sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O valor da riqueza

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* Almeida Garrett


Não: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? - Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já devia andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, número de corpos que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro, seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.

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Almeida Garrett, in 'Viagens na minha Terra'

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imagem - «Publico novamente a "Pirâmide do Sistema Capitalista", enviadapelo amigo Ricardo Melo, agora atualizada para os tempos modernos e corrigida. Clique na figura para vê-la em tamanho real»
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1 comentário:

Maria Faia disse...

Estimado Amigo Vitor,

Há muito que não viajo pela blogosfera como antes mas, hoje, não poderia deixar de passar por cá deixando aos meus Amigos um grande abraço fraterno, com votos das maiores felicidades, no Natal, Ano Novo e todos os dias do resto das suas vidas.

Beijo Amigo,

Maria Faia