quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Histórias reais – Uma proposta irrecusável



É pouco provável que algum de vós tenha conhecido o Mocambo. Fechou portas em 1958, depois de década e meia de glória no esplendoroso Sunset Boulevard, onde os argumentistas fracassados acabam a boiar nas piscinas. Com a sua decoração carregada de estereótipos de uma América do Sul de caricatura, e as paredes cobertas de jaulas de vidro com papagaios, catatuas, e pombos, devia ser um desses lugares em que tudo é genuinamente postiço. Ver e ser visto no Mocambo era um imperativo para as estrelas da época e nenhuma falhava. E actuar no Mocambo era o empurrão necessário para qualquer carreira musical. Poucos eram, porém, os artistas negros que conseguiam um contrato, numa época em que a segregação racial ainda era a norma.
Impunha-se, portanto, jogar uma carta alta para que uma cantora negra pudesse actuar no Mocambo. Foi necessário que a sua amiga e admiradora fizesse ao dono do clube uma proposta irrecusável. Se ele contratasse certa cantora, a quem apenas a mais preconceituosa burrice poderia cerrar portas, ela, a sua amiga e admiradora, estaria todas as noites na fila da frente do Mocambo, sorriria para as câmaras dos fotógrafos que não deixariam de seguir-lhe os passos e com isso faria ao clube uma publicidade tão esplendorosa que nem o Mocambo poderia desdenhar.
O dono não recusou e a cantora fez um sucesso tal que a sua carreira nunca mais conheceria a sombra. E a amiga e admiradora cumpriu o prometido e lá esteve, sorridente, na primeira fila, noites a fio.
Até ao fim da vida, a cantora reconheceu a dívida de gratidão que tinha para com a sua amiga, a quem retribuiu com lições de canto.
A cantora era Ella Fitzgerald, a amiga e admiradora era Marilyn Monroe. Nunca consegui decidir qual destas versões prefiro, reconhecendo, embora, que a segunda é imperfeita. Talvez por isso mesmo.



 https://aventar.eu/2016/10/19/historias-reais-uma-proposta-irrecusavel/#more-1259645

Overcoming discrimination

On the touring circuit it was well-known that Ella's manager felt very strongly about civil rights and required equal treatment for his musicians, regardless of their color. Norman refused to accept any type of discrimination at hotels, restaurants or concert halls, even when they traveled to the Deep South.
Once, while in Dallas touring for the Philharmonic, a police squad irritated by Norman's principles barged backstage to hassle the performers. They came into Ella's dressing room, where band members Dizzy Gillespie and Illinois Jacquet were shooting dice, and arrested everyone.
"They took us down," Ella later recalled, "and then when we got there, they had the nerve to ask for an autograph."
Norman wasn't the only one willing to stand up for Ella. She received support from numerous celebrity fans, including a zealous Marilyn Monroe.
"I owe Marilyn Monroe a real debt," Ella later said. "It was because of her that I played the Mocambo, a very popular nightclub in the '50s. She personally called the owner of the Mocambo, and told him she wanted me booked immediately, and if he would do it, she would take a front table every night. She told him - and it was true, due to Marilyn's superstar status - that the press would go wild. The owner said yes, and Marilyn was there, front table, every night. The press went overboard. After that, I never had to play a small jazz club again. She was an unusual woman - a little ahead of her times. And she didn't know it."
http://www.ellafitzgerald.com/about/index.html

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