se lembrará de mim? se nem tu já te lembras de mim agora, tu, a quem tanto amei, não te lembras, e foi há tão pouco, foi ontem, parece, que te levantaste e disseste: «Ficamos amigos como dantes»... E dizias: como dantes e era já noutro que pensavas, olhavas-me e nos teus olhos ria-se a traição, o prazer da liberdade, um desafio alegre, uma alegria provocante e desapiedada, ias a meu lado pela última vez e eu era já um estranho para ti, um fantasma a quem se concede, por caridade, uns momentos mais de companhia, algumas palavras vagas distraídas, um pouco de estima, talvez. Reparei: o teu corpo, oh corpo do meu prazer! oh carne virgem sangrando debaixo de mim! oh meu repouso e minha febre! o teu corpo outrora tão cativo e tão submisso, ficara de repente cerimonioso e esquivo, cauteloso, afastado, com um pudor forçado no puxares a saia sobre os joelhos, como se tivesse uma grande vergonha do despudor com que se dera antes...
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Dizias: como dantes e não era já nisso que pensavas, e não era já para mim que falavas, eu era uma coisa para esquecer, para deitar fora, uma coisa que se abandona caída no chão e se perde sem pena. Dizias: «adeus» e saías da minha vida com um aperto de mão desembaraçado, quase cordial um gesto de boa camarada, como se nada tivesse havido antes, como se não tivéssemos sido tantas vezes na cama, um dentro do outro, um no outro, um-outro diferente, uma coisa sublime: Deus Criador, como os míseros humanos só ali o podem sentir e saber; um Outro que éramos nós ainda, mas tão transtornados, tão virados para fora de nós, tão esquecidos do mundo e de nós, tão eficazes, tão leais, nós boca com boca, corpo a corpo, um sexo torturando um sexo, mordendo-se devorando-se, numa febre de chegar ao fim depressa, ao esquecimento, ao repouso. Disseste: adeus e eu odiei-te logo nesse minuto, como te odeio agora, não por ti ou pelo teu corpo que já me esqueceu noutros que vieram depois, mas porque morri ali naquela palavra, -morri entendes? -, perdi-me numa grande confusão, esqueci-me de ser eu, fiquei roubado do meu passado.
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Hoje, encontrarias um outro homem; havia de rir-me do teu corpo, da sua entrega ou das suas traições, de tu me dizeres: «Vem» ou «Adeus...», ou «Não quero...». Hoje, saberias quem fizeste com uma só palavra, conhecerias um outro homem, que é obra tua, minha segunda mãe! Hoje, havia de rir ou chorar, era a máscara do momento; mas diria: tanto faz..., tanto me faz... Sabia-o!
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Retirado de
http://www.triplov.com/surreal/index.html
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SURREALISMO E SÁTIRA (DE ANDRÉ TOLENTINO A NICOLAU BRETON)
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Sacado de "Crítica de Cisrcunstância", 1966, porque o Simões continua a asnear. Não há remédio: o Simões morre estúpido em Surrealismo (e já nem falo no resto)

Invocar o nome de Tolentino a propósito da obra dum poeta surrealista, mesmo português, é ousadia que só o método comparativo-literário do sr. Dr. João Gaspar Simões poderia propor.
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E não apenas pelo facto de procurar avoengos oitocentistas para um movimento bem localizado e bem característico deste século o crítico se arrisca a perder o pé na poeira dos tempos e, trambolhando de época para época como O Vagabundo dos Sonhos, cair nalgum saboroso exemplar das cantigas de escarnho ou maldizer, também elas (e por que não?!) surrealistas... Mas, principalmente, porque em muito pequena parte esse argumento de autoridade, chamemos-lhe assim, o favorece na sua missão de julgar a obra e de esclarecer o público.
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Procurando demonstrar a sua compreensão (num esforço que se reconhece notório) duma coisa nova, não podem valer ao crítico as comparações forjadas, as aproximações marginais de acontecimentos tão remotamente afastados, no tempo como no significado, tais as sátiras de Nicolau Tolentino e certos aspectos e personalidades da nossa poesia contemporânea, que se diz surrealista, que parece surrealtsta ou que o é, de facto, por um fenómeno de simpatia e de identidade de situações de revolta, que hoje são aqui tão naturais como o eram em França há trinta anos.
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Se o crítico estremece perante a novidade, que pressente válida. mas cuja total significação humanamente se lhe escapa (a ele, que teve outra formação), o que deverá fazer, digamo-lo sem pretensões doutorais, é abandonar-se ao seu instinto, ignorar os resíduos do passado, apurar o faro e predispor-se a ouvir essa voz estranha que pela primeira vez se lhe depara, livre de prejuízos e de conclusões apressadas. Levá-Ia diante do espelho acomodatício do passado, é prova de boa vontade, que se agradece, mas a que será de preferir a incompreensão cerrada, a repulsa violenta que marquem limites, definam posições e esclareçam os verdadeiros valores com que cada um joga e, no fundo, estima como seus. Tem João Gaspar Simões tentado captar o mistério da poesia surrealista. Dizê-Io mal informado das fontes estrangeiras dessa corrente é uma afirmação gratuita, ainda que gostássemos que ele dissertasse com mais vagar das figuras máximas do movimento (um Breton, um ÉIuard, um Desnos, um Césaire) e não perdesse tempo com epígonos nacionais duma menoridade evidente. Mas apesar de todas as suas lacunas, como não louvar os dons de simpatia e de liberdade de espírito que o impelem para zonas tão ardentes e perigosas para um presencista ferrenho, isto é, convicto, coerente e militante? Aqui o temos de saudar como caso notável e até ao presente único. E, falando já outra linguagem, havemos de enquadrar esta sua atitude sui generls num plano diferente e que está certo, como veremos.
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Não são para agora os motivos por que não fica mal a um surrealista ser apodado de satírico.
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André Breton agitaria a sua bela cabeleira a tal definição (ele tem outras), mas isso é o que menos importa. Estamos em Lisboa, senhores, esta Lisboa que Breton talvez localize nas Baleares, talvez no Brasil... Não tem aqui lugar o distinguo.
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Com todas as reservas que se lhe devam objectar (deixaremos isso a certo investigador polemicante, de mentalidade seminarista), pode-se falar de sátira em surrealismo. E de Tolentino, também, caso não haja à mão melhor exemplo. E de Junqueiro. E de Gomes Leal. E de José Gomes Ferreira. E de muitos outros, que não cultivando a flauta trururu do bucolismo e do pirismo sentimental, elementos mistificadores com que não queremos ser mais vezes enganados, reagem furiosamente (como poetas, claro está), contra os compromissos do tempo, todos os compromissos. Satlricos, os surrealistas? Talvez, mas depois.
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O leitor é que não se interessa com isso; para ele, que tantas vezes tem sido enganado, uma palavra séria (isto é: verdadeira) mesmo dita a rir, é quanto basta. A contra-prova da autenticidade de tal poesia tira-a ele, facilmente, na experiência da sua vida quotidiana, no pequeno senso-comum das coisas reais que não conhecem a literatura e excedem a imaginação dos poetas, mesmo dos surrealistas...
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Como já o notou um crItico de Mário Cesariny de Vasconcelos, é afinal um surrealista que, passando por Álvaro de Campos, nos faz recordar Cesário Verde. Cesário, o das lições de realismo - do torpe negro e feio realismo que não se compadece com as flores da retórica nem com a ervanária colorida dos poetas de arrabalde.
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Dirão que o leitor português teve (e tem ainda) em matéria de género romanesco bons pedaços de literatura social, a que não falta o tom pedagógico e influenciável da arte dirigida. Ainda mal. Pois não causará estranheza (em certos meios, pelo menos) ver os leitores desses romances neos, tristes e tão desiludidos, voltarem-se para a linguagem aparentemente mais diflcil da Poesia...
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...da poesia do humor negro, da poesia deserta de bons sentimentos, da poesra catástrofe, daquela enfim, que por conter em si todas as perversões e todas as dores do mundo de hoje as denuncia e as incrimina ao severo juízo do mundo de amanhã?
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Retirado de
http://www.triplov.com/index.html
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Coro de escárnio e lamentação dos cornudos em volta de S.Pedro
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Coplas dedicadas às fogosas e vampirescas mulheres daBeira,de quem já Abel Botelho disse o que disse.
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Monólogo do primeiro cornudo:
Acordei um triste dia
Com uns cornos bem bonitos
E perguntei à Maria
Porque me pôs os palitos
Jurou por alma da mãe
(Com mil tretas de mulher)
Que era mentira
Tambem,ainda me custava a crer
Fiquei de olho espevitado
Que calado é o mehor
E para não re-ser enganado
Redobrei gozos de amor
Tais canseiras dei ao físico
Tal ardor pus nos abraços
Que caí morto de tísico
Com o sexo em pedaços
Já esperava por isto a magana?
Já previra o que se deu?
Do Além via-a na cama
Com um tipo pior que eu
Vi-o dar ao rabo a valer
Fornicando a preceito
Sabia daquele mistério
Que puxa muito do peito
Foi a hora de me eu rir
Que a vingança tem seus quês
O mais certo é para aqui vir
Ainda antes que passe um mês
Arranjei um bom lugar
Na pensão de Mestre Pedro
Onde todos vão parar
Embora com muito medo
Não passava de uma semana
O meu dito estava escrito
Vítima daquela magana
Pobre tísico,tadito
Dueto dos dois cornudos:
Agora já somos dois
A espreitar de cá de cima
Calados como dois bois
Vendo o que passa na vida
Meteu na cama mais gente
Um,dois,três logo a seguir
Não há piça que a contente
É tudo o que tiver de vir
São Pedro,indignado,pragueja:
É demais,arre diabo-berra S.Pedro,sandeu-
E mortos por dar ao rabo,lá vêm eles p'ró ceu...
Coro,pianíssimo,lirismo nas vozes:
Quem morre como um anjinho...
Quem morre por muito amar...
Coro,agora narrativo ou explicativo:
Já formamos um ranchinho,de cá de cima a espreitar
Aparte do autor das coplas:-coitadinhos
Passam meses,passa tempo e a bela não se consola
Já somos um regimento como esses que vão para a Angola
Fazemos apostas lindas sempre que vem cara nova
Cálculos,medidas infindas,como ela terá a cova!
Há quem diga que por si já não lhe tocou o fundo
Outros juram que era assim do tamanho deste mundo
Parecia uma piscina!-diz um do lado,espantado-
Nunca vi uma menina num estado tão desgraçado
(Aparte do autor,antigo militante das esquerdas baixas)
Num estado tão desgraçado,parece-me ouvir o povo
Chorando seu triste fado nas garras do Estado Novo
O ultimo que cegou cá morreu que nem um patego
Afogado e era mar nos abismos daquele pêgo
O coro dos cornudos acompanhado por S.Pedro emsurdina,entoa a moralidade,após ter limpado as últimaslagrimetas e suspirado como só os cornudos sabem:ahh!
Mulher não queiras sabida
Nem com vício desusado
Que podes perder a vida
Na estafa de dar ao rabo
Escolhe donzela discreta
Com os três no seu lugar
Examina-lhe bem a greta
Não te vá ela enganar
E depois de lhe veres o bicho
E as mamadeiras que tem
A funcionar a capricho
Já sabes se te convem
Mulher calma,é estima-la
Como a santa no altar
Cabra doida,é rifa-la
Que não venhas cá parar
Este conselho te dão
E não te levam dinheiro
Os cornudos que aqui estão
Com São Pedro hospitaleiro
Invejosos,quase todos
Dos cornos que o mundo guarda
Fazem mais um bocado de lamentação
(Nota do autor-quase,porque,entretanto alguns brincavam uns com osoutros.Rabolices...
Mas se fornicas a rodos tua vida aqui não tarda
Recomeça a moralidade,estilo 'estão verdes,não prestam'
Alguns bêbedos,cornudos despeitados ouamargurados,vozes pastosas (deve ler-se vinho...velhinho)
Melhor que a mulher é o vinho
Que faz esquecer a mulher
Que faz do amor já velhinho
Ressurgir de novo o prazer
Finale muito católico
Assim termina o lamento
Pois recordar é sofrer
A mãe fode
É bom sustento
E por nós reza o pater
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Luiz Pacheco,num dia em que se achou mais pachorrento.
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Retirada de
http://www.terravista.pt/meiapraia/1229/cornudos.htm
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. MÁRIO CESARINY A LUÍS PACHECO
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Lx. 1966
Meu Caro
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Gostei mais da tua carta que do texto que me enviaste a propósito da Cidade Queimada, embora este fosse, ou fosse a fingir, de altamente elogiativo: Corrijo: na tua boca, na tua maneira, ele é realmente elogiativo. Está lá o velho programa que traçaste para os teus mais próximos: cadeia, ou hospital. Tua ânsia, velha, que sempre te fez sobrepor-te, adiantar-te, esmerar, por conta própria, os serviços policiários. Conheço isso. Todos os presidiários falam de si mesmos e dos colegas como da classe aparte, ou a única que importa considerar. Estive preso, cá e lá, mas, muito pior que isso, tive cinco anos de liberdade vigiada que deram cabo de mim. Lembro-me de que nessa altura tu achavas graça a uma expressão do Lima: o poeta que vai à revista. O poeta foi à revista e matou-se aí. Ou mataram-no. Ficou uma coisa esquisita, de onde sai o excesso de pânico que me atravessa quando novas hipóteses se põem. Excesso, digo bem. E adiante. Por isso tenho memória de velha. De elefante. Não acho que sejam velhas coisas, estas. Nem tu. De enternecer, enfim, o preocupares-te com o tal teu amigo que diz que eu estou uma merda e com o G. Cruz que diz que eu perdi as imagens coitado. Olha, não te preocupes. Alguma coisa me diz que os meus poemas, com imagem ou sem, são a merda do pássaro. Essa os lambuza e ocupa, sejam más sejam fortes as cagadas. Quanto ao pássaro propriamente dito -- o canto -- ninguém viu. Acho que não o podem ver.
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Não me defendas. É pouca a paternidade: Ramos-Rosa-Gastão-Cruz que pões na tua carta. Estes e outros foram todos beber a um que dizia isso com mais graça: o Luiz Pacheco. Assinado por ti, fui um pobre diabo, um que pinta com merda, uma barata em ascensão para as coroas, um que está bom para saldos, não quer ir para a cadeia, lembrarás o resto. Quando um dia foi possível reeditar o Lisboa, cujas primeiras edições já não existiam, o horrível crime foi punido: pediu oito tostões à mãe para o eléctrico e foi à editora.
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É a isto que na tua carta chamas «verdade histórica»? Homenagem, querido, faço-te esta: a de tentar acreditar que tu acreditas nisso. Que é possível haver uma verdade para o dia 16 -- verdade com tal força de verdade que chega para assassinar em duas forças de linha o amigo mais próximo -- e haver outra correctiva da primeira ou mesmo, se preciso, sua antítese para o dia 18. Será verdade que acreditas nisso? Será possível que haja essa verdade? O assassinato da família do Kafka e a reabilitação do Kafka?
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Para mim, era-me impossível viver, ou morrer, se tivesse de chamar a isso verdade. Que é o que te acontece. E tu dizes: justiça! Horror dos horrores.
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Assentemos pois nesta verdade: deixa-os dizer o pior, e o pior do pior. Não intervenhas, ficas caricato. Nada disso me ocupa, nem sequer incomoda. Golpe fundo foram os teus ataques, duplamente mortais para o nosso convívio: se justos -- o poeta na «decadência» -- de uma crueldade desnecessária; se injustos -- o poeta a braços com um amigo louco -- de uma crueldade de louco.
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A minha pergunta -- era uma pergunta o que te fazia ao enviar-te o teu postal de há 8 anos, -- não é ao acaso. Tenho um livro a sair, «A Intervenção Surrealista». Dentro em breve, as provas. Como é de obrigação, surges nele. Há no livro documentos bem mais antigos do que as tuas campanhas contra mim. E não estão nada velhos. Em nada. Por isso perguntava: que faço eu com isto? Se achas que envelheceu, que já não é verdade, é uma resposta, com linguagem tua. Se achas verdade histórica, além de esquisito, é pouco. E é de lado.
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Dúvida, é isto: incluo, não incluo o teu artigo sobre o meu «Picto-Abjeccionismo»? Sei que o retiraste do teu livro, mas: achas que podemos fazer isso? É, com o artigo do Virgílio, a única coisa que apareceu na Imprenso.
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Se incluo, vais ouvir coisas horríveis, porque te dou resposta. Se não incluo, voltamos ao mesmo: que faço eu com isto?
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A tua verdade histórica é a merda.
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Diferente na minha neste ponto: é possível que a minha vida tenha dado cabo de mim, ou eu cabo de mim nela; o amor que tenho à vida fez-me sempre evitar dar cabo da vida dos outros. Não «enterrei» ninguém sempre até à última quis a vida dos outros. Tu incluído. A tua pressa em dar cabo dos outros, diz-me que vida é. E que espécie de cabo. Sempre até à última quis a vida do António Maria Lisboa. Mesmo nas edições que dele fiz. Toda a égloga fúnebre afastada. «Não se trata de um homem que vai morrer»... E do teu medo de perder o que ainda não perdeste dos textos do Lisboa, não terá culpa alguma o próprio Lisboa. Se tens medo de perder o que ainda não está perdido, põe em lugar seguro, ainda há alguns. Mas acaba com a chantagem insinuada na tua carta. Se quer fazer-se uma edição decente, ideia de luxo excluída, digo decente, colaborarei com gana. Se quer fazer-se uma edição despachativa só porque tu podes perder o resto, mando-te já à merda, a ti e à edição. Falando com o Victor, parece já conseguida uma certa concessão da parte da editora: farão um livro integrado na colecção mas em formato maior e maior cuidade gráfico.
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Dizes que no ano passado te salvei a vida. Se é verdade, fico contente. Salvá-la-ia muitas vezes mais, se pudesse. Conforte-te saber, se não puder repetir-se, que da única vez que tive dinheiro meu, o reparti contigo, quanto pude. E que fiz o meu melhor para que outros fizessem algo parecido. E fizeram, mesmo pouco parecido. Há muito anos que joguei em ti, a favor teu, não como editor -- por mais que isso te ofenda -- não, também não, como a louca dos papelinhos que trazia a cidade divertidíssima e para quem o papelinho e a sua função, diversa, contava muito mais que a verdade. Qualquer verdade. Da qual verdade o burgo não queria. Tu também não. Joguei, eu, no que tinhas de melhor. «O senhor não é palhaço, o senhor é escritor». Estas linhas do Lisboa, cantei-tas várias vezes, em vários tons. Soube isso no teu texto dos Doutores, Salvação, e Menino, que continua a ser para mim o texto lúcido que, em literatura, a época forneceu. Soube-o de novo, com imensa alegria, na publicação do Teodolito. Diante de um texto tal hão-de curvar-se, sem querer, todos os merdas do literato lisboeta. E, o que é mais: pela primeira vez encontrava a tua humanidade, a tua forma natural de sorrir -- tens o sorriso mais bondoso, espanta-te, de quantos vi a tentar abrir os lábios: sai quase sempre careta, lá o diz o Lautréamont -- diante das calamidades. Melhor: eras o homem que se confessava isso, homem, e em que mundo assim, de que maneira! Nada a ver com os teus papelinhos acusatórios, de boa ou má esguelha, para a vida ou para a morte dos outros. Creio que não piorei o texto publicando-o com as «emendas» ou «chaves» que tu próprio aceitaste. Acho mesmo que ficou melhor, o que decerto te ofende. Outros textos tens parido de igual, ou maior altura? Este o Luiz Pacheco que conheço, o único que de facto existe e posso amar, mesmo conservando na gaveta, como conservo, e não esquecendo, não são para esquecer, feridas abertas. Em corpo frágil.
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P.S. -- Na folha publicitária que o Victor Tavares te fez, leio que te consideras velhote. Não te preocupes. Nem te defendas tanto. Parece mal. Será manobra, também. Não me preocupo. Preocupa-me -- outra vez!! -- o destino dos inéditos. Exceptuada a raiva, que permanece, vi-te sempre abandonar tudo, todos. Em que nome, não se percebe bem. Aceitemos que no do teu registo, L. Guerreiro Pacheco. Não é assim tão feio. Fiquemos aqui.
Lx. 1966
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in Mário Cesariny, Jornal do gato, [s.l.]: ed. autor, 1974, pp. 47-51
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retirado de

http://luizpacheco.no.sapo.pt/textos/

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