* Sérgio Godinho
Vem
entra na minha casa
come a carne, abre as gavetas
leva a roupa e as camisas e os postais
Vai
dizer ao fim do mundo
as palavras que escorreram
na garganta dos que gritaram demais
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira
Vim
ao mundo por acaso
em Portugal, não tenho pátria
sou sozinho e sou da cama dos meus pais
Sou
donde vos apetecer
sou do mar e sou do corpo
das mulheres estranguladas nos canais
(Descansa a cabeça,...)
Sei
fazer a guerra à guerra
sei histórias verdadeiras
sei resistir ao calor, aos temporais
Sei
rasgar quando é preciso
é preciso tantas vezes
duas vezes, outras tantas, muitas mais
(Descansa a cabeça,...)
Se ao
partir pla madrugada
tiver fome, matarei
para comer, roubarei os vossos quintais
Se ao
partir pla estrada fora
encontrar vida no mundo
pararei onde calhar, entre os mortais
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira
Letra e música: Sérgio Godinho
In: "Sobreviventes"; 1971
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