sexta-feira, 21 de maio de 2010

Arte e Poesia em Modus Vivendi

19 de maio de 2010

Imogen Cunningham

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cama (ainda) desfeita
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A maior solidão

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,
o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,
o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre. 
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Vinicius de Moraes

18 de maio de 2010

Adriana Molder

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um olhar fatal

Terror latente

Quanto terror latente
nesse mar gelado
que desde sempre
levamos na alma.
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António Castañeda

17 de maio de 2010

Helena Almeida

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pintura habitada
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No mistério do sem-fim

No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta 
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Cecília Meireles 
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15 de maio de 2010

Tangerinas

(gentileza de Amélia Pais)
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Tangerinas em redor de minha vida:
geografia antiga
os hábitos frescos a infância como um rio
a mão poisada sobre muros sem tocar
breves as horas
e a leveza de cada tarde
nenhuma cicatriz no corpo
nenhuma solenidade.
Tangerinas como uma lenda até ao dia de hoje
- distância que às vezes ignoro.
Liberdade tão sagrada e tão nobre
como um gesto mudo e pobre.
Moçambique e meu bairro pequeno
aquelas coisas que voltam toda a vida
entre anos e deveres.
Tangerinas em redor dos meus lugares.
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Jall Sinth Hussein
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13 de maio de 2010

A Previsão do Improviso

O tempo restante é abstração
da fera - besta
introduzida ao acaso
de fechar os olhos
ao descaso - feito
imagem simulada
ao não acontecido.
A improvisação reacende o mistério
ocupado em espaços delimitados.
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Pedro Du Bois.

12 de maio de 2010

Castelo de Montemor-o-Novo

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o lugar da mudança

Nápoles

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o lugar de origem

Sete anos

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel serrana bela,
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que a ela só por prémio pretendia.
Os dias na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Assim lhe era negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começou a servir outros sete anos,
Dizendo: Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.
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Luís Vaz de Camões
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O Modus vivendi completa hoje sete anos, como carinhosamente lembrou a Catarina, amiga de quase todo esse tempo. Sete anos pode parecer pouco, mas na escala on line não é de todo; é um tempo longo, e o percurso dos conteúdos (da "linha de água" pessoal às meras escolhas, partilhando gostos) mostra-o claramente. 
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Começado num tempo outro, (quase) oposto ao actual no plano da vida vivida, é hoje uma celebração da capacidade de mudança e do encontro pleno
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Obrigada a todos os que por aqui passam, vendo o que os meus olhos viram, lendo as palavras que escolhi para pontuar um modo de vida.
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