quinta-feira, 10 de junho de 2010

Prólogo, com um Prólogo dos Prólogos, de Jorge Luis Borges



Terça-feira, 8/6/2010
Prólogo, com um Prólogo dos Prólogos, 
de Jorge Luis Borges
Julio Daio Borges





Digestivo nº 464 >>> Talvez mais que um escritor, Borges fosse um leitor. Possivelmente, o maior leitor do século XX. A impressão, em seus escritos, é a de que leu tudo e que, embora vítima de cegueira progressiva, alcançou uma espécie de clarividência em vida. Como entregou sua existência à literatura, esta parece que escolheu-o como seu porta-voz. Ler Borges, ouvir Borges ou, ainda, ler as transcrições das falas de Borges é tomar contato com a melhor tradição da literatura. Borges conseguiu ser a literatura em pessoa. E seus contos podem ser tomados como verdadeiros ensaios literários. Não é diferente neste Prólogo, com um Prólogo dos Prólogos (1975), que a Companhia das Letras acaba de reeditar. Conforme sugere o título, o volume reúne prefácios que Borges escreveu para obras ou autores que conhecia intimamente, ou para alguns contemporâneos (ninguém é perfeito). Logo, Prólogo... é Borges no seu elemento, falando de literatura, como o leitor de maior autoridade do seu tempo. Nesta coleção de prólogos, estão naturalmente as obsessões, como Cervantes (obsessão comum a quase todos os autores de língua espanhola e à maioria dos romancistas em qualquer língua): “As frases truncadas do realismo de nosso tempo lhe teriam parecido uma grosseria indigna da arte literária”. Carlyle – também uma leitura de Nietzsche –, ainda que seu gosto aristocrático chocasse a futura correção política: “A história do mundo é a biografia dos grandes homens” (alguém falou aí em povo?). Também Emerson (outro preferido de Nietzsche, e de Harold Bloom), Gibbon, e, para sempre, Kafka: “Sua mais indiscutível virtude é a invenção de situações intoleráveis(...) Preferia ter escrito uma obra feliz e serena, não a uniforme série de pesadelos que sua sinceridade lhe ditou”. Somos brindados, ainda, com análises do Bartleby, de Melville, Folhas de Relva, do imenso Whitman, e até Valéry. Sem contar, a tentação de “obras de amigos” como Adolfo Bioy Casares. Quem ama a literatura, no nosso século, terá Borges para sempre como guia. E este Prólogos é mais uma oportunidade de retomar essa rica tradição.
>>> Prólogo, com um Prólogo dos Prólogos
Julio Daio Borges
Editor

Sinopse

Em 1975, quando foram reunidos os exercícios críticos que Borges vinha publicando desde a década de 1930 na imprensa de seu país, muito se revelou do pensamento do escritor argentino do século XX. De sua leitura depreende-se não só a erudição, mas também sua variedade de leituras - dos poetas gauchescos argentinos a E. A. Poe, de Cervantes a Lewis Carroll, de Gibbon a Kafka. Redefinido por ele como uma 'espécie lateral da crítica', o prólogo funcionou para Borges como instrumento de penetração na obra literária, revelando a teia subjacente de relações entre um livro e sua cultura, um autor e seus pares. A obra 'Prólogos, com um prólogo de prólogos' convida o leitor a reviver o percurso de descobertas e surpresas trilhado pelo escritor argentino.

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Sobre o autor:


BORGES, JORGE LUIS
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Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires no dia 24 de agosto de 1899. Em 1914, viajou com a família para a Europa e instalou-se em Genebra, na Suíça, onde completou o curso secundário. Em 1919, tendo se mudado para a Espanha, entra em contato com o movimento ultraísta. Ao retornar a Buenos Aires, funda com outros escritores a revista Proa, em 1922, e, no ano seguinte, publica seu primeiro livro de poemas, Fervor de Buenos Aires. Colabora a partir de então em 'Martin Fierro', 'La Prensa', 'Síntesis', e, mais tarde, em 'Crítica', 'Sur' e 'El Hogar'. Artigos em jornais e revistas, críticas literárias, livros de poesia, ensaios e contos completam a produção desses anos em que seu nome tem difusão no ambiente literário local. Com Ficções (contos) publicado em 1944, obtém o Grande Prêmio de Honra da Sociedade Argentina de Escritores. Logo depois, funda e dirige a revista 'Anales de Buenos Aires' (1946-1948) e preside a Sade (Sociedade Argentina de Escritores) de 1950 a 1953. Em 1955, passa a fazer parte da Academia Argentina de Letras e é nomeado diretor da Biblioteca Nacional - cargo que ocuparia até se aposentar, em 1973. Também ensina literatura inglesa na Universidade de Buenos Aires. De sua vasta produção, cabe citar obras narrativas como História universal da infâmia, Ficções, O informe de Brodie e O livro de Areia; ensaios como Evaristo Carriego, História da Eternidade, Discussão e Outras Inquisições; e doze livros de poesia, o último deles - Os conjurados - publicado em 1985. O Prêmio Formentor (compartilhado com Samuel Beckett), outorgado em 1961 pelo Congresso Internacional de Editores, lhe valeu o reconhecimento no mundo todo. Começa então a receber importantes homenagens de universidades e governos estrangeiros, assim como numerosos prêmios, entre eles o Cervantes, em 1980. Sua obra foi traduzida para mais de 25 idiomas e adaptada para o cinema e a televisão. Prólogos, antologias, traduções, cursos e conferências são testemunho do trabalho infatigável deste escritor - morto em Genebra, em 14 de junho de 1986 - que mudou o panorama da literatura universal e valorizou a língua espanhola.
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