segunda-feira, 10 de maio de 2010

Diário de Anne Frank e a Casa Museu anne Frank

Ilse Losa apresenta o "Diário de Anne Frank"






Anne Frank pertencia a uma família judaica de Frankfurt que, em 1933, fugindo às perseguições do regime hitleriano, se refugiou na Holanda, onde supunha encontrar a paz e a segurança. Mas, logo depois da invasão da Holanda pelos alemães, as perseguições aos judeus continuaram ali com tal violência que os Frank resolveram «mergulhar», designação que então se dava ao desaparecimento voluntário de pessoas perseguidas - ou por razões políticas ou por discriminações raciais - e que passavam a ter uma existência ilegal ou clandestina. Durante dois anos, que abrangem o período de guerra de 1942 a 1944, não podem sair à rua e vivem sob a constante ameaça de serem descobertos pela polícia.
.

Anne Frank

.


Anne, rapariga em pleno período de desenvolvimento físico, esse período delicado e importante na vida de qualquer adolescente, mas especialmente decisivo quando se tem uma sensibilidade e uma inteligência como a dela, escrevia com regularidade um diário, em forma de cartas, a uma amiga imaginária. Este diário tornou-se não só um dos mais comoventes depoimentos contra a guerra, contra a injustiça e a crueldade dos homens como, também, um dos mais puros documentos psicológicos que todos, e sobretudo os que contactam com gente nova, deviam ler.
.


Anne não escreveu o seu diário a pensar na publicidade, nem porque fosse incitada a fazê-lo, mas única e simplesmente porque tinha de o escrever para si própria, para «aliviar o coração», como ela diz várias vezes, por essa forte necessidade intima que caracteriza o artista e a que ela não se poderia furtar, nem que quisesse.
.


«Quando escrevo, sinto um alivio, a minha dor desaparece, a coragem volta... Ao escrever sei esclarecer tudo - os meus pensamentos, os meus ideais, as minhas fantasias».
.


Anne Frank com os pais e a irmã. Apenas o pai sobreviveu ao 
Holocausto

.


Não se trata, portanto - e isto é fundamental -, de uma dessas produções de menino prodígio, lançado e explorado pela família comercialmente, mas sim de uma autêntica obra de arte a que um critico surdo chamou «uma confissão clássica da puberdade de hoje, que ultrapassa todos os limites do circunstancial». Como é que foi possível escrever-se uma obra destas entre os treze e os quinze anos de idade? Tão extraordinário caso tem a sua explicação: o isolamento, os sacrifícios diários, as angústias, o medo e, principalmente, a morte, a pairar sobre esta criança de uma inteligência e de um espírito de observação invulgares, fizeram com que ela amadurecesse prematuramente e fosse assim, pouco a pouco, penetrando em regiões que, em circunstâncias normais, só viria a explorar muito mais tarde. Ela própria sente isto e explica-o: «Vim para o anexo quando tinha treze anos e, por isso, fui obrigada a reflectir mais cedo sobre o Mundo e a fazer a descoberta de mim mesma como de um ser humano que deseja ser «independente». No entanto é preciso notar: Anne não perde a frescura infantil nem esses gostos próprios do adolescente, como por exemplo coleccionar fotografias de artistas de cinema ou fantasiar-se com as roupas dos adultos. É que Anne não é um monstro, Anne é apenas uma adolescente a quem quiseram roubar o direito de o ser.
.


Nem a criança nem o adolescente sabem, em regra, compreender-se e analisar-se. É o adulto que, com a distância dos anos, a experiência da vida, a cultura e a serenidade indispensáveis, contempla e interpreta estes períodos passados da sua vida. Por isso Anne Frank há-de ser um dos casos à parte na literatura universal, com um significado denso e único.
.


casa onde se escondeu a família Frank

.


Anne Frank vivia torturas que marcam qualquer indivíduo de qualquer idade mas muito especialmente um indivíduo em formação. Forçada a viver como um pássaro na gaiola («Sinto-me como um pássaro a quem cortaram as asas e que bate, na escuridão, contra as grades da sua gaiola estreita»), afina os sentidos, concentra-os sobre o pequeno espaço em que a sua vida e a dos companheiros de destino se move, procura não só desabafar a sua revolta de adolescente, de judia expulsa da comunidade dos homens, de vítima de uma guerra impiedosa, mas, também, encontrar as explicações e as interpretações de tudo isto.

Ilse Losa, introdução ao "Diário de Anne Feank"
Edição "Livros do Brasil" – "Colecção Dois Mundos

.

Um extracto do diário de anne frank



Terça-feira, 11 de Abril de 1944
Querida Kitty:
Sinto como que marteladas na cabeça! Nem sei por onde começar. Sexta-feira (Sexta-feira Santa) à tarde, e no sábado também, fizemos vários jogos. Esses dias passaram-se sem novidade e bastante depressa. No domingo pedi ao Peter que viesse aqui e mais tarde subimos e ficámos lá em cima até às seis horas. Das seis e quinze até às sete horas ouvimos um belo concerto de música de Mozart; do que mais gostei foi da «K'eine Nachtmusik». Não consigo escutar bem quando há muita gente à minha volta, porque a boa música comove-me profundamente.
casa onde se escondeu a família Frank
Domingo à noite o Peter e eu fomos ao sótão. Para estarmos sentados confortávelmente, levamos umas almofadas que pusemos em cima de um caixote. O sítio é estreito e estávamos muito apertados um contra o outro. A Mouchi fazia-nos companhia. Assim havia quem nos vigiasse. De repente, às nove menos um quarto, o sr. van Daan assobiou e perguntou se nós tínhamos levado uma almofada do sr. Dussel. Saltámos do caixote abaixo e descemos com as almofadas, o gato e o sr. van Daan. Por causa da almofada do sr. Dussel desenrolou-se uma verdadeira tragédia. Ele estava desaustinado por termos levado a sua «almofada da noite». Receou que a enchêssemos de pulgas, fez cenas tremendas por causa de uma reles almofada. Como vingança, o Peter e eu metemos-lhe duas escovas duras na cama. Rimo-nos muito daquele pequeno «intermezzo». Mas o divertimento não havia de ser de longa dura. As nove e meia o Peter bateu à porta e pediu ao pai que subisse para lhe ensinar uma frase inglesa muito complicada.
- Aqui há gato - disse eu à Margot. - Ele não está a dizer a verdade.
E tinha razão. Havia ladrões no armazém. Com rapidez, o pai, o Peter, o sr. van Daan e o Dussel desceram. A mãe, a Margot, a srª van Daan e eu ficamos à espera. Quatro mulheres cheias de medo não podem fazer outra coisa senão porem-se a falar. Assim fizemos. De repente, ouvimos, lá em baixo, uma pancada forte. Depois, silêncio. O relógio deu dez menos um quarto. Estávamos lívidas, muito quietas e cheias de medo. Que foi feito dos homens? O que é que significava aquela pancada? Haverá luta entre eles e os ladrões? Dez horas. Passos na escada. Entra primeiro o pai, pálido e nervoso, depois o sr. van Daan.
planta da casa onde os Frank se esconderam
- Fechem a luz. Subam sem fazer barulho. Deve vir a polícia.
Agora não havia tempo para medos. Fechámos a luz. Ainda peguei no meu casaquinho e subimos.
- O que aconteceu? Depressa, conta! - Mas não havia ninguém que pudesse contar, porque os senhores já tinham descido outra vez. Às dez e dez voltaram, dois ficaram de guarda na janela aberta, no quarto do Peter. A porta do corredor ficou fechada. A porta giratória também. Sobre o candeeiro lançámos uma camisola. Depois eles começaram a contar:
- O Peter ao ouvir duas pancadas fortes, correu abaixo e viu que do lado esquerdo da porta do armazém faltava uma tábua. Voltou depressa para cima, avisou a parte mais corajosa do grupo e então eles, os quatro, desceram. quando entraram no armazém encontraram os ladrões em flagrante. Sem reflectir o sr. van Daan gritou:
- Polícia!
Os ladrões fugiram num instante. Para evitar que a ronda da Policia notasse o buraco, os nossos homens colocaram a tábua no sítio, mas um pontapé de lá de fora deitou-a novamente ao chão. Os quatro ficaram perplexos com tanto atrevimento. O sr. van Daan e o Peter sentiram vontade de matar aqueles patifes. O sr. van Daan bateu com o machado no chão. Depois novamente silêncio. Tentaram colocar outra vez a tábua.
Novo susto: lá fora estava um casal e a luz forte de uma lâmpada de mão iluminou todo o armazém.
- Com mil raios! - disse um dos nossos e... num instante trocaram o seu papel de policias pelo de ladrões. Fugiram. Subiram. O Peter abriu portas e janelas na cozinha do escritório particular, deitou o telefone ao chão e depois desapareceram todos por detrás da porta giratória.
família Frank
(Fim da primeira parte)

Provavelmente o casal avisaria a Policia. Era domingo, Domingo de Páscoa, e ninguém viria ao escritório, antes de terça-feira de manhã. Não podíamos fazer mesmo nada. Imagina duas noites e um dia a passar com tal angústia! Nós, as mulheres é que já não éramos capazes de imaginar coisa alguma. Estávamos sentadas às escuras; a srª van Daan resolveu fechar todas as luzes, e sempre que se ouvia um ruído murmurávamos «chut, chut».
 Eram dez e meia, onze horas, e de ruídos nada. Alternadamente vinham ter connosco o pai e o sr. van Daan. Depois, às onze e um quarto, ouvimos ruídos lá em baixo. Agora já se ouvia a respiração de cada um de nós. Não nos mexemos. Passos na casa, no escritório particular, na cozinha, depois... na escada que conduz à porta camuflada. Retivemos a respiração; oito corações a martelar. Passos na escada, sacudidelas nas prateleiras da porta giratória. Estes momentos são impossíveis de descrever.
- Estamos perdidos - pensei, e já nos via, a todos, arrastados pela Gestapo através da noite. Mais duas vezes mexeram na porta giratória, depois alguma coisa caiu e os passos afastaram-se. De momento, estávamos salvos. Então começámos todos a tremer. Ouvia-se o bater de dentes; ninguém conseguia pronunciar uma palavra.
Não se ouvia mais nada em toda a casa, mas havia luz do outro lado da porta camuflada. Teriam desconfiado desta ou esqueceram-se de apagar a luz? Dentro do prédio já não se encontravam estranhos; só lá fora, na rua, haveria possivelmente um guarda. As nossas línguas soltaram-se, começámos a falar, mas o medo ainda nos dominava. Todos precisavam... O Peter tem um cesto de papéis de chapa de ferro, que podia substituir o balde que estava no sótão.
O sr. van Daan começou, depois o pai. A mãe teve vergonha. O pai levou-nos o cesto ao quarto, onde a Margot, a srª van Daan e eu, muito contentes, o utilizámos, e, por fim, também a mãe. Todos queriam papel. Felizmente eu trazia algum comigo no bolso.
Do cesto vinha um cheirete horrível; falávamos em voz baixa; estávamos cansados. Era meia-noite.
- Deitem-se no chão e durmam!
Deram-nos, à Margot e a mim, almofadas. A Margot ficou deitada junto do armário dos víveres e eu entre as pernas da mesa. No chão não se sentia tanto o mau cheiro, mas a srª van Daan, sem fazer o mínimo ruído, foi buscar um pouco de cloro e deitou-o no cesto, que depois cobriu com um pano velho.
Conversas, murmúrios, mau cheiro, medo, e sempre alguém sentado no cesto. Impossível dormir-se. Às duas e meia eu estava tão cansada que não ouvi mais nada até ás três e meia. Depois acordei. Senti a cabeça da srª van Daan em cima do meu pé.
-Dêem-me alguma coisa para vestir. Tenho frio.
Atiraram-me roupa. Mas não queiras saber o que era! Fiquei com calças de lã em cima do pijama, um «pulover» e uma saia preta, umas meias brancas e, por cima, soquetes rotos.
Agora a srª van Daan sentou-se numa cadeira e o sr. van Daan deitou-se no chão, também em cima dos meus pés. Comecei a pensar em tudo o que tinha acontecido e pus-me a tremer de tal forma que o sr. van Daan não pôde dormir. Preparei mentalmente as palavras que havíamos de dizer, caso a policia voltasse. Com certeza era preciso confessar-lhes que éramos «mergulhados». Ou eles eram bons holandeses - e então estávamos salvos - ou eram pró-nazis e então aceitavam dinheiro!
- Tira o rádio - suspirou a srª van Daan.
- Queres que o deite ao fogão? Se nos encontrarem, já não importa que encontrem também o rádio.
- Então encontram também o diário da Anne - disse o pai.
- E se o queimássemos? - propôs a pessoa mais medrosa do nosso grupo.
Este momento e aquele em que eu tinha ouvido as sacudidelas da Policia na porta giratória, foram para mim os mais terríveis.
- O meu diário não! O meu diário só será queimado comigo!
Graças a Deus, o pai já nem me respondeu.
Não vale a pena reproduzir todas as conversas. Confortei a srª van Daan, que estava cheia de um medo horrível. Falámos de fugas, interrogatórios, da Gestapo e da necessidade de sermos corajosos.
- Agora temos de ser valentes como os soldados, srª van Daan. Se nos apanharem, o nosso sacrifício será pela rainha, a pátria, a verdade e o direito, como dizem também na emissora de Orange.
O que mais me aflige é arrastarmos tanta gente para a infelicidade.
O sr. van Daan tornou a trocar o lugar com a sua mulher, o pai veio para junto de mim. de cima para baixo: pai e mãe de Anne Frank, 
Margot (a irmã), Anne Frank, sr. e srª van Daan e Peter Os homens fumavam sem interrupção, de vez em quando ouvia-se um suspiro fundo, depois alguém a correr ao cesto... e isto ainda se repetiu muitas vezes. Quatro horas, cinco horas, cinco e meia. Fui ao quarto do Peter. Ficámos sentados à janela, ouvíamos os ruídos, cada um sentia as vibrações do corpo do outro, tão encostados estávamos. Só dizíamos uma palavra, de longe em longe. Estávamos sempre atentos ao que se ia passando. Ao lado ouvimos alguém abrir as persianas.
Às sete, os senhores queriam telefonar ao Koophuis e pedir-lhe que mandasse alguém. Escreveram num papel o que lhe iam dizer. Havia o perigo de o guarda em frente da porta ouvir o toque do telefone, mas o perigo de a Policia voltar era maior ainda. Os tópicos a comunicar ao Koophuis eram os seguintes:
Assalto: a Policia entrou em casa, chegou até à porta giratória, mas não foi mais longe.
Ladrões, provavelmente apanhados em flagrante, arrombaram a porta do armazém e fugiram pelo quintal.
Porta principal trancada. O Kraler deve ter saído pela outra porta. As máquinas de escrever estão em segurança na caixa preta, no escritório particular.
Tentar avisar o Henk. Ir buscar a chave a casa da Elli.
Ele que venha cá ao escritório com o pretexto de que o gato precisa de comida.
Tudo se fez tal qual. Telefonou-se ao Koophuis, levámos as máquinas (que ainda estavam connosco em cima) para baixo, e guardámo-las na caixa preta. Sentámo-nos à volta da mesa e esperámos pelo Henk ou... pela Policia.
O Peter adormeceu. O sr. van Daan e eu acabamos por deitar-nos no chão. Depois ouvimos passos pesados. Eu disse, em voz baixa:
- É o Henk.
- Não, não, é a Policia, ouvi dizer alguém.
Bateram à porta. O assobio da Miep. Agora é que a srª van Daan não aguentou mais. Branca como a cal, sem forças, estava caída na cadeira, e se aquela tensão se tivesse prolongado por mais um minuto, ela teria desmaiado.
Quando a Miep e o Henk entraram no nosso quarto, ofereceu-se-lhes um lindo espectáculo. Só a mesa valia a pena ser fotografada. A revista «Filme e Teatro» aberta, e as fotos das lindas «estrelas» do bailado besuntadas com compota e com o remédio contra a diarreia. Dois frascos de compota, um pão e meio, espelho, pente, fósforos, cinza, cigarros, tabaco, cinzeiro, calcinhas, lâmpada de bolso, papel higiénico, etc., etc...
Já se vê, recebemos o Henk e a Miep com júbilo e lágrimas. O Henk tapou o buraco da porta com a tábua e depois foi à Policia para comunicar o assalto. A Miep encontrou debaixo da porta um aviso do guarda-nocturno que viu o buraco e avisou a Policia. O Henk foi também falar com ele.
Tínhamos uma meia hora para nos arranjarmos. Nunca vi uma tal metamorfose em tão pouco tempo. A Margot e eu abrimos as camas, fomos ao W.C., lavámo-nos, limpámos os dentes e penteámo-nos. Depois, num instante, arrumámos o quarto e voltámos para cima. A mesa já estava limpa. Fomos buscar água, fizemos café e chá e pusemos a mesa para o pequeno almoço. O pai e o Peter limparam o cesto sujo com água e cloro.
As onze horas já nos encontrávamos todos com o Henk à volta da mesa e acalmámos pouco a pouco. O Henk contou:
O guarda nocturno Slagter ainda estava a dormir. Falei com a mulher e ela disse-me que o marido, ao fazer a ronda nos cais, tinha reparado no buraco na nossa porta da rua. Foi procurar um policia e, juntos, rebuscaram a casa de cima a baixo. que na terça-feira viria fazer mais comunicações ao Kraler. Foi à esquadra da Policia, onde ainda não sabiam nada do assalto, mas tomaram nota e disseram que viriam cá também na terça-feira.
No regresso o Henk passou pela loja do hortaliceiro, na esquina, e contou-lhe do roubo.
- Eu sei, disse o hortaliceiro pachorrentamente. Passei, ontem à noite com minha mulher pelo vosso estabelecimento e vi o tal buraco na porta. Minha mulher não quis parar mas eu acendi a minha lâmpada de bolso e iluminei o interior. Os ladrões fugiram logo. Não chamei a Policia, pensei que seria melhor. Não sei nada, mas imagino algumas coisas...
um aspecto do interior
O Henk agradeceu e foi-se embora. O hortaliceiro decerto suspeita de que estamos aqui, pois entrega as batatas sempre à hora do almoço. Um tipo às direitas.
Depois do Henk nos ter deixado - era uma hora - deitámo-nos para dormir. Às três menos um quarto acordei e já não vi o Dussel na sua cama. Ainda toda entorpecida encontrei, por acaso, o Peter no quarto de banho. Combinámos encontrar-nos depois em baixo, no escritório.
- Ainda sentes coragem para subir ao sótão ? - perguntou-me. Disse-lhe que sim, fui buscar a minha almofada e subimos. O tempo estava uma maravilha. Em breve as sereias começaram a dar alarme. Mas nós ficámos onde estávamos. O Peter deitou-me um braço em volta dos ombros e eu também deitei um braço em volta dos seus ombros, e assim ficámos muito calmos, até que veio a Margot chamar-nos para o lanche.
Comemos pão, tomámos limonada e já estávamos de novo dispostos a dizer brincadeiras uns aos outros. Depois disso não houve mais nada de especial. À noite agradeci ao Peter por ele ter sido o mais corajoso de todos nós.
o anexo nas traseiras onde os Frank se escondiam
Nunca nenhum de nós se tinha encontrado numa situação tão perigosa como a da noite passada. Deus protegeu-nos. Imagina a Policia a remexer na estante da nossa porta giratória, iluminada pela luz acesa, sem dar connosco!
Em caso de invasão, com bombardeamentos e tudo, cada um de nós pode responder por si próprio. Neste caso, porém, não se tratava só de nós, mas também dos nossos bondosos protectores.
Estamos salvos. Não nos abandones! É apenas isto que podemos suplicar.
Este acontecimento trouxe consigo algumas modificações. O sr. Dussel já não trabalha à noite no escritório do Kraler mas sim no quarto de banho. Às oito e meia e às nove e meia o Peter faz a ronda pela casa. Já não pode abrir a janela durante a noite. Depois das nove e meia não podemos utilizar o autoclismo do W.C. Hoje à noite vem um carpinteiro reforçar as portas do armazém. Há discussões a tal respeito, há quem pense que não se devia mandar fazer isso. O Kraler censurou a nossa imprudência e também o Henk disse que não devíamos em tais casos descer ao andar de baixo. Fizeram-nos ver bem que somos «mergulhados», judeus enclausurados, presos num sitio, sem direitos, mas carregados de milhares de deveres. Nós, judeus, não devemos deixar-nos arrastar pelos sentimentos, temos de ser corajosos e fortes e aceitar o nosso destino sem queixas, temos de cumprir tudo quanto possível e ter confiança em Deus. Há-de chegar o dia em que esta guerra medonha acabará, há-de chegar o dia em que também nós voltaremos a ser gente como os outros e não apenas judeus.
Quem foi que nos impôs este destino? quem decidiu excluir deste modo os judeus do convívio dos outros povos? quem nos fez sofrer tanto até agora? Foi Deus que nos trouxe o sofrimento e será Deus que nos libertará Se apesar de tudo isto que suportamos, ainda sobreviverem judeus, estes servirão a todos os condenados como exemplo. Quem sabe, talvez venha ainda o dia em que o Mundo se aperceba do bem através da nossa fé, e talvez seja por isso que temos de sofrer tanto. Nunca poderemos ser só holandeses, ingleses ou súbditos de qualquer outro pais. Seremos sempre, além disso, judeus. E queremos sê-lo.
Não percamos a coragem. Temos de ter consciência da nossa missão. Não nos queixemos, que o dia da nossa salvação há-de chegar. Nunca Deus abandonou o nosso povo. Através de todos os séculos os judeus sobreviveram.
Através de todos os séculos houve sempre judeus a sofrer, mas através de todos os séculos se mantiveram fortes. Os fracos desaparecem mas os fortes sobrevivem e não morrerão!
Naquela noite pensei que ia morrer. Esperava pela Policia, estava preparada como os soldados no campo de batalha, prestes a sacrificar-me pela pátria. Agora que estou salva, o meu desejo é naturalizar-me holandesa depois da guerra.
E Gosto dos holandeses, gosto desta terra e da sua língua. É aqui que gostava de trabalhar. E se for preciso escrever à própria rainha, não hei-de desistir enquanto não conseguir este meu fim.
Sinto-me cada vez mais independente dos meus pais. Embora seja muito nova ainda, sei, no entanto, que tenho mais coragem de viver e um sentido de justiça mais apurado, mais seguro do que a mãe. Sei o que quero, tenho uma finalidade, uma opinião, tenho fé e amor. Deixem-me ser eu mesma e estarei satisfeita. Tenho consciência de ser mulher, uma mulher com força interior e com muita coragem.
Se Deus me deixar viver, hei-de ir mais longe de que a mãe. Não quero ficar insignificante. quero conquistar o meu lugar no Mundo e trabalhar para a Humanidade.
O que sei é que a coragem e a alegria são os factores mais importantes na vida!











Tua Anne
.
.





.
PrincessMaryna 18 de Outubro de 2008 — Uma menina judia... Um diário... Uma guerra... Um holocausto... Um esconderijo. O Diário de Anne Frank: uma obra...  
.
.
.
.
Anne Frank House


.
.
etrusco1985 21 de Janeiro de 2007 — Anne Frank House Amsterdam
.
.

Interior Casa Museo de Ana Frank

 http://www.youtube.com/watch?v=uXPaN2oDnjI&feature=related

 Incorporação desactivada por pedido

 

The Anne Frank Secret Annex
.

.
.
radicalarts 6 de Novembro de 2007 — * Comments on this video have been removed. Heateful, ignorant speech has no place here. *
.
A life-size replica of the Secret Annex of what has become known as The Anne Frank House, where Anne Frank wrote her famous diary. Down to the upholstery on the couch and the pictures on the walls, this model will give you an accurate feel for what it was like to live confined in that house. Accompanying educational materials will help visitors better contextualize what they are experiencing. Exhibit runs through December 31, 2007.

Charter Oak Cultural Center
Hartford, CT
www.charteoakcenter.org
.

Imagens de diário de anne frank

,

Sem comentários: