domingo, 22 de novembro de 2015

Mariana em três poemas

21 de Novembro de 2015 - 0h01


Andocides Bezerra *

E agora, Mariana?, Mar em Mariana e Lira Itabirana


E agora, Mariana?
(Andocides Bezerra)

E agora, Mariana?
Tua barragem rompeu
Teu rio doce morreu
Ficou o amargo que escorre

E agora, Mariana?
Teu povo chora
as lágrimas não vêem
Teu povo clama: justiça!
Mas sua voz não ouvem

Mariana, e agora?
O rio não há mais
O pasto não há mais
O gado também não
Diziam que Minas não tinha mar
           o mar chegou
Um mar podre de estupidez e ganância
O mar que ninguém quer

E agora, Mariana?
Enquanto tu sofres
Alguém come quieto
Enquanto tu agonizas
Alguém esconde teu sofrimento
E já outro desastre veio
Outros gritos vieram
E estes sim foram ouvidos
Mesmo vindo de longe,
mesmo falados em outra língua

Mariana, teu mar caminha
Corre solto como um gado feroz
Com um leito de morte e desgraça
Avança sobre outras terras
Em um compasso sem graça
Destruindo tudo por onde passa
E até o Espírito Santo já ameça

O que podemos, Mariana?
Se estamos atolados até o pescoço
em um mar de lama
Que não é nosso
Que não criamos
Que não pedimos
Que não impedimos


Mar em Mariana

(Marcelo Adifa)

Nas Gerais, o mar não chega
Mariana se banha em sonhos
no luar de quem amou,
                                           foi onda
seus olhos fundos são azuis
da cor, em água um lago extenso

Nas Gerais, o mar é lenda
é apenas a lembrança de
quem tenta ser tão mais
das Gerais o mar aumenta

o desejo de deitar além do mar


Lira Itabirana

(Carlos Drummond de Andrade)


I

O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

II

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

III

A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

IV

Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

 
* Publicitário, palmeirense, amante do samba, comunista, ateu, pai de três, marido de uma.

http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=7348&id_coluna=127

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