* E M de Melo e Castro
1
Camões, mas que Camões?
Que mundo em transição se fixa nesta língua
Que margem se afirma
na língua
que se inventa?
Que poeta transita
no mundo que
se fixa?
Que poema se afixa
na mente que
se alarga
à escala do
Globo Universal
e amarga?
Que contrários se afrontam
nos ossos
que nos tentam?
Camões, mas que Camões é este
que nos
marca?
2
homem ou
texto
olho vazado ou
letra
miséria ou
redondilha
bruxo velho ou
brochura
sabedoria ou
ilha
pesadelo ou
visão
aventureiro ou
máquina
tensa gasta ou
tensão
um cego amor ou
mundo
novidade ou
idade
horizonte ou imagem
Camões ou
re-Camões
Fortuna ou
coisa amada
mudança ou só
desejo
?
3
o lírico nas lonas
o épico e o hípico
que só a pé andou
corre o mundo em degredo
liberta-se em prisões
só um olho lhe basta
para a visão dos tempos
que novos se dispersam
e em não contradição se contradiz
4
dissipo a vida
se
dissipo a morte
aprendo a vida
se
aprendo a morte
sustento a vida
se
sustenho a morte
re contenho a vida
se retenho a morte
E. M. de Melo e Castro, in 'Re-Camões'
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