Exílio
Eu vivo na minha terra
Mas estou exilado.
Quem vive nela não sou eu
Mas outro que em mim vive.
A minha terra está por vir
E o meu outro ser vive, vive...
...vive à espera desse porvir
in Poemas de Circunstância (2003)
https://www.ueangola.com/index.php/bio-quem/item/43-antonio-cardoso.html
Há Momentos
Há momentos na vida de um Homem
Em que sabe que acordou diferente
E que já não é o mesmo para ele,
Mesmo que o seja para toda a gente...
Há momentos na vida de um Homem
Onde só pode entrar uma Mulher
Aquela que lhe trouxer
A flor do sexo
Desenhada a vermelho no ventre
E nada lhe perguntar...
Há momentos na vida de um Homem
Onde só pode entrar uma mulher
Aquela que lhe trouxer,
Num abraço total,
A ilusão da vida inteira...
E, depois, partir
Com a esperança de vida que ele semeou...
Há momentos na vida de um Homem
Onde só pode entrar uma Mulher
Para todo o Mundo se resumir
À flor vermelha
Como um bocado de sol
Que desponta numa telha!
21-2-55
Inútil Chorar
É inútil chorar:
«Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.»
Por todos os que tombam pela verdade
Ou que julgam tombar.
O importante neles é já sentir a vontade
De lutar por ela,
Por isso é inútil chorar.
Ao menos se as lágrimas
Dessem pão,
Já não haveria fome.
Ao menos se o desespero vazio
Das nossas vidas
Desse campos de trigo.
Mas o que importa
É não chorar:
«Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.»
Mesmo quando já não se sinta calor
É bom pensar que há fogueiras
E que a dor também ilumina.
Que cada um de nós
Lance a lenha que tiver,
Mas que não chore
Embora tenha frio:
«Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.»
21-2-55
Baixa & Musseques
"...Sô'bílio era dono de muitas cubatas, quase todas a cair mesmo, umas de adobe e zinco, rebocadas, caiadas, outras, só pau-a-pique e capim, chovia em todas, no entanto, tinha no peito dele uma pedra... Da nossa cor mesmo, nunca que perdoava... Usava sempre fato escuro, chapéu, bengala, falava parecia padre, muito doce, mas ninguém lhe convencia... Assim rico, habitava uma casa podre: seu orgulho mesmo, era aquele filho que estava em Lisboa no estudo, quase engenheiro mesmo... Volta meia volta. Se desculpava: não posso mana, um filho gasta muito dinheiro, livros, comida, você julga Lisboa é Luanda..." Extracto do conto "Lavadeira da Baixa", In: António Cardoso, do livro Baixa & Musseques, União dos Escritores Angolanos, 1980, 1ª ed.
https://www.ueangola.com/index.php/bio-quem/item/43-antonio-cardoso.html
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