sábado, 6 de maio de 2023

Carlos Coutinho - Bruxas ou açorda



*  Carlos Coutinho


   ANDASSE eu hoje por Vila Real e, esta noite, mesmo com chuva, iria ao Teatro Municipal ver “As Bruxas de Salem”, de Arthur Miller, numa encenação que me dizem “muito, muito, muito boa”, de Nuno Cardoso, do Teatro Nacional de S. João, do Porto.

   “Deplorável”, diria outra vez Marcelo Rebelo de Sousa. E eu talvez concordasse, caso não tivesse neste sábado sem chuva, o almoço de um grupo com razões muito próprias que anualmente as vai comemorar, em Vila Franca de Xira, desta vez com uma de açorda de sável.

   De manhã, espera-me no Museu do Neo-Realismo, uma exposição com o Sidónio Muralha como tema e substância. Este enorme poeta que nasceu Lisboa, no dia 29 de julho de 1920 e foi morrer a Curitiba, Brasil, a 8 de dezembro de 1982, viveu a infância no castiço bairro lisboeta da Madragoa.

   Ainda muito jovem colaborou com revistas e publicações literárias de certa forma associadas ao que viria a ser o neo-realismo português, como, por exemplo, "Mocidade Académica" e "Solução" ou, décadas mais tarde a "Vértice".

   Em 1941, incentivado por Bento de Jesus Caraça, publicou o seu primeiro livro de poesia, “Beco”. Escreveu muito, integrado num movimento em que avultavam Carlos de Oliveira, Manuel da Fonseca, Papiniano Carlos, Armindo Rodrigues, Joaquim Namorado, Fernando Namora, Egito Gonçalves ou Mário Dionísio.

   Com “Passagem de Nível” (Coimbra, 1942) fez parte do chamado Novo Cancioneiro, coleção que reuniu obras poéticas de vários poetas antifascistas. No Natal de 1949, Sidónio publicou a segunda edição de “Beco” e “Passagem de Nível”, em volume conjunto, e, no ano seguinte, uma obra magistral do seu percurso poético: “Companheira dos Homens”. 

   Ambas as edições de autor contaram com ilustrações da capa de Júlio Pomar, com quem manteve uma douradora amizade. Ainda em 1950, também com desenhos de Pomar e músicas de Francine Benoit, publicou o seu primeiro livro de poemas para crianças, “Bichos, Bichinhos e Bicharocos”.

   Nos anos 70, Sidónio Muralha regressou a Portugal, primeiro para publicitar a sua antologia “Poemas” (1971), depois para celebrar o "Portugal libertado" pela Revolução dos Cravos. 

   Em 1976, recebeu o “Prémio Meio Ambiente na Literatura Infantil” pelo seu livro “Valéria e Vida”, ilustrado por Fernando Lemos e que marcou o início de um profícua parceria com uma editora onde também saiu um livro meu,  a Livros Horizonte. 

   É tudo isto que espero encontrar como aperitivo à famosa açorda de sável, à beira-Tejo.

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