(Este texto resulta da resposta a um comentário a um
artigo que publicámos de Eamon McKinney ver aqui. Perante tanta verdade junta, resolvi
dar-lhe o destaque que, penso, merece.
O comentário, de Paulo Marques, era o seguinte:
Estátua de Sal, 28/08/2022)
A propaganda começa logo nas palavras. Cá são “empresários”,
lá são “oligarcas”. Cá são “democracias liberais” (mesmo quando matam tanta
gente, como o apartheid de Israel), lá são pelo menos “regimes” ou “brutais
ditaduras” (mesmo que garantam dos melhores níveis de desenvolvimento humano na
região comparável, como Cuba). etc.
Ao entrar no debate, em que o “moderador” colocou a questão
nestes termos, e o 1º interveniente os repetiu, quando chega a vez do
comentador ligeiramente discordante (porque na TV comunista não entra, e quem
não repetir a propaganda do regime é “populista” ou “putinista”), já não
consegue usar outras palavras, é forçado a jogar no campo adversário com as
chuteiras sem pitons.
Já não há trabalhadores, há “colaboradores”. Já não há
patrões, há “CEO”. Os lucros são uma “virtude”, os salários (de quem fabricou o
produto e criou a riqueza) são um “custo”. A soberania é “má” porque *ai ai o
Orbán*, a violação da nossa Constituição e obediência a NÃO eleitos é “boa”
porque *ai que bom vem de Bruxelas ou de Frankfurt*.
O gás Russo é uma “dependência”, o petróleo saudita é
“verde”, bastando para isso ter uma tachinha extra ou entrar num qualquer
“mercado de carbono”, que é um eufemismo para: quem acredita nisto é estúpido
que nem uma porta, e se a maioria continuar a acreditar, o NeoLiberalismo
continuará rei e senhor, como se tivesse sido já o fim da história.
Não é que a Rússia ou a China não sejam Capitalistas, mas há
diferentes formas e níveis de Capitalismo. Há o de Capitalismo de Estado, o
mais industrializado, o regulado e soberano, o (re)produtivo. Pode-se ter um
SNS, uma Escola Pública, um sistema de pensões asseguradas. O Estado pode
planear isto e aquilo até certo ponto. Ou pelo menos definir objectivos e
promover certas áreas.
Ou então há aquilo que o Ocidente tem para impor à força,
via troikas, austeridades, TINAs, sanções, e guerras. Não há plano, há cada vez
menos Direitos, não há soberania nem regulação, o especulador decide, o
“governador” obedece, e o povinho baixa a bolinha. Estou a descrever o Portugal
de agora, ou o Portugal pré-1974? Já nem dá para distinguir bem…
Igualdade? Desenvolvimento Humano? Distribuição e
redistribuição? O que é isso?! Não está no dicionário do lobby da Uber, Google,
Santander, Raytheon e companhia. E se certos partidos “irresponsáveis” se
atreverem a fazer frente ao estado a que isto chegou outra vez, toda a activar
a maior máquina de propaganda e manipulação da história, e dar “maioria” de 41%
àqueles que sabem bem obedecer à “iniciativa” certa.
E nas eleições, o que é que o povinho faz? Junta-se em
rebanho para votar no lobo com a falinha mais mansa. E não é só cá. Nunca é só
cá. A ignorância em massa, e a necessidade de pertencer (votar no que pode
ganhar em vez de arriscar ser diferente), falam mais alto em todo o lado. O
colectivo é histérico, estúpido, e suas emoções facilmente manipuláveis. Está
cansado demais depois do trabalho. Vai comer tudo o que a Manipulação Social
lhe der a comer no “noticiário” das 20h.
Se for preciso, até se consegue convencer a maioria que
uma invasão dos EUA é “democracia” e que uma suástica tatuada é símbolo de
“liberdade”. Que um adolescente na Palestina é um “terrorista”, e que os
cereais em Odessa são para “matar a fome em África”. Que entregar refugiados a
quem os persegue são “valores europeus”, e que o Putin está em simultâneo a
ocupar com tropas e a bombardear a mesma central nuclear.
Vejam só que até convenceram a maioria de que o €euro é uma
coisa boa. Realmente, quando a palha é boa e há tanto burro, tudo é possível.
Portugal não aumenta o seu PIB/capita em valor real (descontando o deflator)
desde 2007. Não converge com a média da Europa desde 2000. Está endividado até
ao pescoço em todas as dívidas: privada, pública, e externa. Desde os anos 80
que não havia tantos pobres: 4.4 milhões (antes de apoios sociais **). Podia
ser pior, diz um propagandista rosa, olhando para os 4.9 milhões em 2013…
Trabalha-se para ser pobre. Vai tudo corrido pelo valor do salário mínimo. E
ainda há o descaramento de dar uma ajuda aos empresários devido ao “aumento”
anual. Poder negocial? Sindicalismo? Contratos colectivos? Nem vê-los! Isso são
coisas da Esquerda “sectária” e “extremista”.
Os países inteiros são “ditaduras”. Os países destruídos são
“democracias”. A resistência dos invadidos é “terrorismo”. Os crimes de guerra
dos invasores são… não são nada. E ai de quem sequer falar neles. Será
silenciado com dólares, ou com cassetetes. Quem faz um Assange, faz dois ou
três. E se andarem onde não devem, ops, lá vai uma “bala perdida” para a cabeça
da Shireen Abu Akleh.
E lá continuam eles com a propaganda que começa nas
palavras: não é apartheid, é “única democracia liberal do Médio Oriente”. Não é
terrorismo económico que mata crianças à fome, são “sanções para castigar os
Talibã. Não é roubo colonial, é “operação militar especial de tropas da
defensiva NATO para garantir o petróleo e os cereais da malvada Síria”. Não é
racismo sistémico, são “forças da ordem que têm de nos salvar de terríveis
criminosos colocando um joelho no seu pescoço”. Não é invasão NAZI em violação
de acordos de PAZ contra civis do Donbass 9 dias antes da Rússia ter de
intervir, é “defesa da democracia Ucraniana contra os separatistas pró-Russos”.
E não é massacre de refugiados escuros na fronteira de Espanha, é “um sucesso
do aliado Marrocos”.
Eles bem tentam, e infelizmente com elevadas taxas de
sucesso, mas não é possível enganar toda a gente o tempo todo. Depois, eles
comem tudo e não deixam nada, e mandam-nos comer brioches caso nos falte o pão.
Se tentarmos a revolução pacífica, eles vão chamar-lhe “poder caído na rua”.
Se nos sentarmos no chão e a polícia disparar balas de
borracha e nos tentar atropelar, vão-lhes chamar “forças da ordem” a nós nos
chamarão “violentos arruaceiros” (aqui estou a citar a RTP em relação à
Catalunha). Vão querer ainda mais para os ricos e ainda menos para os pobres, e
chamar-lhe “a new era of sacrifices and the end of abundance” (agora
cito Macron, o tira-olhos dos coletes amarelos). Já não dá para aguentar mais.
Queriam um Great Reset, mas acho que vão é ter uma Great Guillotine. Totalmente
provocada e justificada. Tal como a intervenção Russa.
https://estatuadesal.com/2022/08/28/tanta-verdade-junta-mereceu-publicacao-take-xv/
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