Saturday, February 12, 2011
o jovem Ferreira de Castro - A JANELA DA IDEALIDADE (1925)
Aquela mulher que à hora do crepúsculo vinha sentar-se por detrás da sua janela descerrada, tinha para mim um encanto estranho -- um profundo e inefável mistério.
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Meus olhos extenuados de procurarem um amor ideal que dir-se-á não existir, que dir-se-á proscrito de todos os corações, encontraram-na uma tarde meditando junto à janela: -- o busto envolto numa auréola romântica, as mãos pálidas, como duas rosas-chá esmaecidas, pousadas sobre um livro aberto.
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Meditava talvez na conquista duma alma igual à minha -- uma alma igual àquelas de que lhe falavam os seus livros predilectos.
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E desde então, eu que tenho detido meus passos ante as altas janelas que se recortam a vermelho na treva da noite, interrogando-as sobre os segredos femininos que ocultam a meus olhos sonhadores, ante as janelas que se descerram na quietude da tarde e para trás das quais julgo sempre existirem mulheres nascidas para me compreender e amar, -- principiei a interessar-me por aquela mulher que assim me surgia tão bela, durante um dos meus passeios crepusculares.
Ferreira de Castro, Sendas de Lirismo e de Amor, Lisboa, Edições Spartacus, 1925.
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