domingo, 5 de agosto de 2012

Poesia em Modus Vivendi


* V.G.


As Palavras


Disse, num dia de grande e fecunda inspiração,
Um grande e admirável senhor, dado às letras
(certamente conceito e postura vindos diretos
do seu coração),
Que as palavras são, por vezes, bonitos cristais
E outras vezes afiados e cruéis punhais
O que, em boa da verdade,
Ele bem soube o que disse, não foram tretas….
São preciosas quando, relâmpagos de beleza,
Significam verdade, pureza, inocência,
E não naufrágio, despudor ou aparência
Nem inverdades ditas com inconsequente leveza.
São como dores fundas e indizíveis, as palavras
Quando, mágicas, desvendam ambiguidades
(Talvez reveladoras de certas necessidades),
E transformam amizades boas em outra coisa
Qualquer.


As palavras têm poder e temperatura interna
Têm corpo e podem cegar qualquer um
Não só eu ou tu, mas outro mortal comum
Mesmo quando ditas ainda em ventre materno…
Muitas vezes podem salvar, proteger ou, sensuais,
Prender o ingénuo amante nas teias do amor
(mal sabe ele as suas futuras penas de dor….)
E podem também dar cor e luz à vida e ao mais.
Há palavras que doem, como mentiras que me
Pregam
E palavras que aliviam, como mães que nos
Embalam
São quimeras, castelos e dragões imaginados,
As palavras, quando me abraçam e quero acreditar
Porém tenebrosas, quando me devassam e reduzem
A nada…
Ou quase nada.


É na inegável síncope da noite 
E na metáfora indecifrável da vida
Que as palavras tomam corpo 
E transformam o que supostamente se tem 
Naquilo que se tem que ter.
São sonâmbulas, como algozes, as palavras
E reinam entre as trevas e os montes desertos
Da nossa imaginação,
Onde o limbo e a quase consciência
Tomam conta dos nossos sonhos mais secretos.
As palavras são fascinantes e fortes mistérios
Com poderes absolutos - e mais sérios
Do que se pensa…
Quem mente, com palavras, sobre o que é
Cai no primeiro degrau da sua consciência.
Difícil o enleio, já que aqui não há ciência,
No mastigar verdades com certeza e boa-fé.


Mas nem sempre serão as palavras que me dirão
Aquilo que quero ver…
Serão sempre os meus olhos que verão
Aquilo que não existe.








Outras Palavras



No entanto
Há palavras que os encantam
Na certeza
De haver beleza
No seu reflexo
E nos seus sentidos
Muitas vezes difusos,
Pois, esquecendo as mágoas,
E deixando correr as águas,
São sinfonia,
Constelações,
Muitas delas, alegria
E outras, canções.
Milagres, é o que fazem,
Também, as palavras

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