para cantar, o tempo da colheita.
Agora a fome é tanta
que a palavra pão também se come.
Quem diz pão diz fome e a fome de a não ter não é sobeja.
Digo que a palavra seara faz crescer
o grão da raiva de a não ter.
Digo que a palavra fonte faz jorrar
rios de sede até ao mar.
A palavra trabalho, a palavra suor,
a palavra amiga, a palavra amor.
A palavra precisa, de vendaval ou brisa:
a que denuncia, a que profetiza.
Digo que a palavra que disseres
se pode desfolhar como os malmequeres:
ou muito ou pouco ou tudo ou nada
o que não pode é ficar calada.
Carlos Aboim Inglez
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