sexta-feira, 4 de setembro de 2009

POEMA XX - Pablo Neruda

Trouxe um poema de Pablo Neruda para embelezar a tua página,
beijinhos de terna amizade!

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Enviado por Gioconda do Porto

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POEMA XX

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Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
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Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe”.
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O vento da noite gira no céu e canta.
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Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis.
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Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.
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Ela me quis, às vezes eu também a queria.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
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Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
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Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como na relva o orvalho.
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Que importa que meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
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Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.
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Como para aproximá-la meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.
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A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
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Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
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De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
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Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.
É tão curto o amor, e é tão longo o esquecimento.
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Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
minha alma não se contenta com tê-la perdido.
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Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes, os últimos versos que lhe escrevo.

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Pablo Neruda, poeta chileno (1904-1973)

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http://www.jefferson.blog.br/2008/08/poema-20-de-pablo-neruda.html

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