terça-feira, 5 de março de 2024

Carlos Coutinho - Guerra é guerra

* Carlos Coutinho

   ESTE ano absolutamente inaceitável, iníquo, sangrento, com duas guerras fratricidas mesmo ao lado desta Europa zaragateira que recupera heranças milenares de conflitos armados, enquanto várias outras calamidades do mesmo género estão semeadas por todo o resto do mundo, este ano infernal, insisto, pode ter efeitos decisivos para a Humanidade, a curto, médio e longo prazos.

   Consideram alguns dos entendidos nestas matérias que estamos já mergulhados numa “guerra cognitiva que transforma a mente no campo de batalha e ameaça a integridade de sociedades e nações”, até porque “continua a redefinir-se o equilíbrio de forças entre as grandes potências”.

    O futuro do mundo – acham eles e eu tendo a concordar – decide-se numa era de capacidade tecnológica sem precedentes, na qual as novas ferramentas de inteligência artificial aperfeiçoam as estratégias de desinformação e potenciam a sua interferência na formação da opinião pública, pondo em causa o funcionamento de todo o tipo de democracias.

   Na presente era digital, de facto, a informação surge como a arma das novas operações no domínio cognitivo.    

   Mais do que nunca se torna necessário “ler o cérebro dos nossos adversários para anteciparmos a suas reações”, de modo a podermos influenciá-las “ e fazer com que atuem de acordo com os nossos desejos”. E isto “à medida que nós próprios devemos ser capazes de proteger o nosso cérebro e melhorar as nossas capacidades cognitivas de compreensão e de decisão”, explicava em junho de 2021 o general e vice-chefe da Defesa francesa, Eric Autellet, citado no “Público” de há quatro dias, na primeira reunião científica da NATO, sobre a guerra cognitiva, que é um novo domínio da guerra moderna.

   Enquanto guerra sobre a mente e o pensamento de um determinado alvo, “o seu objetivo é atacar ou até mesmo destruir a forma como constrói a sua própria realidade e visão do mundo”, em conjunto com “a sua confiança nos processos e nas abordagens necessárias para o funcionamento eficiente de grupos, sociedades ou mesmo nações”, destaca, por sua vez, Bernard Claverie, cientista cognitivo e professor no Instituto Politécnico de Bordéus. 

   Trata-se, neste caso, de um tenente-coronel reformado do Exército francês que apresentou o problema na mesma reunião da NATO. Segundo ele, a guerra cognitiva combina elementos da guerra de informação – incluindo a militarização da psicologia e das neurociências – para o cumprimento de ações militares, situando-se “entre dois domínios operacionais: as operações psicológicas e de influência, em conjunto com as operações cibernéticas”. 

   No seu potencial extremo, pode “subjugar sem recurso à força e coerção”, fragilizando-as “e mesmo fraturando-as”, segundo investigadores da Universidade Johns Hopkins e Imperial Colledge, de Londres.

   Para o português Manuel Poêjo Torres, consultor da NATO desde 2013, a gramática da guerra evolui com a introdução de novas tecnologias e práticas, “e nós próprios começamos a encontrar novos chavões para caraterizar aquilo que já existe e faz parte da natureza humana há muitos anos.” 

   Mais, “enquanto operações psicológicas operam apenas no domínio da influência política e diplomática” e constituem um sistema de informações que “se reflete num ambiente de múltiplos sistemas”, inseridos num grande espaço, uma “nuvem de informações com várias dimensões: a dimensão das informações – a coleção e análise dos dados, a dimensão física – os sistemas que correm os dados, e a dimensão cognitiva dos dados, e a dimensão cognitiva – o domínio da mente”.

   Para mim que, não sendo perito nestas questões também não sou muito ingénuo, fica a confirmação de que não estava enganado quando me punha a avaliar os critérios de escolha dos pivôs televisivos, dos repórteres enviados para a Ucrânia e para Israel, da grande maioria da canalha comentadora e até de um fulano difícil de catalogar com rigor como o penteadinho natista – muito competente em propaganda remunerada – major-general Isidro de Morais Pereira.

2024 03 05

https://www.facebook.com/carlos.coutinho.71

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