sábado, 12 de outubro de 2013

e porque hoje é domingo, na poesia

* Manuel da Fonseca - Mataram a Tuna
* A Turma do Balão Mágico - Gato Na Tuba
* Marco Aurélio Chagas -A Banda da Música
* José Cid -  O Largo do Coreto
* Chico Buarque - A Banda
* Castro Alves - O BAILE NA FLOR
* António Lopes Ribeiro – Procissão
* Cesário Verde -  Naquele piquenique
* Viriato Cruz - Mamoro
* Cleo - Ao domingo ia-se à missa

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* Manuel da Fonseca

Mataram a Tuna

Nos Domingos antigos do bibe e pião
saía a Tuna do Zé Jacinto
tangendo violas e bandolins
tocando a marcha Almadanim.

Abriam janelas meninas sorrindo
parava o comércio pelas portas
e os campaniços de vir à vila
tolhendo os passos escutando em grupo.
Moços da rua tinham pé leve.
o burro da nora da Quinta Nova
espetava orelhas apreensivo
Manuel da Água punha gravata!
Tudo mexia como acordado
ao som da marcha Almadanim
cantando a marcha Almadanim.

Quem não sabia aquilo de cor?
A gente cantava assobiava aquilo de cor...
(só a Marianita se enganava
ai só a Marianita se enganava
e eu matava-me a ensinar...)
que eu sabia de cor
inteirinha de cor
e para mim domingo não era domingo
era a marcha Almadanim!

Entanto as senhoras não gostavam
faziam troça dizendo coisas
e os senhores também não gostavam
faziam má cara para a Tuna:
- que era indecente aquela marcha
parecia até coisa de doidos:
não era música era raiva
aquela marcha Almadanim.

Mas Zé Jacinto não desistia.
Vinha domingo e a Tuna na rua
enchendo a rua enchendo as casas.
Voavam fitas coloridas
raspavam notas violentas
rasgava a Tuna o quebranto da vila
tangendo nas violas e bandolins
a heróica marcha Almadanim!

Meus companheiros antigos do bibe e pião
agora empregados no comércio
desenrolando fazenda medindo chita
agora sentados
dobrados nas secretarias do comércio.
cabeças pendidas jovens-velhinhos
escrevendo no Deve e Haver somando somando
na vila quieta
sem vida
sem nada
mais que o sossego das falas brandas...
- onde estão os domingos amarelos verdes azuis encarnados
vibrantes tangidos bandolins fitas violas gritos
da heróica marcha Almadanim?!

Ó meus amigos desgraçados
se a vida é curta e a morte infinita
despertemos e vamos
eia!
vamos fazer qualquer coisa de louco e heróico
como era a Tuna do Zé Jacinto
tocando a marcha Almadanim!

 http://www.inforarte.com/cantando2/ManFon1.html

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* A Turma do Balão Mágico

 Gato Na Tuba

Tem gato na tuba
Todo domingo havia banda
No coreto do jardim
E já de longe a gente ouvia
A tuba do Serafim...
Porém um dia entrou um gato
Na tuba do Serafim
E o resultado
Dessa "melódia"
Foi que a tuba tocou assim:
Pum...pum...pum... (miáu)
Pum pu ru rum pum pum... (miáu)
Pum...pum...pum... (miáu)
Pum pu ru rum pum pum...

http://letras.mus.br/a-turma-do-balao-magico/68341/



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* Marco Aurélio Chagas

A BANDA DE MÚSICA


Chegava a banda ao coreto,
Tocando um lindo dobrado,
A meninada, em fileira,
Ouvia aquilo calada.

No fundo o velho gorducho,
Tocava a tuba – bom...bom...
Os pratos rodopiavam,
Resultando em lindo som.

Dando a cadência da marcha,
O tarol batia forte,
A flauta bem estridente
Suavizava o corte

Que o bumbo intrometido
Soberbo, interferia,
Dando o espaço pro clarim
Equilibrar a harmonia.

http://poemasnovacultura.blogspot.pt/2010/10/banda-de-musica.html

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* José Cid

O Largo do Coreto
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A banda já chegou
Àquele domingo, no jardim
Há fardas engomadas
E um perfume de jasmim.
E enche-se o coreto
E trompetes e trombones
De clarins
E saxofones.
Marias e magalas, mão na mão,
Crianças de berlingue ou de pião,
Senhores empertigados
Ofereciam rebuçados
Às senhoras
Pois então!
E o largo do coreto, pouco a pouco
Enchia-se no quadro mais barroco
E o homem das castanhas
Com as suas artimanhas
Enganava-se no troco.
Foi há tanto tempo
Num domingo, no jardim
Era como se a banda
Só tocasse para mim.
E o maestro regia
Com tais modos de importância
Que marcou
A minha infância

http://letras.mus.br/jose-cid/511131/

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* Chico Buarque

A Banda

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem
A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor..

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http://letras.mus.br/chico-buarque/45099/

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* Castro Alves

O BAILE NA FLOR

Que belas as margens do rio possante,
Que ao largo espumante campeia sem par!...
Ali das bromélias nas flores doiradas
Há silfos e fadas, que fazem seu lar...
E, em lindos cardumes,
Sutis vaga-lumes
Acendem os lumes
P’ra o baile na flor.
E então — nas arcadas
Das pet’las doiradas,
Os grilos em festa
Começam na orquesta
Febris a tocar...
E as breves
Falenas
Vão leves,
Serenas,
Em bando
Girando,
Valsando,
Voando
No ar!...


©Castro Alves

Os Escravos, 1883

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Procissão

Letra: António Lopes Ribeiro
Intérprete: João Villaret


Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.
Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.

Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!

Ai, que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!

Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a procissão.



http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/vilaret-procissao.html
João Villaret - "A Procissão", de António Lopes Ribeiro (RTP)



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* Cesário Verde

Naquele piquenique

Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela;
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

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* Viriato Cruz

Mamoro

Mandei-lhe uma carta
em papel perfumado
e com letra bonita
eu disse ela tinha
um sorriso luminoso
tão triste e gaiato
como o sol de Novembro
brincando de artista
nas acácias floridas
na fímbria do mar
Sua pele macia
era suma-uma
sua pele macias
cheirando a rosas
seus seios laranja
laranja do Loge
eu mandei-lhe essa carta
e ela disse que não
Mandei-lhe um cartão
que o amigo maninho tipografou
'por ti sofre o meu coração'
num canto 'sim'
noutro canto 'não'
e ela o canto do 'não'
dobrou
Mandei-lhe um recado
pela Zefa do sete
pedindo e rogando
de joelhos no chão
pela Sra do Cabo,
pela Sta Efigénia
me desse a ventura
do seu namoro
e ela disse que não
Mandei à Vó Xica,
quimbanda de fama
a areia da marca
que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço
bem forte e seguro
e dele nascesse
um amor como o meu
e o feitiço falhou
Andei barbado,
sujo e descalço
como um monangamba
procuraram por mim
não viu ai não viu ai
não viu Benjamim
e perdido me deram
no morro da Samba
Para me distrair
levaram-me ao baile
do Sr. Januário,
mas ela lá estava
num canto a rir,
contando o meu caso
às moças mais lindas
do bairro operário
Tocaram a rumba
e dancei com ela
e num passo maluco
voamos na sala
qual uma estrela
riscando o céu
e a malta gritou
'Aí Benjamim'
Olhei-a nos olhos
sorriu para mim
pedi-lhe um beijo
lá lá lá lá lá
lá lá lá lá lá
E ela disse que sim


"Namoro", de Viriato da Cruz, interpretado por Fausto.
http://www.youtube.com/watch?v=S594RmTuy4s

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*  cleo

Ao Domingo ía-se à missa


Ao Domingo não se trabalhava. Diziam que era pecado... Por isso só se faziam pequenos trabalhos leves, coisa pouca que não escandalizasse o povo da aldeia, caso contrário haveria de haver falatório pela certa! Por isso, nada de cavar terra nem de roçar mato, se não se quisesse andar na boca do povo há falta de melhor para tema de conversa.

Era também um dia sagrado que se distinguia dos outros quando pela volta das onze da manhã, se ouviam as primeiras badaladas do sino da torre da igreja da freguesia a avisar os mais distraídos, que dali a uma hora começava a missa; daí a meia hora voltaria a chamar.

Tomava-se o banho semanal obrigatório e quem não tivesse onde o tomar, que pegasse num alguidar e ao menos se lavasse a prestações, vestisse o melhor fato e se pusesse ao caminho. Se fosse pelo atalho e sendo a descer, uns vinte minutos a andar bem deveriam chegar. Para cima é que eram elas... mas talvez se arranjasse alguma boleia, pois que os mais abastados que tinham automóvel também costumavam ir à missa e alguns até eram da irmandade que em dias de festa e de funerais, se alinhavam em duas fileiras e acompanhavam a procissão com a pompa da circunstância.

Amélia também costumava ir à missa de Domingo, mas tinha um problema: era preciso calçar sapatos! Os pés dela não gostavam de andar apertados dentro de sapatos, pois que sempre se acharam livres e caminhavam ligeiros pelos carreiros das cabras nem que estivesse geada negra, daquela que emergia da terra no pico do Inverno. Mas ir para a missa descalça não parecia lá muito bem...

Então, Amélia fazia o caminho quase todo descalça, até ao cimo das barreiras, de onde já se avistava a igreja e o adro cheio. Um pouco mais abaixo, na fonte das moscas, passava os pés pelo fio da água que corria em bica e, conformada, lá calçava as meias de vidro, porque as de mousse logo se agarravam à pele grossa e compacta dos pés que mais pareciam uma sola e de seguida enfiava a custo os sapatos que lhe faziam gemer os dedos e lancinavam em cada passada que dava a caminho da santa missa. Ainda nem tinha passado da soleira da porta da igreja e já só pensava na hora de voltar a tirar os malditos sapatos que lhe apertavam a alma até suar, asfixiando-a sem a deixar purificar-se como devia. E nem os mexericos que se bichanavam quase em surdina, lhe desviavam a atenção do desconforto que sentia.

http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=117615

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