Rapaz da camisola verde.-Frei Hermano Camara
* Pedro Homem de Mello
Lembro o seu vulto, esguio como espectro,
Naquela esquina, pálido, encostado!
Era um rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado…
De mãos nos bolsos e de olhar distante
- Jeito de marinheiro ou de soldado…
Era um rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Quem o visse, ao passar, talvez não desse
Pelo seu ar de príncipe, exilado
Na esquina, ali, de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado!
Perguntei-lhe quem era e ele me disse:
Sou do Monte, Senhor! e seu criado…
Pobre rapaz da camisola verde
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado!
Porque me assaltam turvos pensamentos?
Na minha frente estava um condenado?
- Vai-te rapaz da camisola verde,
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado!
Ouvindo-me, quedou-se, altivo, o moço.
Indiferente à raiva do meu brado.
E ali ficou, de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado…
Ali ficou… E eu, cínico, deixei-o
Entregue à noite, aos homens, ao pecado…
Ali ficou, de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado…
Soube eu, depois, ali, que se perdera
Esse que, eu só, pudera ter salvado!
Ai! do rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado!
In “Miserere” – 1948
Editora Portugália
Pedro Homem de Mello
1904 – 1984
Sem comentários:
Enviar um comentário