Há não sei
quantos milhões de anos, a mais que milionésima bactéria tremeu nas águas
primordiais e começou a perder os seus primeiros borbotos e estes, imitando a
mãe, bacterizaram-se também e, logo que adultos, desataram a povoar os mares
igualmente emergentes, iniciando verdadeiras dinastias de bactérias diferentes
e ávidas de novas diferenciações.
É o que deduzo
das muitas leituras que tenho feito sobre o assunto.
Muitas
bactérias do frio e do quente optaram por abandonar as diversas águas
planetárias, continuaram a metamorfosear-se, de espécie em espécie, e atingiram
a humana, aquela que ainda não sabemos o que será, nos próximos séculos ou
milénios, se ainda viver.
Mas sabemos que
a sua primeira compulsão foi alimentar-se para sobreviver, disputando os
alimentos com as vizinhas e, assim, aprendendo a lutar. Criou, portanto, os
primeiros modos de matar e nunca mais parou de os aperfeiçoar, aperfeiçoando
também a coragem, a ira, o ódio, condições instrumentais de sobrevivência.
– A
inteligência animal começou assim, por total inexistência de ética e, muito
menos ainda de filosofia, para desgosto de Santo Agostinho que descobriu,
milhões de anos mais tarde, na cidade argelina de Hipona, o mal e a sua sede
original na mulher.
– Mas foram
precisos também milhões de anos para os moluscos marinhos galgassem as areias
das praias, adquirissem esqueleto e exoesqueleto, escamas, penas, couro e pelo,
vulva e pirilau, luxúria e autorreprodução sem gâmetas, fossem eles óvulos ou
espermatozoides, e muito menos fecundação in vitro, até que o primeiro primata
optou por se amacacar ou se antropolizar.
– E ainda não
foram poucos os milhões e anos necessários para a fundação do Antropoceno, com
o homo neandertalensis e o homo sapiens a alterar irremediavelmente a ordem e
as formas das coisas, até os primeiros analfabetos conscientes inventarem os
hieróglifos e as primeiras gravuras rupestres com as mãos borrifadas por bocas
cheias de líquidos cromáticos nas rochas mais adequadas das cavernas.
– Daí ao
sumério Gilgamesh e, seguidamente, à arca de Noé, ainda tiveram de transcorrer
mais alguns milhares de anos, porque faltava formular a teoria da impulsão, a
carpintaria naval, a arte da navegação e, assim, foi imposta a entrada com
senha para a barca, visto a bicharada ser tanta que teve de se organizar filas,
entrando cada novo passageiro só quando algum outro, lá dentro, já tinha sido
devorado por alguns dos seus famintos semelhantes em luta compreensível de
sobrevivência das espécies, das raças e dos costumes.
– A revista
“Nature” publica agora um estudo sobre a perda da cauda nos símios, ocorrida há
25 milhões de anos. A hipótese inicial do estudo é a de que os nossos
ancestrais perderam os rabitos abanadores quando mutações alteraram um ou mais
dos seus genes.
Os cientistas
compararam o ADN de seis espécies de símios com o de nove espécies de macacos
caudados, descobrindo que a mutação compartilhada por símios e humanos – mas
ausentes nos macacos com cauda – no gene TBXT. Esta mutação terá afetado TBXT
aleatoriamente um único símio, fazendo com que este desenvolvesse um coto em
vez de uma cauda e passasse o “defeito” para os seus descendentes. Com o tempo,
a mutação TBXT tornou-se norma nos símios e nos humanos atuais, incluindo os
que já funcionam com ginástica digital da conectividade radical e com a
inteligência artificial.
– Quando as
primeiras mitologias apareceram e os filósofos as normalizaram, para Jeová
aparecesse a legislar e Homero a encher caldeirões de amores, ciúmes, viagens à
ilha das tragédias, egípcios a fazer perguntas à esfinge de pedra, Aristóteles
a pôr carne nas sombras de Platão e Spartacus a dizer “já basta!”, enquanto
Afrodite fazia de Helena, a mais bonita de todas as mulheres e esposa do rei
grego Menelau, se apaixonar-se pelo troiano Páris, que então a levou para a sua
cidade. Agamenon, rei de Micenas e irmão de Menelau, reuniu os aqueus (gregos),
liderou uma expedição contra Troia e cercou essa cidade frugal da Lacónia ou
Leçademónia, na Península do Peloponeso, durante dez anos, como uma represália
pelo insulto de Páris.
Após a morte de
muitos heróis, incluindo os gregos Aquiles e Ájax, bem como Heitor, Páris
recuperou a sua imprescindíveel Helena com a ajuda de um cavalo de pau.
– Claro que
infinito, acumulação, conectividade radical, biocósmico, morte e força de viver
são os temas da japonesa Yayoi Kusama, de 65 anos, acabados de fazer, que,
depois e tantas décadas a viver voluntariamente numa instituição de saúde
mental, personifica hoje um dos mais estrondosos fenómenos de popularidade na
arte contemporânea, mas isso não implica que os dadores de gâmetas tenham de
ficar eternamente anónimos, como a lei portuguesa, felizmente, já aceita.
Nem que só haja
um os dois cardiologistas nos hospitais do Interior, sabendo-se que há mais de
500 nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde!
– E certo é
também não devia ser permitido abater árvores em todos os cantos do mundo para
fazer papel desnecessário ou simplesmente prescindível, mesmo que para
substituir os sacos de plástico nos supermercados.
E menos ainda
seria de permitir que se continuasse a plastificar tudo, ao ponto de já se ter
encontrado no estômago de um mastodóntico cachalote lulófilo, morto na praia,
um emaranhado rolo de 43 quilos de redes de nylon, escovas de dentes, copos de
plástico, sapatilhas, etc.
Pior só a
existência de triliões de triliões de partículas de plástico na corrente
sanguínea dos peixes que comemos e, agora, até já na dos frangos e de outros
bichos de aviário e de viveiros para aquacultura.
E mesmo no ar
que respiramos, como nos disseram na recente 11.ª Cimeira Mundial dos Oceanos!
– E por que
carga de água, quando a PSP registou entre 2020 e 2323 algo como 15 mil furtos
por carteiristas, caçada que lhes rendeu 7,1 milhões de euros, vêm agora certos
interessados reclamar a implementação da muito perigosa, energia nuclear em
Portugal, sabendo-se que, ainda por cima, sai “demasiado cara, mesmo sem se
contabilizar os custos escondidos – os de armazenar os resíduos, os dos seguros
contra acidentes e seus efeitos, os do desmantelamento das centrais em fim de
vida, etc.”
É que é mesmo
“muito mais cara – 10 a 20 vezes mais cara (segundo o catedrático e
investigador Manuel Collares-Pereira) por unidade de potência instalada que as
renováveis – solar, eólica, hídrica e outras que estão em desenvolvimento” – e
que já provaram poderem continuar de vento em popa.
“O combustível
nuclear convencional (U235)”, diz ele, “é escasso; psra ser considerado
abundante (U238, Th232), implicaria uma mudança de tecnologia (mais risco, mais
tempo…); neste contexto fala-se hoje da tecnologia dos pequenos reatores,
pré-fabricados, algo que não existe ainda … e que muito provavelmente, serão
ainda mais caros. (…) Para uma central de 1600MW, estamos a falar de um
investimento de mais de 1000 milhões de euros, se registarmos o exemplo
finlandês de Olikuoto, acabada de construir), e podemos mesmo contar com mais
de 19 000 milhões, se tomarmos como referência o idêntico EPR francês de
Flamanville (em construção).”
Mas, por cá, os
lóbis movem-se. Vá-se lá saber porquê.
– E não me
esqueço de que dos anuros, com penugens ou com pelagens, com escamas ou com
viscos, com espinhos ou com pelado coiro impermeável, com guelras ou com
pulmões, com bico com boca, houve que vencer mais alguns milhões de anos, até
se poder atingir o cataclismo que cósmico e ardente que nos dinossaurizou os
territórios livres, criando uma ordem nova – ordine nuovo, como a do Mussolini
– que até o Pio XI e o nosso Cerejeira cardeal, ombro com ombro com o nosso
sempre solteiro Salazar, tanto apreciaram.”
Daí até
aparecer a besta do “Apocalipse” ainda tivemos de aturar os aedos que deram
histórias e mitos Homero e a Virgílio, os delirantes que souberam desnudar as
estrelas e ainda sobrevivem como espíritas e horoscopizáveis em modo Pessoa, os
Abraões decalógicos, os Plutarcos e os Arquimedes, os Avicenas e os Averróis, o
milagre de Ourique e a mirabolante conversa do Condestável com Cristo antes da
batalha de Aljubarrota, como antes acontecera com D. Afonso Henriques, o Nuno
Gonçalves dos painéis de S. Vicente, o zarolho Luís Vaz da Ilha dos Amores, o
salaciano ou alcacerense Pedro Nunes da Matemática, os arquitetos da Baixa
Pombalina, os versos de António Nobre e dos de Cesário Verde, as composições de
Lopes Graça e até o descaramento com que misturo tudo isto.
– Talvez faça
falta a esta lista de figurões o nome do jesuíta Luís Frois que viveu 34 anos
no Japão e assistiu à batalha A “História” de Luís Fróis é também uma narração
dos acontecimentos histórico-políticos de uma das fases históricas mais
cruciais do país.
A sua “História
do Japão” abrange o declínio da dinastia dos Ashikaga que começou a sua
regência em 1338 e acabou em 1573.
Abrange a
ascensão e o fim do comandante Oda Nobunaga (1534 - 1582) que iniciou o
processo da unificação do Japão de um modo decisivo.
Abrange os anos
mais importantes do sucessor de Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi (1536 - 1598), que
continuou a obra de Nobunaga e completou a unificação do país, mas que também
iniciou a perseguição dos cristãos em 1587. Sob o seu reinado foram mortos
também os primeiros 26 mártires católicos, em 1597.
O historiador
de circunstância Luís Frois nasceu em Lisboa e, em 1563, viajou para o Japão,
encarregado de pregar o Evangelho, isto uns 20 anos depois de os primeiros
mercadores portugueses, a bordo da “Nau do Trato”, terem desembarcado no Sul
nipónico. Foi seguidamente para Quioto, onde se reuniu com Ashikaga Yoshiteru,
que então era xogun. Em 1569 tornou-se amigo de Oda Nobunaga e permaneceu na
sua residência em Gifu (cidade), enquanto se dedicou à escrita por um curto
período.
Descreveu,
então, pormenorizadamente as suas impressões sobre as tradições e cultura
japonesas do século XVI através de cartas enviadas para Macau, Roma (ao Papa) e
aos reis de Portugal.
É considerado o
primeiro cronista europeu daquelas paragens. Entre as suas obras encontra-se
uma “História do Japão”, um clássico que recolocou o país do sol nascente na
história do mundo moderno e que Akira Kurosawa seguiu milimetricamente para
filmar o também clássico “Kagemusha” (“A Sombra de um Samurai”) e que o também
clássico Claude Lévi-Straus catalogou como “o primeiro antropólogo”
– Que bom ter
nascido no país dos milagres, onde em contramão, também, nasceram pastorinhos
videntes e sádicos da tauromaquia!
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