8 de março de 2016 - 17h29
Pernambucana de Bodocó, Cida Pedrosa é uma poeta ousada. Urariano Mota a definiu, certa vez, como uma escritora em que se misturam três pês: poesia, política e partido. Desde o tempo, na década de 1970, quando se mudou para Recife. Na capital pernambucana, aperfeiçoou o gosto pela leitura e pela escrita, que trazia desde a infância. E descobriu o marxismo, a militância de esquerda e o Partido Comunista do Brasil – juntando assim os três pês que marcariam sua vida.
Na política, além de militante comunista, é Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Prefeitura do Recife. No partido, é membro da direção estadual do PCdoB em Pernambuco. Na poesia, escreveu vários livros, comoRestos do Fim, O Cavaleiro da Epifania, Cântaro, Gume, As Filhas de Lilith e Claranã. É também uma das editoras do portal Interpoética. Para esta edição especial do Dia da Mulher, Prosa, Poesia e Arteselecionou alguns de seus poemas.
Leia na íntegra:
angélica
o pênis de angélica
era de plástico
passou a vida a esfregar-se no espelho
eis a sina
mulher ou homem
injusto desígnio
para quem precisa-se
inteiro por dentre as coxas
voz rouca sob os lençóis
desejo de iguais
porra
bocetas também são objetos de encaixe
De As filhas de Lilith
tereza
mãos enormes
as de geraldo
tão grandes que não cabem
no corpo magro de tereza
quando se casaram
tinham planos de comprar uma casa
de varanda
e passar uma semana em bariloche
neste tempo
os peitos de tereza
cabiam inteiros nas mãos de geraldo
mãos enormes
as de geraldo
tão grandes que se espremem nas algemas
e não podem mais acenar para tereza
que nesta hora é conduzida
no carro do IML
para exame de corpo de delito
sob suspeita de estrangulamento
De As filhas de Lilith
milena
gosto quando milena fala
dos homens
que comeu durante a noite
é a única voz soante
nesta cantina de repartição
onde todos contam:
do filho drogado do preço do pão
do sapato carmim, exposto na vitrine
da rua sicrano de tal do bairro
de casa amarela
onde você pode comprar
e começar a pagar apenas em abril
sem a voz de milena
o café desce amargo
De Gume
rainha dos degredados
salve-me rainha
a vida não é doce
nem misericordiosa
hoje só tem panela
e um pouco de maçunim
o marido se foi para as bandas
do beberibe e vende caranguejo
na feira de peixinhos
salve-me rainha
antes que os de eva morram
sem direito a maçãs ou coisa assim
o gás acabou
os jambeiros do cemitério de santo amaro
desde ontem não safrejam
e minha filha menstruada
não pode freqüentar o ponto hoje à noite
salve-me rainha
desterre
esta vontade de incendiar a vida
e a dor que assola as mãos
De Gume
Do Portal Vermelho
http://www.vermelho.org.br/noticia/277345-11
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