Sonetos de amor da hora triste
I
Quando eu morrer - e hei-de morrer primeiro
Do que tu - não deixes fechar-me os olhos
Meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos
E ver-te-ás de corpo inteiro
Como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
Dentro de mim, se, então, tiveres coragem,
Fecha-me os olhos com um beijo.Eu, Marco Pólo,
Farei a nebulosa travessia
E o rastro da minha barca
Segui-lo-ás em pensamento. Abarca
Nele o mar inteiro, o porto, a ria...
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
Ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus.
II
Não um adeus distante
ou um adeus de quem não torna cá,
nem espera tornar. Um adeus de até já
como a alguém que se espera a cada instante.
Que eu voltarei.Eu sei que hei-de voltar
de novo para ti,no mesmo barco
sem remos e sem velas, pelo charco
azul do céu, cansado de lá estar.
E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.
E não quero que chores por fora,
Amor,que tu bem sabes que quem chora
assim, mente. E, se quiseres partir e o coração
to peça, diz-mo. A travessia é longa...não atino
talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino.
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