sábado, 18 de agosto de 2012

Andrew Miller - "A Cidade Impura"


O mundo literário desde os Clássicos até ao Actual!
SINOPSE:
Paris, 1785, uma cidade em vésperas de revolução. Jean-Baptiste Baratte, um engenheiro de origens humildes, é incumbido pelo ministro do rei de supervisionar a demolição do cemitério Les Innocents. Há décadas que o velho cemitério já não consegue conter os seus mortos e que a sua atmosfera de decadência contamina o ar e a vida dos habitantes vizinhos. Mas o jovem engenheiro vai muito em breve descobrir que nem toda a gente está satisfeita com a sua empreitada. Será um ano de trabalho árduo, de sobressaltos, mas também de grandes ideais, de amizade e amor.

Para mim, o grande trunfo deste livro é a atmosfera que o autor conseguiu criar. Com descrições excelentes e pormenores interessantes, as palavras do autor levam-nos a sentir uma cidade viva, misturando cenários muito belos com outros ainda mais sombrios. A escrita do autor encaixa muito bem neste conceito, levando o leitor a saltar entre a Paris divinal e a podre e suja. A narrativa desta obra é muito apelativa, tornando a leitura em algo agradável desde o primeiro capítulo, sem nunca sentir esforço em prosseguir. A acção começa lenta, e demorei algum tempo a ficar "agarrado" ao livro, mas a escrita do autor ajudou-me a passar este problema com facilidade, principalmente porque existe, na minha opinião, um excelente equilíbrio entre descrições e diálogos, dando ao livro um ritmo constante na grande maioria das suas páginas. 

Baratte, a personagem principal, está bem conseguida mas a história ganha muito com a inclusão de várias personagens secundárias, que não só tornam a obra mais consistente, mas essencialmente mais realista. Existiram algumas personagens que apreciei bastante e só tenho pena que o autor não as tenhas explorado mais, talvez recorrendo mais ao passado das mesmas, para ajudar a sustentar melhor as suas decisões. Esta sensação é mais forte no meu caso, podendo não ser notada por outro leitor, porque essencialmente apreciei algumas personagens que são muito pouco relevantes para a história, e como tal pouco desenvolvidas.

Esta leitura é uma mistura de opostos, o que me surpreendeu. Por vezes Miller usa uma escrita bela, enaltecendo as virtudes e os feitos do homem, outras vezes é sombrio (com descrições fantásticas nestes momentos). Por vezes a leitura é excitante, por vezes é enevoada, quase sonolenta; por vezes é alegre, por vezes é depressiva. E se em alguns casos a lógica reina, noutros a superstição comanda as personagens. Toda esta mistura torna, no meu entender, o livro mais apelativo, porque existe sempre uma sensação de inquietude e de querer ser surpreendido. E acreditem, há momentos em que o autor nos consegue mesmo surpreender.

Este é um livro, que inevitavelmente nos mostra como por vezes uma pessoa é obrigada a mentalizar-se sobre o bem das suas acções, enquanto outras não conseguem parar, cegas por uma mentalidade incapaz de questionar o que os rodeia. Talvez, no fim, todos queiram apenas  ser felizes à sua maneira, com superstições, crenças, preconceitos, limitações culturais, ou simplesmente a serem felizes com a tristeza dos outros.

Mesmo tendo consciência que este livro não agradará a todos os leitores, esta obra é realmente muito boa. Os poucos pontos que posso apontar de forma negativa são o facto de desejar que algumas personagens fossem mais exploradas, e talvez uma intriga política mais visível e marcante. Existiu também um ou outro pormenor que achei forçado. Mas sinceramente, nada disto tira qualidade a esta obra. Gostei principalmente da forma do autor escrever, o que me faz querer olhar para as suas restantes obras. Se acharem a sinopse interessante, então este livro não vos irá desiludir.

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