terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Álvaro Feijó - Sonetos do Amor da Hora Triste

* Álvaro Feijó

Sonetos de amor da hora triste

I

Quando eu morrer - e hei-de morrer primeiro
Do que tu - não deixes fechar-me os olhos
Meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos
E ver-te-ás de corpo inteiro

Como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
Dentro de mim, se, então, tiveres coragem,
Fecha-me os olhos com um beijo.Eu, Marco Pólo,

Farei a nebulosa travessia
E o rastro da minha barca
Segui-lo-ás em pensamento. Abarca

Nele o mar inteiro, o porto, a ria...
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
Ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus.

 

II

Não um adeus distante
ou um adeus de quem não torna cá,
nem espera tornar. Um adeus de até já
como a alguém que se espera a cada instante.


  Que eu voltarei.Eu sei que hei-de voltar
  de novo para ti,no mesmo barco
  sem remos e sem velas, pelo charco
  azul do céu, cansado de lá estar.

  E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.
  E não quero que chores por fora,
  Amor,que tu bem sabes que quem chora

  assim, mente. E, se quiseres partir e o coração
  to peça, diz-mo. A travessia é longa...não atino
  talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino.

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