segunda-feira, 21 de outubro de 2013

o domingo ... e o circo

* Victor Nogueira

Ah! O circo da minha infância, dos palhaços, sobretudo o "pobre", e das meninas contorcionistas (estive em menino apaixonado por duas delas, louras), dos/as trapezistas, com ou sem rede, e dos cavalos circundando o redondel. Hoje, hoje os circos são pobres, desfalcados, homens e mulheres de lantejoulas debotadas e dos sete-ofícios pk a crise é grande ! 

Mas naquele tempo eu queria seguir com o circo a percorrer o mundo. Ilusões, porque é dura a vida do circo, tanto mais quanto mais pobre ele for !  (2012.07.17)



 Em 5 de Abril de 1971 escrevia eu: "Sábado fui com o Jorge ao cinema, ver um filme de desenhos animados com o Asterix. Pois bem, o miúdo pulava e ria-se, enfim, era um espectáculo. Gosto dele, só tenho pena ... que não estude. Tem-me oferecido rebuçados, uma daquelas bolinhas de plástico que saltam muito e até me chegou a pagar o jornal ! Há dias aparece- nos no café [Arcada] todo eufórico. Tinha ganho algum dinheiro e então comprou um cinto com uma espada de plástico, postais, maçãs e ... um copo. Enquanto não mostrou a espada a toda a malta sua conhecida não descansou. Queria também que aceitássemos as maçãs dele e os postais. Quem não gosta da brincadeira é a D.Vitória [Prates, minha hospedeira na Rua do Raimundo]  Um novo desenho existe no meu quarto, mas esse foi oferta dum outro miúdo, o Carlos  (MCG - 1971.04.05)

 Nas minhas deambulações de hoje encontrei a Lídia e o Jorge.  Este andava à procura de dez tostões para o cinema - eu fiz que não percebi a indirecta; informou-me que esteve em Beja a trabalhar no circo e à minha observação sobre a sua magreza retorquiu "É da fome que passo." (e que não está em mim remediar) (MCG - 1972.02.23)

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O Grande Circo Místico é um espetáculo musical brasileiro apresentado em 1983.
Criado originalmente para o Balé Teatro Guaíra, e inspirado no poema homônimo do parnasianista/modernista Jorge de Lima (da obra A Túnica Inconsútil1938), o espetáculo foi preparado durante todo o ano de 1982 e estreou em 17 de março de 1983 mesclando músicabaléóperacircoteatro  e poesia1 2
Tamanho o sucesso, originou uma turnê de dois anos pelo país, assistida por mais de 200 mil pessoas, em quase 200 apresentações. Consagrou umas das mais completas obras já apresentadas no país, lotando o Maracanãzinho e o Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
trilha sonora foi musicada pela dupla Chico Buarque e Edu Lobo e conta a história do grande amor entre um aristocrata e uma acrobata e a saga da família austríaca proprietária do Grande Circo Knieps, que vagava pelo mundo nas primeiras décadas do século.
Referências


VALSA DOS CLOWNS

Em toda canção
O palhaço é um charlatão
Esparrama tanta gargalhada
Da boca pra fora
Dizem que seu coração pintado
Toda tarde de domingo chora
Abra o coração
Do palhaço da canção
Eis que salta outro farrapo humano
E morre na coxia
Dentro de seu coração de pano
Um palhaço alegre se anuncia
A nova atração
Tem um jovem coração
Que apertado por estreito laço
Amanhece partido
Dentro dele sai mais um palhaço
Que é um palhaço com o olhar caído
E esse charlatão
Vai cantar sua canção
Que comove toda a arquibancada
Com tanta agonia
Dentro dele um coração folgado
Cantarola uma outra melodia

Ver os poemas em

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* José Régio

CIRCO
No circo cheio de luz
Há tanto que ver!...
"Senhores!"
-Grita o palhaço da entrada,
Todo listrado de cores-
"Entrai, que não custa nada!
À saída é que se paga..."
..................................
O palhaço entrou em cena,
Ri, cabriola, rebola,
Pega fogo á multidão.
Ri, palhaço!
Corpo de borracha e aço
Rebola como uma bola,
Tem dentro não sei que mola
Que pincha, emperra, uiva, guincha,
Zune, faz rir!
.....................................

     José Régio, As Encruzilhadas de Deus

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* José Saramago

CIRCO

Poeta não é gente, é bicho coiso
Que da jaula ou gaiola vadiou
E anda pelo mundo às cambalhotas,
Recordadas do circo que inventou.

Estende no chão a capa que o destapa,
Faz do peito tambor, e rufa, salta,
É urso bailarino, mono sábio,
Ave torta de bico e pernalta.

Ao fim toca a charanga do poema,
Caixa, fagote, notas arranhadas,
E porque bicho é, bicho lá fica,
A cantar às estrelas apagadas.

In “Os Poemas Possíveis”
Editorial Caminho

José Saramago
1922 – 2010

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* Cruz e Sousa


Acrobata da Dor

Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.


Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...


Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...


E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.



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* Aldir Mendes / João Bosco 

O Bêbado e o Equilibrista


Caía a tarde feito um viaduto


E um bêbado trajando luto

Me lembrou Carlitos...


A lua


Tal qual a dona do bordel

Pedia a cada estrela fria

Um brilho de aluguel


E nuvens!


Lá no mata-borrão do céu

Chupavam manchas torturadas

Que sufoco!

Louco!

O bêbado com chapéu-coco

Fazia irreverências mil

Prá noite do Brasil.

Meu Brasil!...


Que sonha com a volta


Do irmão do Henfil.

Com tanta gente que partiu

Num rabo de foguete

Chora!

A nossa Pátria

Mãe gentil

Choram Marias

E Clarisses
No solo do Brasil...


Mas sei, que uma dor


Assim pungente

Não há de ser inutilmente

A esperança...


Dança na corda bamba


De sombrinha

E em cada passo

Dessa linha

Pode se machucar...


Azar!


A esperança equilibrista

Sabe que o show

De todo artista

Tem que continuar..

Nota - A composição tornou-se um hino contra a ditadura brasileira
https://www.youtube.com/watch?v=6kVBqefGcf4

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* Raúl Brandão


A Morte do Palhaço


"(...) A Morte do Palhaço se subdivide em cinco capítulos, que podem ser lidos 

também isoladamente como contos: I- A casa de hóspedes, que apresenta o Palhaço, 
suas péssimas condições de vida, seu medo de se expressar e de viver a realidade, que o 
deprime, como deprime também K.; II- Halwain, sobre um colega de trabalho do 
Palhaço, um solitário Clown; III- Camélia, outra artista do circo, amada e idealizada 
pelo Palhaço; IV- Sonho e Realidade, sobre o amor incorrespondido do Palhaço, vivido 
apenas em sonhos; e V- A última farsa, que narra o suicídio do Palhaço. (...)

http://sobreomedo.files.wordpress.com/2013/07/26072013.pdf


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 * Antero de Quental

No Circo


(A João de Deus)




Muito longe d'aqui, nem eu sei quando,

Nem onde era esse mundo, em que eu vivia...

Mas tão longe... que até dizer podia

Que enquanto lá andei, andei sonhando...



Porque era tudo ali aéreo e brando,

E lúcida a existência amanhecia...
E eu... leve como a luz... até que um dia
Um vento me tomou, e vim rolando...

Caí e achei-me, de repente, involto
Em luta bestial, na arena fera,
Onde um bruto furor bramia solto.

Senti um monstro em mim nascer n'essa hora,
E achei-me de improviso feito fera...
— É assim que rujo entre leões agora!

Antero de Quental, in "Sonetos"

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* Horacio Ferrer

Soy un circo
Tango 1980
Música: Héctor Stamponi
(Dicho)
- Damas y caballeros... ¡Música, maestro!
Soy un payaso que no pintó Picasso
y Sarrasani y el Gran Thiany ¡jamás vieron!
No tengo traje de volados, ni rataplán ni galerita
ni botonazos de fulgurante ni regadera.
Sé sólo un chiste mediocre
y mejor no lo supiera: mi vida. ¡Jú, jú, jú!
Soy un payaso y si hace falta
soy el oso, el tony, el pony,
el acomodador, el director de pista,
el dentista del elefante y el tragafuegos.
¿Por qué soy un circo entero?
Porque vos estás tan triste,
amigo del alma. Oí...

(Cantado)
Soy un circo, hermano mío, soy un circo,
secá tu llanto en la melena del león,
después vestite con mi frac de pajaritos
que el Quijote y Buster Keaton
nos esperan en el hall.

En mi circo todo está color relincho,
colgá en los cuernos de la luna tu rencor,
si un gran bolsillo de payaso es el destino
vos entrá, que yo te pinto
de aspirina el machucón.

También la ternura de un bello fracaso
redime en la tragedia griega de vivir.
Como un revolcón de fiera rota
sufre aquel que más amó
y lo revive el propio amor ¡para insistir!

Qué serio me puse, ¡payaso y plomazo!
Se encienden las luces, vení por aquí,
que ya están sentados nuestros invitados
mientras la bandita los recibe así.

(Dicho)
En aquel palco con pinta fina
pero un poco presumidos,
distingo a tus perdones,
¿usan cornetillas para sordos, no es cierto?,
porque perdonan, pero no olvidan.
Veo a tu soledad en la platea.
Tus culpas no han llegado ¿o no tenés?
Y acaban de llenar los tablones de la popular
tus buenos recuerdos, tus lindos amores,
tal vez les des mejores ubicaciones
para las próximas funciones. Tal vez.

(Cantado)
Soy un circo, hermano mío, soy un circo,
se va la noche con su capa de satén
sembrando un mágico alboroto de cariños
al notar que has sonreído
con un poco de niñez.

Y, al final, cuando mi circo esté vacío
la muerte hará su viejo número sin red,
vos temblarás por el milagro de estar vivo,
con el alma en equilibrio
sobre un lirio de papel.

(Dicho)
Y ahora que estás de esperanza
y arriba del trapecio danza
la aurora niña,
¡nada por aquí, nada por allá!

(Cantado)
De pito y voltereta
mi circo ya se va,
con sueños de poeta
y el canto fraternal.

(Dicho)
Adiós, adiós, hermano mío,
adiós, mi circo ya se va,
mi circo ya se va.
Mi circo ¡ya se fue!http://www.todotango.com/Spanish/las_obras/Tema.aspx?id=ljkia1hHaX8=


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* José Barata Moura

Fungágá da bicharada

03 Palhafonço


REFRÃO
Sou Palhafonço,
O palhaço mais amigalhaço
Que há desde o Terreiro do Paço
Até Vila Franca de Troca o Passo!
Tenho um chapéu engraçado
Sem fundo e com uma flor,
E quando chove um bocado
Nem é preciso regador!

REFRÃO

Tenho uma barba que pica
E um nariz abatatado
Que, como sou do Benfica,
Até já está encarnado!

REFRÃO

Tenho um casaco grandinho,
Um casaco casacão
Que é para caber, com jeitinho,
Eu e mais o meu irmão!

REFRÃO

Tenho umas calças pantalonas
Que me dão um trabalho
Como são muito grandalhonas
Às vezes caem no chão!

REFRÃO
Tenho um sapatinho fino
Que vai daqui até ali;
Parece mesmo um submarino
Ou que ando sempre de esqui!

REFRÃO


21 - As Desventuras De Patolas Patatchim O Pato Equilibrista

REFRÃO
Patolas Patatchim,
O pato equilibrista,
Zás, catrapuz, pim!
- deu um trambolhão na pista.

Patolas é nome próprio,
Patachim é apelido;
E vão ver nesta cantiga,
O que eu tenho sofrido.
O que eu tenho sofrido,
O que eu tenho passado:
Quero ser um pato equilibrista
E sou um pato desastrado.

REFRÃO

Deram-me uma caixa e um prato
Para equilibrar no bico.
Dei duas voltas e zás:
Ficou tudo num fanico.
Ficou tudo num fanico
E nada se aproveitou.
Só faço coisas destas:
Mas qu'equilibrista que eu sou





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* Fernando  Pessoa

A Fada das Crianças 


Do seu longínquo reino cor-de-rosa, 

Voando pela noite silenciosa, 
A fada das crianças, vem, luzindo. 
Papoulas a coroam, e, cobrindo 
Seu corpo todo, a tornam misteriosa. 

À criança que dorme chega leve, 

E, pondo-lhe na fronte a mão de neve, 
Os seus cabelos de ouro acaricia — 
E sonhos lindos, como ninguém teve, 
A sentir a criança principia. 

E todos os brinquedos se transformam 

Em coisas vivas, e um cortejo formam: 
Cavalos e soldados e bonecas, 
Ursos e pretos, que vêm, vão e tornam, 
E palhaços que tocam em rabecas… 

E há figuras pequenas e engraçadas 

Que brincam e dão saltos e passadas… 
Mas vem o dia, e, leve e graciosa, 
Pé ante pé, volta a melhor das fadas 
Ao seu longínquo reino cor-de-rosa. 


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* João Cabral de Melo Nerto

O palhaço do circo sem futuro  (ou A Trajetória da Terra)

Cordel Do Fogo Encantado

Sou palhaço do circo sem futuro
Um sorriso pintado a noite inteira
O cinema do fogo
Numa tarde embalada de poeira
Circo pegando fogo
Palhaçada
Circo pegando fogo
E a lona rasgada no alto
No globo os artistas da morte
E essa tragédia que é viver
E essa tragédia
Tanto amor que fere e cansa



aqui - alinhamento das músicas

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Lembranças do circo 



Isso mesmo! Quem não tem saudades do circo?
Quem não guarda, lá dentro,
no mais profundo da alma,
uma saudade menina
da primeira alegria no circo?
Quem não se lembra do primeiro velho palhaço,
roupas coloridas, frouxonas, cheias de longos babados,
espicha-encolhe, querendo cair toda hora?
Quem não se recorda do palhaço mais novo
fazendo negaças, pisca-piscando,
equilibrando como um joão-bobo,
piruetando em volta de si mesmo,
triste e alegre ao mesmo tempo?
Quem não conserva a visão das moças bonitas,
dos meninos e rapagões bem alimentados,
do forte e grisalho dono do circo,
de um domador vestido de preto lamê,
todos a sustentarem com força o equilíbrio do mundo?
Quem não se lembra?
Todos nós temos um universo de lembranças
de um novo ou de um velho circo,
dependendo de onde nasceu
e de onde viveu os primeiros anos de vida,
em cidade pequena o cidade grande.
Em nossas lembranças haverá sempre um circo.
circo pobrezinho de chão de poeira,
de lona furada, sem cores,
de leões já velhos, sem dentes,
de bicicletinhas para equilíbrio,
ou então de uma visão de brilho,
de rico luxo, de madrepérolas,
Com mágicos importantes a criar
mil fantasias de coelhos e bandeiras,
Como eram lindas as moças vendendo saúde,
os meninos louros voando em trapézios,
tudo mais que um sonho acordado!
Sempre guardaremos a lírica de boas lembranças,
a saudade gostosa do primeiro encontro com o circo,
jamais desfeita de nossa memória e de nosso coração…
Nada há mais delicioso que o primeiro espetáculo de circo…
Nada mais!...


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* António Torrado / Maria Alberta Menéres

Hoje Há  Palhaços

António Torrado escreveu o Hoje há Palhaços em 1977. Algum anos depois a série continuou com este Hoje Também há Palhaços. No Público não foi preciso esperar anos, em 2 dias seguidos homenageou-se, de forma perfeita, o grande autor infantil e com a enorme vantagem do segundo volume ser ainda mais hilariante que o primeiro. Textos delirantes fazem maravilhas pelo humor, especialmente ao acordar.


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* Matilde Rosa Araújo

O Palhaço Verde 

« – Ih! que lindo! – disse o palhaço. – Parece um campo de flores!
Que importa ter só aquela cama de chita se para o Palhaço ela era mesmo um campo de flores?»
Digo o mesmo, que importa a nossa vida acontecer com problemas se conseguirmos um campo de flores para a nossa existência?
A coragem de assumir quem se é, de fazer actuar aquilo que cá fundo sabemos ser o nosso caminho – contra tudo e todos. Não dobrar, assumindo os riscos, mesmo que o carinho falte, que o pão falte. Se esse carinho faltar: melhor; porque a carinhos desses mais vale o acenar de adeus. Se o pão faltar, rezemos para que sejamos retribuídos com as alegrias que merecemos ao sermos corajosos. Essas alegrias surgem com frequência, para que possamos enganar a fome.
Somos quem somos, e assumindo o nosso rumo encontramos as forças necessárias. Caso contrário: Cobarde, sê bem-vindo ao inferno! Porque é o inferno que te receberá.
Matilde Rosa Araújo descreve em todas as suas obras o bom caminho, o único repleto de sinceridade. E o bom rumo que tantas vezes nos impõem não é caminho para Matilde. Atentemos à obra da escritora (ao sentido da literatura) e sejamos Homens. Humanos.
Caso isso, Palhaços!  Porém,  corajosos.

http://asaudedoslivros.wordpress.com/2010/07/22/o-palhaco-verde-de-matilde-rosa-araujo/


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* Cândido Portinari



O Menino e o Povoado [Sentia-me feliz quando chegava um circo]

Sentia-me feliz quando chegava um circo.
Vinha de terras estranhas.
Todo o meu pensamento se ocupava dele.
O palhaço, montando um burro velho, fazia
Reclame com a meninada acompanhando.
Eu assistia ao espetáculo e apaixonava-me pelas
Acrobatas de dez a quinze anos. Fazia
Planos para fugir com elas. Nunca lhes falei.
Por elas tudo em mim palpitava.
Minha fantasia.
Voltando à vida real, entristecia-me. Não era eu
Um príncipe? Nada disso. Roupas baratas,
Pobreza... Até as flores lá de casa pareciam
Murchas e sem perfume. Só nos achávamos
Bem rondando o circo. Quando partia para outra
Localidade, eu sentia tanta tristeza, chegava ao desespero,
Chorava silenciosamente; desolado ia ver o trem
Passar na direção onde estavam as acrobatas.
Talvez pensassem em mim
O trem seria meu emissário.
Nos encontraríamos mais
Tarde... O tempo deixava pequena lembrança
Até a chegada de outro circo...

 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/sao_paulo/candido_portinari.html

O Maravilhoso Mundo do Circo


* Fabrini


http://bibliocolors.blogspot.pt/2013/06/entrem-al-meravellos-mon-del-circ.html


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* Sofia de Melo Breyner

SALTIMBANCOS

Acenderam a luz dentro da casa
E as árvores tomaram vida humana.

Passado o muro, para além dos campos,
Ressoou o tambor dos saltimbancos.

Corpo de escamas como o de um peixe
Nas águas da noite cheias de correntes

Tem dois búzios do mar sobre os ouvidos
Ouve, só para si, uma canção.

(in Sophia de Mello Breyner Andresen, Obre Poética I, Caminho) 

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* Fernando Pessoa

Acordar

Fernando Pessoa
( Álvaro de campos )

Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da Rua do Ouro,
Acordar do Rocio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.
Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo.
Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne,
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste,
Seja
A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas...
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara...
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Siringe fugindo aos braços estendidos de Pã,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.
Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.
Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.
Dá-me lírios, lírios
E rosas também.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também,
Crisântemos, dálias,
Violetas, e os girassóis
Acima de todas as flores...
Deita-me as mancheias,
Por cima da alma,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...
Meu coração chora
Na sombra dos parques,
Não tem quem o console
Verdadeiramente,
Exceto a própria sombra dos parques
Entrando-me na alma,
Através do pranto.
Dá-me rosas, rosas,
E llrios também...
Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó.
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte da praia onde o mar não chega.
Chego às janelas
Dos palác ios arruinados
E cismo de dentro para fora
Para me consolar do presente.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...
Mas por mais rosas e lírios que me dês,
Eu nunca acharei que a vida é bastante.
Faltar-me-á sempre qualquer coisa,
Sobrar-me-á sempre de que desejar,
Como um palco deserto.
Por isso, não te importes com o que eu penso, 
E muito embora o que eu te peça 
Te pareça que não quer dizer nada, 
Minha pobre criança tísica, 
Dá-me das tuas rosas e dos teus lírios, 
Dá-me rosas, rosas, 
E lírios também.

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*  Mário Quintana

 Eu faço versos como os saltimbancos


Eu faço versos como os saltimbancos
Desconjuntam os ossos doloridos.
A entrada é livre para os conhecidos...
Sentai, Amadas, nos primeiros bancos!

Vão começar as convulsões e arrancos
Sobre os velhos tapetes estendidos...
Olhai o coração que entre gemidos
Giro na ponta dos meus dedos brancos!

"Meu Deus! Mas tu não mudas o programa!"
Protesta a clara voz das Bem Amadas,
"Que tédio!" o coro dos Amigos clama.

"Mas que vos dar de novo e de imprevisto?"
Digo... e reforço as pobres mãos cansadas:
"Eu sei chorar... Eu sei sofrer... Só isto!"



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Os Saltimbancos

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Os Saltimbancos é um musical infantil com letras de Sergio Bardotti e música de Luis Enríquez Bacalov, com versão em português e músicas adicionais de Chico Buarque.

Fontes[editar]

O musical foi inspirado no conto Os Músicos de Bremen recolhido pelos Irmãos Grimm e adaptado por Sergio Bardotti como uma alegoria política, na qual o Burro representaria a Intelligentsia; a galinha, a classe operária; o cachorro, os militares e a gata os artistas. O barão, inimigo dos animais, é a personificação da elite, ou dos "detentores do meio de produção".

Teatro[editar]

O espetáculo teve uma montagem magnifica e histórica no teatro Canecão, no Rio de Janeiro em 1977 e teve como elenco de estréia Marieta Severo, (a gata), Miúcha, (a galinha), Pedro Paulo Rangel (o cachorro) e Grande Otelo (o burro). Faziam parte do coro infantil Bebel Gilberto, filha de João Gilberto eMiúcha, Isabel Diegues, filha de Nara Leão (que interpretou a gata no disco) e Cacá Diegues e, ainda, Sílvia Buarque, filha de Marieta Severo e Chico Buarque. No LPMiúcha interpretou a Galinha, Nara Leão a Gata e Magro e Ruy do MPB4 fizeram as vozes do Jumento e do Cachorro.1 Outra montagem ocorreu em 92, também com grande sucesso, com Nizo Neto (O Jumento), Maria Lúcia Priolli (A Gata), Ruben Gabira (O Cachorro) e Suely Franco(Depois Andréa Veiga) (A Galinha). Em São Paulo a última produção ocorreu em 1992, sendo remontada apenas em 2006
Em Janeiro de 2010 estreou no Rio de Janeiro, no teatro Oi Casa Grande, a mais recente montagem do espetáculo. Dirigido pela renomada Cacá Mourthé e produzido pela Sarau Produções, o espetáculo trouxe Bianca Byington como A Galinha, Alessandra Verney como A Gata, Maurício Tizumbacomo O Jumento e José Mauro Brants como O Cachorro. O coro de crianças foi substituído por 10 atores/cantores sendo eles Carol Futuro, Joana Penna, Marina Palha, Daíra Saboya, Lina Mendes, Pablo Paleologo, Chris Penna, Jorge Mathias, Pablo Áscoli e Felipe Habib. Alexandre Elias fez a direção musical, Cacala Carvalho fez a preparação vocal e Suely Guerra as coreografias. O cenário é de Sérgio Marimba, figurinos de Kika Lopes e luz de Paulo César Medeiros.
Essa montagem foi indicada a 5 prêmios Zilka Sallaberry de Teatro Infantil e deu a Mauricio Tizumba o de melhor ator.

Disco[editar]

Essa obra originou ainda dois discos. Um lançado em 1977, com participações de Nara LeãoMPB-4 e Chico Buarque1

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