Modus vivendi
22 de julho de 2010
21 de julho de 2010
Do gosto
.
Beberam fundo nas alpestres fontes
Para que de água do nativo ninho
O gosto fique a confortar o exílio...
Setembro. Vamos. Tempo de migrar.
Nos Abruzos, agora, os meus pastores
Deixam cabanas, marcham para o mar.
Descem para o Adriático bravio,
Verde como as pastagens de altos montes.
Beberam fundo nas alpestres fontes
Para que de água do nativo ninho
O gosto fique a confortar o exílio
E longo iluda a sede do caminho.
Cajados novos têm de alvelaneira.
Ao plaino vão descendo de maneira
Que são como um rio silencioso
Passando nos sinais de antigos passos.
Ó voz daquele que primeiro ansioso
Distingue o trémulo da beira-mar!
Já pela praia o rebanho a andar
Cruza dos ares a quente imóvel teia,
E tanto aloura o sol a viva lã
Que quase não se aparta ela da areia.
E as ondas e o tropel... doces rumores.
Ah porque não estou eu com os meus pastores?
.
Gabriele D´Annunzio, trad. Jorge de Sena
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Para que de água do nativo ninho
O gosto fique a confortar o exílio...
Setembro. Vamos. Tempo de migrar.
Nos Abruzos, agora, os meus pastores
Deixam cabanas, marcham para o mar.
Descem para o Adriático bravio,
Verde como as pastagens de altos montes.
Beberam fundo nas alpestres fontes
Para que de água do nativo ninho
O gosto fique a confortar o exílio
E longo iluda a sede do caminho.
Cajados novos têm de alvelaneira.
Ao plaino vão descendo de maneira
Que são como um rio silencioso
Passando nos sinais de antigos passos.
Ó voz daquele que primeiro ansioso
Distingue o trémulo da beira-mar!
Já pela praia o rebanho a andar
Cruza dos ares a quente imóvel teia,
E tanto aloura o sol a viva lã
Que quase não se aparta ela da areia.
E as ondas e o tropel... doces rumores.
Ah porque não estou eu com os meus pastores?
.
Gabriele D´Annunzio, trad. Jorge de Sena
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20 de julho de 2010
Nunca Envelhecerás
.
A tua cabeleira
é já grisalha ou mesmo branca?
Para mim é toda loira
e circundada de estrelas.
Sobre ela
o tempo não poisou
o inverno dos anos
que se escoam maldosos
insinuando rugas, fios brancos...
Ao teu corpo colou-se
o vestido de seda,
como segunda pele;
entre os seios pequenos
viceja perene
um raminho de cravos...
Pétalas esguias
emolduram-te os dedos...
E revoadas de aves
traçam ao teu redor
volutas de primavera.
Nunca envelhecerás na minha lembrança!...
.
Saúl Dias
.
é já grisalha ou mesmo branca?
Para mim é toda loira
e circundada de estrelas.
Sobre ela
o tempo não poisou
o inverno dos anos
que se escoam maldosos
insinuando rugas, fios brancos...
Ao teu corpo colou-se
o vestido de seda,
como segunda pele;
entre os seios pequenos
viceja perene
um raminho de cravos...
Pétalas esguias
emolduram-te os dedos...
E revoadas de aves
traçam ao teu redor
volutas de primavera.
Nunca envelhecerás na minha lembrança!...
.
Saúl Dias
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19 de julho de 2010
A Haste Caída
.
Uma rajada de vento quebrou
a haste do gladíolo vermelho.
Tombado junto à cerca de arame
é como um braço vencido por um súbito cansaço.
Em volta a paisagem observa
o seu próprio esplendor verde depois da chuva.
A flor vermelha esmorece
sob a intensidade do sol
e o caule extingue-se de volta à terra.
Sabemos vagamente como tudo isto acontece,
ébrios de identidade e permanência:
em poucos dias completar-se-á a dissolução.
Mas lenta é a morte
por dentro deste fim que acabaremos por esquecer.
.
Joaquín O. Giannuzzi, trad. Rui Amaral
.
a haste do gladíolo vermelho.
Tombado junto à cerca de arame
é como um braço vencido por um súbito cansaço.
Em volta a paisagem observa
o seu próprio esplendor verde depois da chuva.
A flor vermelha esmorece
sob a intensidade do sol
e o caule extingue-se de volta à terra.
Sabemos vagamente como tudo isto acontece,
ébrios de identidade e permanência:
em poucos dias completar-se-á a dissolução.
Mas lenta é a morte
por dentro deste fim que acabaremos por esquecer.
.
Joaquín O. Giannuzzi, trad. Rui Amaral
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18 de julho de 2010
Da esperança
.
E corre, e corre a existência,
E cada dia que cai
Nos abismos do passado
É um sonho que se esvai,
Um almejo de noss'alma,
Anelo de felicidade
Que em suas mãos espedaça
A cruel realidade;
Mais um riso que nos lábios
Para sempre vai murchar,
Mais uma lágrima ardente
Que as faces nos vem sulcar;
Um reflexo de esperança
No seio d'alma apagado,
Uma fibra que se rompe
No coração ulcerado.
Pouco e pouco as ilusões
Do seio nos vão fugindo,
Como folhas ressequidas,
Que vão d'árvore caindo;
E nua fica nossa alma
Onde a esp'rança se extinguiu,
Como tronco sem folhagem
Que o frio inverno despiu.
Mas como o tronco remoça
E torna ao que d'antes era,
Vestindo folhagem nova
Co volver da primavera,
Assim na mente nos pousa
Novo enxame de ilusões,
De novo o porvir se arreia
De mil douradas visões.
A cismar com o futuro
A alma de sonhar não cansa,
E de sonhos se alimenta,
Bafejada da esperança.
.
Bernardo Guimarães
.
E cada dia que cai
Nos abismos do passado
É um sonho que se esvai,
Um almejo de noss'alma,
Anelo de felicidade
Que em suas mãos espedaça
A cruel realidade;
Mais um riso que nos lábios
Para sempre vai murchar,
Mais uma lágrima ardente
Que as faces nos vem sulcar;
Um reflexo de esperança
No seio d'alma apagado,
Uma fibra que se rompe
No coração ulcerado.
Pouco e pouco as ilusões
Do seio nos vão fugindo,
Como folhas ressequidas,
Que vão d'árvore caindo;
E nua fica nossa alma
Onde a esp'rança se extinguiu,
Como tronco sem folhagem
Que o frio inverno despiu.
Mas como o tronco remoça
E torna ao que d'antes era,
Vestindo folhagem nova
Co volver da primavera,
Assim na mente nos pousa
Novo enxame de ilusões,
De novo o porvir se arreia
De mil douradas visões.
A cismar com o futuro
A alma de sonhar não cansa,
E de sonhos se alimenta,
Bafejada da esperança.
.
Bernardo Guimarães
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Dürer
mulher amadurecida pintada no século XVI
.
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14 de julho de 2010
Romance do terceiro oficial de finanças
.
Ah! as coisas incríveis que eu te contava
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!
As coisas incríveis que eu te contava
e me deixavam hirto de surpresa
na solidão da vila quieta!...
Que eu vinha alta noite
como quem vem de longe
e sabe o segredo dos grandes silêncios
- os meus braços no jeito de pedir
e os meus olhos pedindo
o corpo que tu mal debruçavas da varanda!...
(As coisas incríveis eu só as contava
depois de as ouvir do teu corpo, da noite
e da estrela, por cima dos teus cabelos.
Aquela estrela que parecia de propósito para enfeitar os teus cabelos
quando eu ia namorar-te...)
Mas tudo isso, que era tudo para nós,
não era nada da vida!...
Da vida é isto que a vida faz.
Ah! sim, isto que a vida faz!...
- isto de tu seres a esposa séria e triste
de um terceiro oficial de finanças da Câmara Municipal!...
.
Manuel da Fonseca
.
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!
As coisas incríveis que eu te contava
e me deixavam hirto de surpresa
na solidão da vila quieta!...
Que eu vinha alta noite
como quem vem de longe
e sabe o segredo dos grandes silêncios
- os meus braços no jeito de pedir
e os meus olhos pedindo
o corpo que tu mal debruçavas da varanda!...
(As coisas incríveis eu só as contava
depois de as ouvir do teu corpo, da noite
e da estrela, por cima dos teus cabelos.
Aquela estrela que parecia de propósito para enfeitar os teus cabelos
quando eu ia namorar-te...)
Mas tudo isso, que era tudo para nós,
não era nada da vida!...
Da vida é isto que a vida faz.
Ah! sim, isto que a vida faz!...
- isto de tu seres a esposa séria e triste
de um terceiro oficial de finanças da Câmara Municipal!...
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Manuel da Fonseca
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