Falcão Negro
Por Thiago Borges
Data: 2 agosto, 2013
Editora: Abril –
Minissérie em três edições
Autor: Howard Chaykin (roteiro, arte e cores) –
Originalmente em Blackhawk # 1 a # 3.
Preço: de NCz$ 10,00 a NCz$ 20,00 por edição
(preço da época)
Número de páginas: 48 (por edição)
Data de lançamento: Setembro a novembro de 1989
Sinopse
Uma lenda dos ares, um homem misterioso, um herói mundial.
Não são poucos os adjetivos a serem usados para se definir o Falcão Negro.
Líder de um grupo de ases da aviação, ele é querido por todo
o planeta, principalmente pelos americanos, graças à luta que trava contra os
nazistas, no auge da Segunda Guerra Mundial. Toda sua fama, porém, sofre um
duro revés quando se vê acusado pelo senado dos Estados Unidos de atuar como
espião para o regime comunista da União Soviética.
Com isso, algumas perguntas ecoam: quem pretende ver a ruína
do Falcão Negro? Quais os perigos reservados para o mundo sem um de seus
maiores símbolos?
Positivo/Negativo
Falcão Negro é um personagem bem antigo: surgiu em 1941,
criado por Chuck Cuidera, Bob Powell e Will Eisner, como parte de uma antologia
de histórias de guerra publicada pela Quality Comics, aMilitary
Comics.
Conhecido apenas por seu apelido, ele liderava um grupo de
ases da aviação, os Falcões Negros, contra as mazelas perpetradas pelo nazismo.
Claro, a ideia era capitalizar em cima da Segunda Guerra Mundial, que
transcorria basicamente na Europa – os Estados Unidos só entrariam no conflito
no fim daquele ano.
Mais de quatro décadas depois, em 1988, Howard Chaykin
remodelou e atualizou o personagem em uma minissérie de três partes lançada
pela DC Comics, detentora dos direitos da revista após a falência
da Quality.
No entanto, em vez de apenas homenagear o Falcão Negro e sua
importância histórica, fazendo uma simples trama baseada na dicotomia clássica
da Segunda Guerra – aliados contra nazistas –, o artista reescreve a história
do período ao criar um invejável conto de mistério envolvendo agentes secretos.
Na visão de Chaykin, a tensão entre Estados Unidos e União
Soviética, que mergulharia o mundo em um estado paranoico por décadas a fio (a
Guerra Fria), já existia antes mesmo do término do maior conflito do Século 20.
Isso transforma sua abordagem do clássico personagem em uma
versão em quadrinhos dos romances de John le Carré e Graham Greene, mestres da
literatura de espionagem, ao abordar conspirações políticas, sexo e
assassinatos.
O roteiro de Falcão Negro não é simples de
ser acompanhado – em grande parte, graças aos diálogos secos, que muitas vezes
fazem alusão a ações e personagens ainda não mostrados ou citados vagamente. O
leitor, com isso, torna-se elemento ativo na construção do enredo, tendo que
ligar nomes e citações para saber quem é quem, quem é aliado de quem e,
principalmente, quem trai quem.
E, embora séria, a trama se dá ao luxo de conter momentos
cômicos, graças ao carisma do protagonista e de seus coadjuvantes. Falcão Negro
se parece muito com os papéis representados por Cary Grant nos longas de Alfred
Hitchcock, em especial Intriga internacional. Ele é um homem
inteligente, no meio de uma situação incontrolável e perigosa, mas que não
perde o charme ou o bom humor.
É verdade que Chaykin não faz um grande trabalho, seja como
roteirista ou desenhista, há um bom tempo. No entanto, durante os anos 1980, em
seu auge criativo, foi mestre da narrativa. Poucos constroem uma diagramação
tão ágil quanto a sua, seja pelas sequências com quadros pequenos para
transmitir uma ação intensa e rápida, ou quando termina uma cena com um gesto
de personagem, diálogo ou onomatopeia que faz referência ao início da cena
seguinte – expediente bastante usado também por Alan Moore em seus roteiros.
Por falar em onomatopeias, elas são essenciais em Falcão
Negro. Presentes praticamente em todas as páginas – em fartas quantidades
e, muitas vezes, indicando sons oriundos de fora de quadro –, elas narram a
inquietação de um mundo em combustão.
Seu uso, inclusive, ajuda a ditar o ritmo da trama. O melhor
exemplo se encontra no capítulo final, quando um avião voa na direção de Nova
York, carregando uma terrível ameaça. Enquanto o restante da história se
desenvolve, são inseridos quadros minúsculos mostrando a aeronave e a indicação
visual do barulho do motor, por páginas e páginas a fio. O recurso aumenta
exponencialmente a tensão, já que o leitor, ao contrário da maior parte dos
personagens, é a todo momento alertado do perigo iminente.
O resultado final de Falcão Negro é mais do
que satisfatório. Uma pequena obra-prima dos quadrinhos, embora quase
desconhecida, que ganhou edição nacional pela Abril no fim de
1989.
Aliás, o trabalho da editora durante esse período deve ser
louvado, já que ela trouxe para cá várias séries e especiais renomados, alguns
jamais relançados, no formato original e muitas vezes com um atraso mínimo em
relação à publicação original. Os três números da minissérie possuem capas
originais e pequenos textos introdutórios.
http://www.universohq.com/reviews/falcao-negro/
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