quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Arquimedes da Silva Santos - Poema do Acordo Ortográfico

* Arquimedes da Silva Santos


Pois o que havia de acontecer à língua
assim, sem mais nem menos, logo agora…
Qual será o factor, perdão, fator que o explica?
coisa tão inusitada, a mudança. Ou não?
Mas enquanto os Velhos do Restelo vociferam
e os defensores vivem a primavera da vitória,
as palavras chegam-nos despidas do velho,
límpidas e exatas no corpo que as diz.
Nada me pesa na ação, na atividade, no atual.
Adoto facilmente o novo, não sou cético – sou arquiteto
das origens renovadas pelo uso e desuso.
Faço coleção de pequenos meses, dias e estações
e de obras, ruas, sabedorias e pessoas superiores
que me surgem como querem que elas surjam.
Não hei-de, perdão, não hei de queixar-me
daquele sinal que separa os elementos que se querem casar,
porque vou fazer um inter-rail, pois sou pró-europeu
e sou super-resistente (até porque uso anti-histamínicos)
e gosto de ver amores-perfeitos pelas ruas em perspetiva,
e porque há tantos outros que se casam
num fim de semana ao pôr do sol:
autorretrato, coautor, cosseno, subregião
e até a minissaia fica mais longa, mas mais perto…
A todos aqueles que me lêem, perdão, leem,
saibam que encontrámos muitos casos giros
porque para o pelo para sair pelo pau onde pelo pêssegos
ou porque o egípcio vive no Egito e não no Egipto
e não é porque há reivindicações por lá.
E porque tudo isto vai já longo – verdadeiros heróis
que me creem de bem com esta paranoia
vamos sair para todas as rosas dos ventos,
olhar o maio deste acordo outonal –
– a dúvida é ficção desmontada dia a dia
e o sol ainda nos chama para o cor de laranja
lá fora.

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