sábado, 31 de dezembro de 2011

Brecht para 2012, para os tempos sombrios e para os radiosos que virão se para isso lutarmos e aos sombrios dissermos NÃO



Nada é impossível de mudar

Nada é impossível mudar.
Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.


 Elogio da dialética


 A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.

No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro. Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem
falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".

Elogio do Revolucionário 

Quando aumenta a repressão,
muitos desanimam.
Mas a coragem dele aumenta.
Organiza sua luta pelo salário,pelo pão
e pela conquista do poder.
interroga a propriedade.
de onde vens?
Pergunta cada idéia:
Serves a quem?
Ali onde todos calam,ele fala.
E onde reina a opressão e se acusa o destino 
ele cita nomes.
A mesa onde ele senta
se senta a insatisfação
a comida sabe mal e a sala se torna estreita.
Aonde vai a revolta 
e de onde o expulsa
Persiste a agitação



...




Aos que virão depois de nós

I

Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?

É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)

Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.

.
(...)
.


Dois poemas para 2012



Carlos Drummond de Andrade


Receita de ano novo 




Para você ganhar belíssimo Ano Novo 

cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 

Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 

(mal vivido talvez ou sem sentido) 

para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) 



Não precisa 

fazer lista de boas intenções 

para arquivá-las na gaveta. 

Não precisa chorar arrependido 

pelas besteiras consumidas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 



Para ganhar um Ano Novo 

que mereça este nome, 

você, meu caro, tem de merecê-lo, 

tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 

mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.





Carta ao Filho - Nazim Hikmet



Carta ao filho

  

Não vivas sobre a terra como um estranho
Um turista no meio da natureza.
Habita o mundo como a casa do teu pai.
Crê na semente, na terra, no mar.
mas acima de tudo crê nas pessoas.
Ama as nuvens,
as máquinas,
os livros,
mas acima de tudo ama o homem.
Sente a tristeza do ramo que murcha,
do astro que se extingue,
do animal ferido que agoniza,
mas acima de tudo
Sente a tristeza e a dor das pessoas.
Alegra-te com todos os bens da terra,
Com a sombra e a luz,
com as quatro estações,
mas acima de tudo e a mãos cheias
alegra-te com as pessoas.



Nazim Hikmet, (1902 - 1963) c. 1960.


Traduzido do inglês por Carlos Eugênio Marcondes de Moura.


Escritor e poeta turco nascido em Salonica, Grécia, então parte do império otomano, que, perseguido por suas idéias políticas, marcou profundamente a literatura turca ao romper com a tradição islâmica e sob a influência dos futuristas russos, propôs a despoetização da poesia. Pensando seguir uma carreira militar, entrou para a academia naval de Istambul e serviu na Marinha, da qual foi expulso (1919) por atividades revolucionárias. Partiu para Moscou, onde estudou ciências políticas e sociais por cinco anos, na Universidade Comunista de Moscou. Regressou à Turquia (1924), após a proclamação da república e tornou-se conhecido com seus primeiros poemas, de cunho patriótico. Condenado (1938) pela suposta participação num complô, após ser posto em liberdade (1950) por força de uma intensa campanha internacional, radicou-se então em Moscou, onde morreu. Publicou as coletâneas 835 satir (1929) e 1 + 1 = 2 (1930), os poemas históricos Sesini kaybeden sehir (1931) e Benerci kendini niçin öldürdü? (1932), as peças para teatro Kofatos (1932) e Unutulan adam (1935) e lançou uma autobiografia em Berlim (1961).

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Antero de Quental ~ O palácio da Ventura



Picasso


Sonho que sou um cavaleiro andante. 

Por desertos, por sóis, por noite escura, 

Paladino do amor, busca anelante 
O palácio encantado da Ventura! 



Mas já desmaio, exausto e vacilante, 

Quebrada a espada já, rota a armadura... 

E eis que súbito o avisto, fulgurante 
Na sua pompa e aérea formosura! 



Com grandes golpes bato à porta e brado: 

Eu sou o Vagabundo, o Deserdado... 

Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais! 



Abrem-se as portas de ouro, com fragor... 

Mas dentro encontro só, cheio de dor, 

Silêncio e escuridão - E nada mais!


Partilhado por Jorgete Teixeira

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Myriam Zaluar ~ Carta aberta ao Senhor Primeiro Ministro


 

Aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente menos. Por Myriam Zaluar.
Exmo Senhor Primeiro Ministro,
Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim. Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome "de guerra". Basilio é o apelido pelo qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo amigos, se lembram de mim em anos mais recuados.
Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer.
Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso. Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios, desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de muito do que tinha aprendido.
Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida. Despedi-me. Conquistei outro emprego, mais uma vez sem ajudas. Trabalhei mais. Saí de casa dos meus pais. Paguei o meu primeiro carro, a minha primeira viagem, a minha primeira renda. Fiquei efectiva. Tornei-me personna non grata no meu local de trabalho. "És provavelmente aquela que melhor escreve e que mais produz aqui dentro." - disseram-me - "Mas tenho de te mandar embora porque te ris demasiado alto na redacção". Fiquei.
Aos 27 anos conheci a prateleira. Tive o meu primeiro filho. Aos 28 anos conheci o desemprego. "Não há-de ser nada, pensei. Sou jovem, tenho um bom curriculo, arranjarei trabalho num instante". Não arranjei. Aos 29 anos conheci a precariedade. Desde então nunca deixei de trabalhar mas nunca mais conheci outra coisa que não fosse a precariedade. Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa". Tinha como ordenado 'fixo' 485 euros x 7 meses por ano. Tinha iniciado um mestrado que tive depois de suspender pois foi preciso escolher entre trabalhar para pagar as contas ou para completar o curso. O meu dia, senhor primeiro ministro, só tinha 24 horas...
Cresci mais. Aos 38 anos conheci o mobbying. Conheci as insónias noites a fio. Conheci o medo do amanhã. Conheci, pela vigésima vez, a passagem de bestial a besta. Conheci o desespero. Conheci - felizmente! - também outras pessoas que partilhavam comigo a revolta. Percebi que não estava só. Percebi que a culpa não era minha. Cresci. Conheci-me melhor. Percebi que tinha valor.
Senhor primeiro-ministro, vou poupá-lo a mais pormenores sobre a minha vida. Tenho a dizer-lhe o seguinte: faço hoje 42 anos. Sou doutoranda e investigadora da Universidade do Minho. Os meus pais, que deviam estar a reformar-se, depois de uma vida dedicada à investigação, ao ensino, ao crescimento deste país e das suas filhas e netos, os meus pais, que deviam estar a comprar uma casinha na praia para conhecerem algum descanso e descontracção, continuam a trabalhar e estão a assegurar aos meus filhos aquilo que eu não posso. Material escolar. Roupa. Sapatos. Dinheiro de bolso. Lazeres. Actividades extra-escolares. Quanto a mim, tenho actualmente como ordenado fixo 405 euros X 7 meses por ano. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. A universidade na qual lecciono há 16 anos conseguiu mais uma vez reduzir-me o ordenado. Todo o trabalho que arranjo é extra e a recibos verdes. Não sou independente, senhor primeiro ministro. Sempre que tenho extras tenho de contar com apoios familiares para que os meus filhos não fiquem sozinhos em casa. Tenho uma dívida de mais de cinco anos à Segurança Social que, por sua vez, deveria ter fornecido um dossier ao Tribunal de Família e Menores há mais de três a fim que os meus filhos possam receber a pensão de alimentos a que têm direito pois sou mãe solteira. Até hoje, não o fez.
Tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: nunca fui administradora de coisa nenhuma e o salário mais elevado que auferi até hoje não chegava aos mil euros. Isto foi ainda no tempo dos escudos, na altura em que eu enchia o depósito do meu renault clio com cinco contos e ia jantar fora e acampar todos os fins-de-semana. Talvez isso fosse viver acima das minhas possibilidades. Talvez as duas viagens que fiz a Cabo-Verde e ao Brasil e que paguei com o dinheiro que ganhei com o meu trabalho tivessem sido luxos. Talvez o carro de 12 anos que conduzo e que me custou 2 mil euros a pronto pagamento seja um excesso, mas sabe, senhor primeiro-ministro, por mais que faça e refaça as contas, e por mais que a gasolina teime em aumentar, continua a sair-me mais em conta andar neste carro do que de transportes públicos. Talvez a casa que comprei e que devo ao banco tenha sido uma inconsciência mas na altura saía mais barato do que arrendar uma, sabe, senhor primeiro-ministro. Mesmo assim nunca me passou pela cabeça emigrar...
Mas hoje, senhor primeiro-ministro, hoje passa. Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor. Falo inglês melhor que o senhor. Francês então nem se fale. Não falo alemão mas duvido que o senhor fale e também não vejo, sinceramente, a utilidade de saber tal língua. Em compensação falo castelhano melhor do que o senhor. Mas como o senhor é o primeiro-ministro e dá tão bons conselhos aos seus governados, quero pedir-lhe um conselho, apesar de não ter votado em si. Agora que penso emigrar, que me aconselha a fazer em relação aos meus dois filhos, que nasceram em Portugal e têm cá todas as suas referências? Devo arrancá-los do seu país, separá-los da família, dos amigos, de tudo aquilo que conhecem e amam? E, já agora, que lhes devo dizer? Que devo responder ao meu filho de 14 anos quando me pergunta que caminho seguir nos estudos? Que vale a pena seguir os seus interesses e aptidões, como os meus pais me disseram a mim? Ou que mais vale enveredar já por outra via (já agora diga-me qual, senhor primeiro-ministro) para que não se torne também ele um excedentário no seu próprio país? Ou, ainda, que venha comigo para Angola ou para o Brasil por que ali será com certeza muito mais valorizado e feliz do que no seu país, um país que deveria dar-lhe as melhores condições para crescer pois ele é um dos seus melhores - e cada vez mais raros - valores: um ser humano em formação.
Bom, esta carta que, estou praticamente certa, o senhor não irá ler já vai longa. Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente menos. Para ser mais exacta o meu IRS do ano passado foi de 4 mil euros. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. No ano passado ganhei 4 mil euros. Deve ser das minhas baixas qualificações. Da minha preguiça. Da minha incapacidade. Do meu excedentarismo. Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara. Pode ser que os outros dois aprendam alguma coisa sobre acordos de pesca.
Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, feliz natal OU feliz ano novo à sua escolha, senhor primeiro-ministro
e como eu sou aqui sem dúvida o elo mais fraco, adeus

Myriam Zaluar, 19/12/2011

sábado, 24 de dezembro de 2011

Jornal do Vaticano diz que Tintim é um «herói católico»


Quem somos

Banda desenhada
Jornal do Vaticano diz que Tintim é um «herói católico»
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O jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano’, dedica as páginas centrais da edição de hoje e uma chamada de capa para Tintin, personagem de banda desenhada a quem a Santa Sé chama de «herói católico».
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O repórter criado em 1929 pelo belga Georges Prosper Remi (1907-1983), conhecido por Hergé, «é um cavaleiro ocidental dos tempos modernos e um coração sem mácula», defende o escritor francês Dennis Tillinac no “Dictionnaire amoreux du catholicisme”, em entrada que o jornal reproduz integralmente.
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De acordo com o autor, Tintin não é um católico que possa ser identificado como tal, uma vez que nunca reza perante a ameaça da morte e nunca aparece numa igreja.
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Apenas em duas ocasiões, escreveu o articulista, se lhe escapa um «Deus o tenha» quando é informado da morte de um vilão japonês, em “O Lótus Azul", e de dois piratas de alto mar, em “O tesouro de Rackham, o Vermelho”.


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«Apesar disso, Tintin é um herói do catolicismo, impregnado dos ideais dos escuteiros, que tiveram grande importância na formação de Hergé como demonstram as suas primeiras histórias», refere Tillinac.
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Antonio Carriero alude aos «valores profundos» do personagem, que o criador aprendeu «através de uma educação católica e do escutismo: lealdade, fraternidade, amizade e disponibilidade para os mais débeis e necessitados».
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«Tintin é um herói sobrenatural que se move em cenários realistas (…). As pessoas que lhe são próximas caem em tentações - o whisky, para o capitão Haddock, os ossos, para o cão Milu, a ciência aplicada para Girassol. Mas corrigem-se no momento certo e enchem-se de coragem».
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Tillinac considera que a personagem trazida para Portugal pelo padre Abel Varzim é o «anjo guardião dos valores cristãos que o Ocidente constantemente renega ou ridiculariza».
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O sacerdote português que conhecia Hergé e se correspondia com ele convenceu os responsáveis da revista juvenil “O Papagaio” a publicar as histórias, tornando-se Portugal, no ano de 1936, o primeiro país não francófono a reproduzir as aventuras de Tintin.
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O padre Varzim tinha estudado na Universidade de Lovaina, na Bélgica, e feito amizade com o padre Norbert Walez, diretor do diário católico “Le Vingtième Siècle”, em cujo suplemento juvenil, “Le Petit Vingtième”, foram publicadas as primeiras aventuras de Tintin.
ImagemPrimeira aventura de Tintin publicada em Portugal
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“O Papagaio” era dirigido por Adolfo Simões Müller, grande admirador de Hergé, que decidiu colorir as aventuras de Tintin sem pedir permissão ao autor, fazendo assim uma estreia mundial. Hergé não protestou e até gostou de ver os seus desenhos coloridos, criticando apenas a paginação, que tinha sido remontada.



Diário de Notícias / SNPC

© SNPC | 08.11.11 
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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Mia Couto ~ A demora




Dia 30
22-12-2011


A Demora 


O amor nos condena:
demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.

Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.

Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.

Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.

Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.

O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.



Mia Couto, in " idades cidades divindades"



Fotografia do filme "Como Água para Chocolate

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

António Ramos Rosa ~ É por ti que vivo




Amo o teu túmido candor de astro 
a tua pura integridade delicada 
a tua permanente adolescência de segredo 
a tua fragilidade acesa sempre altiva 

Por ti eu sou a leve segurança 
de um peito que pulsa e canta a sua chama 
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro 
ou à chuva das tuas pétalas de prata 

Se guardo algum tesouro não o prendo 
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto 
que dure e flua nas tuas veias lentas 
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar 

Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva 
para que sintas a verde frescura 
de um pomar de brancas cortesias 
porque é por ti que vivo é por ti que nasço 
porque amo o ouro vivo do teu rosto 

António Ramos Rosa, in 'O Teu Rosto'

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Cantigas de Amigo

Especial para a Gaivotinha .
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Enviado por em 04/11/2008
Amores eu tenho - Amália Rodrigues e Natália Correia


- Responde, filha, formosa filha,
porque tardaste na fonte fria?
Amores eu tenho!
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Filha, formosa filha, responde:
porque tardaste na fria fonte
Amores eu tenho!
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-Tardei, minha mãe, na fonte fria, 
cervos do monte a água volviam. 
Amores eu tenho!
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Tardei, minha mãe, na fria fonte; 
volviam a água cervos do monte. 
Amores eu tenho!
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-Que escondes,filha,por teu amigo? 

cervos do monte não volvem o rio. 
Amores eu tenho!
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Por teu amado, filha, que escondes?

o mar não volvem cervos do monte. 
Amores eu tenho!
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Enviado por em 19/01/201
AMÁLIA canta " Lá vão as Flôres " do album " CANTIGAS D´AMIGOS "

45-Amália. Cantiga de amigo. música de Alain Oulman
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Enviado por em 10/12/2010
José Carlos Ary dos Santos e Amália Rodrigues cantam, do álbum Cantigas de Amigos, a música medieval Vim Esperar o Meu Amigo, Cantiga de Amigo (Tenção) de Bernaldo de Bonaval.
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- Ai, formosinha se me escutais, longe da vila, que procurais?
- Vim esperar o meu amigo.

- Ai, formosinha, se me atendeis,
longe da vila, o que fazeis?
- Vim esperar o meu amigo.

- Longe da vila que procurais?
- Sabei-o, já que o perguntais:
Vim esperar o meu amigo.

- Longe da vila o que fazeis?
- Sabei-o, já que o não sabeis:
Vim esperar o meu amigo.

(Adaptado de uma cantiga medieval, por Natália Correia em 1970)
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Enviado por em 21/01/2009
Poema medieval e música de Alain Oulman, 
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Enviado por em 28/05/2008
Consta-se que José Carlos Ary dos Santos, escreveu este Poema em louvor ao Soldado que partia para o Ultramar Português em missão de Serviço. Amália canta divinamente e para mais com música de Alain Oulman. 
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1973 - Luís Cília - "Cantiga de amigo"


Enviado por em 13/02/2009

Poema arrebatador de José Carlos Ary dos Santos, que canta a dor da ausência. 
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Filipa Pais - Cantiga de Amigo


Enviado por em 22/10/2010

2003 A Porta do Mundo
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Enviado por em 11/08/2010
Cantiga de Amor de Don Denís, Cantiga de mestría
(Pergamino Sharrer)


Os diré, con tristeza, lo que nunca pensé
que os diría, señora,
porque veo que por vos muero,
porque sabéis que nunca os hablé
de cómo me mataba vuestro amor:
porque sabéis bien que de otra señora
yo no sentía ni siento temor.


Todo esto me hizo sentir
el temor que de vos tengo,
y desde ahí por vos dar a entender
que por otra moriría, de ella tengo,
sabéis bien, algo de temor;
y desde hoy, hermosa señora mía,
si me matáis, bien me lo habré buscado.


Y creed que tendré gusto
de que me matéis, pues yo sé con certeza
que en el poco tiempo que he de vivir,
ningún placer obtendré;
y porque estoy seguro de esto,
si me quisierais dar muerte, señora,
por gran misericordia os lo tendré.
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Enviado por em 23/07/2011
Dom Dinis ("Dionisio I de Portugal" Lisboa, 1261 - Santarém, 1325)


Intérpretes: Paulina Ceremuzynska




Amigo, queredes vos ir?
Si, mia senhor, ca nom poss'al
fazer, ca seria meu mal
e vosso; por end'a partir
mi convem d'aqueste logar;
mais que gram coita d'endurar
me será, pois m'é sem vós vir!


Amigu', e de mim que será?
Bem, senhor bõa e de prez;
e pois m'eu fôr daquesta vez,
o vosso mui bem se passará;
mais morte m'é de m'alongar
de vós e ir-m'alhur morar.
Mais pois é vós ũa vez ja!


Amigu', eu sem vós morrerei.
Nom o queirades esso, senhor,
mais pois u vós fôrdes, nom fôr
o que morrerá, eu serei;
mais quer'eu ant'o meu passar
ca assi do voss'aventurar,
ca eu sem vós de morrer hei!


Queredes-m', amigo, matar?
Nom, mia senhor, mais por guardar
vós, mato-mi que m'o busquei.
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Ondas do mar de Vigo - Xoán Eiriz


Enviado por em 13/08/2010

Letra: Martín Codax
Música: Xosé Manuel Lueiro