quarta-feira, 30 de setembro de 2009

António Aleixo e Almeida Garrett

Que importa perder a vida
na luta contra a traição
se a razão mesmo vencida
não deixa de ser razão

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Vemos gente bem vestida,

no aspecto desassombrada;

são tudo ilusões da vida,

tudo é miséria dourada.

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Porque será que nós temos

na frente, aos montes, aos molhos,

tantas coisas que não vemos

nem mesmo perto dos olhos?

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(António Aleixo - Quadras)

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“Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?” (Almeida Garrett - Viagens na minha terra)

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terça-feira, 29 de setembro de 2009

Olhar e Sentir - Júlio Pomar

AQUELE QUE, AO OLHAR PARA MIM, SENTIR QUE O MEU OLHAR É UMA FONTE DE LÁGRIMAS....QUE O MEU SORRISO É APENAS E SÓ A FORMA QUE TENHO DE DEIXAR O SOL ILUMINAR O CORAÇÃO E QUE OS BRAÇOS QUE SE ESTENDEM SÃO ÂNCORAS PROCURANDO FUNDO DE AREIA PARA AÍ SE SEGURAREM. QUEM, EM SUMA, ME VÊ TAL QUAL EU SOU, TER-ME-Á PARA SEMPRE, POIS DESCOBRIU O AVESSO DO AVESSO DO AVESSO.EM ANEXO UM BEIJO
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Distribuído por Moranguinho Pereira (hi5)
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OLHAR E SENTIR
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Olhar e sentir
por dentro do corpo a massa de que é feito o avesso dele.
Ossos músculos nervos veias
tudo o que está no corpo e mundo é
a pintura contém e depõe na tela e
se acaso aí o pintor deixou reservas
nesse sem nada o avesso do mundo se
recolhe e mostra a face.
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JÚLIO POMAR
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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Carta aos amigos - Gabriel Garcia Márquez


(foto de JP)

Carta aos amigos

"Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse um fragmento de vida, possivelmente não diria tudo o que penso mas em definitivo pensaria tudo o que digo. Daria valor as coisas, não pelo que valem, senão pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais se detêm, despertaria quando os demais dormem. Escutaria quando os demais falam, e como desfrutaria um bom sorvete de chocolate! Se Deus me obsequiasse um fragmento de vida, vestiria simples, me atiraria de bruços ao sol, deixando des- coberto, não somente meu corpo senão minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo, esperaria que saísse o sol. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que lhes ofereceria à lua. Regaria com minhas lágrimas as rosas, para sentir a dor de seus espinhos, e o encarnado beijo de suas pétalas... Deus meu, se eu tivesse um fragmento de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer as pessoas que quero, que as quero. Convenceria a cada mulher ou homem de que são meus favoritos e viveria enamorado do amor. Aos homens lhes provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de enamorar-se quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de enamorar-se! A criança lhe daria asas, porém lhe deixaria que sozinho aprendesse a voar. Aos velhos lhes ensinaria que a morte não chega com a velhice senão com o esquecimento. Tantas coisas tenho aprendido de vocês, os homens... Tenho aprendido que todo o mundo quer viver no topo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Tenho aprendido que quando um recém nascido aperta com seu pequeno punho, pela primeira vez, o dedo do pai, o tem apanhado para sempre. Tenho aprendido que um homem só tem o direito de olhar a outro com o olhar baixo quando há de ajudar-lhe a levantar-se. São tantas coisas as que tenho podido aprender de vocês, porém real- mente de muito não haverão de servir, porque quando me guardarem dentro dessa mala, infelizmente estarei morrendo"
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(Gabriel Garcia Márquez)

domingo, 27 de setembro de 2009

QUE VOCÊ SEJA ALEGRE - Augusto Cury


(foto de JP)

QUE VOCÊ SEJA ALEGRE,
Mesmo quando vier a chorar.
QUE VOCÊ SEJA SEMPRE JOVEM,
Mesmo quando o tempo passar.
QUE VOCÊ TENHA ESPERANÇA,
Mesmo quando o sol não nascer.
QUE VOCÊ AME SEUS ÍNTIMOS,
Mesmo quando sofrer frustações.
QUE VOCÊ DEIXE DE SONHAR,
Mesmo quando vier a fracassar.
ISSO È SER FELIZ.
Que através desse livro você garimpe ouro
dentro de si mesmo.
E SEJA SEMPRE APAIXONADO PELA VIDA.
E descubra que você é um
SER HUMANO ESPECIAL
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(Augusto Cury)
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sábado, 26 de setembro de 2009

Poesia de Eugénio de Andrade


Eugénio de Andrade

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.



É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.



Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.



Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.

Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.



É na escura folhagem do sono
que brilha
a pele molhada,
a difícil floração da língua.



Música, levai-me:

Onde estão as barcas?
Onde são as ilhas?



Procura a maravilha.

Onde um beijo sabe
a barcos e bruma.

No brilho redondo
e jovem dos joelhos.

Na noite inclinada
de melancolia.

Procura.

Procura a maravilha.



A boca,

onde o fogo
de um verão
muito antigo

cintila,

a boca espera

(que pode uma boca
esperar
senão outra boca?)

espera o ardor
do vento
para ser ave,

e cantar.



Levar-te à boca,
beber a água
mais funda do teu ser -

se a luz é tanta,
como se pode morrer?



Sê tu a palavra

1.
Sê tu a palavra,
branca rosa brava.

2.
Só o desejo é matinal.

3.
Poupar o coração
é permitir à morte
coroar-se de alegria.

4.
Morre
de ter ousado
na água amar o fogo.

5.
Beber-te a sede e partir
- eu sou de tão longe.

6.
Da chama à espada
o caminho é solitário.

7.
Que me quereis,
se me não dais
o que é tão meu?



Colhe todo o oiro

Colhe
todo o oiro do dia
na haste mais alta
da melancolia.



Ainda sabemos cantar,
só a nossa voz é que mudou:
somos agora mais lentos,
mais amargos,
e um novo gesto é igual ao que passou.

Um verso já não é a maravilha,
um corpo já não é a plenitude.



Nunca o verão se demorara
assim nos lábios
e na água
- como podíamos morrer,
tão próximos
e nus e inocentes?



Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum



De palavra em palavra
a noite sobe
aos ramos mais altos

e canta
o êxtase do dia.



Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei ás romãs a cor do lume.



Húmido de beijos e de lágrimas,
ardor da terra com sabor a mar,
o teu corpo perdia-se no meu.

(Vontade de ser barco ou de cantar.)



Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.



Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.



À breve, azul cantilena
dos teus olhos quando anoitecem.



Eram de longe.
Do mar traziam
o que é do mar: doçura
e ardor nos olhos fatigados.



A raiz do linho
foi meu alimento,
foi o meu tormento.

Mas então cantava.



Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus


compiladas por Luis Rodrigues -

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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Mack the Knife - Bertold Brecht



From Wikipedia, the free encyclopedia


"Mack the Knife" or "The Ballad of Mack the Knife", originally "Die Moritat von Mackie Messer", is a song composed by Kurt Weill with lyrics by Bertolt Brecht for their music drama Die Dreigroschenoper, or, as it is known in English, The Threepenny Opera. It premiered in Berlin in 1928. The song has become a popular standard.

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Contents

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The Threepenny Opera

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A moritat (from mori meaning "deadly" and tat meaning "deed") is a medieval version of the murder ballad performed by strolling minstrels. In The Threepenny Opera, the moritat singer with his street organ introduces and closes the drama with the tale of the deadly Mackie Messer, or Mack the Knife, a character based on the dashing highwayman Macheath in John Gay's The Beggar's Opera. The Brecht-Weill version of the character was far more cruel and sinister, and has been transformed into a modern anti-hero.

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The opera opens with the moritat singer comparing Macheath (unfavorably) with a shark, and then telling tales of his robberies, murders, rapes, and arson.

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1954 Blitzstein translation

"A Theme From The Threepenny Opera (Mack The Knife)"
Single by Louis Armstrong
B-side Back O' Town Blues
Released 1956
Format 7"
Recorded Los Angeles, CA
28 September, 1955
Genre Jazz
Length 3:25
Label Columbia 40587
Coronet KS-349
Writer(s) Kurt Weill, Bertolt Brecht, English lyrics Marc Blitzstein, arr. Turk Murphy

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In the best known English translation, from the Marc Blitzstein 1954 version of The Threepenny Opera, which introduced the song to English-speaking audiences, the words are:

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Oh the shark has pretty teeth dear,
And he shows them pearly white
Just a jack-knife has Macheath dear
And he keeps it out of sight.
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This is the version popularized by Louis Armstrong (1956) and Bobby Darin (1959) (Darin's lyrics differ slightly), and most subsequent swing versions. Weill's widow, Lotte Lenya, the star of both the original 1928 German production and the 1954 Blitzstein Broadway version, was present in the studio during Armstrong's recording. He spontaneously added her name to the lyrics, which already named several of Macheath's female victims.

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The rarely heard final verse — not included in the original play, but added by Brecht for the 1930 movie — expresses the theme, and compares the glittering world of the rich and powerful with the dark world of the poor:

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German English translation
Denn die einen sind im Dunkeln
Und die andern sind im Licht
Und man siehet die im Lichte
Die im Dunkeln sieht man nicht
There are some who are in darkness
And the others are in light
And you see the ones in brightness
Those in darkness drop from sight

1976 Manheim-Willett translation

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In 1976 the version translated by Ralph Manheim and John Willett opened on Broadway, later made into a movie version starring Raúl Juliá as "Mackie". Here is an excerpt:

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See the shark with teeth like razors
All can read his open face
And Macheath has got a knife, but
Not in such an obvious place
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This is the version later performed by Sting and Nick Cave. It is also the version performed by Lyle Lovett on the soundtrack of the film Quiz Show (1994) — the same movie features Darin's rendition over the opening credits.

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1994 translation

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A much darker translation by Robert David MacDonald and Jeremy Sams into English was used for the 1994 Donmar Warehouse theatrical production in London. The new translation attempted to recapture the original tone of the song:

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Though the shark's teeth may be lethal
Still you see them white and red
But you won't see Mackie's flick knife
Cause he slashed you and you're dead
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Crimes of Macheath

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The song attributes many crimes to Macheath:

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  • A dead man in London, on the Strand
  • A rich man, Schmul Meier, disappeared for good and possibly robbed
  • Jenny Towler, killed with a knife in the chest
  • A cabbie, Alfred Gleet, missing and presumed dead
  • Seven children and an old man killed in an arson fire
  • Rape of an underage widow (minderjährige Witwe) in her bed
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The arson, rape and disappearance of the cabbie were omitted from the original cast recording of the Blitzstein version, but remain intact in the libretto.

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Popular song

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"Mack the Knife" was introduced to the United States hit parade by Louis Armstrong in 1956, but the song is most closely associated with Bobby Darin, who recorded his version at Fulton Studios on West 40th Street, New York City, on December 19, 1958 (with Tom Dowd engineering the recording). In 1959 Darin's version reached number one on the Billboard Hot 100 and number six on the Black Singles chart, and earned him a Grammy Award for Record of the Year. Dick Clark had advised Darin not to record the song because of the perception that, having come from an opera, it wouldn't appeal to the rock & roll audience. To this day, Clark recounts the story with good humor. Frank Sinatra, who recorded the song with Jimmy Buffett, called Darin's the "definitive" version. Darin's version hit #3 on Billboard's All Time Top 100.[1] In 2003, the Darin version was ranked #251 on Rolling Stone's list of the 500 Greatest Songs of All Time. On BBC Radio 4's Desert Island Discs, pop mogul Simon Cowell named "Mack the Knife" the best song ever written.

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Brecht's original German language version was appropriated for a series of humorous and surreal blackout skits by television pioneer Ernie Kovacs, showing, between skits, the vibrating soundtrack line.

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Ella Fitzgerald made a famous live recording in 1960 (released on Ella in Berlin: Mack the Knife) in which, after forgetting the lyrics after the first verse, she improvised new lyrics in a performance that earned her a Grammy Award. Robbie Williams also recorded the song on his 2001 album Swing When You're Winning. Other notable versions include performances by Jimmie Dale Gilmore, Tony Bennett, Marianne Faithfull, Nick Cave, Brian Setzer, Kevin Spacey, Westlife, and Michael Bublé. Swiss band The Young Gods radically reworked the song in industrial style, while jazz legend Sonny Rollins recorded an instrumental version entitled simply "Moritat" in 1956. A 1959 instrumental performance by Bill Haley & His Comets was the final song the group recorded for Decca Records. Tito Puente also recorded an instrumental version. Salsa musician Rubén Blades recorded an homage entitled "Pedro Navaja."[2] Brazilian composer Chico Buarque, in his adaptation of Threepenny Opera (Ópera do Malandro), made two versions called "A Volta do Malandro" and "O Malandro No. 2", with lyrics in Portuguese.

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The song has been put to many other uses. American parodists the Capitol Steps used the tune for their song "Pack the Knife" in their 2002 album When Bush Comes to Shove. In the mid-1980s, fast food giant McDonald's introduced "Mac Tonight", a character whose signature song was based on "Mack the Knife." Comedian Steve Martin famously parodied "Mack the Knife" in his opening monologue to the premiere of Saturday Night Live's third season in 1977.

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Selective list of recorded versions

See also

References

External links

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Escrever é esquecer - Fernando Pessoa

Obrigado Victor por me ter aceite no seu grupo de amigos do hi5. Abraço.


(foto de JP)

TENHA UMA BOA NOITE

Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.
(Fernando Pessoa)
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Enviado por J.P. (hi5)
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CDU - O que faremos com esses votos?







O que faremos com esses votos?
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Está a chegar ao fim a campanha eleitoral da CDU, a segunda de um exigente ciclo de três eleições. Tal como afirmámos, a acção eleitoral da CDU foi uma grande campanha de mobilização e participação popular, uma grande acção de contacto directo com os trabalhadores e com as populações, numa intervenção ímpar de esclarecimento e convencimento junto das massas, levada a cabo por milhares de activistas que deram forma a mais esta jornada de luta.
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Uma campanha que foi encarada por todo o colectivo partidário como a mais importante batalha política do momento, e que foi determinante para combater a barreira de silenciamento e discriminação imposta pela comunicação social e de escandalosa promoção e favorecimento de outras forças políticas – todas sem excepção –, numa tentativa, tanto escandalosa quanto evidente, de condicionamento da vontade popular e de construção de um resultado à medida dos interesses dos grupos económicos e financeiros.
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Uma campanha que trouxe para o debate político os problemas dos trabalhadores, as injustiças e desigualdades, os salários, os apoios do Estado aos grupos económicos, a destruição do aparelho produtivo e a necessidade de aumentar a produção nacional.
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Uma campanha que deu expressão à exigência de melhores serviços públicos, denunciou as consequências das privatizações e colocou como questão central para a democracia económica e soberania do País o controlo dos sectores estratégicos da nossa economia, designadamente na banca, na energia, nos transportes e nas telecomunicações, pelo Estado.
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Uma campanha que falou daquilo que interessa, dos problemas, das políticas, das opções de cada força política, da situação do País e das propostas para uma vida melhor e que, por isso, recusou ficar prisioneira dos «casos», das «notícias do dia», que diariamente foram sendo lançadas para facilitar a vida a PS e PSD na afirmação de «diferenças» quando a sua política, nos eixos essenciais, é há mais de 33 anos a mesma.
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Uma campanha onde os eleitos e candidatos da CDU prestaram contas do trabalho realizado e apresentaram propostas para o País. Onde se afirmou a necessidade de uma ruptura e de uma mudança e a possibilidade de construção de uma política alternativa de esquerda. Uma campanha dirigida em primeiro lugar aos trabalhadores, vítimas do agravamento da exploração e da crise capitalista e dos desmandos do avanço da política de direita, mas também aos reformados, à juventude, aos pequenos empresários, aos agricultores, ao povo português.
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Eleger mais deputados
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Esta campanha, aliás inseparável das muitas jornadas de luta que fomos travando contra a política de direita, combateu ainda a resignação, o conformismo, a descrença e introduziu ânimo e confiança na possibilidade de uma mudança a sério na vida política nacional. Foi uma campanha que combateu a direita e a política de direita, recusando a velha e gasta chantagem com que o PS tem levado ao engano milhares de eleitores que temem genuinamente o regresso do PSD e CDS-PP ao poder.
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Uma campanha que falou verdade ao Povo, que recusou as frases feitas, o verbo fácil, o assunto da moda. Que com seriedade combateu a mistificação de que estamos a eleger um «primeiro-ministro», como fez PS, PSD, CDS e BE, e que reafirmou ser da correlação de forças que se vier a verificar na próxima Assembleia da República que sairá não apenas o Governo mas também as medidas que num sentido ou noutro venham a ser aplicadas.
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E tendo sido esta a campanha que realizámos, são muitas as razões que temos para confiar nas possibilidades de crescimento e avanço da CDU no dia 27. Mais votos e mais deputados, é esse e não outro o objectivo que queremos alcançar nestas eleições. Mais votos e mais deputados que, seja em que circunstâncias for, serão transformados em acção e luta depois das eleições. Mais votos e mais deputados que serão sempre, mas sempre, um passo em frente na exigência de uma ruptura e de uma mudança, na defesa dos ideais de Abril e do regime democrático. Mais votos e mais deputados para contrariar medidas negativas e dar força a resoluções e leis favoráveis à justiça social, ao desenvolvimento económico, aos direitos dos trabalhadores e à soberania do País. Mais votos e mais deputados que contam sempre para determinar um governo de mudança capaz de responder aos gravíssimos problemas do País e de construir uma vida melhor.
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Conscientes de que a tarefa principal que temos por diante até às 19 horas do dia 27 de Setembro é a de mobilização e convencimento, um a um, para o voto na CDU, bem podemos dizer que a principal tarefa que se nos vai colocar depois das 19 horas é a da realização de uma grande campanha eleitoral para as autarquias locais, que começará ainda nessa noite e para a qual vamos novamente necessitar de todas as forças, de toda a determinação e confiança que nos trouxeram até aqui.
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in Avante 2009.09.24
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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Yorgos Seferis - Micenas


Micenas

(gentileza de Amélia Pais)

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Dá-me as tuas mãos, dá-me as tuas mãos,
dá-me as tuas mãos.

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Vi dentro da noite
o cimo agudo do monte
vi além a planície inundada
com a luz de uma lua por aparecer
vi, ao voltar a cabeça
as pedras negras contraídas
e a minha vida tensa como corda
princípio e fim
o último momento;
as minhas mãos.

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Afunda-se quem levanta as grandes pedras
estas pedras levantei-as enquanto suportei
estas pedras. O meu destino.
Ferido pelo meu solo
tiranizado pela minha túnica
condenado pelos meus próprios deuses,
estas pedras.

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Sei que não sabem, porém eu
que segui tantas vezes
o caminho do assassino ao assassinado
do assassinado à paga
da paga ao outro assassínio,
a púrpura inesgotável
aquela tarde do regresso
quando as Solenes começaram a silvar
na erva escassa —
vi as serpentes em cruz com as víboras
entretecidas sobre a linguagem má
o nosso destino.

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Vozes das pedra e do somo
mais fundas aqui onde o mundo escurece,
memória da fadiga enraizada no ritmo
Que bateu na terra com os pés
Esquecidos.
Corpos afundados nos alicerces
do outro tempo. Nus. Olhos
fixos fixos, num sinal
que por mais que queiras não distingues;
a alma
que luta por tornar-se a tua alma.

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Nem já sequer o silêncio é lei
aqui onde as mós pararam.

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Yorgos Seferis, trad. Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratisinis

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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Elizabeth Bishop - The Shampoo

The Shampoo

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The still explosions on the rocks,
the lichens, grow
by spreading, gray, concentric shocks.
They have arranged
to meet the rings around the moon, although
within our memories they have not changed.

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And since the heavens will attend
as long on us,
you've been, dear friend,
precipitate and pragmatical;
and look what happens. For Time is
nothing if not amenable.

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The shooting stars in your black hair
in bright formation
are flocking where,
so straight, so soon?
--Come, let me wash it in this big tin basin,
battered and shiny like the moon.

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Elizabeth Bishop

domingo, 20 de setembro de 2009

Poema de Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos

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Enviado por Gioconda do Porto (hi5)

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queixa das almas censuradas - Natália Correia

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Francesco Clemente Francesco Clemente

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Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

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Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

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Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

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Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

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Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

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Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

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Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

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Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

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Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

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Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

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Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

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Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

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in Dimensão Encontrada,
Antologia Poética

nescritas.com/homenagemnataliac/obranataliacorreia

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Sugerido por Flor do Deserto (hi5)

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Canção do dia imaginado - Vieira da Silva

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no sangue do sonho
força viva do cantar
vem toda a gente
que se cansou de esperar
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no fogo do vento
raiz vulcão tempestade
vêm os homens
libertar a liberdade
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na sede do gesto
garra vingança semente
vêm os vivos
fartos da morte existente
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na nova cidade
fonte alicerce embrião
ergue-se o dia
ferro pedra furacão.
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(vieira da silva)
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Enviado por Flor do Deserto (hi5)
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sábado, 19 de setembro de 2009

Vita Nuova - Dante Alighieri

Vita Nuova

(gentileza de Amélia Pais)
Tanto o amor me manteve acorrentado
e acostumado à sua serventia,
que o peso que no peito eu conhecia
hoje em leveza vejo transformado.
Porém amor, de forças renovado,
me toma o espírito e me silencia
e minh'alma em doçura delicia
e sem cores me deixa desmaiado.
Depois ele retoma seu poder
e faz com que os espíritos em bando
saiam todos, chamando
a minha dama por me socorrer.
É o que me ocorre ao vê-la e me domina
tanto, que coisa igual não se imagina
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Dante Alighieri
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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Aurora Boreal - António Gedeão

Olá Víctor, querido amigo

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Como estás? Esqueceste-te do meu aniversário? Senti falta das tuas palavras de carinho....

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E hoje, sinto-me, gedeaonamente, aurora boreal.

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Bjs Madalena

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Aurora boreal
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Tenho quarenta janelas
nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.
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Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar.
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António Gedeão
Obra Poética
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