um blog de antigos alunos do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto
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QUINTA-FEIRA, 29 DE MARÇO DE 2012
Corridas ao ouro.
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DO HOMEM, NA BUSCA DO, NO ENCONTRO COM E NA PERDA DO BEZERRO DE OURO - VOLFRO !
Teria eu os meus 10 ou 11 anos, quando, com meu Pai, visitava a sua aldeia natal. Chegado eu de Africa, onde nasci e vivi até quase os 1o anos, queria Ele oferecer-me a Alma do seu Torrão. Nas cercanias do qual havia perigosíssimos buracos de abandonadas minas de volfrâmio. Explicou-me o porquê de tais minas que se situavam a 2 ou 3 kms da sua aldeia. Aí e então, fiquei a saber o que foi o fenómeno da corrida ao volframio em Portugal, durante o período da 2ª guerra mundial. Para me dar uma ideia de um dos aspectos do fenómeno referiu-me ter ouvido, um seu colega de escola primária, pintar-lhe esse fenómeno social na região, (meu Pai havia estado todos esses anos fora do país), testemunhando-o com o seu próprio exemplo, ao dizer-lhe, de modo profundamente exclamativo: "em minha casa a fartura era tanta que até os cães se negavam ao pão de ló!"
Qual bolha de azeite, "sobrenadousse-me" no caldo da memória esta espantosa definição por um homem pobre, simples, que vivenciou pessoalmente o fenómeno da corrida à riqueza pela busca do volfrámio. Toda a sua vida viveu para os seus, do seu trabalho, e, por isso, morreu pobre. Era - para meu Pai - um amigo e, para mim, miúdo, um Senhor. Esta bolha desengatilhou-se lá das profundezas, quando, há já cerca de 2 anos e meio, recebi do Zé Miguel a sua Tese de Mestrado, em Sociologia, na Universidade Nova de Lisboa e reborbulhou agora, há já 7 meses, quando me ofereceu a sua opus magnum VOLFRO ! - esboço de uma teoria geral do "rush"mineiro -o caso de Arouca. É a edição do mesmo trabalho, mas agora para difusão urbi et orbi, para o grande público «com pequenas alterações formais, rectificações necessárias e algumas observações e complementos julgados oportunos»(sic in nota prévia respectiva, pelo Autor).Na figura junta se observa a reprodução digital da respectiva capa. Mostra o trabalho em acrílico sobre tela, de 2010, do pintor Cesare Novi.Chamou-lhe "Il Ritorno dei Minatori".
Só por corcundas que me afectam a coluna de suporte da vida não pude ainda trazer a este nosso blog a referência ao evento - ao sucesso.
Já testemunhei várias corridas à riqueza: a do café, em Angola, logo que terminou a II Guerra Mundial, a da emigração massiva nos anos 50, para o Brasil e, de seguida, para Angola e Moçambique, a emigração no princípio dos anos 60 para França, Alemanha e Suiça, pouco mais que a pé, descalço, a corrida bolsista no consulado de Marcelo Caetano e, agora, desde há 10 ou 15 anos, a da expansão da finança sem fidúcia.
Tentando pensar largo, considero este trabalho do Zé Miguel sobre o fenómeno da corrida ao ou-ro ou, como ele diz, à riqueza, uma profunda elaboração científica do que antropologicamente isso mesmo representa e significa.
Fazendo curta uma longa história transcrevo o abstract que o Autor dela faz:
«Durante a Segunda Guerra Mundial os recursos volframíferos de Portugal e Espanha foram considerados importantes para o esforço de guerra de ambos os beligerantes, que se envolveram numa fera concorrência de que resultaram preços crescentes e uma forte migração interna de grande parte da população camponesa e operária para as regiões mineiras. Arouca um concelho tranquilo com uma vila de média dimensão, no centro-norte de Portugal, perto do Porto, recebeu o impacto dessa "corrida", pois tinha concessões afectas a cada parte beligerante, minas (concessões) independentes, ocorrências não concessionadas e um forte mercado negro a actuar entre todas estas. Com a considerável riqueza que se obtinha, a vida tranquila daquela comunidade agrícola acabou por ser agitada por diversos "comportamentos de fronteira" que reproduziam numa escala adequada o conjunto de factos que são descritos para situações similares de corrida à riqueza. Tomando Arouca como modelo, a dissertação que está na origem desta obra pretendeu estabelecer as diferenças entre a actividade mineira formal e informal, enumerar as características gerais que podem definir uma "corrida" ou "rush" mineiro, aprofundar numa prespectiva antropológica a análise dos personagens e dos aspectos típicos do "rush", apreciar os efeitos produzidos em diversas variáveis locais e os comportamentos das instituições afectadas, concluindo com uma breve avaliação da representação actual do "rush" na memória social local, duas gerações volvidas desde esse acontecimento.»
Ou seja e numa curta linha, digo agora eu: em 553 páginas o Zé Miguel destapa por métodos da antropologia a memória social do modelo Arouca no intuito de iluminar o entendimento do comportamentalismo do homem na busca do, no encontro com e na perda do bezerro de ouro.
Pimenta da Índia,"Preto" da Guiné para o engenho do açucar no Brasil, antes disso já o Infante D. Henrique se tinha abarbatado com 400 (quatro centos) escravos que encomendou, para uso pessoal no "afromarché" do Senegal), mais òpradiante ouro do Brasil para um gajo que tinha a mania de que havia de ter um filho, mas não sabia como...tropas portuguesas para França, na 1ª Guerra Mundial, para acautelar na Conferencia de Paz as colónias com riquesas a haver por tudo quanto era sítio...
...Again and again, here we are - again: Portugal sec XXI-2012!!!
Oh Zé Miguel !: Achimpa-lhe! Faz outra! agora de Doutoramento. Aí tens o título: Arouca parte II -Portugal sec. XXI - 2012.
Deixa-me ser elegante ao menos uma vez na vida! Ex abundantia cordiste digo: ex utraque parte que se olhe para o teu granítico trabalhogradus, gradus ad Parnasum.
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Rui Abrunhosa
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