sábado, 22 de fevereiro de 2014

poesia de antónio reis 03


22 de Fevereiro de 2014 às 13:36
* antónio reis

24
Também eu trago a saudade
nos sentidos

se dissesse que não
era mentira

também eu perdi um cão
casas
rios

Mas hoje
tenho mulher
amigos
e uma saudade mais real
é que me inspira


27
Conheço
entre todas
a jarra que enfeitaste

têm o jeito
com que compões o cabelo
as flores
que tocaste


30
Que semente
procuras
no sal

areia
ou neve

pérola

Não contemples
é gosto

é água salgada


ao de leve


32
Olhas tu a chuva
e são linhas de prata

agulhas compridas
picando
a vidraça

Porque
te
debruças


34
Não é o vento
não
são gritos amiga

como eu
tu sabes
o que é uma ferida

mas é bom sentir
a tua mão na minha

porque
queres
mentir


35
Já não fazes
renda

não queres
que
nos fios

o coração se prenda

Fogem os teus dedos
das malhas para as folhas

queres que nos livros
os teus olhos teçam


37
Só pelos joelhos
sentimos as estações

com saudades de água

violeta

com saudades
de árvores

velhas
a nascer

Ah natureza dos sentidos
perdida

e da terra

penso
olhando o trânsito
rápido
da janela


38
Também eu gosto da noite
como vinho

também eu gosto das rosas
e do sal

também eu caminho
sonho
e imagino

sou natural

mas trago nos pés um espinho
o bem
o mal


41
Partem todos

o abandono os leva
um barco
o medo

Quando voltam
para nenhum de nós
é um segredo


43
O mesmo pensamento
a mesma ira

Para que serve a mão

Perde o sentido
o próprio
 sofrimento

o coração
a lira


44
Não esqueço os mortos

Não esqueço os heróis

Não esqueço o luto das famílias

todos silenciosos

Denuncio publicamente a nossa cobardia

e quem mente


45
E digo
que são também homens
os traidores

embora os não ame

embora
sobre eles
silêncio
e dores

derrame


46
Aos que perseguem
um conselho
um aviso

pensem
com tempo
no dia do juízo

justo
certo

um espelho
de vidro


47
E

àqueles que chamaram agentes
aos amigos
um pesadelo

em sonho

a febre
o gelo

a nódoa numa ferida

Só depois o despertar

calvos

só depois a honra
perdida

o  dia


Esta fotografia pertence ao arquivo de Margarida Cordeiro e foi retirada do catálogo "António Reis e Margarida Cordeiro - a poesia da terra", organizado por Anabela Moutinho e Maria da Graça Lobo, pág. 173, publicado pelo Cineclube de Faro em 1997.  in http://antonioreis.blogspot.pt/2004/10/049-antnio-reis-em-trs-os-montes.html
Esta fotografia pertence ao arquivo de Margarida Cordeiro e foi retirada do catálogo "António Reis e Margarida Cordeiro - a poesia da terra", organizado por Anabela Moutinho e Maria da Graça Lobo, pág. 173, publicado pelo Cineclube de Faro em 1997. in http://antonioreis.blogspot.pt/2004/10/049-antnio-reis-em-trs-os-montes.html

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