Assunto: | DEPOIS DO JANTAR |
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Data: | 9/Mar 12:15 |
Bom Dia!
Vamos quebrar a rotina....hoje é dia de Prosa! Espero que gostem!...em anexo um beijo!!!
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Distribuído por Moranguinho Pereira (hi5)
. . DEPOIS DO JANTAR . . Também, que idéia a sua: andar a pé, margeando a Lagoa Rodrigo de Freitas, depois do jantar. . O vulto caminhava em sua direção, chegou bem perto, estacou à sua frente. Decerto ia pedir-lhe um auxílio. . — Não tenho trocado. Mas tenho cigarros. Quer um? . — Não fumo, respondeu o outro. . Então ele queria é saber as horas. Levantou o antebraço esquerdo, consultou o relógio: — 9 e 17... 9 e 20, talvez. Andaram mexendo nele lá em casa. . — Não estou querendo saber quantas horas são. Prefiro o relógio. . — Como? . — Já disse. Vai passando o relógio. . — Mas ... . — Quer que eu mesmo tire? Pode machucar. . — Não. Eu tiro sozinho. Quer dizer... Estou meio sem jeito. Essa fivelinha enguiça quando menos se espera. Por favor, me ajude. . O outro ajudou, a pulseira não era mesmo fácil de desatar. Afinal, o relógio mudou de dono. . — Agora posso continuar? . — Continuar o quê? . — O passeio. Eu estava passeando, não viu? . — Vi, sim. Espera um pouco. . — Esperar o quê? . — Passa a carteira. . — Mas... — Quer que eu também ajude a tirar? Você não faz nada sozinho, nessa idade? . — Não é isso. Eu pensava que o relógio fosse bastante. Não é um relógio qualquer, veja bem. Coisa fina. Ainda não acabei de pagar... . — E eu com isso? Então vou deixar o serviço pela metade? . — Bom, eu tiro a carteira. Mas vamos fazer um trato. . — Diga. . — Tou com dois mil cruzeiros. Lhe dou mil e fico com mil. . — Engraçadinho, hem? Desde quando o assaltante reparte com o assaltado o produto do assalto? . — Mas você não se identificou como assaltante. Como é que eu podia saber? . — É que eu não gosto de assustar. Sou contra isso de encostar o metal na testa do cara. Sou civilizado, manja? . — Por isso mesmo que é civilizado, você podia rachar comigo o dinheiro. Ele me faz falta, palavra de honra. . — Pera aí. Se você acha que é preciso mostrar revólver, eu mostro. . — Não precisa, não precisa. . — Essa de rachar o legume... Pensa um pouco, amizade. Você está querendo me assaltar, e diz isso com a maior cara-de-pau. . — Eu, assaltar?! Se o dinheiro é meu, então estou assaltando a mim mesmo. . — Calma. Não baralha mais as coisas. Sou eu o assaltante, não sou? . — Claro. . — Você, o assaltado. Certo? . — Confere. . — Então deixa de poesia e passa pra cá os dois mil. Se é que são só dois mil. — Acha que eu minto? Olha aqui as quatro notas de quinhentos. Veja se tem mais dinheiro na carteira. Se achar uma nota de 10, de cinco cruzeiros, de um, tudo é seu. Quando eu confundi você com um, mendigo (desculpe, não reparei bem) e disse que não tinha trocado, é porque não tinha trocado mesmo. . — Tá bom, não se discute. . — Vamos, procure nos... nos escaninhos. . — Sei lá o que é isso. Também não gosto de mexer nos guardados dos outros. Você me passa a carteira, ela fica sendo minha, aí eu mexo nela à vontade. . — Deixe ao menos tirar os documentos? . — Deixo. Pode até ficar com a carteira. Eu não coleciono. Mas rachar com você, isso de jeito nenhum. É contra as regras. . — Nem uma de quinhentos? Uma só. . — Nada. O mais que eu posso fazer é dar dinheiro pro ônibus. Mas nem isso você precisa. Pela pinta se vê que mora perto. . — Nem eu ia aceitar dinheiro de você. . — Orgulhoso, hem? Fique sabendo que tenho ajudado muita gente neste mundo. Bom, tudo legal. Até outra vez. Mas antes, uma lembrancinha. . Sacou da arma e deu-lhe um tiro no pé. .
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CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
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Textos e Obras Daqui e Dali, mais ou menos conhecidos ------ Nada do que é humano me é estranho (Terêncio)
sexta-feira, 12 de março de 2010
Depois do jantar - Carlos Drummond de Andrade
Etiquetas:
Carlos Drummond de Andrade,
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