sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

José Mário Silva - PERIGO DE EXPLOSÃO

* José Mário Silva

É melhor fechares os olhos,
meu amor,
antes que o mundo inteiro 
seja um incêndio.
Os ventos todos fechados
dentro da minha mão.
Quantos ciclones queres?
Procurava nos outros 
a ternura,
mas só encontrava
poços cheios de ódio
e nitroglicerina.
Aquele poema, 
ao contrário dos outros, 
tinha pólvora.
Só lhe faltava o rastilho.
Éramos rebeldes por sistema,
a sonhar com uma revolução por dia.
À tardinha, na esplanada, 
bebíamos um cocktail molotov.
O terrorista apaixonado 
carregava, às escondidas,
uma bomba-relógio.
Era no peito.
Era o coração. 


Partilhado por Paula Pereira

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